Diretora da Precisa diz preços divergentes negociados na Covaxin

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Memória de reunião registrava que executivos da Bharat Biontech teriam indicado 100 rupias, ou US$ 1,34 dólar, por dose da vacina. Segundo Emanuela, único preço ofertado foi de US$ 15 dólares

Diretora técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Batista de Souza Medrades. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Jornal GGN – O depoimento de Emanuela Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos, na CPI da Covid colocou em xeque a reunião da Precisa Medicamentos com a Bharat Biontech e o governo Bolsonaro para a negociação do alto preço da vacina Covaxin.

Documentos que haviam sido obtidos pela CPI mostravam que o governo havia recebido informações de que executivos do laboratório indiano Bharat Biontech indicaram que o custo da dose da vacina seria de aproximadamente 100 rupias, que equivale a US$ 1,34 dólar.

Mas a versão do encontro que negociou o valor da vacina, que subiu para US$ 15 dólares por dose, foi outra apresentada pela diretora da empresa. Segundo Medrades, o único preço ofertado pelo laboratório indiano foi de US$ 15 dólares e que ela somente tentou diminuir este valor nas negociações anteriores.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB), perguntou por que a agilidade da contratação da Covaxin pelo alto preço, e Emanuela respondeu que acreditava que a rapidez ocorreu porque a Precisa Medicamentos, que representa o laboratório indiano, “aceitou todas as condições impostas pelo governo” de Bolsonaro.

“Que condições impostas? Passar de US$ 10 para 15 dólares também? As condições foram as cláusulas neolinas da Covaxin que foi o Ministério da Saúde que se submeteu”, ironizou a senadora Simone Tebet (MDB) posteriormente. “Esses 5 dólares da vacina iriam para quem?”, continuou.

“Há na CPI um documento do Ministério da Saúde, uma memória de reunião, essa memória foi lida. Há uma divergência com relação ao ponto grave, que está sendo posta, em primeiro lugar, pela doutora Emanuela”, narrou Renan.

Segundo a versão da diretora da Precisa, o encontro da negociação de preço, que teria ocorrido no dia 20 de novembro de 2020, não estabelecia o valor de US$ 10 dólares ou menos. “Esse preço de 10 dólares foi diretamente informado pelos executivos da Bharat Biontech”, informaram os senadores. “Esse preço não foi proposto, foi uma expectativa”, respondeu a depoente.

“Falaram que ‘cravaram’ [o preço], sendo que não foi ofertado. O primeiro valor ofertado foi no dia 15 de janeiro, de US$ 15 dólares. A Precisa tinha a expectativa [de ser menos]”, continuou. Mas ao ser pressionada, Emanuela chegou a mencionar diferentes datas. “Quem falou de preço?”, perguntaram os parlamentares. “Na minha memória, é dificil tentar lembrar, por todas as vezes que perguntavam do preço, eu não tinha [recebido o valor da Bharat]. Eu respondi [ao governo] que a minha expectativa era que custasse menos que US$ 10 dólares.”

“Para ficar claro, você tinha uma proposta de US$ 15 dólares e você falou que esperava menos de US$ 10?”, tentou entender Eliziane Gama (Cidadania). “Naquele momento eu não tinha proposta nenhuma, a primeira [proposta do laboratório indiano] foi só em dezembro”, afirmou Medrades, relatando o mês diferente do citado anteriormente.

Em seguida, a diretora decide listar um resumo das trocas de e-mail que ela teria feito para negociar com o laboratório indiano os preços. O primeiro e-mail data de 20 de novembro de 2020, em que ela teria evidenciado aos negociadores da Índia que esperava “um preço menor de US$ 10 dólares”. No segundo, no dia 27 de novembro, uma nova tentativa, anexando um link da notícia de que a Sputnik iria custar US$ 5 dólares. “Praticamente eu fazendo uma pressão à Bharat: ‘por favor, me dê um preço e um preço bom'”, conta.

Posteriormente, ela afirma ter recebido uma sinalização da Índia de que o imunizante iria custar US$ 18 dólares. “A Precisa diz que está muito longe do preço alvo e pede revisão”, continua. “Em 12 de janeiro, [ocorre] a única oferta que foi realizada, em concordância à reunião realizada no dia 7 de janeiro, entre a Precisa e a Bharat, fixando o menor preço mundial para a Covaxin. Naquele momento, era o preço que tinha sido ofertado até pra Unicef.”

Após a explanação da depoente, o relator da CPI conclui que estes e-mails “não desautorizam a memória da reunião”, mas que a diretora da Precisa indicava com suas alegações que este documento, apresentado à Comissão, era “mentiroso”. “Ela [Emanuela] divergiu do dado com relação ao preço. É mentirosa a memória da reunião?”, pergunta Renan. “É equivocada”, responde Emanuela.

.

Acompanhe o depoimento na TV GGN:

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador