O que se ganha e o que se perde fechando com o candidato de Maia no primeiro turno?, por Luis Felipe Miguel

E o que se ganha e o que se perde marcando posição com algum candidato sem absolutamente nenhuma chance de vitória.

O que se ganha e o que se perde fechando com o candidato de Maia no primeiro turno?

por Luis Felipe Miguel

Ainda sobre a eleição na Câmara: os opositores ao acordo em torno de Baleia Rossi têm lançado mão de um novo argumento, apresentado pioneiramente, até onde sei, por Wilson Luiz Müller, de que esse seria o plano de Bolsonaro.

O acordo comprovaria, para a base bolsonarista, que Maia e esquerda são farinha do mesmo saco – e, portanto, que o capitão é de fato estranho à velha política. Todas as movimentações recentes do governo, incluindo as atrocidades ditas sobre a presidente Dilma Rousseff, são lidas à luz dessa teoria. Teriam sido milimetricamente planejadas para empurrar o PT para os braços de Maia.

Eu já me posicionei a favor do acordo – e penso que, diante das circunstâncias, é a alternativa possível. Mas acho que o tema merece debate e que os argumentos contrários são dignos de atenção.

A ideia de que é uma jogada maquiavélica de Bolsonaro, no entanto, é risível. A presidência da Câmara é estratégica e o governo está pondo todas as suas fichas em Arthur Lira. A política real não se faz com planos mirabolantes, mas com cálculo de forças.

E a razão mais básica: Bolsonaro não precisa produzir evidências para convencer seu gado. Ela já vem convencido de fábrica. Por que arriscar uma derrota na Câmara se qualquer imbecilidade disparada nas redes sociais já surtiria o mesmo efeito?

Outro argumento, que recebeu o tratamento mais enfático em texto de Aldo Fornazieri, é que apoiar Baleia Rossi é traição e covardia. Uma percepção ingênua, para dizer o mínimo, da ação política. “Fiat iustitia, et pereat mundus” – devemos ir valentemente para o brejo, é isso?

Se o argumento anterior cobria Bolsonaro de um maquiavelismo digno do Cebolinha, aqui falta um pouquinho de Maquiavel do nosso lado. De resto, Valter Pomar (que por sinal é contra o acordo na Câmara) já fez a crítica ao “machismo-leninismo” de quem “interpreta todos os problemas da esquerda com base no binômio traição/coragem”.

Por fim, há o purismo de quem critica o acordo como sendo a busca por “cargos”.

Sim, está em jogo a distribuição dos cargos na mesa diretora e também nas comissões – que têm menos visibilidade, mas que são onde ocorre o grosso do trabalho legislativo. E a política institucional se faz por meio de cargos. A não ser que se esteja propondo abandoná-la, ambicionar cargos não é nenhum demérito.

A meu ver, a questão precisa ser enquadrada de modo pragmático: o que se ganha e o que se perde fechando com o candidato de Maia no primeiro turno. E o que se ganha e o que se perde marcando posição com algum candidato sem absolutamente nenhuma chance de vitória.

Já argumentei que se ganha muito pouco marcando posição porque a eleição na Câmara é intranscendente. Pouco gente a acompanha, não tem interesse para o público. Marca-se posição para quem já tem posição.

É importante, por outro lado, impor a derrota a Bolsonaro – tanto por colocar obstáculos ao avanço de partes de sua agenda quanto pelo desgaste que a presença de uma presidência da Câmara não alinhada a ele causa à sua persona política “mítica”.

E é importante ter um novo presidente da Câmara que tenha um compromisso básico com a vigência de direitos e liberdades liberais – exatamente para garantir condições melhores para a luta popular, em relação à qual a política institucional deve ser entendida como subsidiária.

Por isso, é fundamental que o apoio a Baleia Rossi seja claramente enquadrado como o que de fato é: um acerto pontual, que não implica diluição da esquerda em qualquer “frente ampla”, nem a redução de sua agenda aos compromissos mínimos acordados para a eleição, nem comprometa a independência de ação das bancadas em relação ao novo presidente da Câmara.

Até onde posso ver, esse é o caminho que está sendo trilhado.

PS – Um elemento importante da equação é a disputa interna no PT e no PSOL, pela hegemonia dentro de cada partido. Não participo dessas brigas. Mas acho ruim se a dinâmica da disputa interna determinar as posições quanto a uma questão assim importante.

Luis Felipe Miguel

9 Comentários

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  1. Segundo o autor:

    “É importante, por outro lado, impor a derrota a Bolsonaro – tanto por colocar obstáculos ao avanço de partes de sua agenda quanto pelo desgaste que a presença de uma presidência da Câmara não alinhada a ele causa à sua persona política “mítica””.

    Maia jamais colocou obstáculos ao avanço da agenda do Bolsonaro, ao contrário, ele desobstaculizou o caminho para a agenda do Bostonaro.

  2. Nassif: o partidão não se toca que a baleia engolirá o molusco, na primeira oportunidade. E Cavalão continuará seu galope pela coxia do Congresso, livre, leve e soltinho, à sombra das baionetas…

  3. Uma das grandes constatações que a política nos ensinou é a de que: políticos não são confiáveis e que em suas águas corre muito mais traição , do que união. Portanto, eu penso que toda união de forças políticas tem suas pernas curtas, da mesma forma que a mentira. A sua incompatível existência termina no alcance do objetivo, que é comum ao interesse de todos, mas que a partir daí, e como que por um encanto, faz desaparecer as peles de Cordeiro, para dar lugar as vestes tradicionais da política, que são: a ganância, a ambição e as famosas imoralidades do “toma lá, dá cá” que é o exercício favorito, o mais presente e patrão único da política nacional.

  4. No campo da esquerda eu torço por um “otário” , os “espertos” nos levaram ao seu Jair.
    Acordo é bom quando se cumpre.
    Não se esqueça dos elogios de Dilma ao seu vice…

  5. “A própria Globo está elogiando muito a maturidade do PT, etc. (…) Quando eu vejo isso, eu lembro muito do Brizola. Ele falou: ‘Olha. Há um jeito muito fácil de você saber que caminho seguir o Brasil. Quando a Globo estiver de um lado, você vai pro outro’.” (Joaquim de Carvalho no DCM)
    Se a Globo elogiou, pode ter certeza de que o PT embarcou numa furada.

  6. Gostaria de saber o que pensam os defensores de candidatura do PT no primeiro turno sobre a possibilidade desta candidatura passar para o segundo turno contra Lira. A meu ver, a maior parte da turma do Maia vai negociar apoio ao Lira no segundo turno, nunca aceitarão uma vitória do PT.
    Então, a tal candidatura para marcar posição só funciona se perder e dispondo apenas de uma hora para alinhar um acordo com Baleia. Se passar no primeiro turno manda a estratégia toda pro brejo.
    Seria um perfeito plano Caracú, em que a turma do Lira entra com a cara.

  7. Então, como já comentei, retorno a situação da sinuca de bico, do ser ou não ser do PT sobre a decisão de apoiar ou não o nado de Baleia rumo a presidência da câmara. Eu acho que a decisão do PT foi infeliz e mais uma vez ela trai os fundamentos a que se propôs e que o tornou um partido gigante e admirado, enquanto não tinha provado o fruto proibido do pecado político e assim rompido com parte de seus ideais. A responsabilidade pela existência deste desgoverno incompetente, desajustador e debochado é principalmente destes, que agora tem motivos para confundir mais ainda o eleitorado descolado da política, que aliás são a grande maioria. Conseguiram um motivo para fazer com que o PT agora possa ser visto como um dos responsáveis por sua própria derrota e de Fernando Haddad, mesmo que todo eleitora escolado a política saiba que isso é mais uma inverdade, mais uma Fake News e mais uma grande mentira a tirar sarro com os eleitores desavisados. E o PT caiu na armadilha, não aprendeu nada e perdeu a grande chance de se depurar. É claro que iria encolher como partido, que iria ser bombardeado por todos eles e provavelmente Lira seria eleito. Porém, eu entendo que se oPTasse pelo não alinhamento estaria cortando da sua carne, recuando para o impulso maior e deixando todos os responsáveis a nu, diante da nação. E tudo o que vier a se realizar de bom ou ruim seria creditado aos responsáveis pela catástrofe deste governo que eles abraçaram e elegeram.

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