A incrível capacidade de Eduardo Cunha de arrecadar fundos para o PMDB

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A equação é simples: lobby no Congresso resulta no aumento de receita para campanhas peemedebistas e, consequentemente, influência crescente de Cunha sobre correligionários

Jornal GGN – O deputado federal Arlindo Chinaglia, candidato do PT à presidência da Câmara, quando fala da disputa à imprensa, em provocação aos adversários, deixa uma frase solta no ar: “Não é minha candidatura a dependente de poderosos grupos econômicos.” Seria Eduardo Cunha (PMDB), favorito no pleito, o sujeito oculto na frase, dono de rabo preso com empresários? “Entenda como quiser”, costuma rebater o petista.

Há meses que a opositores de Cunha discutem nos bastidores uma das principais táticas do peemedebista para vencer a presidência da Câmara (cargo que só perder para a presidência e vice-presidência da República em relevância). O segredo seria a criação de uma bancada própria. Cunha nega, mas seu poder de influência sobre outros deputados é inegável. Até porque Cunha teria prestado ajuda financeira valiosa à campanha de companheiros.

Tal solidariedade foi alvo, em novembro de 2014, de reportagem na Folha de S. Paulo. O jornal publicou que um “executivo de uma grande empresa” recebeu de Cunha pedidos para “fazer doações a um grupo de 20 a 30 deputados, a maior parte do Rio, de Minas Gerais e do Nordeste.” “Foi assim que o líder do PMDB (na Câmara) montou uma cadeia de agradecimentos.”

O sucesso de arrecadação fez sobrar dinheiro na última campanha de Cunha. O deputado disse àquela edição da Folha que boa parte das doações que recebeu foram feitas por empresas que ele defende no Congresso. “Muito procurado por grandes companhias, [Cunha] faz adendos em medidas provisórias e trabalha para agilizar a aprovação ou a derrubada de leis” que interessam a seus financiadores.

A equação, afinal, é simples: o lobby no Congresso resulta no aumento de receita para o caixa peemedebista e, consequentemente, na influência crescente de Cunha sobre correligionários.

Financiamento de campanha e lobby

Em 2014, a equipe de Eduardo Cunha declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter gasto R$ 6,4 milhões de reais, cerca de 50% a mais do que na disputa de 2010. A receita foi da ordem de R$ 6,8 milhões. Desse total, R$ 4,6 milhões foram doados principalmente pela indústria da bebidas, bancos, mineradoras e a Telemont. O restante do caixa foi composto por transações feitas pelo Comitê Estadual/Distrital do PMDB do Rio de Janeiro.

Os doadores de Cunha em 2014:

Algumas contribuiçãos chamam atenção por partirem dos setores que Cunha defendeu no Congresso. Caso da Telemont, que opera sistemas de internet banda larga. O deputado deu muita dor de cabeça ao governo Dilma Rousseff (PT) na tramitação do Marco Civil da Internet. A lei foi aprovada com dispositivos que contrariam os interesses do setor de telecomunicações, como o que impede a cobrança de um pedágio para facilitar ou dificultar o acesso a certos conteúdos web.

Código de Mineração

Edição da revista CartaCapital sobre a “rica campanha” de Eduardo Cunha destacou que o peemedebista “escalou o relator da proposta de um novo Código da Mineração, enviada pelo governo ao Congresso com o objetivo de cobrar mais impostos do setor e condicionar a exploração do solo brasileiro a licitações prévias. Não é uma lei dos sonhos da Vale e da Rima”, doadora da campanha de Cunha. “O texto está parado há mais de um ano na Câmara, graças ao relator indicado por Cunha, Leonardo Quintão, do PMDB de Minas, ele mesmo financiado por diversas mineradores na eleição.”

Em 2014, o comitê estadual do PMDB afirmou ter arrecadado pouco mais de R$ 55 milhões. Entre os doadores estão construtoras como OAS, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez; bancos, grupos hospitalares, operadoras de planos de saúde e do ramo de bebidas e mobiliário. Boa parte dos fundos das empreiteiras foram transferidos pelo comitê nacional.

