Eu, um cristofóbico por causa de Eduardo Cunha

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Esta semana Eduardo Cunha se superou. Além de realizar um culto evangélico no plenário da Câmara dos Deputados, ele decidiu acelerar a votação do Projeto de Lei que transforma a crime a cristofobia.

O Estado brasileiro é laico, não tem e não pode ter tem uma religião oficial. As religiões são permitidas. Mas Constituição Federal garante as liberdades de consciência e de expressão daqueles que não são religiosos e não querem ser adeptos de uma religião. No Brasil ter ou não uma religião é, portanto, assunto privado e de foro íntimo.

O Parlamento é um órgão público em que o interesse público deve ser objeto de deliberação. As demonstrações de fervor religioso são louváveis nos locais de culto e nos lares dos fiéis. Devem, contudo, ser evitadas no Parlamento, pois não interessam à atividade pública lá desempenhada e podem despertar a ira dos parlamentares que praticam outras religiões (e que, com toda razão, gostariam de fazer o mesmo naquele local).

Tudo bem pesado, o culto evangélico permitido ou comandado por Eduardo Cunha dentro da Câmara dos Deputados deve ser repudiado, banido e até punido. É falta de decoro parlamentar destruir acintosamente o caráter laico do Estado e pisotear, dentro da Casa do Povo, a Constituição Federal que garante a legitimidade, validade e a eficácia dos mandatos atribuídos aos parlamentares.

Estes são argumentos racionais. Suspeito, porém, que eles não são capazes de despertar a atenção ou interesse de Eduardo Cunha e seu exército de pastores evangélicos. Dogmatismo, sectarismo e monoteísmo são características de todas as religiões que surgiram no Oriente Médio. Os dogmáticos raramente aceitam discutir racionalmente os seus dogmas. Quando o fazem não podem se dar por vencidos, porque  eles não são movidos pela razão e sim pela fé. Além disto, a autoridade da única palavra divina aceita e o poder espiritual de seu interprete por vocação não podem ser questionadas com argumentos racionais. No limite, um dogmático rejeitará o “outro” de maneira veemente alegando blasfêmia, anátema ou heresia (como, aliás, ocorreu no plenário da Câmara dos Deputados).

A impossibilidade de discutir racionalmente com Eduardo Cunha é frustrante. A Câmara dos Deputados não está sendo presidida com bom senso. Portanto, é estupidez tratar com bom senso o atual presidente do Parlamento. As vezes precisamos descer ao nível dos mentecaptos para comunicar uma única mensagem: a partir deste ponto você não passará, chega. Sou cidadão brasileiro, tenho 50 anos de idade e não pretendo deixar alguns maníacos transformarem meu país num hospício. Por isto, resolvi fazer aquilo que faço bem: escrever mensagens insolentes.

Transcrevo abaixo uma série de Twitter enviados para Eduardo Cunha.

@DepEduardoCunha usa Cristo para cobrar 10%. Um cristofóbico nada pagará para cagar numa privada adornada com um pedaço da verdadeira cruz.

O @STF_oficial liberou as biografias não autorizadas; p/ foder @DepEduardoCunha editarei uma biografia desautorizada-cristofóbica de Cristo.

Manda mais uma cristofobia aí garçom, que hoje tô querendo cometer crimes continuados só para foder idiotas como o @DepEduardoCunha !

O @DepEduardoCunha pensa que vai cristianizar o Brasil. O máximo que ele conseguirá será cristofobizar o país com a minha ajuda.

Você está decepcionado com Cristo por causa de imbecis como @DepEduardoCunha ? Venha ser cristofóbico e goze numa bééééblia. Totally free!

O @DepEduardoCunha vai morrer se lamentando por ter criado a maior, mais coesa e lucrativa religião anti-cristã da América Latina.

Na Igreja Cristofóbica, fundada com ajuda do @DepEduardoCunha, o fiel limpará a bunda com a bééééblia dos evangélicos.

Toda ação produz reação. A cristofobia será perdoada na minha religião. O @DepEduardoCunha ajudou a fundar a Igreja do Cristo esculhambado.

A cristofobia será mais que um crime. Graças ao @DepEduardoCunha farei dela um negócio lucrativo. Vou ganhar dinheiro fodendo Cristo.

Sou cristofóbico confesso. Prometo presentear o @DepEduardoCunha uma estátua de Cristo metendo o pau no cu de uma réplica dele.

Se a cristofobia for crime serei criminoso com prazer só para, por sadismo, questionar a constitucionalidade da Lei de @DepEduardoCunha.

As imbecilidades de @DepEduardoCunha despertam em mim não a vontade de ser gay, mas a necessidade humana de ser cristofóbico por birra!

Promete aqui ser um cristofóbico confesso. Alegarei a inconstitucionalidade da Lei de @DepEduardoCunha e enfiarei um crucifixo na anus dele.

Se @DepEduardoCunha conseguir aprovar e promulgar a Lei da Cristofobia cometerei o crime p/ poder alegar a inconstitucionalidade da mesma!

@DepEduardoCunha

Em verdade vos digo

Bem aventurado

o nascido

Com a imagem de Cristo no cu

Quando caga

Cristo fala

Quando se limpa

Ele cala

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

51 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Mais um post da série Como

    Mais um post da série Como desmoralizar um blog…

    Imagine alguem que vem aqui pela primeira vez e le um post desses, vai pensar o que ?

    Bom deixa pra lá, se gostam né….

     

    1. Imagina alguém que liga na tv câmara na hora do “culto”

      realizado essa semana, ocorrido logo depois de um protesto de deputados contra a “profanação da fé” na parada gay, que interrompeu a discussão sobre obrigatoriedade do voto nas eleições, vai pensar o que?

    2. Felizmente, há no Brasil

      Felizmente, há no Brasil muitos seres pensantes. Este talvez não seja o seu caso. Creio que você está mais para Eduardo Cunha do que para um estudioso das  “Cantigas de escárnio e de maldizer” (antiga tradição literária portuguesa que cá chegou com os colonos lusitanos). 

  2. Tô nessa

    Tô de saco cheio dessa gente(?) metida a besta!

     

    Querem nos obrigar a seguir seus dogmas.

    Na marra.

    Criando leis para nos obrigar a ter como sagrados os dogmas deles.

     

    Enquanto isso tiram dinheiro das pessoas, vendendo algo que não podem entregar, uma vaga no paraíso, lugar nunca visto por ninguém.

    Estelionato puro e simples.

     

    E se acham melhores que os outros.

    Porque seguem regras que ELES criaram.

    Quem nao segue as regras criadas por ELES, está errado, é mau e imoral.

     

    Ha, vão se catar!!!!

     

     

    1. Nunca, em toda a minha vida

      Eu pensei em pegar em armas pra defender ou impor alguma crença ou ideologia minha.

      Mas se esse projeto passar estarei seriamente propenso em comprar uma arma e passar a defender à bala meu direito de viver em um estado laico!

  3. Muito agressivo!

    Não carece tanta agressividade. A ironia é mais eficaz. E Eduardo Cunha é apenas a ponta do grande iceberg que pisoteia a laicidade do Estado brasileiro. Começa pelo próprio STF. Reparem no plenário, na parede atrás da cadeira da presidência. Lá o Cristo crucificado. Posicionado acima do símbolo da República.

    Plenário do STF com o crucifixo

    1. Ironia é um refinamento que

      Ironia é um refinamento que não herdamos dos lusitamos, que cá chegaram em 1500 como legítimos herdeiros da sátira despudorada e desbocada de Juvenal e de outros poetas romanos. Como você pode ver, em se tratando de literatura sou um cara muito “tradicionalista”.

       

       

    2. Ministros do STF nunca tentaram emplacar a cristofobia

      Eduardo Cunha quer criar munição para evangélicos maléficos como Malafaia e Feliciano se sobreporem às demais religiões.

      Nenhum outro Poder da República que pendurou um crucifixo em suas paredes jamais fez isso, nem sequer tentou!

      Depois da cristofobia virá o quê? Decretação de religião oficial do Estado? Punição das demais religiões? Tornar o homossexualismo crime? Tornar o dízimo obrigatório? Obrigar-me a jurar fidelidade a um estado religioso?

