Bolsonaro defendeu o fim do isolamento, mas acabou isolado politicamente

O Presidente chocou até aliados políticos ao defender que os brasileiros devem voltar a fazer a vida normal, ignorando os riscos do coronavírus, diz jornal português.

Numa declaração ao país, Bolsonaro defendeu o fim das medidas de emergência no combate ao coronavírus. | Foto: EPA/ISAC NOBREGA/HO

do Público 

Bolsonaro defendeu o fim do isolamento, mas acabou isolado politicamente

A decisão do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, de acabar com o regime de isolamento geral que está em prática há vários dias em grande parte do país aprofundou ainda mais a crise política que convive com a crise de saúde pública causada pelo novo coronavírus.

O discurso de Bolsonaro na noite de terça-feira foi recebido com um coro de críticas de governadores, parlamentares, juristas e especialistas em saúde, que acusam o Presidente de irresponsabilidade e insensibilidade social. O divórcio entre Bolsonaro e a generalidade da classe política brasileira parece estar consumado.

O isolamento de Bolsonaro ficou patente esta quarta-feira no encontro que o Presidente manteve com os governadores dos estados do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) para discutir medidas para conter a propagação do coronavírus. A reunião ficou, no entanto, marcada pela troca de acusações entre Bolsonaro e o governador paulista, João Doria.

“O Presidente da República tem que ser um mandatário para comandar, para dirigir, para liderar o país e não para dividi-lo”, afirmou Doria. Bolsonaro respondeu-lhe, acusando-o de estar a pensar nas eleições presidenciais de 2022 – para as quais Doria se tem posicionado como pré-candidato contra o actual chefe de Estado. “Subiu à sua cabeça a possibilidade de ser o Presidente da República. Não tem responsabilidade e nem tem altura para criticar o Governo federal”, afirmou Bolsonaro.

A relação entre o Presidente e os governadores foi turbulenta desde o início, mas a crise do coronavírus tornou-a insustentável. Perante a constante desvalorização de Bolsonaro dos efeitos da epidemia, os dirigentes estaduais decidiram tomar as rédeas. Esta quarta-feira, os 27 governadores marcaram uma reunião entre si sem qualquer representante do Governo federal, diz a Folha de São Paulo, num claro sinal de que já pouco esperam de Brasília.

Até mesmo governadores considerados próximos do Governo querem agora manter a distância. É o caso do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que decretou o rompimento de relações com Bolsonaro. “Não tem mais diálogo com esse homem, as coisas têm que ter um ponto final”, afirmou o mandatário.

Regresso à “normalidade”

Nos últimos dias, o Presidente parecia estar a dar sinais de estar a tentar construir pontes com os restantes poderes com o objectivo de encontrar uma resposta unificada à propagação do novo coronavírus. Pela primeira vez desde o início da crise, Bolsonaro marcou reuniões com os governadores de todo o país e anunciou um pacote de 88 mil milhões de reais (16 mil milhões de euros) para apoiar os estados, incluindo uma suspensão do pagamento das dívidas.

Redação

1 Comentário

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  1. A “atuação” (hã?) Bolsonária é (como sempre) focada na DISCUSSÂO (conflitiva) de botequim, defendendo meramente seu unilateral “achismo”, entre “um gole e outro”. Ninguém quer saber se ele é “atleta” ou o que ele “acha”, quer saber o que ele está fazendo com sua equipe para melhorar a situação.
    A atuação dos prefeitos e governadores pelo menos é voltada para AÇÂO, “certa ou errada”, objetivando minimizar danos.
    A atuação de Mandetta (um crítico ferrenho do “mais médicos” e que provavelmente ainda não os chamou de volta por pura IDEOLOGIA), tem sido a de ficar fazendo coletivas, em vez de mergulhar com sua equipe e todos os potenciais contribuidores de outras áreas, dentro e fora do governo, na busca e negociações para PREPARAR o país para enfrentar a pandemia. Todo tempo e esforço é pouco!
    UM PORTA-VOZ É SUFICIENTE PARA FICAR DANDO EXPLICAÇÕES E UM BOM ESTAGIÁRIO É SUFICIENTE PARA FICAR LENDO ESTATÍSTICAS,
    O que precisamos é providenciar leitos, equipamentos (respiradores…), implementos (máscaras, óculos, luvas, sabão e álcool, TESTADORES, etc).
    E os demais do governo ajustarem a situação econômica de emergência e futura, onde também não vem nada, além do mitosco apelo de “volta a normalidade”, provavelmente para atender seus “parças” empresários (Havan, Riachuelo, etc.)
    Fazer testes e utilização controlada de (hidroxi)cloroquina ou outros potenciais medicamentos também é válido, mas DIFUNDIR sua potencialidade como “100%” e dar esperanças antecipadas à população, gerando corridas de compra e utilizações que podem ser até mortais, é mera conversa de botequim (que em princípio é algo divertido e inócuo).
    Tudo usando números que, claramente, estão SUBNOTIFICADOS, pois: (1) os testes são poucos, raros (mas os do andar de cima os fazem com fartura); (2) Em um ciclo de doença de 14 dias, há uma defasagem média de pelo menos 7 dias entre as notificações de casos e os números de mortes; (3) as suspeitas de uma instituição britânica de que os números atuais podem ser um múltiplo dos anunciados.
    Enfim, temos no “comando” (hã?) do país, com a caneta das leis e as chaves do cofre, um alucinado adolinquente, que em vez de trazer solução, só causa discussão, briga e antagonismo, confundindo a população.
    Mandetta não é um “bom ministro” (só acima do nível médio medíocre do ministério bozista), apenas está na BERLINDA, mas sua atuação tem que ser MENOS de relações públicas e porta-voz e MAIS de trabalhar para preparar o Brasil com o que já se sabe escasso e necessário. Além disso, precisa “peitar” o “chefe” ou pedir pra sair.
    De novo o foco essencial dever ser: leitos, equipamentos (respiradores), implementos (máscaras, óculos, luvas, sabão e álcool), TESTADORES, etc.
    Antes que cheguemos no ponto de arrumarmos valas para alinhar caixões ou fornos de cremação “industriais”.

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