A cor da pele é o verdadeiro capital?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A cor da pele é o verdadeiro capital?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Dentre outras coisas, Karl Marx dissertou sobre os diversos modos de produção. Há algo mais que pode ser dito sobre esse assunto.

No modo de produção escravagista antigo o racismo não era uma realidade, pois a escravidão decorria quase sempre da derrota militar. No modo de produção feudal havia um racismo implícito, pois os nobres acreditavam que tinham direito de sangue (hereditário) de se considerar superiores aos servos da gleba. No modo de produção capitalista o racismo surge como forma de estruturação da sociedade, primeiro mediante a conquista e a  exploração de colônias na África, Ásia e América com a discriminação das populações locais e depois através da captura, comercialização e exploração intensiva de africanos nas empresas coloniais.  O moderno escravagismo era, portanto, declaradamente racista.

Transformado em programa político a ser empregado a força dentro da Europa, o racismo foi militarmente derrotado. Mas ele nunca deixou de influenciar a vida cotidiana e econômica nas sociedades heterogêneas que surgiram e se consolidaram nas ex-colonias americanas, africanas e asiáticas.

Nos dias de hoje, o racismo assumiu um aspecto econômico e globalizado. Mas não estou me referindo ao comentário sobre os “países de merda” feito por Donald Trump e sim ao funcionamento do capitalismo global.

As agências de risco norte-americanas, que ajudaram a provocar o colapso global ao classificar como AAA os títulos subprime sacados nos EUA por banqueiros inescrupulosos, não sofreram qualquer reforma significativa após 2008. Muito pelo contrário, elas continuam funcionando como se nada tivesse ocorrido. Os banqueiros e financistas norte-americanos agem como se eles não fossem responsáveis pelos danos causados às economias dos países emergentes nos últimos 10 anos.

Esta semana uma agência de risco dos EUA rebaixou a classificação do Brasil. Isso obrigará nosso país a pagar juros mais altos para captar dinheiro no mercado, desencadeando uma onda de especulação que fará o Brasil gastar parte de suas reservas internacionais.

Tratado como “país de merda” por uma agência de risco irresponsável, o Brasil será roubado pelo mercado que afundou sua economia. Ironicamente, alguns dos especuladores que irão lucrar com o racismo institucionalizado do capitalismo financeiro global ficaram horrorizados ao ver Trump agredir os “países de merda”.

O rebaixamento da nota do Brasil foi comemorada pelos racistas tupiniquins que querem privatizar a previdência social. Eles dizem que a nota do nosso país vai melhorar se os bancos privados puderem tungar os recursos do INSS. O que eles não dizem é que isso resultará num empobrecimento maior dos trabalhadores negros e mulatos e dos seus dependentes.

É fato: os brasileiros brancos e ricos preferem ser cidadãos de segunda classe nos EUA a ver os “outros brasileiros”, pobres e escurinhos, tratados como cidadãos no Brasil. O racismo dominante gringo se aproveita do racismo subalterno latino-americano e o chicote vai cantar apenas nas costas daqueles cujos antepassados foram chicoteados.

Para se livrar da ditadura financeira global intrinsecamente racista comandada pelos especuladores brancos de olhos azuis a humanidade terá que se livrar do capitalismo. Não existe outra saída.

Fábio de Oliveira Ribeiro

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Prezado Fabio
    Boa

    Prezado Fabio

    Boa tarde

    Partindo-se  da pemissa da evolução tecnologica, quanto anos ainda nos resta de capitalismo?

    Abração

    1. Me parece que evolução

      Me parece que evolução tecnológica independe de modo de produção, ou pior, de concentração / distribuição de riqueza.

      Países cujos estados se encarregam de melhor distribuição dos resultados da evolução tecnológica – por exemplo os que praticam o chamado “welfare state” – e de outros produtos do trabalho não me parecem atravancar a evolução tecnológica, tanto em sua produção quanto em sua distribuição. De fato países em que se permite o capitalismo infiltrado no estado – por exemplo os EUA – costumam ter as aquisições tecnológicas distribuídas por imperativos não dos setores que produzem evoloução mas sim pelos setores que vendem essa evolução. É sabido, por exemplo, que quem determina a disponibilização de novas versões do Windows não é, na Microsoft, o desenvolvimento de sistemas mas o departamento de marketing.