    3.  
      Se um bando de marmanjos

       

      Se um bando de marmanjos desses, não se sentem envergonhados dos trajes ridículos que ostentam. Não satisfeitos, cuidam de utilizar um falso discurso de erudição inútil. Imagina se iriam respeitar a laicidade garantida na própria Constituição Federal. Da qual, estes indivíduos tem o dever de fazer respeitar, são regiamente pagos para tal; garantir a plenitude de sua aplicação.

      Não dão nenhuma importância. São poderosos, preferem demonstrar péssimo desrespeito à Carta Mágna com essa acintosa manutenção de um símbolo de uma facção religiosa, ostensivamente aplicado acima do Símbolo Nacional, conforme bem observado por joselacerda.  Mesmo que represente uma seita, ou religião, majoritária na preferência do mercado da fé. O Estado brasileiro é laico. O que corresponde a adoção de um sistema político que defende a exclusão da influência de qualquer credo religioso, seja nos próprios do Estado, na cultura e na educação.

      Mas sabemos que, dasafortunadamente, a cultura da casa-grande, ainda prevalece. Sobretudo, nos seletos salões destinados aos espetaculosos eventos de nossas elites togadas, ridiculamente fantaziadas de urubú, onde as leis, são ornamentos para inglês ver. Eventualmente, respaldar com truques retóricos e citações do arco-da-velha, a condenação de meia dúzia de PPP+P, visando dar o exemplo necessário a manutenção da ordem e dos bons costumes. Amém !

      Orlando

  4. O que eu acho  prá lá de

    O que eu acho  prá lá de interessante é que quando ocorreu o atentado ao Charlie Hebdo, um montão de gente que frequenta este espaço abriu o bocão para tacar o pau nos chargistas mortos, pela falta de respeito deles a temas considerados sagrados por uma ou outra religião, quase que justificando a ação assassina dos seus carrascos… agora, agora… o que vemos?

    Vamos combinar: os deuses são, antes de mais nada, bastante irônicos…

    1. Mostre-me um só artigo meu

      Mostre-me um só artigo meu justificando a violência assassina contra os chargistas da revista Charlie Hebdo.

  5. “Cristofobia”: atentado ao estado laico e tática nazista

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-atentado-ao-estado-laico-no-pr

     

    O atentado ao estado laico e a tática nazista por trás do projeto da “cristofobia”. Por Kiko Nogueira

     

    Eduardo Cunha quer dar caráter de urgência à tramitação do projeto de lei que transforma a “cristofobia” em crime hediondo.

    Conceito elástico e vago, a “cristofobia” é, grosso modo, a aversão a preceitos e práticas cristãs. Na verdade, é a resposta da bancada evangélica à criminalização da homofobia.

    O autor é o líder do PSD na Câmara, deputado Rogério Rosso (acusado de fazer “nepotismo cruzado” no DF com um colega). Ele quer aumentar a pena de ultraje a culto para até oito anos de prisão. A performance da travesti Viviany Beleboni na Parada Gay foi o elemento detonador da fancaria.

    Os parlamentares apresentaram uma nota de repúdio ao evento, denunciando a “tentativa de desmoralizar a crença de milhões de brasileiros, com provocações desnecessárias, atitudes nefastas, inescrupulosas e reprováveis”.

    Na quarta feira, 10, ocorreu algo inédito no Congresso, baixo mesmo para os baixos padrões da Casa: a votação da reforma política foi interrompida para que evangélicos afrontassem abertamente o estado laico. Com cartazes em punho, gritando “respeito”, invadiram as tribunas do plenário e cercaram a mesa. No final, de mãos dadas, rezaram o Pai Nosso e depois berraram “Viva Jesus Cristo”.

    Indagado sobre o “protesto”, Cunha, cinicamente, agiu como se tivesse sido pego de surpresa. “Não posso impedir a manifestação do parlamentar, não posso calar a boca de parlamentar”, disse. Marco Feliciano o desmentiu, contando que Cunha fora avisado com antecedência — a coisa foi acertada na véspera.

    Havia os cúmplices aventureiros. Carlos Sampaio, o líder do PSDB que encampou o impeachment até Aécio mandá-lo sossegar o facho, defendeu que “a reza é bem menos ofensiva do que os excessos cometidos na parada”.

    A separação entre igreja e estado sempre foi uma formulação odiada pela direita religiosa. Sob a desculpa de proteger sua fé, gente como Cunha, Feliciano e Magno Malta luta para impor sua definição limitada de cristianismo.

    O que eles desejam é estabelecer sua crença como regra na organização do direito, da política e da cultura. A vitimização é mais uma mentira de pastores acostumados a mentir para seus fieis. Quem são esses homens para regular o que é ofensa a Jesus e o que não é?

    O fanatismo religioso existe para minar instituições democráticas. Como qualquer movimento radical, eles não estão dispostos a coexistir (e não são, portanto, conservadores, como se vendem). Adversários políticos ou ideológicos são satanizados e devem ser dizimados. O mundo precisa ser purgado desse mal.

    A leitura literalista da Bíblia os transforma em ungidos de Deus, responsáveis por livrar o Brasil do apodrecimento e da corrupção, inclusive a moral. É notável a semelhança com o nacional socialismo. Os nazistas tinham a convicção absoluta de que sabiam o que era o melhor para a Alemanha e esse objetivo deveria ser perseguido de qualquer maneira, eliminando grupos “minoritários” que não faziam parte do projeto de pureza.

    Como os nazistas, eles usam o medo, uma ameaça externa qualquer, para impor sua doutrina. Na Alemanha, era o comunismo e o internacionalismo judeu. Aqui é o bolivarianismo e a derrocada da família por causa de “homossexuais”, “abortistas” e “esquerdopatas”. Também como no nazismo, a direita religiosa precisa salvar as pessoas comuns da degenerescência.

    O fato de terem desfilado no plenário da Câmara, pelo menos, expôs a sua falta de escrúpulos e os tirou definitivamente das sombras. O que os brasileiros farão com a farsa da “cristofobia” é outra questão.

     

     

  6. Tudo que extremistas querem são pretextos…

    Imagino que Eduardo Cunha, está adorando esse post, pois serve para alimentar o fanatismo. Está adorando este post, como adorou ver um travesti ironizando a imagem de Cristo na parada gay, era tudo que ele queria para por em votação projetos estupidos como ele fez e, esse post alimentará ainda mais o fanatismo.

    Dito isto, só me resta uma dúvida, se o autor do post, assim como Cunha, só precisava de um pretexto para exacerbar ainda mais seu fanatismo, o Cunha o se fanatismo religioso já demostrado, o autor do post o seu fanatismo anti-religioso que só espera um pretexto para explodir em frases e mais frases idiotas que lhe serve, enfim, como uma “pseudo libertação”, daquilo que já lhe sufocava. Assim, tipos como Cunha e o autor, provavelmente, estão adorando o momento onde os extremistas (como eles) dão cada dia mais alimento para seus ódios e eles nem precisam admtir que era exatamente isso que queriam.

    Ódio só gera mais ódio, mas, como Cristão, sinceramente, creio que os cristãos que seguem a linha comportamental de Cunha são os piores nesse “duelo bestificante”, pois odeiam em nome de Cristo, o que, para mim, é muito pior que o ódio de quem odeia em nome próprio. De toda sorte, todos estão errados  nesse tiroteio infame de imbecilidades de lado à lado. Só rogo que as pessoas sensatas de ambos os lados se levantem e não fiquem omissas e digam um basta à histeria coletiva que quer se instalar. 

    1. “Cantigas de escárnio e de

      “Cantigas de escárnio e de maldizer”, tradição literária lusitana cá introduzida pelos portugueses, “de cujas bolas também viemos” (como dizia Darcy Ribeiro). O fanatismo deve sim ser levado ao paroxismo, pois neste caso o fanático revela toda sua loucura permitindo uma “internação compulsória”.

       

    2. Eduardo Cunha me dá vontade de acreditar no inferno

      Só para ter a certeza de que ele estará lá!

      “Se então alguém lhes disse ‘vejam, aqui está o Cristo!’ ou: ‘ali está ele!’, não acreditem. Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos. Vejam que eu os avisei antes.”

      Mateus 24:23-25

    3. Respeitando sua crença, caro

      Respeitando sua crença, caro Eduardo, não acho que é por aí. A perfirmance da travesti foi para mim uma forma original e transgressora no bom sentido, de chamar a atenção para algo muito grave, que é a perseguição violenta a pessoas como ela.

