O impacto da Covid-19 nos estados, por Emerson Sousa

O avanço da pandemia tem contornos próprios no Brasil e a sua trajetória está para além do posicionamento partidário da estrutura de governo existente em cada localidade.

Foto Diego Vara – Agência Brasil

O impacto da Covid-19 nos estados

por Emerson Sousa

Tem sido recorrente nas redes sociais se deparar com postagens que tentam criar uma ideia que os índices relacionados ao avanço da Covid-19, em verdade, são frutos do grau de antagonismo entre os governos estadual e federal.

Sob essa narrativa, os governadores estaduais que promovem alguma forma de “oposição” ao Palácio do Planalto estariam inflacionando os números da pandemia com o objetivo de enfraquecer a Presidência da República.

Como prova disso, tais publicações trazem consigo números sobre o total absoluto de casos e de óbitos, alegando que tais indicadores são grandes onde há governos de contrários ao comando federal.

Ocorre que isso não expressa a realidade fática da doença em solo brasileiro. A sua ocorrência vem se dando das mais diversas formas país a fora, com os casos se concentrando em algumas áreas e rareando em outras.

O Índice Sintético de Impacto da Covid-19

Para retratar de modo adequado essa realidade aqui é apresentado o Índice Sintético de Impacto da Covid-19. Esse número é obtido pela média aritmética simples das diferenças percentuais das taxas de casos e de óbitos acumulados por 1 milhão de habitantes dos estados em relação ao país.

Essa medida pode ser interpretada como o quanto a situação local está deteriorada em relação ao cenário nacional de modo que, quanto maior for esse valor, pior o quadro local e vice-versa.

Claro que, como toda síntese de tendência central, o indicador sofre com algum nível de perda de informação, tais como os detalhes específicos sobre contaminações e mortes ocorridas.

Contudo, enquanto uma medida sinótica, ele consegue expressar a contento as diferenças locacionais de evolução da pandemia, permitindo-se identificar onde a intensificação das ações deve ser operacionalizada.

A real situação nos estados

Os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, por meio da página eletrônica covid.saude.gov.br, mostravam que, no dia 18 de maio, o Brasil já detinha uma taxa de 1.109 casos notificados por milhão de habitantes e 74 óbitos por milhão de brasileiros.

Sendo que valores serviram de parâmetro comparativo que permitiram calcular o Índice Sintético de Impacto da Covid-19 para todas as 27 unidades federativas do país naquele dado momento.

Com 325 pontos, o pior quadro era encontrado no Amazonas. Isso significa que naquele estado data, em média, suas taxas de casos acumulados por milhão de habitantes e de óbitos acumulados por milhão de habitantes estavam 325% acima desses dois índices a nível nacional.

De modo complementar, a melhor situação era encontrada no Mato Grosso do Sul, que detinha um Índice Sintético de Impacto da Covid-19 da ordem de -87 pontos. Ou seja, seus respectivos indicadores estavam bem abaixo do observado em todo o Brasil.

Além do estado do Amazonas, o pódio dos piores valores era completado por Amapá (191 pontos) e pelo Ceará (139). Já os outros dois menos afetados eram Minas Gerais (-86), apesar das suspeitas de subnotificação, e Paraná (-85).

O vírus não tem partido

Do ponto de vista político, a principal constatação derivada dos resultados do Indicador é que as manifestações do novo coronavírus em território nacional não possuem coloração partidária.

A Bahia e o Piauí, ambos governados pelo Partido dos Trabalhadores (PT), detêm indicadores negativos, pontuando um cenário local menos deteriorado do que o nacional.

Por outro lado, Roraima e Acre, que poderiam ser considerados estados de “situação”, possuem Indicadores fortemente positivos, sugerindo uma firme escalada da doença em suas fronteiras.

Do mesmo modo, Sergipe e Rio Grande do Norte, que fazem parte do Consórcio Nordeste, de acordo com o Índice, estão em situação similar à de Rondônia e à do Distrito Federal, dado todos estarem abaixo do patamar nacional.

O vírus tem lugar

Entretanto, se forem observados apenas os estados com valores positivos, se perceberá que a deterioração causada pelo vírus tem localização definida: a Amazônia Legal.

Dos onze estados que expressaram resultados positivos do Indicador – volumes de casos e de óbitos acima dos vistos no país como um todo – seis fazem parte dessa área de abrangência geográfica, a saber: Amazônia, Amapá, Roraima, Pará, Acre e Maranhão.

Em seguida, aparece o Sudeste – com Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo – para logo após aparecer o Nordeste, representado também pelos estados do Ceará e de Pernambuco.

Curioso notar que o Cerrado e o Sul do país não possuem nenhuma de suas unidades federativas dentre aquelas que possuem notas positivas, ou seja, suas taxas estão abaixo do patamar do país.

Por sinal, a combinação desses fatores desmonta o argumento presidencial de que o novo coronavírus não teria em terras de altas temperaturas um solo fértil para a sua proliferação.

O vírus é onipresente

Logo, os argumentos de que os governadores dos estados de “oposição” estariam se organizando para derrubar o chefe do executivo federal, por meio de uma super notificação dos casos e dos óbitos causados pela Covid-19, é mais um exemplo de desinformação.

O avanço da pandemia tem contornos próprios no Brasil e a sua trajetória está para além do posicionamento partidário da estrutura de governo existente em cada localidade.

O que tem explicação sobre o seu comportamento são as características socioeconômicas dos lugares, bem como a capacidade e a disposição das populações em apoiarem as medidas de isolamento social.

Por isso é tolice promover o discurso de que a pandemia causada pelo novo coronavírus tem por trás do seu impulsionamento uma intencionalidade político-partidária.

Afinal, a realidade tem mostrado que o novo coronavírus só tem interesse eu uma única decisão política: aquela que o nega, tratando-o como se fosse só mais uma “gripezinha”.

Emerson Sousa é economista.

Redação

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