Globo e Eduardo Paes desprezam as vidas dos professores, por Roberto Bitencourt da Silva

No tocante à educação, de maneira absolutamente dogmática e destituído de qualquer sentido científico, o prefeito tem adotado o lema de que as “escolas são as últimas a fechar e as primeiras a abrir” em qualquer situação na pandemia.

Globo e Eduardo Paes desprezam as vidas dos professores

por Roberto Bitencourt da Silva

O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, desde que assumiu o cargo no início deste ano, tem revelado traços de negacionismo tão acentuados quanto qualquer empedernido bolsonarista de primeira hora.

As suas iniciativas e escolhas pouco se diferenciam, em essência e na prática, daquelas que tipificam o presidente da República: diminuem a gravidade da pandemia, expressam a mais ampla subordinação aos interesses desumanos e de curto prazo das grandes empresas, convertendo em status de normalidade situações absolutamente deploráveis de risco de morte para a população, sobretudo à classe trabalhadora.

Flagrado em bar numa roda de samba, todo pimpão e sem máscara, o mais próximo que decretou de um lockdown foi um feriadão, que contou com vastas atividades em funcionamento. Nos últimos dias, anda a acenar com a autorização de grandes eventos. 

A banalização das perdas de vidas é a tônica, a despeito de alguns floreios retóricos e das lamúrias do prefeito, mais dedicadas a satisfazer o seu marketing político. O transporte público rodoviário, um verdadeiro laboratório de circulação do covid 19, vive lotado, precarizado, sem ser submetido a qualquer tomada de decisão eficaz e incisiva de melhora.

Trata-se de um dos principais vetores da doença na cidade, atingindo as vidas da massa de trabalhadores, inclusive, por óbvio, trabalhadores rodoviários. Um governo sério levaria a cabo ações em prol da estatização dos serviços do setor e utilizaria os lucros correntes na manutenção, no reparo e aperfeiçoamento dos equipamentos e das atividades.

No tocante à educação, de maneira absolutamente dogmática e destituído de qualquer sentido científico, o prefeito tem adotado o lema de que as “escolas são as últimas a fechar e as primeiras a abrir” em qualquer situação na pandemia.

Em vez de adotar medidas que assegurem a preservação das vidas dos profissionais de educação e das comunidades escolares – como o aporte substantivo de recursos financeiros e de meios técnicos que favoreçam o amplo acesso dos estudantes às aulas remotas (reitero: aulas e não circunstancial interação escrita), de sorte a mitigar no momento os problemas educacionais decorrentes da pandemia –, a aposta da Prefeitura está fundamentalmente concentrada no retorno das atividades presenciais.

As escolas foram paulatinamente abertas nesse ano, priorizando as séries iniciais e crianças de menor idade, agora já envolvendo todos os segmentos da educação fundamental da rede pública mantida pelo Município.

Denúncias de expansão de casos de covid 19 e de mortes de professores e demais profissionais de educação, como de seus parentes, são recorrentes e assustadoras, como demonstra o relatório produzido pelo Sindicato dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Ver: https://sitedosepe.azurewebsites.net/sepe-divulga-novo-relatorio-sobre-casos-de-covid-na-rede-municipal-e-escolas-funcionando-cm-precarias-condicoes/).

Cumpre observar que diariamente o telejornalismo local da Rede Globo tem produzido matérias e delineado enquadramentos e abordagens que atendem aos interesses do setor privado de ensino, ou seja, de abertura desmedida e irrefreável das escolas.

A grana acima de tudo. São enfoques jornalísticos que produzem imagens seguras e confortáveis das escolas, privilegiando vozes e segmentos sociais que defendem as atividades escolares presenciais. Os professores raramente são ouvidos. Aos agentes centrais da educação, às suas principais e decisivas autoridades técnico-profissionais, não se conferem legitimidade mínima para falar de educação!

O prefeito Eduardo Paes, por sua vez, segue religiosamente essa agenda definida e reverberada pela Rede Globo, decretando a abertura irrestrita, sem condições elementares de atendimento à saúde pública.

Lista de prioridades para vacinação. Fonte: Ministério da Saúde.

Para piorar o cenário, Paes resolveu arbitrariamente retirar os professores e demais categorias profissionais da lista de prioridades elaborada pelo Ministério da Saúde. A Globo, em matéria a respeito, sequer se deu o trabalho de assinalar a existência da listagem oficial do governo federal. Demonstrando uma sutil forma de colocar a população contra os professores, o viés do telejornal local (RJ TV), nestes dias, manifestou nítidas linhas de estigmatização dos professores enquanto atores sociais que reivindicam “privilégios”. Vidas submetidas ao risco de contrair a doença e, em decorrência, morrerem, simplesmente demonizadas.

Enquanto isso, Eduardo Paes brinca no seu Twitter com a atriz Clarice Falcão, fazendo demagogia irresponsável com a vacinação, ao mesmo tempo em que determinava que professores e demais trabalhadores que desempenham os seus ofícios em locais fechados, com acentuada característica de aglomeração ou em serviços tidos como essenciais, podem se submeter a maior vulnerabilidade e à espreita da doença e da morte.

Por seu turno, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro tem afirmado a necessidade de atendimento à lista oficial de prioridades. Os profissionais de educação da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro permanecem em greve, concernente às atividades presenciais, mas mantendo os compromissos com o ensino remoto.

De certo, o terreno das divergências está aberto à judicialização, senão suscetível a promover um debate rigoroso e sério sobre a retomada segura das aulas presenciais, ao menos para garantir a proteção de um bem sagrado, uma dádiva elementar, esquecida por muitos: a vida. Para a Rede Globo e o Eduardo Paes, a vida dos profissionais de educação, como de tantas outras faixas dos trabalhadores, nada vale.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político. 

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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