Requião: é preciso ter a coragem das senadoras

senadoras_no_escuro_-_lula_marques_agpt.jpg
 
Foto: Lula Marques/AGPT
 
Do site de Roberto Requião
 
BASTA! TENHAMOS A CORAGEM DESSAS MULHERES!
 
Na sessão de ontem, repetidamente, a começar pelo presidente Eunício, senhoras e senhores senadores censuraram com dureza as senadoras que ocuparam a mesa da casa, interrompendo o encaminhamento da maldita e escravocrata reforma trabalhista aqui aprovada. 
 
Mais do que isso, 14 senadores encaminharam uma representação ao Conselho de Ética contra as senadoras, acusando-as de quebra de decoro parlamentar.
 
Todos os senadores, além do batalhão de jornalistas da Globo, da Globonews, da CBN, da Folha, do Estadão e do Grupo RBS que cobriam a sessão, torcendo o nariz e distorcendo as notícias sobre o episódio, disseram que se tratava de um fato inédito, jamais visto na história do Senado da República.
 
Pois bem, para os que acusam Gleisi Hoffman, Fátima Bezerra, Vanessa Graziotim,  ngela Portela, Regina Souza e Lídice da Mata de terem envergonhado o Senado, de terem manchado a história do Senado, como se a história desta Casa fosse impoluta, ainda mais depois da aprovação da hedionda reforma, para esses, quero lembrar um fato.
 
Prestem a atenção ao que noticiou no dia 14 de maio de 2009 o blog “Congresso em Foco”.
 
A manchete: “Sem emplacar CPI tucanos invadem Mesa em plenário”. 

A matéria: ” O plenário do Senado foi palco de algo inédito na história da instituição.
 
Inconformados com a decisão da Mesa Diretora de não ler o pedido de instalação da CPI da Petrobrás, senadores do PSDB subiram à Mesa e, em uma quebra de protocolo, assumiram a presidência para tentar dar continuidade à sessão (……)”.
 
Segundo o blog, a então segunda vice-presidente da Casa, Serys Slhessarenko, havia encerrado a sessão sem ler o requerimento pedindo a CPI.
 
Citando o “Congresso em Foco”:
 
“Foi o que bastou para que o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, sem alternativas, subisse à Mesa, ocupasse a cadeira de presidência e, aos gritos e batendo na mesa, anunciasse: “Quero ver quem me tira daqui”.
 
 Na presidência, Virgílio passou a palavra ao senador Tasso Jereissati. No entanto, o então primeiro secretário do Senado, Heráclito Fortes, cortou os microfones (mas não apagou as luzes, registre-se), impedindo o pronunciamento de Tasso, que protestou fortemente contra a mudez do som.
 
A reportagem do “Congresso em Foco” dizia ainda que o “ato, da forma com o fora praticado, custaria caro a Arthur Virgílio, que poderia enfrentar um processo por quebra de decoro”. 
 
Logo depois da confusão, policiais legislativos ocuparam a tribuna de imprensa e um dos agentes disse que os tucanos poderiam continuar no plenário pelo tempo que quisessem, mas com as portas fechadas, sem microfone, sem transmissão pela TV Senado e, agora sim, com as luzes apagadas.
 
Nessa época, eu era governador do Paraná.
 
Se fosse senador e aqui estivesse, estaria ao lado de Arthur Virgílio e Tasso Jereissati porque sempre me alinhei às iniciativas de instalação de CPIs, uma arma sagrada da minoria para investigar os governos. 
 
Não vi no rompante de Arthur Virgílio e na indignação de Tasso Jereissati qualquer ofensa ao decoro parlamentar.
 
Então minoria, o PSDB foi ao extremo para marcar sua posição e denunciar ao Brasil o rolo compressor governista.
 
A tentativa de tomada da Mesa desta Casa, no dia 31 de março de 1964, quando Moura Andrade declara vaga a presidência, com Jango ainda no Brasil, que arrancou de Tancredo Neves o antológico “Canalha! Canalha! Canalha”, é um outro exemplo da insurgência da minoria no Senado.
 
 Com Tancredo, em 1964, com Arthur Virgílio e Tasso Jereissati, em 2009, perfilo e bato continência às bravas senadoras que ocuparam esta Mesa para impedir que o trator da maioria esmagasse a minoria. 
 
