Bancada feminina entra na mira de Eduardo Cunha

Jornal GGN – O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, propõe mudança regimental que vai ameaçar a autonomia das mulheres no Congresso Nacional. Atualmente, a coordenadora da bancada feminina precisa vir, necessariamente, de um dos partidos com maior número de mulheres eleitas. Cunha sugere que essa regra seja alterada, e que a representante da bancada feminina passe a ser indicada por blocos proporcionais. Na prática, isso significa que partidos que têm mulheres parlamentares ficarão de fora da escolha e partidos que não têm nenhuma mulher eleita entrarão.

Enviado por Alfeu

Mudança na coordenação da bancada feminina ameaça autonomia das mulheres na Câmara

Do Sul 21

A autonomia das mulheres do Congresso Nacional está ameaçada por uma mudança regimental proposta pelo presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Atualmente, a ocupante do cargo de coordenadora da bancada feminina é escolhida entre as parlamentares dos partidos com maior número de mulheres eleitas. Mas, Eduardo Cunha sugere mudanças na decisão. O presidente da Câmara deseja que se passe a utilizar o mesmo critério de co-relação de forças que o elegeu presidente da Câmara Federal, ou seja, que a coordenadora da bancada feminina passe a ser indicada por blocos proporcionais. O que, para as parlamentares, pode significar retrocesso nos direitos das mulheres brasileiras no Parlamento.

“Isso significa que, partidos como PSL e o PDT, que têm mulheres parlamentares ficarão de fora da escolha da coordenação da bancada. E ainda, que 11 partidos sem nenhuma mulher eleita terão direito de indicar e votar nas mulheres para o cargo”, explica a deputada federal Erica Kokay (PT-DF). Segundo ela, a mudança regimental fere o princípio básico da autonomia conquistado pelas mulheres na política desde a Assembleia Nacional Constituinte. “Sempre lutamos pela nossa autonomia. A autonomia é nossa condição de sujeito na sociedade, algo básico para reconhecermos nossa humanidade. Se não formos donas das nossas escolhas, não estaremos exercendo a humanidade em sua plenitude”, argumenta.

Mais do que uma questão filosófica, a proposta de Eduardo Cunha, discutida em reunião da bancada feminina às 17h desta terça-feira (24), poderá significar retrocessos nas questões de gênero. “Neste momento está em cheque a nossa autonomia, sem falar nos desafios que teremos que ter independente de termos este espaço da coordenação preservado, para manter as conquistas que já alcançamos. Não me refiro nem a avançar, nosso trabalho será de lutar para manter o que já aprovamos”, alerta a deputada Jô Moraes (PCdoB – MG) atual coordenadora da bancada feminina.

Articulação seria para barrar o PT ou feministas no cargo

A bancada feminina atualmente é composta por 51 mulheres, do total de 513 parlamentares que compõem a atual legislatura – o que significa representatividade menor que 10%. A coordenadora da Bancada Feminina eleita também assume a Secretaria da Mulher. O espaço foi conquistado em 2013 e também abriga uma Procuradoria da Mulher. Os dois espaços garantem o encaminhamento de pautas de interesse das mulheres brasileiras à votação direta em Plenário, além de assegurar direitos contra assédio e outras violações. “Nomeamos a coordenadora e mais três adjuntas. Além de uma procuradora e três adjuntas. Tudo isso dentro da Secretaria. Pelo regimento, só votam mulheres. Se for pelo sistema de blocos, o maior bloco é o do PMDB (de Eduardo Cunha)”, explica a deputada Erica Kokay.

O segundo maior bloco com poder de indicação é o PT, partido que também possui o maior número de parlamentares na Câmara (9) e, pelo regimento atual, indicaria a próxima coordenadora da bancada. Nos bastidores da Câmara corre a versão de que a medida sugerida por Eduardo Cunha seja para evitar a eleição de uma feminista ao cargo, uma vez que ele já fez declarações do tipo “tratar do aborto, só por cima do meu cadáver”.

“Para se ter uma ideia, temos que impedir o retrocesso sugerido por um grupo de parlamentares para derrubar uma portaria do Ministério da Saúde que garante uma rede assistência às mulheres vítimas de violência sexual. A medida garante que o SUS ofereça, entre outras coisas, atendimento para prevenção de DST, HIV e gravidez com a distribuição de Pílula do Dia Seguinte para as vítimas. Então, não estamos nem falando em apresentar propostas para temas mais complexos, que discutam, por exemplo, ampliação de direitos como a interrupção da gravidez em casos de estupro e risco de vida para mãe, que já é uma lei no Brasil”, argumenta a deputada Jô Moraes.

Na avaliação da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), a mudança no critério da escolha da bancada feminina afeta diretamente o trabalho de ampliação da participação das mulheres nos espaços de poder e na política. “Já somos um grupo pequeno de parlamentares. Eu tenho a responsabilidade de ser a única deputada eleita pelo Rio Grande do Sul, então, não poderemos decidir sobre os temas de interesse das mulheres fere diretamente nossa autonomia. Temos que dar voz às mulheres de cada região do país, em toda sua diversidade cultural e social”, defende.

Representação das mulheres é último poder que falta para grupo político de Cunha

Desde o surgimento da ‘bancada do batom’, quando iniciou a participação das mulheres na Constituinte, esta é a primeira vez que um presidente da Câmara Federal interfere nas decisões sobre a atuação da bancada feminina. Ainda que numericamente pequena e com posições político-ideológicas diversas, a bancada feminina garantiu desde então 80% de êxito em suas emendas. “Temos que levar em conta também que, uma parte significativa das mulheres eleitas, ainda que mereça consideração, ingressa na vida política por parentesco com homens que já exercem mandatos. É mais uma demonstração de que a estrutura política do país ainda barra a participação de mulheres”, afirma Rosário.

A coordenação da bancada feminina é o último espaço de poder e decisão na Câmara Federal que falta ser ocupado pelo grupo de articulação política do presidente Eduardo Cunha. A maioria das comissões, entre elas as mais importantes (Constituição e Justiça, Finanças e Orçamento e Reforma Política) foram cooptadas pelos blocos pró-Cunha. Além disso, a presidência e demais integrantes da CPI da Petrobras estão sendo indicados pelo PMDB, da ala de Eduardo Cunha.

O Sul21 tentou contato com o deputado federal e presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha que, até o fechamento desta matéria, não respondeu sobre todos os questionamentos feitos pelas parlamentares ouvidas pela reportagem. Apenas, por meio de assessoria de imprensa, afirmou que na semana do Dia da Mulher colocará em votação PEC da deputada federal Luiza Erundina (PSB-RJ) que obriga a presença feminina na Mesa Diretora.

Redação

11 Comentários

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  1. O bode na sala

    É o cunha pondo o bode na sala das mulheres para impedir o seu avanço.

    Assim, a luta delas agora e pela manutenção da representatividade, que tinham conquistado.

    O cunha tira o bode da sala (mantem tudo como está), se las se coprometerem a não avançar sinais.

    Grande filho…esse cunha. Tô torcendo pela Lava jato, contra ele. 

  2. então foi por isso?

    se foi, salve a visão de nossa juventude, de nossas mulheres, da UNE

    83 anos de voto feminino: por mais mulheres na política

    A primeira brasileira a votar foi Celina Guimarães Viana, no estado do Rio Grande do Norte, em 1927. A façanha, naqueles tempos de exclusão completa da mulher na vida pública, aconteceu devido aos conflitos entre a legislação daquele estado e a Constituição Federal brasileira. Pouco tempo depois, a estudante mineira Mietta Santiago, na época com 20 anos e regressando da Europa, fez o mesmo, utilizando-se de uma sentença judicial até então inédita nas cortes brasileiras. Começava um movimento nacional de mobilização de ativistas, escritoras, militantes políticas, trabalhadoras e muitas outras que levaram o presidente Getúlio Vargas a suprimir, em um decreto de 24 de fevereiro de 1932, qualquer restrição ao voto feminino.

    Oitenta e três anos depois, elas são a maioria do eleitorado no país, porém a representatividade nas urnas não corresponde à participação das mulheres na política. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de eleitoras chega a 52%, enquanto entre os 513 deputados federais somente 51 são mulheres (10%). Nas últimas eleições elas representaram apenas 30,7% dos candidatos.

    Para a coordenadora de juventude da União Brasileira das Mulheres (UBM) e ex-diretora de cultura da UNE, Maria das Neves, a conquista do voto feminino foi fundamental para o avanço da democracia no Brasil. ‘’A democracia em nosso país é ainda muito recente, porém a participação da mulher na política abriu mais espaço para essa consolidação. Agora temos que garantir uma reforma política com paridade no parlamento, alternância de gênero e conquistar uma nova cultura política que seja capaz de mudar o sistema eleitoral criando condições reais para a participação da mulher’’, disse.

    A alternância de gênero está prevista no projeto de Lei da Reforma Política Democrática e visa à destinação de 50% das vagas de candidatos para as mulheres, estabelecendo também que o partido ou coligação que apresentar candidato ou candidata incluído em movimentos sociais terá acrescido em 3% sua participação no Fundo Democrático de Campanha.

    ‘’É preciso transformar a vida das mulheres para mudar o sistema político brasileiro, e é preciso transformar o sistema político brasileiro para mudar a vida das mulheres’’, ponderou a diretora de mulheres da UNE, Lays Gonçalves.

    A UNE participa da Coalizão pela Reforma Política e Democrática e Eleições Limpas juntamente com outras organizações como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Movimento dos sem-terra (MST) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

    Para conhecer mais sobre o projeto, acesse – http://www.reformapoliticademocratica.org.br/

     

  3. Chico da Dilma se refere a

    Chico da Dilma se refere a machismo e misoginia, mas acho que isso está cheirando a outra coisa. Dia do orgulho hétero, essa de colocar as mulheres congressistas para escanteio, sei não. Macho que é macho não tem dia festivo e dá todo apoio as mulheres. Logo…

  4. A direita aprendeu com a

    A direita aprendeu com a esquerda a ir pra rua e de lá a enxotou. Será que não está na hora de a esquerda aprender comunicação com a direita? Porque a direita tem falado com muito mais eficiência ao povo, que anseia por dar um golpe em si mesmo e ainda comorar.

  5. E o país ainda tá com medo de

    E o país ainda tá com medo de uma revolução de esquerda, vejam o tamanho da ignorância bovina que nos assola!

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