Cerveró: compra de Pasadena foi acertada e Dilma não é única responsável

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, disse aos senadores que compõem a CPI da Petrobras, na manhã desta quinta (22), que a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), foi acertada e que a responsabilidade pela aquisição do equipamento, em 2006, não é apenas da presidente Dilma Rousseff. Na época, a petista era ministra-chefe da Casa Civil e presidente do Conselho Administrativo da Petrobras, órgão que delibera sobre as decisões estratégicas da estatal. Cerveró reforçou o depoimento do ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, na terça (20), explicando que o Conselho é um órgão colegiado e que Dilma, mesmo como presidente, não poderia tomar essa decisão sozinha.

Cerveró foi questionado sobre o assunto porque Dilma disse à imprensa que ele era o responsável por apresentar o sumário executivo que continha o resumo do contrato de compra de 50% da refinaria. No documento, segundo a presidente, não existia menção às cláusulas Marlim (que garantia rentabilidade à Astra Oil, parceira da Petrobras na gestão de Pasadena) e Put Option (que obrigava uma das partes a comprar 100% da empresa caso não houvesse consenso na condução do negócio).

Cerveró rebateu a declaração da presidente dizendo que não omitiu nenhuma cláusula vital ao negócio. “Não concordo que omiti alguma coisa. Até porque essas cláusulas são detalhes contratuais que não devem constar em um sumário executivo. O que estava em jogo não eram as cláusulas, mas a estratégica da compra, se era importante expandir o negócio nos Estados Unidos ou não. O projeto foi aprovado no Conselho sem nenhum objeção. Inclusive, foi elogiado dada a total aceitação da Petrobras no mercado americano. É extremamente injusto que depois de 40 anos de Petrobras eu tenha sido colocado como alguém que enganou a presidente ou o Conselho Administrativo. A responsabilidade da compra de Pasadena é de todos nós, e foi uma compra acertada, diferentemente do que estão colocando na mídia”, frisou o engenheiro.

Segundo Gabrielli, Cerveró conduziu o departamento que encabeçou as negociações com a Astra Oil pela compra de Pasadena desde o início. À CPI, ambos explicaram essa semana que adquirir uma refinaria no exterior fazia parte da estratégia de crescimento da Petrobras desde que o país era conduzido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Gabrielli apontou que durante a gestão do tucano, não havia condições econômicas favoráveis à expansão dos negócios da Petrobras. O cenário mudou a partir dos anos 2000. Em 2005, a empresa brasileiria iniciou as tratativas com a Astra.

A compra de metade do equipamento (a refinaria e uma comercializadora de derivados de petróleo) foi concluída em setembro de 2006. Anos depois, as sócias disputaram na justiça a venda dos outros 50% à Petrobras, caso que só teve conclusão e pagamento em 2012. No total, a Petrobras desembolsou 1,2 bilhão de dólares por toda a Pasadena. A oposição ao governo Dilma iniciou uma campanha por uma CPI alegando que esse valor era dezenas de vezes superior ao que a Astra Oil pagou pela refinaria anos antes.

Dados mal explicados

Tanto Cerveró quanto Gabrielli denotaram que os dados propagados acerca da compra são parciais ou mal explicados. Segundo ele, no valor total é preciso considerar que houve, ao longo dos anos, gastos com a disputa judicial, além de ser obrigatório considerar que inúmeros investimentos foram feitos. Mesmo em relação à compra inicial de Pasadena pela Astra Oil é preciso considerar que a companhia belga teve custos com questões trabalhistas e ambientais herdadas da proprietária anterior, e isso pesou na negociação posterior com a Petrobras.

“A refinaria não foi comprada por valores vultosos ou fora do mercado. Mesmo depois da disputa judicial, ela custou 550 milhões de dólares, o que corresponde ao valor de 5,5 mil dólares por barril produzido. O valor médio de aquisição de refinarias em 2006 era acima de 9 mil dólares po barril. Ou seja, o valor estava abaixo do mercado”, pontuou Cerveró. À CPI, ele disse que ainda não foi ouvido pela Polícia Federal ou o órgãos do Judiciário envolvidos na Operação Lava-Jato.

Para os ex-dirigentes, Pasadena foi bom ou mau negócio dependendo do contexto em que é analisada. Em 2006, os estudos e consultorias contratados apontam que a transação foi correta. Em 2008, com a crise econômica mundial, o aparelho não apresentou resultados financeiros positivos, mas continuou mantendo bom desempenho operacional. Só a partir de 2014 registrou lucro de 58 milhões de dólares nos dois primeiros meses. 

A oposição ao governo Dilma não compareceu novamente à CPI. O grupo que recorreu ao Supremo Tribunal Federal para conseguir instaurar a investigação parlamentar sustena que a CPI é chapa branca (por ter maioria governista) e aposta em uma CPI mista a partir da próxima semana. 

CPI convoca Paulo Roberto Costa

Sem quórum para poder deliberar sobre os requerimentos, a CPI da Petrobras no Senado informou que pretende aprovar a convocação do ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, investigado na Operação Lava-Jato, além de requerer à Polícia Federal e à Vara de Justiça de Curitiba os documentos pertinentes à apuração.

O grupo também pediu ao Superior Tribunal de Justiça acesso à investigação sobre a troca de ativos entre a Petrobras e Repsol-YPF. Em 2002, a EG3, subsidiária da Petrobras na Argentina, adquirida da Repson, teve prejuízo de R$ 790 milhões com a desvalorização do peso em relação ao dólar.

Na próxima terça-feira (27), a presidente da Petrobras, Graça Foster, será ouvida pelos senadores. O ex-diretor internacional da Petrobras Jorge Zelada também foi convocado.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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  1. Resumo

    Considero o modelo de partilha, a “Put Option” do Pré-sal…

    Pasadena foi mal negócio porque contrato que não se precavê do infortúnio, isto é, não faz gestão de riscos,  é contrato ruim, e o negócio é um contrato.

    1. Ah, que bom, da proxima vez a

      Ah, que bom, da proxima vez a Petrobrax pode te perguntar quais sao os “infortunios” vindouros, neh mesmo?

      E ainda tem “o negocio eh um contracto”!!!

      Voce eh pago por besteiras por milimetro quadrado?

  2. Putz!!! A CPI chapa branca

    Putz!!! A CPI chapa branca ainda vai chegar à conclusão que, sem a compra de Pasadena, a Petrobrás ia falir…

    1. Mais, muito mais

      Que a estupenda compra, o fantástico investimento em Pasadena irá tirar a Petrobrás da pré-falência em que se encontra.

      1. Onde os dois mitológicos comentaristas

        Leram esto para estes comentários? Falar ou escrever pelos cotovelos faz parecerem idiotas. Ou não só parecerem?

    2. Durante a didatura e governos

      Durante a didatura e governos de opisção, o que o petismo mais pregava era  que,  ao contrário das nações civilizadas, CPI para investigar o governo com  maioria governista era coisa de escória social. Mas ninguém quis  mudar nada disto.

      1.   Sabe o que seria honesto da

          Sabe o que seria honesto da sua parte? Lembrar que Aloysio “300 mil” Nunes e Aécio abominável homem das Neves DESISTIRAM da CPI que eles mesmos patrocinaram.

          Vamos AOS FATOS.

  3. “Sem quórum para poder

    “Sem quórum para poder deliberar sobre os requerimentos, a CPI da Petrobras no Senado informou que…”:

    Que tambem tem a pretensao de “deliberar” a respeito de sabotar o governo.

  4. DEm ???

    Mentir em plenário é quebra de decoro, o que é MENTIR EM PROPAGANDA PARTIDÁRIA, como fez hoje DESCARADAMENTE O DEMOCRATAS, que comparou um carro velho com dois zero km e 42 milhões com 1 bi, na crítica à compra de Pasadena. Repete-se a DESLAVADA MENTIRA, agora em horário nobre e os juízes do TSE, tão zelosos quando se trata do PT, para não melindrar a oposição, neste caso nada faz. Será que devemos acionar o CONAR, ou o PROCON? Outro recado à GLOBO, cujo JN ignorou a pesquisa eleitoral e falou somente da pesquisa de confiança no governo e em Dilma (estranho que a desaprovação não significou votos para a oposição). A propaganda do DEM foi o cúmulo do DESCARAMENTO E MENTIRA e a juíza Laurita…

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