Os maiores gastos das “pautas-bombas” que podem gerar rombo no Orçamento

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enquanto o governo federal insiste em criticar medidas como a anistia a multas da greve dos caminhoneiros e isenção de conta de luz para famílias de baixa renda, os maiores gastos são dedicados a outros setores
 

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
 
Jornal GGN – Desde abril deste ano, deputados e senadores governistas vêm avançando com propostas preparadas para aprovação antes das eleições 2018 e, portanto, facilitando as articulações sem que colidissem com o pleito eleitoral. São medidas no setor econômico que em nada equilibram com o enxugamento proposto pelo governo e podem gerar um rombo de R$ 72 bilhões ao ano nas contas públicas.
 
Os cálculos foram levantados por técnicos do Congresso, que realizam análises e artigos sobre os impactos de pautas legislativas, sejam na própria legislação brasileira, ou sejam na economia. Denominadas de “pautas-bomba”, as propostas vão desde o benefício fiscal a empresas de refrigerantes, a reinclusão no Simples, o parcelamento de dívidas previdenciárias de produtores rurais, entre outras. O GGN listou os maiores gastos das medidas:
 
Dos projetos, o que mais movimentaria o Orçamento da União são as alterações na Lei Kandir, que obriga a União a compensar estados e o Distrito Federal com a desoneração do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A estimativa do governo é de que terá que abrir mão de R$ 39 bilhões ao ano com o imposto, que compete às outras federações.
 
O segundo maior impacto vem da rejeição aos vetos do Projeto de Lei do Funrural. O Congresso derrubou os vetos de Temer ao projeto que prevê o parcelamento das dívidas da Previdência a produtores rurais, beneficiando esse setor. As dívidas são do FUndo de Assistência ao Trabalhador Rural, e o governo estima uma perda de R$ 13 bilhões este ano com a facilitação aos produtores rurais.
 
Em seguida, o terceiro maior custo vem do marco regulatório do transporte de cargas, aprovado pela Câmara, que traz normas sobre o frete, o pedágio, o contrato para transporte de cargas, entre outros, prevendo uma renúncia de R$ 8,6 bilhões este ano, mais R$ 9 bilhões em 2019 e R$ 9,26 bilhões em 2020.
 
Também é apontado com altos custos a rejeição do veto do Simples Nacional, permitindo o programa criado para micro e pequenas empresas parcelarem as dívidas do Refis do Simples. As parcelas retirarão em 10 anos cerca de R$ 7,8 bilhões.
 
Enquanto os altos níveis de desemprego assombram as estatísticas econômicas do Brasil, a previsão do reajuste para servidores na Lei de Diretrizes Orçamentárias do próximo ano garante R$ 4,4 bilhões a mais nas contas para servidores civils ativos e inativos.
 
A Lei de Diretrizes, inclusive, foi aprovada pelo Congresso Nacional na noite desta quarta-feira (11), pronta para antecipar parte dos gastos não previstos inicialmente pelo governo federal e que podem entrar nas contas deste e do próximo ano. Enquanto isso, os parlamentares inciiam já no próximo dia 18 de julho o recesso legislativo.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Destino

    Para o bem do capital, o destino de quem gasta muito é se endividar.

    De que outra forma levar o país às portas do FMI senão pelas dívidas?

     

  2. A pauta-bomba inefável

    O mal-estar generalizado tem causa em outro lugar. Trata-se da bomba do reajuste do teto remuneratório do serviço público, que está congelado desde janeiro de 2015. Os ministros do STF encenam indiferença – mas não é preciso ter a fachada franciscana encenada pela presidente Carmem Lúcia para abrir mão do reajuste “em nome do bem geral da nação”. Já os juízes e procuradores que percebem 90% do teto (mais auxílio-moradia) não parecem tão altruístas, pois sabem que há milhares de servidores subalternos que ganham o teto e dezenas acima do teto (como a AGU, com sua prebendária participação na sucumbência…). A falsidade do governo, que simulou o bloqueio do reajuste no Senado em nome da desvinculação dos juízes e promotores estaduais (mas não fez nada nesse sentido) só não é ultrajante por partir de um governo moribundo, do qual se espera toda mendacidade. Nem uma corporação incondicionalmente favorável aos gastos com o funcionalismo, como o PSOL, saberia o que fazer neste caso. Caso tipico de escolha trágica.

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