E não é preciso recorrer a exegetas como São Tomás de Aquino para buscar justificativas ou a absolvição para essas insurgências. Mesmo porque elas são a prova exultante, luminosa de que ainda pulsa a vida neste Senado, que ainda há espaço para a indignação, para o amor e a solidariedade ao povo. 
 
 
O que a minoria do lado do povo queria?
 
Que, diante de monstruosidades como a submissão de grávidas e lactentes ao trabalho insalubre, Gleisi, Regina, Vanessa, Fátima,  ngela e Lídice acreditassem na palavra de Michel Temer e de seu
líder no Senado?
 
Para dar mais razão ainda a elas, não está aí o herdeiro presuntivo de Temer, Rodrigo Maia, a declarar que não vai cumprir qualquer acordo para vetar essa hediondez? Mais uma traição.
 
O que a maioria queria?
 
Salamaleques, mesuras, bons modos, posturas e comportamento segundo as recomendações de Marcelino de Carvalho, de Glória Kalil, de Danuza Leão e outros mestres em etiqueta?
 
Que não colocassem os cotovelos na mesa, enquanto se refestelavam com as suas quentinhas?
 
O que a maioria queria? 
 
Queria o silêncio e a passividade quando retiravam dos trabalhadores TODOS -reafirmo – TODOS os seus direitos?
 
Salve a coragem, o desassombro, a firmeza, o atrevimento, a audácia, a grandeza, a generosidade e a grandeza de Gleisi,  ngela, Vanessa, Lídice, Regina, Fátima. Que o exemplo de resistência e de dignidade de vocês repercuta, espalhe-se e frutifique por todo o Brasil.
 
Insurja-se, Brasil contra a canalhice inominável de uma reforma que institui, 129 anos depois da Lei Áurea, a categoria do escravo voluntário, também chamado de trabalhador intermitente, terceirizado ou trabalhador-empresa, o tal pejotizado. 
 
Insurja-se, Brasil. Que Fátima, Gleisi, Vanessa, Lídice, Regina e  ngela sirvam de exemplo.
 
————————-
 
Roberto Requião é Senador da República, foi governador do Paraná e prefeito de Curitiba
 
Assine
Redação

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Barraco na CCJ do Senado

    A atitude das Senadoras não foi lá muito edificante. Besteira. Melhor esquecer. Vergonha mesmo são os politicos que trocam apoio por cargos estratégicos, vendem leis e medidas provisórias de ocasião, exigem moeda para detonar CPIs, etc.  Resumindo: foi uma demonstração de rebeldia ginasiana e chantagem feminista. Podiam ter feito uma greve de fome. Um regime faria bem à Gleise,  à Fátima e à Katia Abreu. A Regina do Amapá (que maldosamente chamam de tia do café) e a Vanessa do Amazonas podem continuar com o mesmno perfil. E todas poderiam ficar menos chatas e estridentes. Junte as 5 e listem projetos relevantes que fizeram. Ou os outros 76. Estes de vem ter feito uns 3 ou 4. Se tanto.

  2. Diversidade surreal?

    Por que Requião continua no PMDB. Será que ele já respondeu a esta questão? Num mesmo partido há o senador paranaense, o senador alagoano(Renan) ,  o Temer e também tinha o Cunha . Seria o caso de dizer  que o coração tem razões  que a própria razão desconhece?

  3. Parabéns às Senadoras – Faltam homens no senado que honrem as ca

    Faltam homens no Senado que honrem as calças – São poucos.

    O senado federal (minúsculo), com exceção das heroicas Senadoras e seus apoiadores, mostrou a que veio e, diga-se de passagem, sempre tem oferecido a seus devotos eleitores iludidos: Escuridão, Autoritarismo e silencio imposto à Nação.

    Ratos traidores cometem o crime de Falsidade ideológica ao pagarem o voto de confiança solicitado nas urnas sob a promessa de serem os defensores dos interesses do povo e entregam ao povo o produto acabado: A aprovação da mais desumana lei que envergonha até os anjos de Deus. Isto é Estelionato Eleitoral.

     

  4. Senadoras

    Adorei o ato as senadoras.Se o povo brasileiro tivesse um pouco mais de audácia, deveria ocupar todas as instiutições,públicas. Essas instituições são nossas, e estão sendo ocupadas por aqueles que não representam a vontade do povo.Logo tomá-las de volta seria um ato de justiça.

  5. Parabéns as senadoras pela

    Parabéns as senadoras pela ousadia, pela coragem, pela necessidade. Sem luta, sem ousadia, sem enfrentamento, não teremos nada. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador