Bancada ruralista representa 40% dos defensores de Michel Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Temer negocia e concede medidas de interesse de bancada para garantir apoio político – Foto: Lula Marques/AGPT
 
Jornal GGN – Entre os deputados que já se manifestaram contra a denúncia por corrupção passiva de Michel Temer, e seu julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mais de 40% faz parte da bancada ruralista na Câmara dos Deputados. 
 
O levantamento é do Brasil de Fato, que cruzou os dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), que traz a lista de todos os 139 parlamentares da primeira Casa Legislativa que integram a bancada ruralista, e as manifestações do placar da Folha de S. Paulo.
 
O resultado é de que entre os 74 deputados que irão votar a favor de Temer, 30 têm ligações com o agronegócio. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o resultado foi similar: dos 40 votos pela absolvição do mandatário e a sequer investigação no Supremo, 15 são proprietários de terras ou ligados a ruralistas.
 
A lógica ao revés também foi analisada: entre os 25 deputados que são a favor da denúncia contra Michel Temer chegar ao STF, apenas um é ligado à bancada ruralista. Os votos foram obtidos pela Folha de S. Paulo, por meio de manifestações antecipadas dos deputados, adiantando seus votos no julgamento previsto para o dia 2 de agosto.
 
Do Brasil de Fato
 
 
Para angariar votos do setor contra a denúncia de corrupção passiva, Temer avança na agenda ambiental
 
Rafael Tatemoto
 

Dos 74 deputados que já se manifestaram contra a concessão de autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) possa receber a denúncia formulada contra Michel Temer (PMDB) por corrupção passiva, 30 fazem parte da bancada ruralista (40,5%), representante dos interesses econômicos de grandes proprietários de terras e do agronegócio. A votação está prevista para ocorrer no Plenário da Câmara no dia dois de agosto. 

O percentual é próximo do verificado na votação precedente, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa: dos 40 votos favoráveis a Temer – contra a denúncia -, 15 vieram de ruralistas. A cifra representa 37,5%. Na ocasião, entre 25 parlamentares favoráveis à denúncia, apenas um deputado ligado a bancada votou contra o presidente (4%). 

A reportagem do Brasil de Fato cruzou os dados de listagem realizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), apontando deputados eleitos em 2014 com ligações com o agronegócio, com o mapeamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo, que apresenta declarações do conjunto da Câmara em relação à denúncia por corrupção passiva que a Procuradoria-Geral da República formulou contra Temer. 

No momento, o percentual projetado de ruralistas entre os que declararam voto contra Temer é maior do que o da CJJ: dos 181 que se declararam pró-denúncia, 18 são da bancada (10%). Já entre os que não declararam posição – “não sabe”, “não vai se pronunciar”, “não vai votar”, “não respondeu” – os ruralistas são quase metade: 70 entre 148 (47,3%).

Do cruzamento primário das listas, a reportagem identificou apenas 118 parlamentares. Internamente, na decisão que o Plenário deve tomar, se dividem da seguinte forma: 60% não manifestou posição, 25% é contra a denúncia e 15% favoráveis a ela. 

Com os mesmos dados, se esse método fosse aplicado à votação da CCJ, 93% da bancada ruralista foi a favor de Temer enquanto 6% foi contra. A aplicação desses percentuais de forma análoga para o Plenário, com fins de prever a posição dos indecisos, não é completamente confiável.

Negociações

A bancada ruralista – conhecida por defender de forma ativa os interesses do agronegócio contra a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas e posições ambientalistas – tem sido um dos lastros de Temer no Congresso. 

O deputado Marcos Fontes (PSD-MG), pertencente a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), declarou permanência do apoio ao governo. 

“O presidente não tinha uma aprovação popular e nós sabemos disso. No entanto, ele tinha aprovação dentro do Congresso e se a aprovação persistir, vai permitir que a gente avance nas reformas, o que é ideal para o Brasil. O que nós não podemos perder é a governabilidade, porque os avanços, através das reformas, têm que acontecer”, disse.

O apoio, contudo, tem preço. A discussão sobre o refinanciamento do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, por exemplo, foi suspensa no interior do governo sob pressão dos ruralistas. O Executivo queria que ao menos 5% das dívidas com o fundo fossem pagas ainda este ano. A bancada quer que os atrasos só passem a ser cobrados em 2018. 

Para se salvar na Câmara, os acenos de Temer à bancada são constantes. Recentemente, o governo diminuiu a área da Reserva Florestal de Jamanxim, no Pará. Neste mês, também sancionou a Medida Provisória 759, aprovada no Congresso, e que é chamada por movimentos populares e ambientalistas de “MP da Grilagem”. 

Além disso, aprovou parecer que determina que apenas terras ocupadas por indígenas até 1988 podem ser demarcadas. O governo ainda negocia a liberação de novos agrotóxicos, a flexibilização do licenciamento ambiental e a venda de terras para estrangeiros. 

 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador