Covid-19: balanço de momento (31/3-1/4), por Felipe A. P. L. Costa

Covid-19: balanço de momento (31/3-1/4)

por Felipe A. P. L. Costa [*]

As estatísticas de vários países (Brasil incluído) a respeito da pandemia da Covid-19 (provocada pelo vírus SARS-CoV-2) são inconfiáveis [1]. Em termos científicos e, sobretudo, em termos de saúde pública, é uma situação constrangedora e muito lamentável. (E que pode ter consequências desastrosas.)

Dito isso, vejamos.

Eis um resumo das estatísticas mundiais [2], levando em conta dados obtidos de ontem para hoje (31/3-1/4):

(A) Os 20 países mais afetados (Brasil incluído) [3] concentram 91% dos casos (de um total de 859.796) e 96% das mortes (de um total de 42.345) [4]. Os números continuam a escalar, ainda que a um ritmo menos acelerado [5]. A se confirmar este resultado, é provável que já tenhamos ultrapassado o ponto de inflexão da curva, embora ainda estejamos aquém do topo.

(B) Nesses 20 países, a taxa média de mortalidade está em torno de 5,2% – i.e., em média, de cada grupo de 1.000 indivíduos infectados, 52 deles vão a óbito. Itália (11,4%) e Espanha (8,8%) empurram a média para cima. Israel, Austrália e Noruega (todos com menos de 1%) puxam a média para baixo.

(C) Nesses 20 países, a julgar pelos números divulgados, 172 mil indivíduos já teriam recebido alta, o que corresponde a 22% dos infectados. China (93%), Coreia do Sul (56%) e Irá (33%) lideram os percentuais de recuperação.

Distanciamento social

O que se passa hoje em muitos países do mundo não é nenhuma fatalidade. Nem é castigo divino. É fruto de decisões políticas equivocadas tomadas em passado recente.

Veja o caso da Itália. Na segunda quinzena de fevereiro, tendo então contabilizado 17 mortos (de um total de pouco mais de 600 infectados), o governo italiano resolver suspender as medidas de isolamento social. O motivo alegado era proteger a frágil economia do país. Em maior ou menor grau, outros países que hoje lideram as estatísticas cometeram erros semelhantes.

Diante da escalada dos números e de tudo o que estamos a aprender rapidamente a respeito do novo coronavírus (em termos ecológicos, fisiológicos etc.), muitos governantes se dobraram às evidências: o distanciamento social é uma medida eficaz de combate à pandemia. Pode parecer uma medida exagerada ou extrema, mas é uma medida absolutamente necessária, ao menos por enquanto.

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Notas

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Os colegas epidemiologistas que trabalham para o governo federal que me perdoem, mas desde o discurso do presidente da República em cadeia de rádio e TV (24/3), sou de opinião que um véu opaco passou a envolver o ministério da Saúde. Além disso, parece haver muita improvisação e carência de pessoal técnico mais bem preparado. Veja, por exemplo, o relatório a respeito da pandemia que a Abin teria entregue ao presidente. (Estou a me referir ao material que foi disponibilizado na matéria ‘Abin fala em 5,5 mil mortes em 15 dias enquanto Bolsonaro chama coronavírus de histeria’, publicada pelo The Intercept Brasil, em 24/3 – aqui. Uma bricolagem. E que me fez pensar em muitas apostilas escritas por jovens professores universitários.) O fato é que os números divulgados pelos governantes (sobretudo na esfera federal) devem ser vistos com desconfiança. E os jornalistas, sempre que possível, deveriam consultar fontes complementares. De resto, ainda há muita informação desencontrada – e.g., ver a matéria ‘Na Europa, critério para calcular mortes por Covid-19 varia conforme país (e nenhum está certo)’, publicada pelo El País, em 30/3 (aqui).

[2] Fonte dos dados: painel Mapping 2019-nCov, da Universidade Johns Hopkins (EUA).

[3] Em números de casos, os 20 países são Estados Unidos, Itália, Espanha, China, Alemanha, França, Irã, Reino Unido, Suíça, Turquia, Bélgica, Países Baixos, Áustria, Coreia do Sul, Canadá, Portugal, Brasil, Israel, Noruega e Austrália.

[4] A computação que estou a fazer leva em conta os dados divulgados no início da madrugada (horário de Brasília).

[5] Sobre padrões de crescimento numérico, ver as duas primeiras partes do artigo ‘Corpos, gentes, epidemias e… dívidas’ (aqui e aqui).

***

 

Redação

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