      Já a transgressão do nosso querido e desbocado Fabio, há controvérsias. Eu particularmente, não reagiria dessa forma ao fundamentalismo do Cunha. Para mim há excesso de “cu” no manifesto dele. A não ser que a idéia é rimar Cunha com “cu”. 

      De qualquer forma, artisticamente, já que ele cita poetas obcenos, prefiro o ato do travesti. Mas é uma visão minha, não creio de forma alguma que o “boca suja” Fabio seja um extremista igual ao Cunha, mas de sinal trocado. Ele radicaliza porque a situação é radical. Esses caras não precisam de pretextos para levar adiante a agenda fundamentalista deles.

      Mesmo porque daqui a pouco não usaremos Cristo como metáfora em nenuma manifestação qualquer que seja, e não usaremos a expressão “Jesus Crsito” e um palavrão na mesma frase. Tudo isso para não dar pretexto aos Cunhas. Mas aí eles já venceram. 

       

    4. De acordo Eduardo.O blog do

      De acordo Eduardo.

      O blog do Nassif está cada vez mais exercitando o efeito manada.

      O post é totalmente absurdo e nada explica.

      Nâo existe projeto algum de “cristofobia” ou coisa parecida.

      O que existe é um projeto de um deputado ligado a Cunha que aumenta  e transforma em crime hediondo um crime já previsto em lei, segundo esta reportagem. E esta lei já existem não fala nada de “cristofobia” ou algo do tipo dessa bizarrice.

      Nâo tem a ver com o exposto no post.

       

  7. Por falar em escárnio e mal dizer, Gregório de Matos

    se apresenta.

    DEFINE O POETA OS MAUS MODOS DE OBRAR NA GOVERNANÇA DA BAHIA, PRINCIPALMENTE NAQUELA UNIVERSAL FOME QUE PADECIA A CIDADE.

    Que falta nesta cidade? … Verdade.
    Que mais por sua desonra? … Honra.
    Falta mais que se lhe ponha? … Vergonha.

    O demo a viver se exponha,
    Por mais que a fama a exalta,
    Numa cidade, onde falta
    Verdade, honra, vergonha.

    Quem a pôs neste socrócio? … Negócio.
    Quem causa tal perdição? … Ambição.
    E o maior desta loucura? … Usura.

    Notável desaventura
    De um povo néscio e sandeu,
    Que não sabe que o perdeu
    Negócio, ambição, usura.

    Quais são meus doces objetos? … Pretos.
    Tem outros bens mais maciços? … Mestiços.
    Quais destes lhe são mais gratos? … Mulatos.

    Dou ao Demo os insensatos,
    Dou ao demo o povo asnal,
    Que estima por cabedal
    Pretos, mestiços, mulatos.

    Quem faz os círios mesquinhos? … Meirinhos.
    Quem faz as farinhas tardas? … Guardas.
    Quem as tem nos aposentos? … Sargentos.

    Os círios lá vêm aos centos,
    E a terra fica esfaimada,
    porque os vão atravessando
    Meirinhos, guardas, sargentos.

    E que justiça a resguarda? … Bastarda.
    É grátis distribuída? … Vendida.
    Que tem, que a todos assusta? … Injusta.

    Valha-nos Deus, o que custa
    O que El-Rei nos dá de graça,
    Que anda a justiça na praça
    Bastarda, vendida, injusta.

    Que vai pela clerezia? … Simonia.
    E pelos membros da Igreja? … Inveja.
    Cuidei, que mais se lhe punha? … Unha.

    Sazonada caramunha!
    Enfim, que na Santa Sé
    O que se pratica, é
    Simonia, inveja, unha.

    E nos frades há manqueiras? … Freiras.
    Em que ocupam os serões? … Sermões.
    Não se ocupam em disputas? … Putas.

    Com palavras dissolutas
    Me concluo na verdade,
    Que as lidas todas de um frade
    São freiras, sermões, e putas.

    O açúcar já se acabou? … Baixou.
    E o dinheiro se extinguiu? … Subiu.
    Logo já convalesceu? … Morreu.

    À Bahia aconteceu
    O que a um doente acontece:
    Cai na cama, e o mal lhe cresce,
    Baixou, subiu, e morreu.

    A Câmara não acode? … Não pode.
    Pois não tem todo o poder? … Não quer.
    É que o governo a convence? … Não vence.

    Quem haverá que tal pense,
    Que uma Câmara tão nobre
    Por ver-se mísera, e pobre
    Não pode, não quer, não vence!

    GLOSSÁRIO:

    Socrócio – aperto, ambição; furto.
    Círios – sacos de farinha (a grafia correta é sírios)
    Simonia – venda de coisas sagradas.
    Unha – roubalheira; avareza; tirania, opressão.
    Sazonada caramunha – Experimentada lamentação! (Soares Amora). A expressão tem sentido ambíguo. Sazonada é derivado de sazonar e equivale a amadurecida. Caramunha pode ser “a cara das crianças quando choram” ou a “lástima pelo próprio mal que se causou”.
    Manqueiras – Vícios, defeitos; doença infecciosa no homem e em certos animais.

    DESCREVE O QUE ERA NAQUELE TEMPO A CIDADE DA BAHIA

    A cada canto um grande conselheiro,
    Que nos quer governar cabana e vinha;
    Não sabem governar sua cozinha,
    E podem governar o mundo inteiro.

    Em cada porta um bem freqüente olheiro,
    Que a vida do vizinho e da vizinha
    Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
    Para o levar à praça e ao terreiro.

    Muitos mulatos desavergonhados,
    Trazidos sob os pés os homens nobres,
    Posta nas palmas toda a picardia,

    Estupendas usuras nos mercados,
    Todos os que não furtam muito pobres:
    E eis aqui a cidade da Bahia.

     

     

    Do site do Franklin Martins

     

  8. Cristofobia é violência contra as demais religiões

    Então vai se criar a cristofobia e os evangélicos vão poder continuar exercendo o candombléfobia, destruindo terreiros de candomblé e agredindo pais e mães de santo?

    Vai se oficializar a cristofobia só pra dar aos cristãos ervangélicos mais fôlego para dizer “EU é que estou certo”?

    Budafobia, maoméfobia, confúciofobia, kardecismofobia, nada disso é crime, só a cristofobia?

    É o 1° passo para colocar o cristianismo evangélico como religião oficial do Estado e banir as demais…

    (Pra quem achar que eu estou exagerando, pensem se algum dia vocês acharam que chegaríamos onde estamos. E aí reflitam bem sobre onde poderemos chegar ainda…)

    1. Exato, Alan Souza. Você

      Exato, Alan Souza. Você captou o problema em toda a sua dimensão.

      Se religião não for assunto privado e de foro íntimo (como, aliás, está garantido na Constituição Federal) a coexistência entre pessoas que adotam religiões diferentes se tornará impossível.

      O que garante a harmonia e a paz social numa sociedade plural como a nossa não é a criminalização da cristofobia. Muito pelo contrário, quando a cristofobia for crime todo e qualquer ateu ou adepto de outra religião não cristã (umbandistas, budistas, islâmicos, espíritas, xintoístas, animistas, etc…) poderá ser considerado cristofóbico e, portanto, criminoso. 

      É por isto que desde já me confesso criminoso. Este é um caso em que ser um criminoso confesso é, paradoxalmente, uma virtude.

      1. É guerra declarada, Fábio

        Eduardo Cunha já passou do limite do absurdo. Agora é guerra. Agora é pessoal.

        Imagine os juízes evangélicos e católicos julgando processos abertos com base nessa lei? Lembras quando a Universal orientou seus fieis a entrar em massa com ações judiciais contra os jornais que publicassem manchetes negativas contra a Igreja? Pra quem não lembra, está aqui: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0902200814.htm.

         

    1. Hoje, por  volta das  12

      Hoje, por  volta das  12 horas,  atravessei a Rua   Antonio Agu,  Centro,  Osasco – SP,  próximo a agência do Bradesco. O palhaço que  anima  uma ótica, cujo  proprietário  é provavelmente   evangélico,   pergunta  aos pedestres quem  é  o presidente da Câmara dos Deputados prometendo dar bugigangas a quem acertar a resposta.

      Uma menina  se  aproximou  do microfone para responder. Animado o ator renovou  a pergunta: “Quem é o presidente da Câmara dos Deputados?”

      “José Sarney”, respondeu a menina.

      Nem tudo está perdido, pensei sorrindo. 