      Marketing… não consta que quanto mais socialista seja um estado menos evolua a tecnologia que esse estado produz. Mas com certeza quanto mais o capitalismo permea e intermedia as relações num país, mais propaganda se faz, não para o bem da aquisição tecnológica e sim para que as vendas acelerem a “roda da economia”. É que a cada volta que essa roda dá, mais concentrado fica o produto do trabalho (também conhecido como “riqueza”).

  2. ESCRAVISMO e COLONIALISMO não nasceram do racismo!

    Desculpe prezado Fabio, mas o ilustre autor se equivoca ao consignar que o ESCRAVISMO e a COLONIZAÇÃO tiveram o RACISMO COMO BASE estruturante….. A luta contra o racismo exige que sua história e conjuntura sejam muito bem contextualizadas senão essa luta que pertence a todos nós – a destruição do racismo – que significa a restauração da dignidade humana para todos, será frustrada.

    Sou vosso leitor atento mas observo que nesta análise todo o vosso raciocínio desenvolvido parte dessa equivocada premissa. A ordem cronológica e sociológica da evolução foi: a conquista da navegação; a escravidão; o colonialismo, o racismo e o capitalismo até a nossa contemporaneidade.

    A premissa que o senhor traz de ser o racismo condição inata do capitalismo coincide com a lição marxista: “capitalismo e racismo são as duas faces da mesma moeda”. Aliás, uma máxima popularizada pelo líder sul-africano Steve Biko, nos anos 1970 fundador do ´Movimento da Consciência de ser Preto´ – The Black Consciousness Movement – indevidamente traduzido pelos intelectuais brasileiros como sendo ´Movimento da Consciência Negra´. Tanto na língua africâner de Biko quanto na língua inglesa o termo ´black´ (cor da pele) não se traduz como ´negro´ (termo que se refere à raça).

    Porém, tal verdade marxista em relação ao capitalismo moderno não se aplica ao sistema escravista que foi base da exploração colonial de escravos nas Américas. Nem foi o racismo a base da dominação colonial. Foi a riqueza acumulada com os séculos de escravidão.

    Não guarda relação com os estudos da história humana essa premissa de que a escravidão tenha se originado do racismo. A escravidão fez parte da história humana, desde a idade antiga, inclusive na África. E ela não se sustentava pelo racismo.

    No século 16 que se implementou o sistema de escravidão moderna, o racismo não existia como ideologia. Na verdade, conforme dito, tanto o racismo quanto a colonização na África é que foram frutos de um lado da escravidão, da espoliação, do empobrecimento das nações africanas através da retirada de seus filhos, os mais jovens e mais saudáveis foram sequestrados e expatriados para servirem de escravos nas Américas. De outro o acúmulo de riqueza produzido pelos braços escravos que enriqueceu as nações europeias.

    A colonização das Américas decorreu das guerras de conquistas territoriais e não foi fruto do racismo. Já a colonização da África somente foi institucionalizada no final do século 19, em razão do imenso poder imperial enriquecido pelos três séculos de acumulação da riqueza gerada pela escravidão. Foi o resultado da Conferência de Berlim (1884/1885).

    Foi na Conferência de Berlim – http://www.dw.com/pt-002/confer%C3%AAncia-de-berlim-partilha-de-%C3%A1fri ca-decidiu-se-h%C3%A1-130-anos/a-18283420 – quando de forma arbitrária se dividiu o território africano entre as ricas e poderosas nações imperialistas, ´conforme o direito internacional´. (!). Eram ricas e poderosas em razão da riqueza acumulada com o sistema escravocrata.

    Assim, pelo conhecimento da história civilização não se sustenta a frase de introdução acolhido pelo autor: “No modo de produção capitalista o racismo surge como forma de estruturação da sociedade, primeiro mediante a conquista e a  exploração de colônias na África, Ásia e América com a discriminação das populações locais e depois através da captura, comercialização e exploração intensiva de africanos nas empresas coloniais.  O moderno escravagismo era, portanto, declaradamente racista.”.

    Recomenda-se aos interessados conhecer os termos da primeira grande abordagem sobre a escravidão dos nativos se deu em 1551/1552, no lendário ´Tribunal de Valladolid´- http://www.filosofiacapital.org/ojs-2.1.1/index.php/filosofiacapital/article/view/174 – ainda pouco estudado, em que debateram o primeiro Bispo de Chiapas, Bartolomei de Las Casas, frei dominicano empenhado na defesa da humanidade dos nativos e de outro lado o filosofo Juan de Juan Ginés de Sepúlveda, com base nas teses de Aristóteles, da condição de desigualdade dos povos conquistados. Não se discutia a ´raça´ dos escravizados. Discutia-se a condição de povos conquistados e o diferente nível de desenvolvimento e organicidade social.

    LAS CASAS com base na doutrina cristã de Santo Agostinho e Tomás de Aquino era contrário à desumanidade do tratamento dos nativos submetidos à escravidão, pois, segundo a doutrina cristã, com base no Direito Natural, todos os homens eram iguais e criados a semelhança do criador e com direito à vida e à liberdade que consistiam nos direitos naturais dos filhos de Deus!

    Já o filósofo GINÉS DE SEPÚLVEDA, com base na doutrina aristotélica, afirmava o direito do colonizador tinha para escravizar os povos nativos e submete-los a produzir riquezas para o senhor de escravos, pois, se foram conquistados, conforme Aristóteles, eram, por decorrência,  escravos por natureza. “Se os homens não são iguais não merecem receber coisas iguais” era a lógica aristotélica para justificar o tratamento desigual a quem era escravo, portanto, não era portador da cidadania de Atenas.

    Até hoje, vimos renomados juristas repetirem essa lógica de Aristóteles, sem ponderarem a época e condições em que o grego pronunciou tal doutrina, inclusive entre nós, tal ´tratamento desigual é a verdadeira igualdade ensinou Aristóteles´ foi um fundamento doutrinário expressamente consignado pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal, em 2012, para a justificação do estado fazer a segregação de direitos raciais, e o consignaram no Acórdão que, por unanimidade, julgou compatível com a Constituição Federal que o estado outorgue direitos distintos com base num falacioso direito racial.

    Destarte, a escravidão não foi estruturada pelo racismo, sendo que o racismo como ideologia da divisão humana em raças e a presumida hierarquia, onde a ´raça negra´, sequestrada e escravizada, seria a ´raça inferior´ somente nasce no século 18, para se antepor à força dos ideais iluministas que reafirmavam a base da doutrina cristã advogada por LAS CASAS: todo homem nasce livre e com iguais direito à vida e à liberdade.

    1. “…primeiro mediante a

      “…primeiro mediante a conquista e a  exploração de colônias na África, Ásia e América com a discriminação das populações locais e depois através da captura, comercialização e exploração intensiva de africanos nas empresas coloniais.”

       

      As populações locais não foram discriminadas pelos colonos europeus? Essa discriminação não tinha um conteúdo preconceituoso similar ao racismo? Os índios não foram caçados, aprisionados e escravizados no Brasil antes dos negros africanos serem importados?

      No caso específico da Inglaterra, o capitalismo primeiro forçou a expulsão dos camponeses das terras comunais. Essas terras comunais eram ocupadas por eles desde tempos imemoriais, quando a ilha era dividida em tribos que guerreavem entre si. Os preconceitos entre os ingleses não tinham também um conteúdo racial?

      Índio indolente, preguiçoso, vagabundo, não gosta de trabalhar. Assim o colono português via o índio que não se submetia a produção organizada sob sua direção. Assim os capitalistas ingleses também enxergavam os camponeses que viviam nas terras comunais.
       

      O racismo não precisa ser científico para ser racismo meu caro. Ele se compõe de dois elementos: exclusão do “outro” como ser com direito a viver segundo seus próprios costumes e; submissão forçada do “outro” aos desígnios econômicos daquele que se considera superior. Pense nisso. Depois conversamos.

    2. Fale-me mais sobre a crise de

      Fale-me mais sobre a crise de 2008 e seus desdobramentos. Gostaria muito de saber o que voce pensa sobre as agências de risco norte-americanas brancas e dos olhos azuis. 

      Os gringos estropiaram a economia global há 10 anos, não foram responsabilizados e agora rebaixaram a nota do Brasil. Além de saquear nossas divisas eles alimentaram as esperanças dos racistas brasileiros de excluir negros, mulatos e mestiços pobres da previdência social.

      Isso não é racismo? Não é apenas a racionalidade do mercado comandado por racistas?

