Fim do voto secreto, mistificação e retrocesso democrático

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Diogo Costa

Sincera e honestamente, tenho todas as dúvidas do mundo sobre o fim do voto secreto no parlamento. 

A historiografia brasileira registra inúmeros exemplos da perversidade do voto de cabresto, existente no Brasil até a reforma eleitoral de 1932. O voto de cabresto nada mais era do que o voto distrital vigente na época (curral eleitoral), temperado com o indigesto voto aberto nas eleições. 

Esta era a receita da manutenção do poder do coronelismo na república velha, tudo devidamente ‘fiscalizado’ por capangas que acompanhavam e anotavam, com incrível rigor, qual era a vontade dos eleitores (para premiá-los ou puni-los logo em seguida). 

O voto secreto instituído por Getúlio Vargas foi um dos fatores de aperfeiçoamento da democracia brasileira, livrou os eleitores do jugo dos capangas e lhes deu liberdade para votar em quem quisessem, sem sofrer pressões por isso. 

O voto secreto e o fim do voto distrital (vigente desde o tempo do Império) foram avanços indesmentíveis, e libertaram as forças democráticas no Brasil. 

Pois bem, sabemos todos que o poder econômico captura e torna a democracia brasileira refém do dinheiro. Uma das poucas garantias que os parlamentares tem para agir com alguma independência é o voto secreto. 

Com o voto aberto, as pressões do poder econômico e midiático serão elevadas à enésima potência! 

Portanto, não concordo com o fim do voto secreto no parlamento. Os parlamentares erram e acertam, como cada um de nós faz a vida inteira. Mas colocar a faca no pescoço dos mesmos, por intermédio dos financiadores de campanha e da mídia oligopólica, não me parece ser o caminho adequado para aperfeiçoar o sistema político brasileiro. 

Ao contrário, parece-me que tal medida apenas tornaria os políticos, os partidos políticos e a própria política ainda mais reféns de forças escusas que capturam a vontade e a soberania do voto popular.

Além de tudo isso, esse projeto de fim do voto secreto é na verdade apenas uma medida cosmética, não toca nem de longe no ponto essencial que é a reforma política. Esta sim seria um vetor de avanço democrático, instituindo o financiamento público exclusivo, o voto em lista e o fim das coligações proporcionais.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Entrei aqui mais para saber

    Entrei aqui mais para saber como fica comentar e responder a comentários neste novo blog, mas nao havia ainda nenhum comentário… 

    Quanto ao tópico, acho que essa mudança agora foi encomendada, para a mídia poder vigiar se os deputados nao votarao contra a cassaçao dos deputados condenados pela AP 470. 

  2. “Com o voto aberto, as

    “Com o voto aberto, as pressões do poder econômico e midiático serão elevadas à enésima potência! “

     

    Está aí em pleno curso, um  didático exemplo para comprovar a veracidade destas palavras: O julgamento midiatizado (e com votos abertos…) do “mensalão”.

  3. voto secreto

    O voto no parlamento não deve ser secreto pelo simples fato de termos o direito de conhecer a posição dos nossos eleitos.

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