    2. Eduardo Cunha, O Santo

      Claro que essas ações dos traficantes tem apoio de lideranças religiosas bandidas, nada contra os evangélicos, conheço muitos deles, gente do povo, pessoas boníssimas, o problema sào essas lideranças criminosas.,,,

      As ramificaçoes de Cunha na República

      http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/102/o-risco-eduardo-cunha-7175.html

      Em discurso na ALERJ, Cidinha Campos aponta as ligações entre Cunha e o traficante dAbadia

      http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/taqalerj2006.nsf/5d50d39bd976391b83256536006a2502/4ba91ff3dc7aae6483257b6b0063e61c?OpenDocument

      A ficha de Cunha

      http://contrapontopig.blogspot.com.br/2015/02/contraponto-15945-ficha-de-eduardo.html

    3. Alô MPF, kd vcs…

      Esse caso ai de intolerância reportado no vídeo aconteceu em 2013 e até agora ninguém foi preso ou chamado às falas.,…, quer dizer, já há lei para punir a intolerância religiosa, o que ocorre que, na hora de proteger por exemplo crenças de matriz afro, tais leis não vale, nessas horas o MPF faz-se  de cego, surdo e mudo:

      Traficantes evangélicos expulsam mães e filhos de santo de favelas no Rio de Janeiro, por e-itinga:

      Mães e filhos de santos foram expulsos de favelas no Rio de Janeiro por traficantes que frequentam igrejas evangélicas por não tolerarem a “macumba”. Segundo a reportagem do jornal Extra, divulgada nesta quarta-feira (4), terreiros, roupas brancas e adereços que denunciassem a crença já haviam sido proibidas na região conhecida como Morro do Amor, no Complexo do Lins.

      Por conta da proibição, uma mãe de santo que não se identificou, saia da favela rumo a seu terreiro, na Zona Oeste, sempre com roupas comuns e com o vestido branco na bolsa. Certo dia, por um descuido, ela deixou a “roupa de santo” no varal. Uma semana depois ela foi expulsa da favela pelos bandidos, para não mais voltar. “Não dava mais para suportar as ameaças. Lá, ser do candomblé é proibido. Não existem mais terreiros e quem pratica a religião, o faz de modo clandestino – conta a filha de santo, que se mudou para a Zona Oeste”, explicou durante reportagem.

       

      Traficantes evangélicos expulsam mães e filhos de santo de favelas no Rio de Janeiro

      Segundo a Associação de Proteção dos Amigos e Adeptos do Culto Afro Brasileiro e Espírita, pelo menos 40 pais e mães de santo já foram expulsos de favelas da Zona Norte pelo tráfico. Já em outras favelas da cidade, além do fechamento dos terreiros também foi determinada a proibição do uso de colares afro e roupas brancas. De acordo com a reportagem, todos os quatro pais de santo ouvidos pelo jornal, alegaram que o motivo era sempre o mesmo: conversão dos chefes do tráfico a denominações evangélicas.

      Um dos mais conhecidos do Morro do Dendê, também no Rio de Janeiro, o chefe do tráfico Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, passeia pela favela com tatuagens com o nome de Jesus Cristo e têm bíblias espalhadas pela casa. Segundo moradores, enquanto o morro for dominado por ele, os muros da favela serão preenchidos por dizeres bíblicos e os dez terreiros que funcionavam no local já deixaram de existir.

      A Polícia Civil considera como crimes inafiançáveis invasões a templos e agressões a religiosos de qualquer credo desde novembro de 2008. Com isso, qualquer ação como essa, o acusado por pegar de um a três anos de detenção. O caso aconteceu em 2013 e até agora ninguém foi preso.

      http://www.e-itinga.com.br/?p=3368

  9. Este materialista, Eduardo,

    Este materialista, Eduardo, só quer saber de poder e dinheiro. A religião é só uma mascara para não verem sua carranca.

    1. A religião do presidênte da

      A religião do presidênte da Câmara não me interessa. A obsessão dele por dinheiro também não me diz respeito.

      Minha única preocupação aqui é defender meu direito constitucional à liberdade de consciência e de expressão. Se para fazer isto tiver que ser tratado como um “criminoso de opinião”, assim seja. Prefiro ser um cristofóbico a respeitar uma Lei de Merda feita sob medida para amplificar o poder temporal dos pastores. 

  10. O que vai ser considerado cristofobia?

    Nós espíritas não consideramos que Cristo é Deus. Pra nós ele é um espírito superior, dos mais elevados, mas como ele existem inúmeros outros no Universo. Cristofobia?

    Judeus não consideram Cristo como o Salvador. Cristofobia?

    Testemunhas de Jeová consideram que todas as demais religiões são dedicadas a Satanás. Cristofobia?

    E aí entra a legião de juízes evangélicos. Se nem sequer sabem distinguir Espiritismo de Umbanda (e não fazem questão de aprender), se acham que gays são pecadores (e não abandonam suas crenças ao serem empossados no cargo…), a definição de cristofobia ficará a cargo deles.

    A imaginação humana será o limite das sentenças insanas que virão…

    1. Alan, não tem nada disso.

      Alan, não tem nada disso. Nada disso existe em nossa legislação e nem existirá. Não há projeto com essa pretensão.

      O que parece que ocorreu é que Cunha está querendo por em votação é um projeito de um deputado para aumentar uma penas de um crime que já existe, de ultraje a cultos ou coisa parecida. Segundo a matéria abaixo é uma lei que já existe, ou seja, o posto não tem o menor sentido.

      http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/cunha-colocara-em-votacao-urgencia-do-projeto-da-cristofobia,24e9a145d0f0210de5f40a3b58acfd98cfx8RCRD.html

       

      1. Tem todo o sentido, Daniel

        Uma coisa é você processar alguém por algo quem hoje é punido com 1 mês a 1 ano de detenção. A competência é dos Juizados Especiais Penais, cabe transação penal e a pena é de detenção. Ainda que na hipótese remota de ser condenado à pena máxima a pessoa pode cumprir a pena no regime aberto.

        Outra coisa é colocar uma pena de reclusão de 4 a 8 anos para o mesmo fato, e ainda querem tornar o tipo penal crime hediondo, que não tem possibilidade de fiança, graça, anistia ou indulto. Alguém condenado por essa lei vai parar no presídio, direto em regime fechado. Vai ter de cumprir 2/5 da pena pra pedir progressão de regime.

        Com uma pena pesada dessas vai ser um show de juízes evangélicos condenando qualquer um por qualquer coisa. Os organizadores da Parada Gay seriam um alvo eterno. Na justificativa o autor do projeto, Rogério Rosso (PSD/DF) nomina diretamente a comunidade LGBT e a parada gay como a causa do projeto.

  11. Infelizmente, tem muita gente

    Infelizmente, tem muita gente que apóia e acha que estão certos os parlamentares que misturam política e religião. Por isso eles estão lá e continuarão indefinidamente. O Congresso Nacional é apenas um reflexo da sociedade brasileira, corrupta, preconceituosa, falso moralista, etc.

  12. A maioria dos comentaristas

    A maioria dos comentaristas leu o post, acreditou, e em efeito manada, escreveu contra a tal “cristofobia”. 

    Pois bem, não existe nada disso.

    Segunda esta reportagem do terra, o que há é uma lei apresentada por um deputado ligado a Cunha, que apenas transforma em crime hediondo uma lei já existente, lei esta que seria de “ultraje a culto” (repare que é uma lei que nada tem a ver com cristofobia) e envolve qualquer religião ou culto, por ex, maçonaria e outros cultos possíveis acredito eu.

    Cabe a discussão sobre se seria ou não passível essa alteração. Talvez seja um exagero.

    Mas nada tem a ver com “cristofobia”, o que quer que isto signifique.

     

    http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/cunha-colocara-em-votacao-urgencia-do-projeto-da-cristofobia,24e9a145d0f0210de5f40a3b58acfd98cfx8RCRD.html

     

     

    1. “Apenas” transforma em crime hediondo?

      Primeiro, o projeto aumenta a pena de 1 mês a 1 ano para 4 a 8 anos, e muda o regime da pena de detenção pra reclusão.

      Segundo, veja a Lei n° 8.072/90, a Lei de Crimes Hediondos, e me diga se é algo de menor importância incluir a cristofobia (quem cunhou o termo foi o Rogerio Rosso, autor do PL, nas justificativas do mesmo) na lista de crimes hediondos. 

