“Não posso imputar sofrimento e morte à população para atingir imunidade de rebanho”, diz Luana Araújo à CPI

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Médica infectologista falou contra imunidade de rebanho natural e uso de hidroxicloroquina como tratamento precoce para Covid-19

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

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Jornal GGN – A médica epidemiologista e infectologista Luana Araújo, que ficou apenas 10 dias no cargo de secretária extraordinária de enfrentamento à pandemia no Ministério da Saúde, disse à CPI da Covid no Senado, nesta quarta (2), que a estratégia de induzir a imunidade de rebanho natural no contexto do Sars-Cov-2 “não é inteligente e é impossível de ser atingida”. A declaração ocorreu em resposta ao senador de oposição a Jair Bolsonaro, Humberto Costa (PT), que quis saber se o governo estava correto em apostar na imunidade de rebanho em vez de comprar vacinas.

“Uma imunidade de rebanho natural, dentro do Sars-Cov-2 e da doença Covid-19, é impossível de ser atingida. Não é estratégia inteligente e é impossível de ser atingida. A gente consegue fazer isso com vacinação porque a gente consegue induzir uma reposta [imune] ao mesmo tempo [em grande parte da população] e muito mais sólida do que a infecção natural, e em um período de tempo mais curto”, explicou.

“E outra: a gente atinge a imunidade de rebanho com a vacinação sem sofrimento! Eu não posso imputar sofrimento e morte à população simplesmente pensando em atingir imunidade de rebanho. Isso não existe! Pra mim, é muito estranho que a gente discuta esse tipo de coisa. Não tem lógica”, comentou.

HIDROXICLOROQUINA

Além da imunidade de rebanho, o tratamento precoce e a defesa da hidroxicloroquina também não deveriam ter entrado no radar do governo federal, na visão da cientista. Mais do que isso: lançar mão do medicamento sem eficácia e segurança compravadas contra a Covid-19 pode ter provocado ainda mais mortes. Em 1 ano e 3 meses de pandemia, o Brasil já ultrapassou a marca das 460 mil mortes.

Especialista internacional em respostas a crises sanitárias e mestre em saúde pública pela Universidade Johns Hopkins, Luana apontou que a propaganda da hidroxiclororquina deixou a população exposta à “vulnerabilidade”. “A partir do momento que vulnerabiliza as pessoas com informações incorretas, não podemos esperar resultado positivo.” Segundo ela, há estudos indicando que “há aumento da mortalidade por uso de cloroquina e hidroxicloroquina” no contexto da pandemia.

À CPI, ela ainda advertiu que “autonomia médica não é licença para experimentação”.

Ontem, no Senado, a médica defensora da hidroxicloroquina, Nise Yamagushi, argumentou em sentido contrário, dizendo que o remédio poderia ter ajudado a salvar muito mais vidas, mas foi boicotado por “conspiração política” de governadores e prefeitos, além de Procuradorias, que rejeitaram seu uso no chamado “tratamento precoce”. Nise foi duramente rebatida por alguns senadores, entre eles, Otto Alencar, que demonstrou que a oncologista não tem conhecimento sobre infectologia e não deveria debater assuntos sobre os quais não se aprofundou. Veja mais aqui.

Acompanhe a CPI da COVID na TVGGN:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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