Covid-19 – Um balanço de momento e uma representação gráfica de como o fim da pandemia está a ser adiado.
Por Felipe A. P. L. Costa [*].
RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes). Entre 4 e 10/10, essas taxas ficaram em 0,0715% (casos) e 0,0730% (mortes). São os valores mais baixos desde o início da pandemia. É uma boa notícia. Resta saber se as duas irão manter a trajetória descendente atual. Não fosse o ‘descarrego de setembro’, as médias já deveriam estar abaixo de 0,05% (ver aqui). Ouso dizer que o retrocesso detectado em setembro foi o resultado de uma combinação envolvendo ao menos dois fatores: queda (acentuada) no ritmo da vacinação e suspensão (precipitada) das medidas restritivas.
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1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.
Levando em conta as estatísticas obtidas na noite de segunda (11/10) [1], eis um balanço da situação mundial.
(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados estão a concentrar 76% dos casos (de um total de 238.182.278) e 76% das mortes (de um total de 4.855.936) [3].
(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2%. A taxa brasileira segue em 2,8%. (Outros dois países da América do Sul que seguem no topo da lista têm as seguintes taxas: Argentina, 2,2%; e Colômbia, 2,5%.)
(C) Nesses 20 países, receberam alta 164 milhões de indivíduos, o que corresponde a 90% dos casos. Em escala global, 216 milhões de indivíduos já receberam alta [4].
2. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.
No domingo (10/10), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 8.639 casos e 182 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 21.575.820 casos e 601.011 mortes.
Na semana encerrada anteontem (4-10/10), foram registrados 107.699 novos casos – uma queda de 7,3% em relação ao total (116.149) da semana anterior.
Desgraçadamente, porém, ainda foram registradas 3.063 mortes – uma queda de quase 13% em relação ao total (3.505) da semana anterior.
3. TAXAS DE CRESCIMENTO.
Os percentuais e os números absolutos referidos acima ajudam a descrever a situação. Para monitorar o ritmo e o rumo da pandemia [5], no entanto, sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.
E ambas as taxas reassumiram uma trajetória descendente (ver a figura que acompanha este artigo).
Vejamos os resultados mais recentes.
A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,0775% (27/9-3/10) para 0,0715% (4-10/10) [6].
A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,0840% (27/9-3/10) para 0,0730% (4-10/10) [6, 7].
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FIGURA. Os gráficos da figura que acompanha este artigo ilustram o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem): entre 11/7 e 12/9/2021 (gráfico superior) e entre 11/7 e 10/10/2021 (gráfico inferior). (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso. Em ambos os gráficos, as retas expressam a trajetória média de cada uma das taxas. Comparando os dois gráficos, é possível notar como a declividade das retas ficou menos acentuada após o ‘descarrego de setembro’ (ver aqui) – o que significa dizer que as retas do gráfico inferior irão tocar o eixo horizontal em data posterior à que fariam caso estivéssemos na situação descrita pelo gráfico superior. Em outras palavras, o ‘fim da pandemia’ está mais longe do que pensávamos anteriormente.
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4. CODA.
Os valores referidos acima são os mais baixos desde o início da pandemia. É uma boa notícia. Mas resta saber se as duas taxas irão manter a trajetória descendente atual.
Não fosse o ‘descarrego de setembro’, as médias já deveriam estar abaixo de 0,05% (ver aqui). O retrocesso detectado em setembro – ouso dizer – foi o resultado de uma combinação envolvendo ao menos dois fatores: queda (acentuada) no ritmo da vacinação e suspensão (precipitada) das medidas restritivas.
Como tive chance de ressaltar em artigos anteriores, entre as medidas que poderiam reverter a tendência declinante, eu citaria três: (i) suspender ou afrouxar (ainda mais) as barreiras sanitárias impostas em aeroportos; (ii) suspender ou afrouxar (ainda mais) as medidas sanitárias internas (e.g., tornar facultativo o uso de máscara); e (iii) atrasar (ainda mais) a campanha de vacinação [8].
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NOTAS.
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[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).
[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em sete grupos: (a) Entre 44 e 46 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 32 e 34 milhões – Índia; (c) Entre 20 e 22 milhões – Brasil; (d) Entre 8 e 10 milhões – Reino Unido; (e) Entre 6 e 8 milhões – Rússia, Turquia e França; (f) Entre 4 e 6 milhões – Irã, Argentina, Espanha, Colômbia, Itália, Alemanha e Indonésia; e (g) Entre 2 e 4 milhões – México, Polônia, África do Sul, Filipinas, Ucrânia e Malásia.
Analisando as estatísticas (casos e mortes) das últimas quatro semanas, eis como está a situação mundial: (i) em números absolutos, os EUA seguem na liderança, com 3,278 milhões de novos casos; (ii) a lista dos cinco primeiros tem ainda os seguintes países: Reino Unido (934 mil casos), Turquia (786 mil), Índia (707 mil) e Rússia (621 mil). O Brasil está em sexto (576 mil); e (iii) a lista dos países com mais mortes segue sendo encabeçada pelos EUA (52,4 mil); em seguida aparecem Rússia (23,3 mil), México (14,3 mil), Brasil (14,1 mil) e Irã (8,3 mil).
[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
[4] Como comentei em ocasiões anteriores, fui levado a promover a seguinte mudança metodológica: as estatísticas de casos e mortes continuam a seguir o painel Mapping 2019-nCov, enquanto as de altas estão agora a seguir o painel Worldometer: Coronavirus.
[5] Ouso dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, em escala mundial e nacional, ver a referência citada na nota 3.
[6] Entre 19/10/2020 e 10/10/2021, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,40% (26/10-1/11), 0,30% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,50% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,50% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6), 0,4174% (14-20/6), 0,39% (21-27/6), 0,27% (28/6-4/7), 0,2419% (5-11/7), 0,21% (12-18/7), 0,23% (19-25/7), 0,1802% (26/7-1/8), 0,1621% (2-8/8), 0,14% (9-15/8), 0,1444% (16-22/8), 0,1183% (23-29/8), 0,1023% (30/8-5/9), 0,0744% (6-12/9), 0,1625% (13-19/9), 0,0753% (20-26/9), 0,0775% (27/9-3/10) e 0,0715% (4-10/10); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6), 0,4175% (14-20/6), 0,33% (21-27/6), 0,30% (28/6-4/7), 0,23% (5-11/7), 0,23% (12-18/7), 0,20% (19-25/7), 0,1785% (26/7-1/8), 0,1613% (2-8/8), 0,1492% (9-15/8), 0,1367% (16-22/8), 0,1185% (23-29/8), 0,1062% (30/8-5/9), 0,07870% (6-12/9), 0,0947% (13-19/9), 0,0890% (20-26/9), 0,0840% (27/9-3/10) e 0,0730% (4-10/10).
Não custa lembrar: Os valores acima são as médias semanais de uma taxa que, por razões metodológicas, está a oscilar ao longo da semana. Para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.
[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver referência citada na nota 3.
[8] O ritmo da campanha de vacinação caiu muitíssimo. Levamos 34 dias (24/8-27/9) para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).
Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.
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Como sempre, o autor é muito lúcido na sua análise. Ótimo artigo para que acompanha todos os passos desse processo de pandemia.
Uma análise técnica bem elaborada, com base nas informações oficiais, que nos permite acompanhar a evolução desta pandemia e suas consequências.