Dilma prepara indicações para amenizar impacto da desarticulação

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Antes de dar início à escolha de cargos de “segundo escalão” – secretarias, assessorias de Ministérios e autarquias –, a presidente Dilma Rousseff deu sinal verde ao PMDB de que está pronta para articular: tirou o acadêmico Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) desde março de 2013 e reempossado, para colocar Mangabeira Unger, filiado ao PMDB com forte reputação na pasta.

A decisão foi considerada acertada porque Unger foi o primeiro ministro da SAE, em 2007, consolidando o importante papel da Secretaria; desde 1971 é professor da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais conceituadas mundialmente; e é filiado ao partido dos presidentes das Casas Legislativas. 

O anúncio tardio de que a articulação de nomes da sigla para cargos do Executivo seria efetivada, aliado à sequência de erros – assim definido pelos parlamentares – da presidente em levar nomes como Mercadante, Rossetto e Pepe Vargas para o meio de campo do Congresso, e os poucos ganhos visíveis dos partidos menores em Ministérios, brecaram o espaço do PT em mesas diretoras, dificultando a governabilidade da presidente para este novo mandato.

Os passos seguintes de indicações de Dilma devem seguir a mesma lógica da escolha de Unger. O Planalto já avisou que não tende aderir à chamada “porteira fechada”, ou seja, entregar um Ministério inteiro ao comando de um partido, com as indicações de diretores e autarquias vinculadas àquele partido. 

Ainda assim, decisões pontuais devem favorecer o PMDB. Sem alternativa, a previsão agora é ceder. O que se mostrou possível, alinhando os três critérios apontados pelo ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, nas escolhas da presidente: capacidade de gestão, histórico de probidade e equilíbrio entre os partidos que compõem o governo.

Leia mais: O alto preço da articulação política de Dilma

O anúncio ocorre em momento já delicado da nova frente da Câmara dos Deputados. 

Cunha quer barrar o principal ponto de reforma política da campanha de Dilma: o financiamento privado das eleições. A informação de que Eduardo Cunha quer colocar na Constituição a previsão de que as empresas podem fazer doação a candidatos foi repassada pelo PT e pequenos partidos, que informaram que o novo presidente da Casa quer acelerar a votação da reforma, evitando que a pauta seja julgada pelo STF, e que ele decida pela inconstitucionalidade do financiamento.

O deputado justifica que “todos queriam votar uma reforma política”. Entretanto, a intenção de Cunha, escancarada pelo então líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), era de “empurrar goela abaixo a emenda constitucional, e chamá-la de reforma”. 

Outra tratativa em andamento de Eduardo Cunha é tornar obrigatória a liberação de verbas pelo Executivo das emendas que congressistas incluem no Orçamento da União, que hoje não é obrigatória. 

O deputado também manejava dificultar fusões entre partidos, uma intenção dos governistas para tentar diluir o peso do PMDB no Congresso, dando abertura para a criação do Partido Liberal, por Gilberto Kassab (PSD), para inflá-lo e juntar ao PSD.

Enquanto a relação dos parlamentares no Legislativo distancia-se de uma unidade, Dilma parte para novas articulações, com vistas a não prejudicar, ainda mais, a sua governabilidade.

Leia também: A boa escolha de Mangabeira Unger

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. Ao que parece, a eleição de

    Ao que parece, a eleição de Eduardo Cunha pode ter um resultado colateral: a posse de Dilma na presidência da república para o novo mandato.

  2. Adeus reformas

    Dilma errou na montagem de seu ministério (sera que ela joga ou entende um pouco de xadrez ? Ha quem afirma que Getulio não teria caido (suicidado-assassinado) se tivesse escolhido o nome certo para a Aeronautica no momento da maior crise. A primeira fatura para Dilma foi bem alta. 

  3. Ou é agora, ou fica muito tarde!

    Nassif, esta mais que na hora de Lula articular o apoio das base de dos movimentos sociais e de todos os demais brasileiros que votaram nela e no projeto de um pais desenvolvido sem exclusão social, para marcharem em favor de Dilma, sob pena de sairem depostos do governo num golpe branco, com o rabo entre as pernas! Ou é agora ou nunca mais! 

  4. Não é ironia, é curiosidade

    Não é ironia, é curiosidade mesmo : o que faz a SAE, de concreto ? Não vale consultar o site oficial porque isso já fiz. Tanta gente boa, que tem produzido ?

  5. Se Dilma tiver que usar os

    Se Dilma tiver que usar os músculos do Estado para abortar a intenção do PSDB de produzir uma guerra civil no Brasil ela terá todo meu apoio. 

  6. De novo!

    Muita gente aqui falando que é ‘hora dos movimentos sindicais e sociais irem para a rua defender o governo’. Ah, de novo!

    Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo.

    Abraham Lincoln

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