      A Lei dos Crimes Hediondos prevê que quando houver a condenação por formação de quadrilha nos crimes hediondos a pena será de 3 a 6 anos de reclusão. Dá pra imaginar como “apenas” a mera possibilidade de alguém pegar de 7 a 14 anos de reclusão (4/8 da cristofobia e 3/6 de formação de quadrilha) apenas por fazer algo que fere a religiosidade do Eduardo Cunha?

      Imagine um juiz desses que bate palma pra Malafaia julgando os organizadores da Parada Gay de SP com essa lei na mão. Pense nisso e verá que não se trata de “apenas”,  mas sim de uma monstruosidade teratológica legal!

      1. Exato. E as coisas podem ser
        Exato. E as coisas podem ser colocadas de outra maneira.

        IDADE MÉDIA – cale a boca descontente ou você será queimado na fogueira como herege.

        ESTADO NOVO/DITADURA MILITAR – cale a boca comunista, sindicalista e descontente ou você será torturado ou morto por um policial/militar leal ao regime.

        TEOCRACIA EVANGÉLICA PÓS CF/88 – cale a boca ateu, gay, católico, roqueiro, artista, sambista, maconheiro, esquerdista, umbandista, espírita, islâmico, xintoista, animista, budista, etc.. ou você apodrecerá numa prisão acusado de cristofobia.

        O limite chegou. E daqui os evangélicos não devem passar.

      2. A lei já existe e serve para

        A lei já existe e serve para todas as religiões e cultos de forma que o post é uma farsa, pois não está se debatendo a mudança que está se propondo.

        Foi inventado um espantalho, no melhor estilo PIG.

  13. países ateus tem melhor IDH

    Religiosidade e ateísmo tem relação intima com o desenvolvimento humano de um país, quanto menor a religiosidade de um povo ,melhor seus indicadores sociais. Entre os de melhor IDH : Noruega, Islândia, Austrália, Canadá, Suécia, Suiça, Bélgica, Japão , Holanda, Dinamarca, Reino Unido. Todos países com elevadíssimo numero de ateus, o ponto fora da curva é os EUA que ainda possui grande numero de crentes. Ainda são os países ateus que apresentam menores indices de homicidio do planeta, melhor educação e igualdade entre sexos.

    1. O alto IDH se deve a outros

      O alto IDH se deve a outros fatores. A China é atéia, e o IDH é baixxisimo. Comparação das mais rasas.

      1. uma China crente seria caótica

        Com 1 bilhão 350 milhões de habitantes, a China é a civilização mais tradicional do planeta. O maior PIB do planeta. Com estes numeros, a China impondo mais uma doutrina religiosa à civilização seria o caos. A China é o exemplo acabado de que apenas o ateísmo pode oferecer uma convivencia harmoniosa numa superpopulação e na convivencia entre os povos.

  14. Será que vai ter agravamento para a ateofobia

    Será que vai ter agravamento de pena para a ateofobia, afinal de contas a CF laica garante a liberdade de crença ou não crença, bem como de opinião política, cabendo pena para quem infringir a lei, mas minha dúvida é se vai ser crime hediondo o ateu ser vítima de ateofobia

     

    Ateofobia, uma intolerância tão gritante mas tão pouco notada, 

     

    Um preconceito gritante, mas pouco considerado – mesmo por suas próprias vítimas – e estudado, campeia no Brasil: a ateofobia, intolerância contra ateus – definida por Marcelo Druyan como “ódio, aversão ou discriminação de uma pessoa ou grupo de pessoas contra ateus e, consequentemente, contra o ateísmo”.

    Desde declarações impunes de ódio no Twitter até desmembramentos violentos de famílias e amizades, a hostilidade ateofóbica acontece neste país com uma liberdade tão grande que os próprios ateus, que deveriam ser os primeiros a denunciá-la, permitem ser esculhambados e humilhados pelos religiosos que não aceitam o fato de existirem pessoas que não acreditam em nenhuma divindade.

    Desde a patricinha crente que twita uma mensagem de ódio até a presidenta da República que desmoraliza a descrença ateísta, passando por formadores de opinião notórios, os preconceituosos agem à revelia de qualquer justiça, de qualquer sanção penal, de qualquer retaliação da opinião pública. Atuam das mais diversas formas: pela internet, pelos meios de comunicação convencionais, por brigas presenciais, por inanição político-eleitoral etc.

    Abaixo categorizo os diversos veículos usados pela ateofobia, sendo esta direta ou indireta, para ofender, discriminar e marginalizar os ateus.

     

    Preconceito online

    Na internet, os ateofóbicos agem de maneiras variadas:

    a) Nas redes sociais, descarregam ódio contra os descrentes com minidiscursos – geralmente do tamanho de um tweet – e hostilizam colegas ou desconhecidos em função de seu (não) credo – ex.: “seu ateu de m…”. Os discursos podem citar versículos bíblicos, declarar a superioridade moral dos cristãos perante os ateus, atribuir desqualidades sérias aos ofendidos, demonstrar decepção, indignação e outros sentimentos negativos de quem acabou de conhecer ou encontrar ateus ou simplesmente ser declarações dos tipos “eu odeio…”, “eu não suporto…”, “tenho nojo de…”, “ateus devem morrer” etc.

    A chuva de ateofobia em redes como o Twitter é escancarada por perfis que militam contra o preconceito (o principal deles hoje no Twitter é @ateus_atentos, do presidente da ATEA Daniel Sottomaior) e pelo blogmezzo-de protesto, mezzo-satírico Sem deus no coração.

    É de se perceber claramente que tais investidas de violência verbal são muito similares àquelas racistas, xenofóbicas ou antissemitas que rendem aos agressores a retaliação solidária de milhares de internautas mais várias denúncias às autoridades policiais ou ao Ministério Público. Quando uma @FlavinhaAmorimdiz ter nojo da torcida negra do Flamengo, recebe uma saraivada massiva nacional de tweets como reação de uma população cada vez mais partidária da tolerância e do respeito. Mas quando um cristão fanático afirma sentir o mesmo nojo de quem “não acredita em Deus”, é quase certo que passe totalmente impune e não se torne alvo de nenhuma reação coletiva.

    b) Por artigos de opinião, personalidades do quilate de um Frei Betto ou de um Cláudio Lembo (ver respostas ao artigo dele aqui e aqui), de quem muitos esperariam palavras calcadas na sabedoria, demonstram patente preconceito, atribuindo ao ateísmo desqualidades como ausência de valores e violência inerente (Frei Betto comparou o “ateísmo militante” à tortura promovida pelo DOPS durante a ditadura militar brasileira). Tentam convencer os leitores de seus textos de que ser ateu é intrinsecamente ruim, é prejudicial.

    c) Por entrevistas dadas aos meios online de imprensa. Os entrevistados, se não declaram seu desrespeito aos ateus e ao direito de descrer à TV, fazem-no aos noticiários da internet. É através dos portais de notícia que gente da laia de Geraldo Alckmin diz que idosos ateus são pessoas tristes, ou que promotores de Justiça insinuam que ateus não contribuem para a recuperação de pessoas em situação de risco.

     

    TV e rádio

    Nos meios de comunicação em massa audiovisuais convencionais, a ateofobia é bandeira sacudida por apresentadores, jornalistas e outras personalidades admiradas pela população, ou então emana de pessoas entrevistadas, podendo ser desde um porteiro de condomínio até a presidenta da República. Eles fazem da câmera um palanque para declarações preconceituosas, para expor toda a sua ignorância, convertida em desde pena a repúdio, sobre o modus vivendi e o pensamento filosófico – o qual, exceto a própria descrença em deuses, é distante de qualquer unanimidade – dos ateus.

    Seu preconceito se exacerba através de frases curtas discriminatórias (“Eu tenho pena de quem não tem fé, de quem não acredita em Deus”) ou arrogantes (“Deus existe, mesmo quando não se acredita nele”) ou discursos de ódio a durar vários minutos – nesse caso, tendo como maior exemplo o venenoso discurso dado por José Luiz Datena em 27 de julho de 2010, um dos únicos casos de ateofobia respondidos pelos ateus com denúncias à Justiça.

    É até mais perigoso que o ódio exacerbado por internautas, porque vem de formadores de opinião diretos ou indiretos, possuidores de um lugar cativo na ainda muito prestigiada TV aberta. Para uma sociedade cuja maioria é religiosa e se submete a aceitar argumentos simplesmente por virem de autoridades, uma frase ou discurso vindo de Hebe, de Datena ou de Roberto Canázio pode lhes reforçar a crença, biblicamente fundada (Salmos 14:1), de que ateus “não prestam” e devem por isso ser tratados com marginalização, imposição religiosa e/ou repressão por sua descrença.

