Falsos dissidentes para a mídia, governistas para as reformas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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De olho em eleições 2018, bancadas que apresentaram “traições” na votação da denúncia são os maiores interessados nas propostas econômicas do governo Temer
 
 

Foto: Agência Brasil
 
Jornal GGN – O resultado dos 251 votos que barraram a segunda denúncia contra Michel Temer na Câmara dos Deputados contra a quase paridade de 233 que preferiram que o mandatário fosse processado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) mostra a vertente da base aliada: os parlamentares correm por sua imagem a tempo de 2018.
 
Ao contrário do que divulgou a maioria dos jornais na manhã desta quinta-feira (26), dia seguinte ao arquivamento de mais um processo contra o presidente da República, os deputados da bancada governista que não votaram por salvar Temer não contrariam de todo o governo. São partidos que se interessam pela aprovação das medidas econômicas e da Reforma da Previdência. 
 
O que buscam, contudo, é tentar salvar o que resta de suas imagens, sabendo que Temer angaria os resultados de impopularidade mais altos da história da Presidência no Brasil. Não à toa, pesquisa divulgada hoje mostra que a rejeição do peemedebista supera não apenas a nível nacional: mas é também o presidente mais impopular do mundo.
 
Em busca de votos, parlamentares tendem a manter distância e aumentar o nível de críticas a Michel Temer e ao governo. É o que revela uma análise das posições desta quarta-feira: enquanto deu certo o esforço empenhado pelo mandatário para obter o apoio de partidos pequenos, com a liberação de emendas e de cargos no governo; deputados de partidos como o PMDB, DEM e PSDB viraram dissidentes.
 
Da bancada de deputados da sigla de Temer, dos 61 apenas 51 votaram pelo arquivamento da denúncia. Seis deputados do PMDB votaram para que o mandatário seja processado. No DEM, três parlamentares que antes salvaram o presidente agora votaram a favor da denúncia. No PSDB, dois deputados também o colocaram na berlinda.
 
Já os partidos que demonstraram mais fidelidade ao governo em relação à votação da primeira denúncia estão o PRB, PSC e PROS. Os deputados Carlos Gomes (PRB-RS), César Halum (PRB-TO) e Ronaldo Martins (PRB-CE), que mudaram de posição, integram a sigla do ministro Marcos Pereira, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
 
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A claridade de que os 342 votos necessários para que a denúncia seguisse ao Supremo seriam inalcançáveis era entendimento tanto para a base aliada do mandatário, quanto para a oposição. Nessa linha, os deputados contrários ao governo tentaram, o máximo que puderam, adiar a votação para o desgaste maior de Temer. 
 
Entretanto, do lado de lá, apesar do risco representado ao mandatário, bancadas colocaram na balança o preço de se apoiar o presidente mais impopular do Brasil e do mundo. Falta menos de um ano para as eleições 2018 e meses para o início das articulações e campanhas eleitorais. 
 
As publicações da imprensa nesta quinta-feira caminham como desejaram os parlamentares: a maioria dos jornais apontou a impopularidade de Temer, o fracasso dos votos perdidos, um governo fragilizado e uma base que precisaria ser reorganizada para a aprovação de medidas.
 
Os mesmos partidos, contudo, que mostraram dissidentes são os que apoiam a aprovação da Reforma da Previdência e de outras medidas, sobretudo de arrocho fiscal, que devem ser pautadas até o final do mandato do peemedebista. 
 
“O presidente é um homem experiente, viveu talvez o momento mais difícil da história política dele. Ele, certamente, a partir de agora, vai refletir e vai avaliar quais são as melhores condições para que ele possa restabelecer uma base para aprovar projetos de interesse do governo”, afirmou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
 
Considerando que o deputado do DEM vem mantendo, nas últimas semanas, conflitos diretos com o mandatário, não seria risco dizer que a postura guarda relação com os interesses pós Temer. Enquanto tenta deixar claro seu confronto com o presidente da República, a discordância não é tão visível na prática. Rodrigo Maia é um dos maiores interessados na aprovação imediata da Reforma da Previdência.
 
Pela manhã, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que inclusive era um dos alvos da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) ao lado de Temer, afirmou que o governo irá acelerar as articulações para a aprovação da reforma: “Queremos aprovar a reforma da Previdência ainda em 2017”.
 
Em sinal claro de contradição e de que a discordância está somente para os olhos da opinião pública a se chegar à população, Maia concordou: “É um momento de desgaste para a Câmara dos Deputados e a melhor resposta é continuar trabalhando, legislando e priorizando projetos que vão no eixo da geração de empregos e recuperação econômica do nosso país”.
 
O impasse foi decifrado pelo líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB): “Tem muita gente que votou a favor da denúncia, mas se diz comprometido com reformas, um exemplo disso é o PSDB. Além disso, ano que vem temos calendário eleitoral. Ainda que se vote em um tamanho menor, é um tema que deve ser enfrentado na eleição”, admitiu.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. o que quer a maioria do congresso

    Aproxima-se o momento das negociações mais cruciais da crise. Ela pode ser trocada em miúdos e, ao contrário das anteriores, ficarão de lado os cargos, emendas parlamentares etc. Será projeto por projeto, interesse maior por interesse maior. 

    O golpe contra Dilma veio das finanças, arrebanhou a indústria e os serviços e terminou no campo. Esse pessoal quer alterar as regras da Previdência como forma de garantir, hoje e no futuro, o pagamento pontual aos credores nacionais e internacionais da dívida pública brasileira. Em nosso capitalismo mafioso, o risco é para os distraídos e a conta, para o povo. 

    Os parlamentares em geral querem por um freio às atividades do Pastor Dalagnol e de seus colegas de Jardim de Infância, além de esvaziar as condenações de Moro, algumas delas já ratificadas peloTRF da região, outras, não. Para isso basta a emenda Requião, emenda correta no essencial, e que, de certo modo, cerceia os avanços mais exagerados da bancada do dinheiro em penca. Ela não passará, se não for aceitável às verdadeiras vítimas da facção judiciária do golpe.

    A imprensa, por seu turno, já começou a veicular a canção dos conservadores que se resume nos repentinos louvores à estabilidade economica e social, muito chacoalhada pela hipertrofia, como dizem alguns de seus epígonos, do Judiciário e da PGR. Hipertrofia bem recebida quando os atacados foram os vitoriosos das últimas quatro eleições presidenciais. Agora, chega! É preciso voltar a ganhar dinheiro, ainda mais que está anunciado o período mais duro da competição internacional.

    Findas essas trativas, será o momento da Justiça.   

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