MP dos Portos

Entre os empresários figura Richard Klien, que doou ao PMDB um cheque de R$ 100 mil. Klien protagonizou, há dois anos, uma crise na Santos Brasil, a dona do maior terminal de contêineres da América do Sul. À época, o governo Dilma (que também foi financiado por Klien) acreditava que a Santos Brasil atuava nos bastidores do Congresso na tentativa de barrar a MP 595.

Cunha, ao longo de 2013, atuou contra a chamada MP dos Portos, na tentativa de impedir o governo de realizar novos leilões para concessão dos terminais portuários. Segundo reportagem da revista Isto É, mais de R$ 240 mil doados foram destinados à campanha do deputado em 2010, por meio do PMDB do Rio. A AMC Holding, do grupo Libra, foi a signatária. A empresa é responsável pelo Porto de Santos.

A empresária Celina Borges Torrealba Carpi, neta de Wilfred Penha Borges, fundador do grupo Libra, entrou com R$ 250 mil na campanha do PMDB do Rio em 2014. Ela transferiu mesmo valor à campanha presidencial de Marina Silva (PSB). Outro neto de Wilfred, Gonçalo Borges Torrealba, repetiu os passos de Celina: doou R$ 250 mil para o PMDB e R$ 250 mil para o PSB nacional.

JBS e planos de saúde

As doações dos herdeiros do grupo Libra foram feitas ao Comitê Financeiro Único do PMDB no Rio, que declarou ao TSE receita de R$ 72,1 milhões. Desse total, R$ 22 milhões foram doações únicas do JBS. O grupo, segundo reportagem do Estadão, foi beneficiado pelo Ministério da Agricultura diversas vezes, por intermédio da Secretaria de Defesa Agropecuária, sob comando de Rodrigo Figueiredo, um “apadrinhado de Cunha”.

Ainda entre as doações ao Comitê Financeira Único do Rio consta o montante de R$ 180 mil, injetado pelo bilionário do setor energético Antonio José Almeida Carneiro. A empresa Almeida e Filho Terraplanagens Ltda. doou mais de R$ 1 milhão. Empresas de mineração aparecem com mais de meio milhão. A Amil investiu o dobro disso, após Cunha ter atuado também contra a MP 627, com o objetivo de aliviar a barra das operadoras de planos de saúde em relação às multas aplicadas por abusos contra o consumidor.

Evolução

Na eleição de 2010, o Comitê Financeiro Único do PMDB no Rio arrecadou R$ 32,4 milhões – quase 58% do que foi arrecadado na última eleição. Já a campanha de Eduardo Cunha arrecadou, em 2010, R$ 4,7 milhões – 69% da arrecadação de 2014. 

Com tantos recursos, o PMDB no Rio elegeu, além de Cunha, mais sete deputados para a nova legislatura. Minas Gerais, o segundo estado com melhor desempenho do PMDB, elegeu 6. A bancada peemedebista hoje no Congresso soma, ao todo, 66 deputados. Está atrás apenas do PT, que tem 70, e à frente do PSDB, com 54.
 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

36 Comentários

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  1. Caro Nassif e demais
    E desde

    Caro Nassif e demais

    E desde quando a direita teve problema de arrecadar dinheiro?! Quanto mais calhorda, tanto mais ela se sente representada. 

    Quanto custa, em dinheiro, as propagandas, que saem toda hora nos meio de comunicação? Para falar que Eduardo Cunha representa o bom Brasil?! Para aprar somente nisso.

    Saudações

  2. Digno representante do povo
    Digno representante do povo (das grandes empresas privadas). O povao que se exploda. Este talvez nao fique muito rico, o que ele gosta mesmo é de poder.

  3. E o mui digno ministro do

    E o mui digno ministro do PSDB no STF continua engavetando o processo sobre as doações de campanha. Seus digníssimos colegas em um silêncio sepulcral.

  4. O fisiológico traíra é a cara


    O fisiológico traíra é a cara do PMDB!

    A Câmara é a casa dos representantes do povo. Ele representa os poderosos em troca de dinheiro. Não tem escrúpulos, nem acredita em nada, que não reluza como dinheiro.

    Se vencer, a Câmara se afastará mais ainda de seu papel de representar o povo! Será mais uma poderosa filial do balcão de negócios do PMDB.

