CPI da Covid

Pazuello aceitou 10% de vacinas da Covax só porque “era muito ruim não estar”

Jornal GGN – O ex-ministro Eduardo Pazuello afirmou à CPI da Covid que não decidiu aceitar as doses de vacinas para imunizar 50% da população, e somente 10%, “pela simples razão de que era muito ruim não estar presente” e que não era bom “apostar todas as fichas naquela produção de compra”.

Aos senadores, Pazuello disse ainda que medidas de isolamento “não são cientificamente comprovadas”. Ao comentar uma live que participou com o presidente Jair Bolsonaro, no qual não defendeu o uso de máscaras, o ex-ministro disse: “As medidas de isolamento não são, também, na mesma forma que outros medicamentos e outras ações, também não são cientificamente comprovadas”.

Atrapalhando-se na resposta, completou: “Elas [medidas de distanciamento social] podem funcionar para uns e podem não funcionar para outros. Com relação ao uso de máscaras, nós tivemos vai e vem do uso de máscaras durante o ano todo, da própria OMS”. A informação, contudo, é falsa: a Organização Mundial da Saúde sempre recomendou o uso de máscaras para evitar a propagação da Covid-19.

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Covax: “Nós compramos o mínimo pela simples razão de que era muito ruim não estar presente”

O general também tentou tirar de si a responsabilidade nas negociações da Covax Facility. Pazuello era o ministro da Saúde quando o governo de Bolsonaro aceitou receber doses de vacinas contra Covid-19 capazes de imunizar somente 10% da população e negou a proposta para 50% da população.

Mas Pazuello não teve relação com o caso, e sim com o então ministro da Casa Civil, Braga Netto. “Toda discussão da contratação da Covax Facility se deu no âmbito da Casa Civil, é preciso compreender isso.”

“Casa Civil? Não foi o senhor que, veja, nós recebemos aqui o ex-ministro Ernesto Araújo e ele reportou a vossa Excelência a responsabilidade”, rebateu Alessandro Vieira (Cidadania-SE). “Toda a negociação, a entrada na Covax Facility foi centralizada na Casa Civil, e nós apoiávamos com as decisões.”

Em seguida, Vieira insistiu: “a decisão de adesão ao consórcio Covax em seu menor patamar foi de vossa Excelência ou da Casa Civil?”. E Pazuello entrou em contradição, admitindo: “Foi minha, foi minha.”

“Deixa eu dizer uma coisa para o senhor, a decisão não é só de uma pessoa, é do grupo que está trabalhando, é um colegiado, foi levantado os problemas, mas eu vou dizer uma coisa para o senhor: nós compramos o mínimo pela simples razão de que era muito instável, era muito ruim não estar presente, mas estar no consórcio, sim, agora, apostar todas as fichas naquela produção de compra, não.”

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Pfizer: “Não houve consenso”

As declarações do ex-ministro na sessão da CPI de ontem (19), de que ele teria decidido fechar contrato para a compra das vacinas da farmacêutica norte-americana Pfizer ainda em dezembro de 2020, não ficaram claras, e os senadores voltaram a pressionar Pazuello sobre o tema.

Em um momento de tensão, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), questionou sobre a Medida Provisória aprovada somente em março deste ano para permitir o contrato de vacinas junto à Pfizer.

Ao falar sobre a demora e a alteração do texto, Pazuello novamente tirou a responsabilidade de si, transferindo a todos os ministros do governo Bolsonaro, e admitiu que “não houve consenso” dentro do governo para aprovar a legislação: “Nós fizemos a proposta, com a minuta, e estavam os ministros. Quando isso foi discutido, as assessorias jurídicas para a assinatura [da MP] não houve consenso e houve a alteração. (…) A minuta foi alterada pelo governo, pelos ministros.”

O senador Alessandro Vieira pediu nomes, perguntando quem discordou da minuta do contrato, e Pazuello desviou: “Foram discussões da jurídica, todos as [equipes] jurídicas que envolvem o processo se colocaram desta forma, de que [o texto da MP] deveria vir pelo Congresso Nacional.”

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Hospital de campanha em Goiás foi fechado e Pazuello não sabe por quem

“Nós não mandamos fechar nenhum hospital”, disse o ex-ministro, ao ser questionado pelo senador Alessandro Vieira sobre quem mandou fechar o hospital de campanha de Águas Lindas, de Goiás. “Esse hospital era federal, senhor ministro”, rebateu o senador, questionando se o hospital que era competência federal, ou seja, do governo Bolsonaro, foi fechado “sem a determinação” do então ministro.

E Pazuello não soube responder, mas culpou também o estado de Goiás: “acho que não, não foi isso, isso aí veio pela própria demanda do estado. Não nós queremos fechar o hospital, não, nunca.”

Momentos depois, o senador Otto Alencar (PSD-BA) criticou que o próprio presidente Jair Bolsonaro nunca visitou um hospital de campanha: “É um governo que não tem compromisso com absolutamente nada na saúde. O governo que o presidente nunca visitou um hospital de campanha, nunca teve a humanidade, a solidariedade, a caridade humana de entrar num hospital, não, foi [andar de] lancha, foi à passeio em praia, foi montando cavalo, e as pessoas morrendo à míngua.”

Leia mais declarações de Pazuello à CPI da Covid aqui.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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