      1. Sem polemizar

        Apenas me refiro ao contexto racismo indicado como fonte dos males, enquanto na verdade ele é fruto. A colonização, escravidão, racismo e capitalismo, se deu nessa ordem, d.v., invertida.

        No senso comum prevalece essa ideia de que o racismo como ideologia seja algo perene na civilização humana, embora na verdade é uma doutrina recente surgida no século 18, concomitante com a força dos ideais iluministas.

        O racismo é que nasceu da colonização e da escravidão. O próprio termo ´raça´ como classificação da espécie humana surge no século 18 não servindo portanto para as relações humanas pretéritas.

        A escravidão cllássica tanto na África quanto na Grécia decorria de uma lógica do poder do povo vitorioso sobre um povo derrotado. O vencido era considerado ´um escravo por natureza´.

        O escravo, era um humano igual, porém, desprovido da igualdade de direitos e passava a ser uma extensão do senhor, segundo Aristóteles. O escravo era mesmo uma extensão do seu senhor, conforme Aristóteles.

        Sepúlveda, assim como e, principalmente, Aristóteles, não pôde imaginar o progresso da estrutura social da humanidade sem a presença dos escravos. A esse propósito, “o príncipe eterno dos verdadeiros filósofos” — como diria Augusto Comte — dissera ser “o escravo um bem vivo” (ARISTÓTELES, 1997, 1254a). O “escravo é parte de seu senhor — parte de um corpo, viva mais [sic] separada dele” (ibidem, 1255b). – pág. 104 do trabalho acadêmico indicado: 

        http://www.filosofiacapital.org/ojs-2.1.1/index.php/filosofiacapital/article/view/174/148 

        Aliás, sempre que um jurista cita o princípio aristotélico da igualdade (tratar desigualmente seria a verdadeira igualdade) está cometendo uma perfídia ao conceito iluminista de igualdade consagrado na República, como vez o nosso STF ao citar expressamente tal princípio de Aristóteles no julgamento da constitucionalidade das leis de políticas públicas de segregação de direitos em ´cotas raciais´. Portanto, segundo o STF, se as pessoas não são iguais não merecem igualdade de tratamento perante a lei e o estado…

        Em algum artigo de vossa autoria já encontrei tal referência à igualdade, d.v., também equivocada.

        No mais concordo contigo que o imperialismo ianque utiliza suas agências para impor soluções contrárias ao interesse dos povos em desenvolvimento. Tanto no campo econômico, quanto cultural com o cinema, TV, séries etc, assim como no campo acadêmico conforme tenho denunciado o papel das Foundacion´s na criação de uma elite defensores de políticas públicas raciais a fim de nos impor também a idéia de pertencimento racial e do racismo doentio decorrente disso.

        É certo que o capitalismo teve no racismo sua base implementadora. Significante que o primeiro estado que institucionalizou direitos raciais segregados foi os EUA e inspirador das leis de apartação e das leis nazi-fascitas. Eis a razão da citada máxima de Steve Biko: capitalismo e racismo são as duas faces da mesma moeda.

        Também concordamos que os interesses do império capitalista e do racismo estrutural justificam as manipulações de mercado. Não é coincidência o dumping do mercado de petróleo ocorrer ao mesmo tempo com a invasão e dstruição de estados como a Líbia, o Iraque, a Síria e a Venezuela, além do nosso pré-sal 

  3. Racismo: só pessoas boazinhas podem falar.
    Sobre o racismo, não sei quem fala mais besteira: será o Fábio de Oliveira Ribeiro, em seu artigo “A cor da pele é o verdadeiro capital?”, ou será o José Roberto F. Militão, no contra-artigo deste?

    Ambos são campeões da babaquice hipócrita politicamente correta. Mas contestá-los é perigoso. William Waack que o diga. Eu não vou me arriscar.

    O melhor é repetir o que dizem os “antirracistas”, ou seja, que as raças não existem, mas são todas iguais. Não é lógico, mas é conveniente, é seguro, é mais respeitável, mais acadêmico…

    O quê, amigo leitor? Hum? A verdade?

    Ora, a verdade! O que a verdade tem a ver com o debate público sobre o racismo no Brasil?

    1. Você não apresentou um só

      Você não apresentou um só argumento racional.

      Seu comentário é apenas um ataque pessoal rasteiro.

      Continue fazendo o que sabe fazer bem: agredir.

      Eu continuarei a fazer o que faço muito melhor que você. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador