Brasil, Equador e Chile: conservadores da América Latina lideram casos de coronavírus

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Como os três países que lideram o ranking de contágios e mortes por coronavírus na América Latina vêm reagindo à pandemia na saúde e economia

Os três países da América Latina lideram o ranking de casos do coronavírus – Reprodução do Centro de Ciência e Engenharia de Sistemas (CSSE)

De Santiago, Chile

Jornal GGN – Brasil, Equador e Chile são os três países da América Latina com mais casos confirmados, respectivamente, e de mortes de coronavírus na região. E além de compartilhar o crítico cenário de avanço da pandemia Covid-19, as três nações também guardam em comum ter no comando governos de tendência conservadora.

Enquanto o Equador foi o que apresentou o salto mais surpreendente de contágios nos últimos dias e obteve como resposta do presidente Lenín Moreno a restrição repressiva de direitos e duras punições para aqueles que não as cumprirem, Brasil e Chile preferiram não adotar completamente as recomendações de quarentena e isolamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) e, tanto Jair Bolsonaro como Sebastián Piñera, responderam com medidas econômicas que atendem mais as empresas e menos os empregados.

Brasil é o país que lidera a epidemia do coronavírus na América Latina, com 1.980 casos confirmados anunciados pelas autoridades nacionais e uma estimativa que, na realidade, estes números chegariam a 17 mil. Mas os números oficiais já fazem do país o 18º dos mais contagiados no mundo, além de ter sido o primeiro da região a registrar um caso, desde a travessia do vírus ao continente.

O Brasil é seguido do Equador, que apesar de ser um dos últimos a anunciar a chegada do vírus na América Latina, foi o que obteve o maior crescimento diário de casos, com 1.049 marcados na manhã desta terça (24), e um total de 27 mortos, aproximando-se vertiginosamente do Brasil.

O salto dos casos no território equatoriano, que é 30 vezes menor que a nação brasileira e ainda inferior em proporções que o estado do Rio Grande do Sul, surpreendeu a disseminação na região. Já no último domingo (22), as vítimas fatais duplicaram de 7 para 14 em 24 horas, tornando-se o segundo país latino-americano com mais mortos depois do Brasil.

As medidas tomadas pelo presidente Lenín Moreno foram desde a determinação do Estado de Exceção, chegando a toques de recolher e a suspensão do trabalho presencial e das aulas. A nível econômico, o presidente do país decidiu optar pela redução dos investimentos estatais, que inclui uma série de privatizações, a criação de um imposto único a veículos, um imposto a funcionários públicos e medidas tributárias.

O anúncio foi feito logo na primeira dezena de março, quando o preço do petróleo do país se viu fortemente afetado pelo avanço do coronavírus no mundo. Mas desde que o Equador decretou Estado de Exceção, as medidas foram postergadas e a preocupação foi concetrada em ações sanitárias.

Nesta terça (24), com o aumento exponencial dos infectados e vítimas, Moreno endureceu ainda mais as restrições, ampliando o toque de recolher e decretando a província de Guayas como zona especial de segurança, pelo alto nível de contágio no sudoeste do país, o que implica maiores controles e restrições contra a liberdade de movimento. Quem incorrer contra as determinações podem sofrer desde uma multa de 100 dólares até a prisão (veja o anúncio de hoje aqui).

O país ainda aplicou restrições ao tráfego de veículos, fechamento de fronteiras e proibição de todos os voos. O ministro da Saúde do Equador, Juan Carlos Zevallos, também anunciou que terá disponível desde a próxima semana os testes rápidos de detecção do novo coronavírus.

Assim como Equador, o Brasil e o Chile também informaram a aquisição dos testes, que são vendidos pela empresa chinesa Wondfo. Somente o Brasil irá adquirir 10 milhões de testes. Já o Chile não fala em números exatos. O país é o terceiro com mais casos de coronavírus anunciados na América Latina: oficialmente, 922 e duas mortes.

Similar às medidas tomadas no Brasil, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, que com o conflito social desde o ano passado já enfrenta baixa popularidade, não quis adotar a quarentena obrigatória e foi o que teve o avanço mais rápido da pandemia até o início da semana passada, sendo posteriormente superado pelo Equador.

A nação, cuja economia depende do funcionamento de serviços, com significativa representatividade da classe média em micro e pequenas empresas e o trabalho informal, e que não tem reservas de estatais, anunciou medidas econômicas similares à da equipe de Jair Bolsonaro.

Na semana em que foi decretada a fase 4 do coronavírus no Chile, no último 16 de março, a economia logo respondeu com a previsão de uma queda de 1,5% do produto interno bruto até o fim do ano. Antes do início da pandemia no país, projetava-se uma expansão de 1% este ano, como resultado da insegurança econômica com as manifestações sociais e o plebiscito constitucional.

Agora, o balanço do ano para o país será de uma contração que pode variar entre -0,5% e -4%, segundo estudo do Centro Latino-americano de políticas Econômicas e Sociais da pUC Chile (Clapes).

Entre as medidas para fazer frente ao surto do vírus, foram determinados toque de recolher, desde as 22h até as 5h da manhã para “diminuir os contatos sociais”, obrigatoriedade de quarentena somente para contagiados por coronavírus e estrangeiros e o fechamento das fronteiras aérea e marítima do país.

No “plano de emergência” para “proteger” os empregos, o governo de Piñera enviou três projetos ao Congresso: o que permite suspender parte das funções de um trabalhador e, proporcionalmente, as remunerações – medidas tributárias para microempreendedores, como o atraso no pagamento de impostos e a liberação de créditos – e um auxílio aos que comprovem estar na linha da pobreza (leia o plano de emergência do Chile aqui).

Se a primeira das medidas inspirou Jair Bolsonaro a repetir no Brasil, obtendo amplo rechaço e vendo-se obrigado a recuar, no Chile a possibilidade passou sem grandes reações dentro de um pacote que inclui aportes do estado para evitar a grande perda nas aposentadorias privadas, que por serem investimentos em fundos e ações já sofreram debandada, e a criação de um “Fundo Solidário” para microempreendedores.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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