  5. A incrível capacidade de Eduardo Cunha de arrecadar fundos para

    Se  esse picareta mor vencer; fica de fato exposta, a covardia e a fragilidade do GOV e do PT,de quebra; ainda podem sair  de Brasília, pelas portas dos fundos…Não se pode ser republicano com tipos como este e outros que habitam o poder central…Será que é tão difícil de o GOV e PT entenderem isso ?

  6. Transparência das Doações

    É espantoso como se fala em “um neto doa 250 mil”, “uma neta doa outros 250 mil”, como se fossem 25 reais. Quem são esses? O que é isso?!!! A Receita sabe???

    1.  
       
      “A origem desse dinheiro

       

       

      “A origem desse dinheiro é MA-RA-VI-LHO-SA !!” (com voz de PAULO MALUF)

       

      “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

       

       

       

       

  7. representação?

    Os ricos são muito bem representados  no congresso,esta  havendo agora a discussão da reforma politica e ninguem esta participando,opinando colocando pontos etc..depois  reclamam de naõ serem bem representados,e o  finaciamento publico de  campanha ninguem acha nada?vamos  participar povo! 

    Boa  materia nassif.

  8. Mestre

    Esse pode ser o mestre para outros politicos terem uma bancada propria, com certeza ele vai ensinar o caminho das pedras para muitos iquais a ele.

    E principalmente o PT deve aprender muito com esse “senhor”, de como ter uma bancada forte e viel….$$$$$$.

  9.  
    Eduardo Cunha é uma das

     

    Eduardo Cunha é uma das MAIORES VERGONHAS que estiveram no comando da Câmara dos Deputados.

    Pior do que Severino Cavalcante, que era o bocó, um inocente útil, eleito por criminosos.

    Eduardo Cunha, por seu hitórico – 50 processos – (hoje mesmo, ferrando trabalhadores), é o mesmo, que negou para a sua mulher, o que quer negar para milhares de pais de família.

    Esse bandido, não respeita ninguém, não respeita qualquer argumento.

    Só dá palavra, para os canalhas que financiaram sua campanha.

    Estamos de FATO FERRADOS!

     

  10. “…Seis senadores retiraram

    “…Seis senadores retiraram apoio à criação de uma CPI para apurar a concessão de empréstimos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com isso, a comissão de inquérito proposta pelo senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) fica momentaneamente inviabilizada por não ter o mínimo de 27 assinaturas. No novo cenário, 22 deram aval à CPI – retiraram as assinaturas os senadores Omar Aziz (PSD-AM), Rose de Freitas (PMDB-ES), Fernando Ribeiro (suplente de Jader Barbalho), Otto Alencar (PSD-BA), Zezé Perrella (PDT-MG) e Ivo Cassol (PP-RO). “

    Mas o Zezé Perrella não é o do helicóptero do pó?!?!?

    Votando a favor do Governo?

    Sei, sei…

     

  11. “…Seis senadores retiraram

    “…Seis senadores retiraram apoio à criação de uma CPI para apurar a concessão de empréstimos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com isso, a comissão de inquérito proposta pelo senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) fica momentaneamente inviabilizada por não ter o mínimo de 27 assinaturas. No novo cenário, 22 deram aval à CPI – retiraram as assinaturas os senadores Omar Aziz (PSD-AM), Rose de Freitas (PMDB-ES), Fernando Ribeiro (suplente de Jader Barbalho), Otto Alencar (PSD-BA), Zezé Perrella (PDT-MG) e Ivo Cassol (PP-RO). “

    Mas o Zezé Perrella não é o do helicóptero do pó?!?!?

    Votando a favor do Governo?

    Sei, sei…

     

  12. Cunha faz um favor ao Brasil.

    Ele está conseguindo unir a esquerda e chamá-la pra briga. Esse projeto de terceirização será um amálgama para os trabalhistas, a juntar os sindicatos combativos e os pensadores do trabalho contra algo. Devemos agradecer ao Deputado Cunha!

  13. E quais são as ‘grandes

    E quais são as ‘grandes empresas’ que financiam CU-nham afinal, além da GLOBO e do Dantas, obviamente  ?! Porque elas não aparecem e só se fala em ‘grandes empresas’ ?!? Serão as mesmas que estão sendo investigadas na OPERAÇÃO ZELOTES !?! 

