Com ajuda de Temer, Senado salvou Aécio para se salvar

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Mesmo com riscos que decisão trazia, senadores não se comprometeram pelo caso Aécio, mas por todos parlamentares que podem ser mira de medidas cautelares do Supremo
 

Foto: Alessandro Dantas / AGPT
 
Jornal GGN – Após as articulações feitas pelo mandatário Michel Temer e dos aliados de Aécio Neves (PSDB-MG) no Senado, mais que o dobro do Plenário presente (44 contra 26) votou a favor da liberação do tucano para continuar atuando como parlamentar, na noite desta terça-feira (17). Não é casualidade que dos 44 senadores, pelo menos 19 são alvos da Lava Jato.
 
Ainda nesta segunda, o GGN havia adiantado que os parlamentares precisariam colocar na balança dois cenários diferentes: salvar Aécio e confrontar a determinação da Primeira Turma do STF, com os riscos que isso impõe, ou concordar com a medida e confirmar que o Supremo é quem tem a última palavra sobre determinações penais.
 
As duas decisões seriam riscos aos parlamentares. A primeira, porque Aécio já não tem representatividade dentro do PSDB, sigla que investiu os últimos dias a levantar nomes para as candidaturas de 2018. Ainda, salvando o tucano agora não significaria a proteção permanente. O Senado precisaria abrir uma investigação interna em Comissão sobre as acusações que tramitam na Justiça, podendo o senador perder o mandato depois de forma definitiva.
 
A segunda traria a dificuldade de colocar na berlinda não somente Aécio, mas todos os outros parlamentares investigados na Operação Lava Jato e que têm inquéritos que podem ocasionar as mesmas penas e medidas cautelares à de Aécio Neves. E, além disso, apesar de ter a sua imagem abafada desde que entrou para as acusações de delatores, o tucano é figura presente do governo peemedebista.
 
Neste ponto, o presidente Michel Temer mobilizou articulações dentro do Congresso, como uma troca de favores: os tucanos ajudarem a absolver o mandatário da denúncia que tramita na Câmara dos Deputados, e os peemedebistas e aliados de Temer ajudariam a salvar o correligionário Aécio.
 
Diante de todos estes fatores, os senadores optaram pelo risco que, a priori, parece ser maior: contrariar a instância maior da Justiça brasileira, tomada no dia 26 de setembro, mantendo o mandato de Aécio Neves. Os riscos que eles calcularam, contudo, foram menores que se a decisão fosse a outra.
 
O Senado decidiu impor a palavra sobre a Justiça, de que, apesar dos avanços da Operação Lava Jato, é a Casa Legislativa a responsável por punir ou impunir seus membros. Revogou o afastamento do tucano e também desfez a determinação de recolhimento domiciliar imposta pela Primeira Turma do STF.
 
A sessão iniciou por volta das 17 horas desta terça, com quorum de 71 senadores. A votação foi aberta, por outra determinação do Supremo, e ainda assim 44 senadores salvaram Aécio, contra 26 que quiseram manter as determinações da Justiça.
 
Não apenas o PMDB e o PSDB orientaram seus parlamentares a votar “não” à decisão do Supremo, ou seja, contra o afastamento de Aécio, como também os partidos da base aliada: PP, PR, PRB, PROS e PTC. Duas das siglas que vêm tendo alguns conflitos com o governo, DEM e PSD, liberaram os senadores a votar como quisessem. A oposição, com PT, PSB, Pode, PDT, PSC e Rede, endossou o voto a favor do Supremo e contra Aécio. 
 
“Uma decisão lamentável, que amplia a falta de credibilidade do Congresso e da política no Brasil. Fosse alguém do PT, certamente que por muito menos estaria cassado”, lamentou o senador Humberto Costa (PT-PE).

 
“O Senado apenas entendeu que não seriam cabíveis as medidas cautelares que foram decididas por uma votação de desempate em turma do Supremo”, diminuiu o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
 
Aécio, por sua vez, comemorou com “serenidade”: “A decisão restabeleceu princípios essenciais de um Estado democrático, garantindo tanto a plenitude da representação popular, como o devido processo legal, assegurando ao senador a oportunidade de apresentar sua defesa e comprovar cabalmente na Justiça sua inocência em relação às falsas acusações das quais foi alvo”, afirmou em nota.
 
Abaixo, a lista de como votou cada senador:
SALVOU AÉCIO CONTRA AÉCIO
Airton Sandoval (PMDB-SP) Acir Gurgacz (PDT-RO)
Antonio Anastasia (PSDB-MG) Alvaro Dias (Pode-PR)
Ataídes Oliveira (PSDB-TO) Ana Amélia (PP-RS)
Benedito de Lira (PP-AL) Ângela Portela (PDT-RR)
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) Antônio Carlos Valadares (PSB-SE)
Cidinho Santos (PR-MT) Fátima Bezerra (PT-RN)
Ciro Nogueira (PP-PI) Humberto Costa (PT-PE)
Dalírio Beber (PSDB-SC) João Capiberibe (PSB-AP)
Dário Berger (PMDB-SC) José Medeiros (Pode-MT)
Davi Alcolumbre (DEM-AP) José Pimentel (PT-CE)
Edison Lobão (PMDB-MA) Kátia Abreu (PMDB-TO)
Eduardo Amorim (PSDB-SE) Lasier Martins (PSD-RS)
Eduardo Braga (PMDB-AM) Lídice da Mata (PSB-BA)
Eduardo Lopes (PRB-RJ) Lindbergh Farias (PT-RJ)
Elmano Férrer (PMDB-PI) Lúcia Vânia (PSB-GO)
Fernando Coelho (PMDB-PE) Magno Malta (PR-ES)
Fernando Collor (PTC-AL) Otto Alencar (PSD-BA)
Flexa Ribeiro (PSDB-PA) Paulo Paim (PT-RS)
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) Paulo Rocha (PT-PA)
Hélio José (PROS-DF) Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
Ivo Cassol (PMDB-RO) Regina Sousa (PT-PI)
Jader Barbalho (PMDB-PA) Reguffe (Sem partido-DF)
João Alberto Souza (PMDB-MA) Roberto Requião (PMDB-PR)
José Agripino Maia (DEM-RN) Romário (Pode-RJ)
José Maranhão (PMDB-PB) Ronaldo Caiado (DEM-GO)
José Serra (PSDB-SP) Walter Pinheiro (Sem partido-BA)
Maria do Carmo Alves (DEM-SE)  
Marta Suplicy (PMDB-SP)  
Omar Aziz (PSD-AM)  
Paulo Bauer (PSDB-SC)  
Pedro Chaves (PSC-MS)  
Raimundo Lira (PMDB-PB)  
Renan Calheiros (PMDB-AL)  
Roberto Rocha (PSDB-MA)  
Romero Jucá (PMDB-RR)  
Simone Tebet (PMDB-MS)  
Tasso Jereissati (PSDB-CE)  
Telmário Mota (PTB-RR)  
Valdir Raupp (PMDB-RO)  
Vicentinho Alves (PR-TO)  
Waldemir Moka (PMDB-MS)  
Wellington Fagundes (PR-MT)  
Wilder Morais (PP-GO)  
Zezé Perrella (PMDB-MG)  
Fonte: Senado

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Representação popular

    O nobre e salvo parlamentar entende que sua liberdade se deve à “plenitude da representação popular”, numa constatação de que ele representa plenamente os corruptos, improbos e quetais?

    mmmmm!

  2. Uma mão lava a outra

    A lista dos que salvaram Aécio depõe contra o proprio Aécio. Agora fiquei na duvida de eles também traficam e matam. Que são corruptos, ja é sabido. Eles contam com o esquecimento do povo. “O povo não tem memoria” basta a Globo e demais silenciarem. Mas acho dificil engolirem essa sem farinha. E a Gleisi Hoffmann não votou? 

  3. vergonha

    A vergonha na cara que precisavam demonstrar, enquanto a mídia calhorda e canalha tinha um mínimo de escrúpulos, não precisam mais, são agora o que sempre foram: bandidos; a maioria de pilantras, oportunistas pés-de-chinelo e punguistas, catando as migalhas das máfias a saquearem o Brasil, todos devidamente escoltados pelas policias e pelo EB!

     

     

     

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