Davati contratou outros atravessadores e tentou vender vacinas em outros países, diz Cristiano

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Tratativas se estenderam ao Paraguai e Arábia Saudita e, no Brasil, outro representante da Davati também avançou em venda de vacina com o ex-ministro Eduardo Pazuello

Representante da empresa Davati Medical Supply, Cristiano Alberto Hossri Carvalho. Foto: Pedro França/Agência Senado

Publicado em 15 de julho de 2021

Jornal GGN – A tentativa de venda de vacinas Covid-19 no Brasil por atravessadoras e agentes não representantes oficiais dos laboratórios farmacêuticos não se restringiu à norte-americana Davati Medical Supply junto ao governo brasileiro de Jair Bolsonaro. Em seu depoimento, o representante da Davati, Cristiano Carvalho, afirmou que as tratativas se estenderam junto ao Paraguai e Arábia Saudita e que, no Brasil, outro representante da Davati que não era de seu conhecimento também havia avançado em negociações com o ex-ministro Eduardo Pazuello.

Ao ser questionado pelo relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB), sobre a outra empresa que ele, Cristiano, tinha oferecido negociar para a venda dos imunizantes AstraZeneca junto ao ex-diretor de Logística, Roberto Dias, Carvalho respondeu sobre o episódio envolvendo a Latin Air Support, outra empresa que ele supostamente teria também procuração para representar as vendas no Brasil.

“A Latin Air Support é de um conhecido nosso nos Estados Unidos”, introduziu. Segundo Cristiano, a tentativa de venda por esta outra empresa não havia prosseguido entre o ex-diretor de Logística e o presidente da empresa também norte-americana: “No primeiro momento, eu não queria me envolver nessa situação, que eles tratassem com a Latin, porque isso não avançou, com o Roberto Ferreira Dias e George Marques, que é um americano.”

Em seguida, afirmou que durante das negociações feitas por ele junto ao governo de Jair Bolsonaro para a venda de vacinas, o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), que foi o intermediário da Davati e os membros do Ministério da Saúde, também atuou para articulações da Davati Medical Supply junto a outros representantes de outros países, citando a Arábia Saudita e o Paraguai.

“Além das negociações com o Ministério da Saúde, o próprio reverendo [Amilton], acredito que para tentar impressionar, trouxe à Davati outras negociações, inclusive uma da Arábia Saudita. Eu gostaria de deixar claro, que além de tratar com o Ministério da Saúde, tiveram outras negociações, com Arábia Saudita, Paraguai”, narrou Cristiano à CPI.

Ao ser questionado sobre essas outras tratativas, Cristiano disse que o presidente da Davati chegou a participar “de um conference call com o reverendo [Amilton] e o Hernando [Arteta Melgarejo], cônsul-geral do Paraguai”. Narrou que essa reunião online ocorreu no dia 23 de março deste ano.

Documentos obtidos pela CPI da Covid, divulgados à imprensa, já confirmavam que o reverendo havia negociado junto ao vendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti outras tentativas de contratos de imunizantes com Honduras e Angola, além do Paraguai. Dominghetti teria ofertado a vacina russa Sputnik V ao Paraguai. Já à Angola e Honduras, o próprio reverendo ofereceu doses da AstraZeneca.

Posteriormente, Cristiano Carvalho também admitiu que outro atravessar teria atuado, junto ao ex-ministro Eduardo Pazuello, em negociações da vacina AstraZeneca por meio da polêmica empresa norte-americana (entenda mais aqui), Davati Medical Supply.

“Tem um processo de compra, foi iniciado um processo de compra no gestão do Pazuello, que ele estava negociando simultaneamente a mim, em nome da Davati, no dia 9 de março, de Julio Adriano de Caron e Silva”, narrou.

Segundo Cristiano, Júlio, que seria um advogado, assinou um contrato de confidencialidade com o grupo Davati para também buscar vender a vacina AstraZeneca. E este outro intermediador teria o contato direto do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. “Existia essa outra negociação e eu não sei o andamento que ela teve exatamente”, afirmou, sem trazer mais detalhes.

Na semana passada, o GGN mostrou, durante o depoimento à CPI da Covid do ex-diretor de Logística, Roberto Dias, que a prática de “subvendedores de vacinas” foi algo “comum” no Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, relembre aqui.

Leia também:

Acompanhe o depoimento da CPI da Covid na TV GGN:

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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