    “breZeew, mostra a tua cara, quero ver quem paga p’ra gente fica’ssim….”

     

    “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

  14. revoltante…

    impressionante a facilidade com que podemos identificar as ordens embutidas em cada doação

    e na consciência do eleitor a ilusão de uma atuação voltada à defesa dos  interesses do cidadão, muitos dos quais ainda suplicados, apesar de constarem em nossa Constituição como direitos fundamentais, principalmente nas áreas de educação, saúde, segurança e relações de trabalho

    revoltante como fica fácil de perceber como tentam dificultar o avanço da  edição das leis obedecendo as ordens dos doadores na maior cara de pau

    1. preparem-se eleitores desses tipinhos de políticos…

      não demora, seus problemas de saúde terão de ser resolvidos em bancos…………………………..

      tudo no esquema para os bancos comprarem tudo

      1. exatamente para isto…

        é que está atuando para o perdão das dívidas dos planos de saúde

        investiguem quem está prestes a comprar quem

  15. sinceramente…

    há momentos, ante atuações de tipinhos de políticos assim, em que me quedo favorável à judicialização da política

    sério mesmo

    pena que ainda existem muitos juízes seletivos e premiados

    inconsistências de dados a depender do âmbito, realmente só pode ser abuso de mau gosto

    quer dizer então que cabe em um e não cabe no outro? que mau gosto jurídico

  16. Menos, menos

    A Rima doou também para o Chinaglia.

    O pessoal do açucar e do café doou pesado para o Chinaglia, mais de dois milhões. Me chamou a atenção.

    Dei uma googlada e descobri que os sites das associações de produtores destes produtos enaltecem a aprovação da MP410 que possibilita ao produtor rural contratar trabalhadores por tempo limitadíssiomo, dois meses, sem necessidade de assinar a carteira e sem vínculo empregatício, apenas com um contrato em duas vias. Alterando uma lei de 1973.

    Fui dar uma olhada no site dos doadores e na verdade são apenas administradores de café, ou seja, empresas, a maioria estrangeiras com escritórios no Brasil, que acompanham a produção de cafés especiais pelos pequenos produtores e compram a produção.

    Um gênio esse Chinaglia, 

     

  17. Os terminais portuárias são

    Os terminais portuárias são uma mina de dinheiro. Ganham de todo lado. Ganham dos armadores, de importadores e exportadores. Dificultam ao máximo a vida de quem opera comércio exterior. É uma grande caixa preta. Não falta dinheiro para essa gente.

  18. O VOTO E NADA SÃO A MESMA COISA, DIANTE DISSO, EU SOU TROUXA.

    Para que votar? E ainda por cima ser obrigado, é muita covardia, ninguém aguenta isso mais, tem hora que pastel vira coxinha, porque vivemos do faz de conta que não somos trouxas. EU ADMITO, EU SOU UM TROXA EM GENERO E GRAU. Pagar salário para EDUARDO CUNHA e sua turminha é mesmo ser um trouxa.

  19. Está perdendo direitos, culpa sua de votar na direita.

    Terceirização: o que está em jogo?

     Por Sávio M. Cavalcante, no blogEscrevinhador:

    O Congresso Nacional está prestes a iniciar a votação do Projeto de Lei 4330/04 que, se aprovado – na íntegra ou mesmo parcialmente – representará uma modificação estrutural das relações trabalhistas no país. Seus formuladores defendem o projeto porque ele regulamentaria a terceirização no Brasil, uma prática já largamente utilizada por empresas de todos os ramos e que teria por objetivo principal a busca de eficiência, agilidade e qualidade com aumento da oferta de empregos.

    A proposta central é a de retirar qualquer barreira jurídica à contratação de “prestadores de serviços”, os quais poderiam exercer funções relativas a atividades “inerentes, acessórias ou complementares” à atividade econômica da contratante, ou seja, nas chamadas atividades-meio e atividades-fim, termos criados pela jurisprudência em vigor.

    A justificativa do projeto é a de que, desse modo, seria possível promover “segurança jurídica” às empresas e garantias e proteção aos trabalhadores terceirizados. Uma forma, portanto, de “modernizar” as relações de trabalho no Brasil, por meio da regulamentação de uma prática de gestão que é fundamental para a produção econômica contemporânea.