    Outra forma muito poderosa de propagação de preconceitos são os programas religiosos, em sua maioria neopentecostais. Pastores e bispos, vez ou outra, declaram os ateístas verdadeiros seres malignos, demoníacos. Fundados ora em dogmas bíblicos ora no seu preconceito pessoal ora na intenção de manter os fiéis sob seu controle por impedir que duvidem de sua religião, esses clérigos dirigem impropérios claros aos ateus, o que normalmente lhes faria alvos de processos judiciais se suas ofensas fossem dirigidas a minorias como negros, judeus e asiáticos.

    O caso mais recente e comentado de preconceito e incitação à discriminação vindo da TV foi um breve momento do discurso de um pastor que se autointitulava “profeta da nação”, feito em março de 2011 numa rua de cidade não revelada e transmitido por programa evangélico da RedeTV!.

    Nos meios de comunicação em massa, há também a divulgação de músicas que incitam o preconceito contra quem não crê em quem convencionam chamar de Deus. Ainda que a intenção original por trás de suas letras seja, na maioria das vezes, apenas exaltar a importância da divindade para quem crê nela, tais canções possuem efeitos colaterais altamente comprometedores, que acabam tratando os ateus e até pessoas de religiões não cristãs como potenciais poços de imoralidade, tristeza e sofrimento.

    Para exemplificar como o preconceito se dissemina através da música, cito alguns trechos de canções direta ou indiretamente preconceituosas:

    1.
    Sem Deus, a segurança recua nas bases avançadas
    Sem Deus, vidas morrem assassinadas nas calçadas
    Sem Deus, o mundo é dos espertos que vendem praias nos desertos
    Sem Deus, Você corre perigo a mercê das garras do inimigo

    2.
    O Homem sem Deus
    Caminha sem rumo e anda sozinho
    Vive no mundo sem ter um caminho
    Ao sopro do vento ele anda sem luz
    O Homem sem Deus
    Tem o seu próprio jeito de pensar
    Não tem limites e vive a pecar
    Não anda nos planos que vem la da cruz

    3.
    Viver sem Deus no coração é não ter alegria.
    É viver sem direção, caminho e melodia. 
    Não ter amor, só ter agonia.

    4.
    Quanto tempo mais, você quer levar
    Pra tentar provar que és forte sem deus?
    Quanto tempo então,devo esperar
    Pra tentar provar que se garante só?
    E pra que bater no peito?
    Sem deus não adianta nem tentar!
    Sem deus não vale nada,
    Sem deus tudo é um nada,
    Money, poder, fama e tudo mais
    É nada sem deus

    5.
    Meu amor, não… Não me queira mal
    Amar a Deus sobre tudo para mim é essencial
    Vou dizer, não tem que ser assim
    Mas se Deus não serve pra você
    Você não serve pra mim

     

    Discriminação e violência ao vivo (incluindo na escola)

    São muito frequentes os casos de descrentes que sofrem diversas formas de violência de quem não tolera sua não crença nem respeita seu direito à mesma. O tipo mais comum é a dissensão familiar, na qual os pais religiosos fanáticos (ou apenas o pai ou a mãe) investem-se em brigas sérias, muitas vezes violentas, com seus filhos quando desconfiam ou descobrem que deixaram de acreditar em divindades ou quando eles assumem sua descrença.  Nada raro é ver pais assim expulsando o filho ateu de casa, mesmo quando este não criou qualquer condição de se emancipar.

    A discriminação familiar também pode vir de forma menos radical, mas ainda assim em tom muito reprovatório. Ocorre quando o pai ou a mãe ou ambos dizem ao filho que lamentam, reprovam e/ou repudiam seu ateísmo, fazem sermões repreensivos ou mesmo os castigam ou lhes cortam direitos. Há também casos frequentes em que o parente ou familiar tem o costume de assediar a pessoa, cutucando-a regularmente por não acreditar em um deus e lembrando-a de que “Deus existe”, não importando se o assediador sempre perde nas argumentações sobre existência ou inexistência do seu deus.

    Nas escolas, pode vir na forma exclusiva, no ensino religioso ou por bullying. Na primeira, a própria instituição estabelece regras arbitrárias que punem quem não se matricula na disciplina religiosa – o que é ilegal perante a Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – e/ou não acompanha as práticas religiosas regulares da escola, como rezar o Pai Nosso antes do começo da aula ou participar das atividades religiosas anuais do educandário.

    Dentro desse ensino religioso, na maioria das vezes ministrado de maneira confessional e proselitista a despeito da lei, é recorrente a pregação do puro preconceito contra ateus. Disse Debora Diniz à revista Istoé, sobre diversos livros didáticos de religião:

    “[Em grande parte desses livros h]á equívocos históricos e filosóficos, como a associação de Nietzsche ao nazismo. As pessoas sem Deus são representadas como uma ameaça à própria ideia do humanismo. É muito grave a representação dos ateus. Isso pode gerar desconforto entre as crianças cujas famílias não professem nenhuma religião. Já que, nos livros, elas estão representadas como aquelas que mataram Deus e associadas simbolicamente a coisas terríveis, como o nazismo.”

    Já o bullying ateofóbico – algo, a saber, ainda quase não discutido no Brasil – ocorre quando a criança ou o adolescente é hostilizado ou mesmo agredido fisicamente por um ou mais colegas aderentes de uma mesma denominação religiosa.

    Variante desse bullying, há também o risco, também pouco visado pelas universidades, de se sofrer violência na rua por ser conhecidamente ateu. É parecido com a violência homofóbica, que mata lésbicas e gays simplesmente por serem homossexuais, por não partilharem da mesma orientação sexual da maioria.

    De tão pouco relatados, denunciados e discutidos nos meios de comunicação – inclusive na internet –, pode-se suspeitar que o bullying e a violência de rua dirigidos contra ateus talvez nem existam ainda no Brasil. Mas deve-se denunciar a possibilidade de virem a acontecer no futuro, a qualquer momento. Portanto, este artigo antecipa o alerta para esses crimes, se já não escancara uma realidade presente.

     

    Ateísmo como fator para o suicídio político

    O preconceito antiateu em que grande parte da sociedade se mergulha tem consequências também políticas. Hoje em dia um político declarar-se ateu é decretar o encerramento de sua própria carreira política, visto que não conseguirá mais se eleger para nada.

    Pesquisa da Veja e CNT/Sensus de 2007 dizia que apenas 13% dos brasileiros votariam num ateu. Em 2010, um levantamento da Fundação Perseu Abramo revelou números menos ruins, mas ainda muito negativos contra os descrentes: somente 20% dos brasileiros disseram que poderiam votar, sem impedimentos, num ateu, enquanto 77% dificilmente ou jamais confiariam seu voto a um descrente.

    Ou seja, ateísmo é visto por uma preocupante maioria como algo que tornaria os políticos potenciais crápulas. Não lhes é apenas a ausência de crença em divindades: é-lhes um atestado de perversão moral, que impede o ser humano de ser bom, ético e generoso e, portanto, inabilita qualquer pessoa para assumir um mandato político.

     

    Quando até o Estado dito laico exclui os ateus

    Muitas vezes o discurso do Estado brasileiro de respeito às crenças acaba excluindo os ateístas. Diversas declarações partem do pressuposto de uma opção religiosa, não citando quem não optou por nenhuma religião ou divindade. São poucas aquelas que citam quem não professa uma crença religiosa ou quem não crê em nenhuma deidade.

    O exemplo recente de maior destaque é o (inativado) Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que, apesar de pregar a laicidade e o respeito a todas as crenças, marginaliza a ausência de crença, trazendo apenas referências genéricas a “pessoas sem religião” – entre as quais se incluem milhões de irreligiosos que acreditam em uma divindade suprarreligiosa, muitas vezes pós-cristã –, conforme denuncia Marcelo Druyan:

    O decreto do presidente Lula comete o erro primário de confundir Estado Laico com Estado Ecumênico. Substitua-se a palavra “laicidade” do título pela palavra “ecumenismo” e todas as alíneas milagrosamente ganham sentido.
    Não há uma só menção à não crença ou aos não crentes! Todo o conteúdo do item parte do pressuposto de uma opção religiosa.

