Ex-coordenadora do PNI diz que sofreu pressões para mudar grupos prioritários de vacinação

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Ela cita o nome do coronel Élcio Franco, secretário Executivo, que fez pressão para tirar da prioridade a população carcerária

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Jornal GGN – A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), Francieli Fantinato, relatou que “foram inúmeras” as dificuldades para fazer cumprir a vacinação no país, afirmou que sofreu “pressões” de “diversos grupos” para modificar os grupos prioritários para tomar o imunizante e que, no campo pessoal, indicou que as divergências com o mandatário a levaram a pedir sua exoneração do cargo. Fantinato chegou a citar o nome do coronel Élcio Franco, secretário Executivo, de ter feito pressão para tirar da prioridade a população carcerária.

“As dificuldades foram inúmeras. A gente definiu grupos prioritários, com a escassez de vacinas, entendemos que precisamos fazer uma campanha fragmentada e muito clara, para que ela pudesse acontecer de forma única, uniforme. A falta de comunicação [do presidente contra a vacina] pode ter trazido algum prejuízo à campanha de vacinação”, afirmou.

Sobre a definição dos grupos prioritários, narrou que sofreu “pressões de diversos segmentos” para modificar aqueles que tomariam primeiro as doses do imunizante.

“Nós fizemos a definição de grupos prioritários, porque a gente imaginou que a gente não conseguisse vacinar toda a população brasileira, primeiramente precisamos fazer manutenção da força de trabalho do setor de saúde, que eles tivessem vacinados. Na sequência, os que mais morriam, com morbidades e mortalidade, e a manutenção dos serviços essenciais. Tivemos pressões de diversos segmentos para mudar esses grupos”, disse.

Segundo ela, a definição dos grupos prioritários foi feita com base na discussão de uma Câmara ténica assessora, formada por representantes de entidades científicas, “que estudam e entendem” o tema da vacinação, com base nos últimos estudos científicos. E que esse grupo sofreu pressões para mudar o que seriam os setores prioritários para tomar o imunizante.

Segundo ela, o problema neste caso começou com a própria política do atual governo, uma vez que “se tivéssemos doses suficientes para toda a população brasileira, não sofreríamos pressão”.

Posteriormente, em questionamento da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), Francieli especificou que uma das pressões foi feita pelo Élcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde. Segundo ela, o coronel pediu a ela que retirasse dos grupos prioritários os presidiários.

“Eu fui para uma reunião e foi me solicitado que retirasse a população privada de liberdade, e eu me neguei a retirar”, relatou.

“Eu falei, ‘se vocês quiserem tirar a população privada de liberdade, vão tirar sem o aval do programa, devem fazer uma cópia agora do plano, ficar com essa cópia e eu vou levar a minha cópia de volta e vou emitir um Sei com a população privada de liberdade'”, continuou.

Ainda de acordo com a ex-coordenadora, o coronel Élcio Franco tinha “autonomia” sobre ela e se quisesse definir outros grupos prioritários, poderia, por linha sucessória. “Mas pelo Programa Nacional de Imunizações não sairia.”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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