    Colocado nesses termos, parece ser um óbvio contrassenso se opor ao projeto. Quem seria contra eficiência, qualidade e mais empregos, a não ser possíveis (e poucos) interesses “corporativos” ameaçados pela “modernidade”? Ocorre que estamos diante de um problema muito maior, gravíssimo, que prepara um dos ataques mais fortes ao padrão de regulação do trabalho conquistado a duras penas no país.

    O debate é difícil e inúmeras questões precisariam ser discutidas. Por ora, limito-me a comentar dois aspectos do debate que, embora estejam no centro das polêmicas, não estão suficientemente claros para a sociedade em geral – por vezes, por serem deliberadamente ocultados. Esse ocultamento contribui para não identificar o que está, verdadeiramente, em jogo.

    Formato neoliberal

    O primeiro aspecto refere-se ao lugar da terceirização nas práticas mais amplas de gestão das empresas na atualidade. Os defensores do PL 4330 têm razão em um aspecto: a terceirização é marca da produção contemporânea. Faltou dizer qual é a forma dessa “modernidade”. A terceirização é a estratégia mais afeita ao formato neoliberal de regulação do mercado de trabalho que produz, por onde quer que passe, condições mais precárias para a maior parte do conjunto dos assalariados. Segundo a ótica neoliberal, empresas e trabalhadores precisam de liberdade para firmar contratos sem restrições impostas pelo Estado. Ocorre que a relação de trabalho não é uma relação simétrica e o reconhecimento desse fato elementar construiu, em todo o mundo – de formas diferentes, é claro – barreiras e limites ao uso da força de trabalho pelas empresas.

    Tudo o que consideramos conquistas civilizacionais dependem desse reconhecimento básico. Foi esse processo que tentou – nem sempre com sucesso, infelizmente – limitar a níveis decentes a jornada de trabalho, aumentar salários diretos e indiretos, promover redes de proteção em momentos de crise, enfim, fazer com que a classe trabalhadora fosse incluída, ainda que parcialmente, na repartição da riqueza produzida. Nessa dimensão do problema, a terceirização opera um dos maiores retrocessos civilizacionais possíveis: em princípio, concede às empresas uma série de benefícios, como a flexibilidade de manejar força de trabalho a um custo econômico e político reduzido.

    O plano, porém, é mais ambicioso: internalizar nas mentes e corpos – e, é claro, positivar no direito – um novo valor e um novo discurso que eliminem o fundamento da regulação social anterior do capitalismo, isto é, que possam dissociar – ideológica, política e juridicamente – a empresa de seus trabalhadores; algo que possa quebrar, portanto, a noção de que há qualquer vínculo entre os lucros auferidos e os trabalhadores necessários à reprodução dessa riqueza. O aumento da desigualdade de renda nas últimas décadas nos EUA e Europa mostram qual é a marca da “modernidade” nas relações de trabalho após reformas neoliberais.

    Fronteira entre terceirização e divisão do trabalho

    E essa questão nos leva ao segundo aspecto, que diz respeito a uma característica inerente a qualquer estrutura produtiva com elevado grau de complexidade: não seria a terceirização apenas um prolongamento da inevitável divisão do trabalho no capitalismo?

    Aqui está o xis da questão, a fonte de vários mal-entendidos, conscientes e inconscientes: as fronteiras entre a terceirização e a divisão do trabalho podem até ter algum grau de porosidade, mas elas são, a rigor, processos com sentidos e funções muito diferentes. Parte significativa das conquistas trabalhistas foi obtida em meio ao desenvolvimento da grande indústria capitalista que, em seu modelo “taylorista-fordista”, concentrava em um mesmo local de trabalho, e sob a mesma modalidade de contrato, conjuntos extensos de assalariados. Ocorre que o capitalismo de hoje, por questões técnicas e políticas, prescinde, em inúmeros casos, dessa junção física.

    Isso significa que o termo terceirização é usado, de modo equivocado, para descrever um fenômeno muito diferente, ainda que ambos pareçam responder do mesmo modo à tendência de desverticalização da produção. Explico: houve e sempre haverá diversas relações comerciais entre empresas, em que uma fornece produtos ou serviços necessários, em maior ou menor grau, ao processo de outra empresa. Faz parte de um processo de ocultação do problema – mais uma vez, deliberado ou não – confundir essa divisão do trabalho com o que realmente é a terceirização: uma forma de contratação de trabalhadores por empresas interposta em que se não se externaliza a produção, mas a própria contratação de força de trabalho, com o objetivo de redução de custos econômicos e problemas políticos que provêm da luta sindical organizada.

    Não é à toa que, na disputa atual, exista tanta dificuldade em lidar com o peso das centenas de pesquisas acadêmicas já realizadas, por diversas áreas do conhecimento, que estabelecem, no mínimo, relações de correlação e, muitas vezes, explícita causalidade entre o aumento da terceirização e a precarização do trabalho. Essas pesquisas mostram que, se a terceirização aparentemente divide e fragmenta o processo, podendo haver, eventualmente, segregação espacial de atividades, o fato é que a relação não se efetiva entre empresas “autônomas”.

    Pelo contrário, a essência do controle de fato do processo produtivo das atividades terceirizadas não muda, continua sendo da empresa contratante. Esse controle pode ser feito por diferentes métodos (até insidiosamente), mas invariavelmente inclui a detenção do know-how da atividade e a gestão da força de trabalho empregada. Com maior ou menor intencionalidade, as empresas buscam diminuir resistências da força de trabalho e as limitações exógenas ao processo de acumulação.

    Portanto, quando esses aspectos são tratados em sua significação social mais ampla e histórica, percebe-se que o contrassenso está naqueles que formularam o projeto: se uma empresa terceiriza sua atividade-fim, como quer o projeto, por que razões ela deveria existir? O disparate está naqueles que não enxergam nesse propósito um explícito abandono dos pilares da Constituição de 1988.

    A situação é ainda mais perversa, pois foram os próprios empresários que empurraram para o judiciário o termo “atividade-fim”, no início dos anos 90, como forma de legitimar o discurso de que as empresas deveriam focar a atividade em que são especializadas. Ora, se agora eles defendem a terceirização irrestrita, resta alguma dúvida de que o discurso da eficiência é um engodo?

    Todo trabalhador está sujeito à precarização do trabalho e a não ver respeitados seus direitos. O fato é que a terceirização potencializa essa tendência e, portanto, deve ser combatida e denunciada por todos que defendem a existências desses direitos.

    * Sávio M. Cavalcante é professor do Departamento de Sociologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.

     

  20. Cunha não passa de um

    Cunha não passa de um despachante dos ricos, de banqueiros e grandes empresários. Pelos serviços prestados ao andar de cima, vai galgando posições, postos, e pode até chegar a presidência da republiqueta de aluguel a que estão transformando o Brasil.

  21. A grande falha da esquerda

    Temos aqui uma amostra do que tem faltado especialmente à esquerda, e sem isto não se ganha jogo algum.

    Os eleitores de esquerda têm votado nos nomes mais honestos e isto está certo. Mas falta algo, o candidato não basta ser honesto, têm de ser um exímio enxadrezista da política, um mestre na articulação e na negociação.

    Todos os Governos que se deram bem tiveram seus mestres articuladores, e todos os que se deram mal não tinham.

    Exemplos de Governos que se deram bem, e tinham seus operadores mestres:

    Governo Lula. Lula era um mestre na articulação. Alé é claro de Dirceu.

    Jucelino Kubitschek. Era o próprio carisma na negociação.

    Getúlio Vargas. Também, com seu carisma, sabia abrir portas, além é claro de ter editado a sua própria constituição.

    Os Governos sem habilidade de negociação, ou sem maioria no Congresso, podemos citar Jânio Quadros, Collor, só para falar dos mais famosos que não conseguiram terminar o mandato.

     

    Agora a direita tem seus mestres, embora não exatamente modelos a seguir, são jogadores de peso.E o PT quem tem? Rui Falcão? (risos). Tiririca? Podem até ser honestos, mas em termos de peso, um Eduardo Cunha no ringue da política, vale por uns cem deputados ou mais. Não estou questionando a moral, mas a eficiência de se articular.

     

    Fica esta lição para as próximas eleições, procure um candidato de esquerda, que seja honesto, mas que seja ótimo articulador em negociações.

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