    Outro caso, menos notório mas bastante emblemático, foi a sessão especial do Senado de 19 de novembro de 2010, dedicada à solidariedade dos parlamentares a vítimas de preconceito e discriminação, mas que excluiu os ateus em termos de representatividade – representantes de religiões estiveram presentes, mas nenhum delegado das pessoas sem religião.

     

    Nem as outras minorias se solidarizam com os ateus

    A maioria das minorias costumam receber a franca solidariedade de militantes de outros grupos minoritários e de ONGs defensoras dos direitos humanos. Já os ateus, nem isso. São raros aqueles militantes LGBT, negros, feministas, de religiões minoritárias (como as afro-brasileiras) etc. que declaram apoio explícito à minoria ateísta. E frequentemente flagramos eventos pró-tolerância que excluem ou minimizam o ateísmo e a irreligião.

    Mesmo entidades importantes de luta contra a intolerância religiosa partem do pressuposto de ter uma religião, reduzindo o ateísmo, ou mesmo a irreligião a lato senso, à marginalidade. A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro, por exemplo, tem como lema Liberdade religiosa: eu tenho fé! (negrito meu) – o que moralmente exclui pessoas desprovidas de fé religiosa, descrentes em divindades.

    A mesma entidade, além disso, não conta com entidades de ateus em seus quadros e clipou no passado uma reportagem bastante tendenciosa da conservadora revista Veja jogando fé e descrença uma contra a outra – com o sugestivo título Como a fé resiste à descrença. Esses detalhes não impedem ateus de participarem de suas passeatas, mas eles acabam reduzidos a personagens secundários da luta contra a intolerância religiosa.

    Um outro fato que evidencia o isolamento ateísta dentro do próprio universo de minorias e de defensores dos direitos humanos é que, no caso do virulento preconceito manifestado por José Luiz Datena na TV em 27 de julho de 2010, nenhuma ONG de direitos humanos nem de qualquer outra minoria se solidarizou com os descrentes na ocasião.

     

    Mais uma estatística sobre ateofobia no Brasil

    Uma outra pesquisa da Perseu Abramo, de 2008, mostra que os ateus são mais discriminados e odiados do que qualquer outra categoria, mais até do que consumidores de drogas pesadas. 17% da população sentem repulsa e ódio pelos ateístas e 25% são antipáticos contra eles, num total de 42% de aversão. Isso enquanto os usuários de drogas recebem a antipatia de 24% e a repulsa de iguais 17% da sociedade.

     

    Quando os próprios ateus “aceitam” ser preconceituados e discriminados

    Por incrível que pareça, uma parte mais que significativa, senão a maioria, dos ateus são indiferentes ao preconceito e à discriminação que sua própria categoria sofre. Não tomam para si quando religiosos intolerantes declaram ódio, nojo e outros sentimentos repulsivos à generalidade dos descrentes no Twitter, quando cantores gospel declaram a imoralidade e depressão de uma vida “sem Deus” – e inspiram muitas vezes os fãs a adotar ou reforçar essa crença preconceituosa – ou quando celebridades ou pessoas públicas condenam o ateísmo ou os ateus.

    Pelo que se pode observar em fóruns de discussão ateístas e em blogs que abordam o ateísmo, muitos irrelevam as ofensas e discriminações vindas dos ateofóbicos porque estes não falariam a mesma “linguagem” dos ateus, visto que creem e agem muito mais pela emoção fanática do que pela razão ponderada, ao contrário dos descrentes. Outro motivo pensado é que esses intolerantes já são “queimados” perante a sociedade secular por nutrirem uma série de outros preconceitos, como a homofobia e a intolerância religiosa, e desprezarem a ciência quando esta questiona os mitos bíblicos.

    Pensando na máxima “O que vem de baixo não me atinge”, essa parcela grande, senão majoritária, de ateus trata com indiferença as vociferações discriminatórias vindas das igrejas e dos seus frequentadores. Ignoram, porém, que a ateofobia desimpedida e impune vinda de uma coletividade nada desprezível pode estar guardando consequências nefastas inesperadas para o futuro dos ateístas brasileiros.

    Não se sabe até que ponto a ateofobia de hoje em dia pode avançar, se ela tende a permanecer estável ou a aumentar a níveis que inspirarão alertas vermelhos, se é apenas arranque de carro velho ou uma ameaça de verdade. Além disso, ateus hoje não possuem menos direitos que pessoas de outras religiões no Brasil, visto que a Constituição Federal prevê liberdade de crença, nela incluída a não crença, e separação entre religião e Estado. Por isso a indiferença de tantos ateus perante as ofensas preconceituosas e discriminações atiradas pelos religiosos intolerantes.

    Sobre esse comportamento de apatia, vale dedicar algumas críticas que devem ser levadas em consideração:

    Nessa tradição de ignorar o cenário brasileiro de ateofobia, pensa-se apenas no imediato, na irrelevância de uma injúria religiosa dirigida por um fundamentalista contra um ateu, ou na mentalidade defeituosa, fanática e distorcida de uma banda gospel que afirma que os descrentes são depressivos e incapazes de uma relação companheira com os cristãos.

    Ignora-se, por outro lado, o alto risco de um conjunto enorme de declarações preconceituosas, que abrange desde (milhares de) tweets semianônimos até discursos de apresentadores e políticos na televisão, associado à omissão do Estado e de ONGs defensoras dos direitos humanos, provocar ações violentas mais enérgicas a longo prazo, como agressões físicas e até assassinatos de descrentes.

    Esquece-se que milhares de outros ateus, em função de sua descrença, são vítimas de rompimento familiar, expulsos de suas casas; perdem amizades antigas; são atingidos por discriminações, hostilizações e caras-feias que lhes abaixam a estima. Sofrem literalmente com a intolerância de outrem.

    Irreleva-se também que milhares ou mesmo milhões de ateus no Brasil evitam “sair do armário” justamente por causa do cenário hostil que existe no país. Têm que mentir sobre suas (des)crenças aos familiares, fingir estarem orando e também ir forçadamente à igreja de seus pais ou avós. Mesmo aqueles já assumidos se veem sem garantia nenhuma de que jamais serão perguntados sobre se creem em Deus ou não – podendo o “não” ser a palavra-chave para o recebimento de hostilidade, segregação e até agressão.

    Sub-releva-se também o fato de estarem em franca expansão, em todo o Brasil, as igrejas de moralidade doutrinária duvidosa, cujos pastores pregam a pura intolerância contra descrenças e outras crenças. Multiplicam-se as igrejas que impõem a uma fração cada vez maior da população brasileira as ideias de que “apenas” o evangelismo lhes garante paz de espírito e comunhão com o bem e que não acreditar em Deus é cair numa vida de desgraça, amoralidade, maldade e tristeza e é um passaporte para o inferno.

    Os indiferentes comportam-se como se pudessem escolher integralmente com quem se relacionar, de quem ser colega. Como se os religiosos intolerantes não vivessem em sociedade e pudessem ser deliberadamente descartados do convívio dos que pensam contrariamente a eles. Como se fosse nula a possibilidade de terem que recorrer, um dia, a religiosos potencialmente preconceituosos e mentir sobre sua (falta de) crença, sob pena de eles lhe negarem, por exemplo, a venda de um par de sapatos ou um serviço de reforma da casa e, como “brinde”, ainda o ofenderem.

    E, mais emblemático, despreza-se algo essencial: que a ateofobia que atinge a categoria ateísta é absolutamente similar ao racismo, à xenofobia e à intolerância religiosa. Difere-se deles apenas em dois aspectos: a diferença das características que “provocam” a discriminação e o fato de que, enquanto os três últimos são punidos com retaliação massiva vinda da sociedade e processo judicial – ou mesmo cadeia –, a ateofobia geralmente é impune e não desperta reação solidária quase nenhuma da população.

    Assim sendo, vale aos ateus indiferentes refletir sobre sua visão acerca do preconceito ateofóbico, desse câncer social que hoje parece pequeno mas reserva para o futuro consequências incógnitas mas especulavelmente sombrias. Entre desprezar um problema que não lhes causa danos relevantes no presente e prevenir uma onda futura de violência contra descrentes, vale pensar qual das duas ações é a mais coerente e necessária.

     

    A incipiente mobilização contra o preconceito e a discriminação antiateísta

    Apesar de a ateofobia ser tão antiga quanto a própria História das Religiões e ser presente no Brasil praticamente desde quando o primeiro ateu assumido e socialmente conhecido aqui veio, a luta contra essa intolerância vem de muito poucos anos atrás. A grosso modo, pode-se considerar na prática que o começo da militância pelo respeito ao direito de ser ateu coincide com a criação, em 2008, da ATEA – Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, presidida por Daniel Sottomaior.

    Sottomaior é, aliás, o mais conhecido e dedicado militante antiateofobia no Brasil atualmente, empenhando-se em denunciar manifestações de preconceito na mídia – vide seu blog Ateus Atentos e o newsletter Dignidade sem Divindade – e no Twitter – através do perfil @ateus_atentos. Inspirados pelas denúncias dele, diversos outros ateus, ainda que de forma não suficientemente coletiva nem tampouco numerosa, aderiram à luta, tomando parte nos protestos contra artigos e declarações preconceituosos publicados na internet e nos meios de comunicação tradicionais.

    Aquele que, pelo que tudo indica, foi o primeiro caso de mobilização em massa de ateístas contra a intolerância contra si se deu a partir da noite de 27 de julho de 2010, durante o longo discurso discriminatório e cheio de ódio proferido pelo apresentador do Brasil Urgente da TV Band, José Luiz Datena. No Twitter, nos blogs pertencentes a ateus, no YouTube e em outros lugares da web 2.0, uma grande quantidade de descrentes depuseram sua revolta com a vociferação odienta de Datena. Também foram feitas inúmeras denúncias ao Ministério Público para que o apresentador e a Band fossem penalizados por intolerância religiosa.

    Ficou claro ali que a ateofobia, até então quase sempre desimpedida pelos próprios ateus, estava tomando contornos preocupantes, avançando a um ponto perigoso. Um formador de opinião, assistido e apreciado por milhões de brasileiros, estava induzindo sua audiência a acreditar que a “falta de Deus no coração” dos bandidos seria a causa dos crimes hediondos e das altas estatísticas de criminalidade no Brasil. Era patente o perigo de seu discurso, tanto diretamente como depois de reforçado pelas igrejas, incitar em pouco tempo uma onda de pregações à força, repressão social e violência generalizadas contra ateístas em todo o país.

    É provável que essa escalada de ateofobia não tenha acontecido graças à reação dos discriminados ateus, que se fizeram respeitar na internet, com discursos sobre a tolerância religiosa e a questão de a ética não depender de religião – pelo fato de haver ateus bons e ateus ruins tanto como religiosos bons e religiosos maus. Aliás, se houve algum aumento momentâneo na violência familiar e urbana contra descrentes, não se sabe, porque não há estatísticas policiais sobre as implicações violentas da ateofobia no país.

    Hoje em dia a intolerância ateofóbica continua grassando na internet e fora dela, e Sottomaior não tem tido a solidariedade da massa ateísta brasileira, havendo no máximo poucas dezenas de mensagens de protesto dirigidas a cada ofensor ou aos veículos de comunicação que publicam as suas declarações ofensivas e alguns poucos blogs repercutindo os acontecimentos de discriminação denunciados pelo Ateus Atentos.

    É como se um ato ateofóbico precisasse adquirir grandes e ameaçadoras proporções para enfim se tornar algo passível de denúncia judicial e protestos.

     

    Considerações finais

    Na luta das minorias por direitos no Brasil, as mulheres e os negros estão avançados, embora tenham ainda um caminho árduo e comprido rumo à igualdade de tratamento e à compensação das injustiças históricas a que foram submetidos. Já os LGBT estão mais atrás, mas já vêm conquistando vitórias notáveis e o respeito da sociedade secular, tendo ainda, porém, que enfrentar a homofobia da grande maioria dos cristãos e de suas igrejas e o reacionarismo, influenciado pelas raízes cristãs de nossa cultura, de quem ainda acredita que homossexualidade ou mudança de sexo são “escolhas” “pervertidas” em sua essência.

    Os ateus, por sua vez, são a última minoria no Brasil, os que estão em maior desvantagem no que tange à garantia do respeito aos seus direitos – ainda que já possuam tantos direitos quanto os cristãos perante a lei – e à dignidade de sua pessoa. Os crimes de preconceito e discriminação dirigidos contra eles são hoje muito frequentes na internet, na mídia, nas igrejas, nas escolas e até nos lares, e mais de 99% deles passam totalmente impunes – não sendo sequer objeto de denúncia às autoridades por parte dos próprios ofendidos.

    Para agravar a situação, uma enorme parcela dessa categoria, senão a maioria, é apática e indiferente à discriminação que a população descrente em geral sofre no país. Embora considerem irrelevantes as injúrias e declarações de ódio vindas de fanáticos religiosos, esquecem que milhares de ateístas sofrem na pele as injustiças impostas por uma sociedade cuja maioria não os respeita – como rompimento familiar e discriminação na escola – e ignoram as muito prováveis consequências em grande escala desse cenário não tratado de ateofobia reservadas para o futuro.

    Portanto, faz-se mais que necessária a mobilização, à maneira dos próprios ateus, em busca do respeito e do reconhecimento social generalizados que ainda não têm. Seja estabelecendo ONGs como a ATEA, seja lutando individualmente, seja agregando os ateístas de sua cidade em torno da suma causa do combate à discriminação, faz-se essencial que se pare de ignorar o cenário de hostilidade e segregação que a categoria como um todo e centenas de milhares de indivíduos a ela pertencentes sofrem direta ou indiretamente.

    Só com luta é que o respeito aos ateus será enfim uma norma geral obedecida generalizadamente pela sociedade – atualmente é uma regra que apenas uma parcela minoritária da população acata de fato. Se somos minorias ainda mais preconceituadas e discriminadas do que mulheres, negros e LGBT e estas três categorias estão lutando muito para terem sua dignidade integralmente reconhecida e as injustiças do passado compensadas – e conseguindo aos poucos -, o que nos impede, afinal de contas, de fazer o mesmo que eles?

    http://consciencia.blog.br/ateofobia

  15. Nudez causou terremoto

    E por falar nisso, Malásia prende turistas que ficaram nús no monte sagrado, o que teria causado o terremoto naquele pais: budofobia? Será que vai ter ter cartilha pros turistas estrangeiros não correrem o risco de irem prá Papuda por prática de crime de cristofobia, vai que um resolve ficar pelado aos pés do Cristo Redentor…rsss

    http://fugas.publico.pt/Noticias/349551_turistas-nus-provocam-terramoto-na-malasia

  16. Nassif, não estou entendendo

    Nassif, não estou entendendo como vc publica uma mensagem infame como esta. Achava que vc primava pelo alto nível.

    Era um frequentador assíduo do seu blog, não serei mais, os satanistas estão dominando tudo mesmo.

    E apesar de não ser a favor da Malafaia, concordo 100% com a frase dele: O Estado é laico, a Política não.

  17. Essa coisa de califado: o que se fez com Palmira em nome de Deus

    Cunha e cia deveriam saber que essa coisa de brincar de califado sempre acaba mal, por enquanto ninguém se importa que traficantes evangélicos, provavelmente obedecendo ordens de lideranças ou por se considerarem eles mesmos líderes, expulsem de suas casas os não-cristãos. Pouco tempo atrás era inimaginável que Palmira virasse pó, ninguém sabe no que pode dar o fundamentalismo, seja ele cristão ou islâmico: se hoje querem pena de crime hediondo para os “crristofóbicos” amanhã podem estar destruindo imagens como a do Cristo Redentor e decepando cabeças em nome de Deus.

    Tragédia em Palmira

    http://infielatento.blogspot.com.br/2015/06/palmira-Jihad-islamica-contra-a-Historia-da-Humanidade.html

  18. Você não é “cristofóbico” por

    Você não é “cristofóbico” por causa de Eduardo Cunha, você é tão intolerante quanto ele,acho que você deveria respeitar a religião dos outros,. Acho que você é tão “filho da puta’ quanto Eduardo cunha.

  19. Isto nem deveria ser levado a

    Isto nem deveria ser levado a sério, mas infelizmente o Estado laico está em xeque (isso há muito tempo).

    Uma lei pensada e arquiteta por um corrupto, fanático e crente de folclores religiosos é uma ameaça a toda uma nação que já se encontra atolada numa merda histórica que infelizmente já foi plantada por outros ignorantes da história.

    Realmente o Brasil não vai para frente, enquanto seu povo e seus representantes ainda confudir um plenário com uma privada.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador