Os perigos da quarta-feira para Dilma

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Tereza Crurivel

Chegando de Nova York a presidente Dilma terá pela frente uma quarta-feira perigosa, em que problemas diversos podem desaguar na sessão em que o Congresso apreciará dois vetos a projetos que criam despesas bilionárias. Um concede aquele reajuste polpudo aos servidores do judiciário. Outro estende a todos os aposentados do INSS o reajuste anual do salário-mínimo. Bombas que o Congresso armou e precisam ser desarmadas. Para conseguir da base aliada os votos para a manutenção dos vetos,  Dilma não pode cometer qualquer erro no trato de duas questões: terá de sancionar a lei eleitoral sem vetar a nova regra para mudança de partido (contrariando o ministro Kassab, que pediu o veto para viabilizar seu projeto de PL) e terá que se acertar com o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, sobre a reforma ministerial.

A eventual derrubada destes dois vetos, verdadeiros atentados ao ajuste fiscal, teria uma repercussão econômica imediata e imprevisível, certamente danosa.  O reajuste do Judiciário, segundo o governo, traria um aumento de gastos da ordem de R$ 25,7 bilhões  nos próximos quatro anos. O impacto seria de R$ 1,5 bilhão em 2015; de R$ 5,3 bilhões em 2016; de R$ 8,4 bilhões em 2017; e de R$ 10,5 bilhões em 2018.  Já a extensão do reajuste do salário-mínimo a todos os aposentados geraria uma despesa adicional de R$ 9,2 bilhões anuais, sendo R$ 4,6 bilhões em 2015.

E como anda o humor da base com vistas à quarta-feira?  Instável, sujeito a surtos de desconfiança. Em relação à sanção da mini-reforma eleitoral, não apenas o PMDB masn também outros partidos da base procuraram o ministro Ricardo Berzoini, que está reassumindo a coordenação política,  para argumentar a favor da sanção do projeto,  sem o veto pedido por Kassab.  A Casa Civil, ao confirmar que houve o pedido,  adubou as desconfianças.   O artigo em questão fecha as janelas de migração, que só se abririam a cada seis meses que antecedem um pleito.  Kassab esperava viabilizar e engordar seu PL com adesões de outros partidos a qualquer momento, pois hoje a lei permite mudança sem perda de mandado para partido recém criado.  Então, antes que a marola cresça, o governo deve divulgar logo o teor do decreto de sanção, que só será publicada no Diário Oficial de quarta-feira.  Será melhor que partidos e congressistas conheçam logo seu teor.

Não menos delicada será a retomada da reforma ministerial. Tendo oferecido à bancada da Câmara, através de Picciani, os ministérios da Saúde e da Infraestrutura, que seria criado pela fusão de Portos e Aviação Civil,  Dilma precisou recuar na véspera do embarque.   O grupo de Temer pediu a manutenção de Padilha na SAC e o do Senado reagiu contra a extinção de Pesca, ocupado por Helder Barbalho. Dilma pensou em transferi-lo para Portos mas com isso, faltará ao acertado com Picciani.  Logo ele, que nos últimos dias tornou-se a tábua de salvação do governo.  Na semana passada, quando o governo conseguiu manter quase todos os vetos apreciados, ele garantiu cerca de 50% dos votos da bancada. É pouco mas no clima em que andaram as relações entre Dilma, Temer e a cúpula do partido, podia ter sido pior.  O líder arrancou também da bancada uma decisão favorável à permanência na coalizão governista por 42 a 9.  Então, a equação é óbvia. Dilma tem que arranjar um jeito de contentar quem pode lhe dar votos. O mais indicado, nesta altura das dificuldades para acomodar todo mundo com dez ministérios a menos, será deixar a conclusão da reforma para depois desta quarta-feira perigosa.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Governo de trabalhadores se enganou no veto do Judiciário.

    O reajuste dos 120.000 servidores do Judiciário, dividido nos 4 anos como proposto, representa, em percentuais, valores menores do que a própria expectativa de inflação em tais anos. Sua função é recompor as perdas salariais havidas entre 2006 e 2014. Nove anos sem reajustes foram a contribuição desses valorosos servidores ao ajuste fiscal.

    Impacto é a diferença entre um ano e outro. Há na matéria (e em toda a mídia) a insistência nos números equivocados divulgados pelo ministro Nelson Barbosa. O acréscimo na folha de pagamento é aproximadamente 5% por ano. Muito razoável. Se houvesse data-base para os servidores públicos, como existe na iniciativa privada, o reajuste seria próximo disso. Em resumo: se aprovada, a recomposição até 2014 viria em parcelas “casas bahia”, e ao final, em 2018 teria ainda de haver nova revisão.

    Os servidores do judiciário não vão pagar a conta da crise política.

    São os técnicos e analistas judiciários que produzem as sentenças judiciais, votos de desembargadores e de ministros. A quem interessa um Judiciário fraco?

    Se o governo for esperto, fica do lado dos trabalhadores do Judiciário, e orienta pela DERRUBADA DO VETO. Porque esse veto, especificamente, vai cair, queira ou não o governo.

    Se o governo se apegar a esse veto, corre o risco de cair junto.

    ps: Como muita gente vendo essas notícias faz a associação, cabe esclarecer que não tem nada a ver a carreira dos servidores com a dos juízes.

  2. Responsabilidade Fiscal.

    Por que o Congresso também não pode sofrer punições devido a irresponsabilidade fiscal que ele mesmo cria, como essas tais bombas armadas em plenário?  A cada bomba dessa criada e aprovada, um impeachment para deputado que vota a favor. Pronto, aí as responsabilidades seriam divididas entre governo e oposição.

  3. Caro Nassif,
     
    Há um festival

    Caro Nassif,

     

    Há um festival de mentiras rondando esse projeto de recomposição salarial dos servidores do Judiciário. A mídia, principalmente, faz matérias e mais matérias destacando a irresponsabilidade de um aumento dessa natureza e ameaça os parlamentares com o fogo eterno do descontrole das contas públicas! Ah, tá! Então o impacto dos 10,3 bilhões de reais(diluídos em 03 anos) desse projeto quebrará o país, mas o 1,3 trilhão (isso mesmo, trilhão) a ser gasto com juros e amortizações da dívida pública federal somente em 2015, não? Isso mesmo, essa bagatela de Um Trilhão e Trezentos Bilhões, gastos com o sistema financeiro e rentista desse país, não recebe da mídia uma mísera materiazinha sequer? Ah, Nassif, que falta faz o ensinamento de Joseph Pulitzer nas escolas de Jornalismo!

  4. DILMA NÃO EXISTE

    DILMA NÃO EXISTE ,POLITICAMENTE FALANDO

    PMDB QUER UM BRAÇO,DEPOIS PERNA E POR AÍ VAI,INSACIÁVEL

    SE DILMA ACREDITA EM DEUS OU ALGO ASSIM É MELHOR PEDIR AJUDA

    “FÉ EM DEUS E PÉ NA TÁBUA”NÃO TEM JEITO,DEMOCRACIA É ISSO!!!!

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