A crise política se tornou institucional, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O mar não está pra peixe. Depois de o País passar por uma desconstrução por três anos chega-se ao previsível, a crise política se tornou institucional. Judiciário e Legislativo se digladiam pelo poder e o Executivo foi desaparecendo, transformado em um faz de conta. Este é o tema de hoje de Janio de Freitas, em sua coluna na Folha.

A peleja entre o Congresso e o governo Dilma foi político, entre o Congresso e o Judiciário é o confronto de poder sobre as instituições. O governo, fraco, apagado, está, como bem disse Joaquim Barbosa, sem legitimidade e agarrado a um Congresso prenhe de motivações espúrias. O que os une é o temor dos amanhãs sombrios.

A imprensa, grande aliada de Temer desde que se faça um governo aos moldes do PSDB, solta aqui e ali algumas notícias de preocupação com os rumos da economia, mas com toques de caminhos tucanos para resolver a crise.

Mas já passamos por isso, e há pouco tempo, desde que Temer costurava um golpe com Aécio. Mas serão 25 meses entre o hoje e a sucessão normal, o triplo do que utilizaram para incensar o governo pós-golpe. Um período em que o teto de gastos e reforma da Previdência, caso aprovados, ainda não terão feito os estragos além de alguma convulsão social. E tem gente que nem se digna a esperar este período.

Leia o artigo a seguir.

                  

da Folha

A crise brasileira passou de política a institucional, como previsível

por Janio de Freitas

Sob uma situação de abalos políticos sucessivos, em meio a condições econômicas ruinosas, os países não costumam esperar por eleições ainda distantes para buscar a normalização, encontrem-na ou não. Em política não há regras absolutas, mas há propensões historicamente predominantes. É o caso.

O Brasil está no terceiro ano de uma desconstrução que só tem encontrado estímulos, nenhum obstáculo. A crise passou de política a institucional, como previsível. Quem apoiou o impeachment com a ideia de que seria um fato isolado tem elementos agora para começar a entendê-lo. O confronto protagonizado por Judiciário e Legislativo tem as formas de divergências legais e vinditas mútuas, mas o seu fundo é institucional: é disputa de poder.

Possibilitada pelo desaparecimento do terceiro dos Poderes, nas circunstâncias em que uma institucionalidade legítima (à parte o governo insatisfatório) foi substituída por um faz de conta.

Entre o Congresso e o governo Dilma, o confronto foi por fins políticos. Entre o Judiciário e o Congresso, o confronto é de poder sobre as instituições. Nisso, como está e para onde vai o desaparecido Poder Executivo, o governo Temer? Em entrevista à Folha (1º.dez.), o ex-ministro Joaquim Barbosa e suas vigorosas formulações referiram-se à atual “Presidência sem legitimidade, unida a um Congresso com motivações espúrias”. A segunda pior conjunção, sendo a primeira a mesma coisa em regime militar. Embora sem essa síntese de Joaquim Barbosa, o sentimento que se propaga nos setores influentes a representa muito bem. A possível falta de igual capacidade de formulação é suprida pelas dores das perdas e pelos temores dos amanhãs sombrios.

Quando a imprensa, que auxilia Temer na expectativa de uma política econômica à maneira do PSDB, libera notícias de preocupação incipiente, aqui ou ali entre empresários, com a falta de medidas recuperadoras, as reações já estão muito mais longe. “O que fazer?” é uma pergunta constante. As referências a Temer e Henrique Meirelles não o são, nas respostas especulativas sobre o que seria necessário para remendar a pane econômica. Mas os vazios dos dois nomes preenchem-se com vários outros, políticos para um lado, economistas para o outro.

Os sussurros e a cerimônia começam a desaparecer, em favor da objetividade. É um estágio conhecido. Temer o conhece como praticante, desde quando costurava com Aécio Neves a conspiração do impeachment. Agora o conhece como alvo. Sem a companhia de Aécio. Aliás, parece possível dizer, apenas, sem companhia: não faltam nem peemedebistas de alto escalão, digamos, nas inquietações. Não é outro o motivo do chamado do atônito Temer a Armínio Fraga, guru do neoliberalismo, e ao PSDB para se imiscuírem no gabinete de Henrique Meirelles, cuja carta branca é cassada sem aviso prévio e publicamente.

Daqui à sucessão normal são 25 meses. Mais de três vezes os meses que desmoralizaram a propaganda sobre as maravilhas do governo pós-impeachment, com Temer, Geddel, Moreira e outros. E o PSDB, com três ministros, como avalista. São 25 meses em que o teto de gastos e a reforma da Previdência, se chegarem à realidade, ainda não terão produzido mais do que as conhecidas agitações ou, cabe presumir, convulsão mesmo. Mas certas pessoas nem pensam mais nos meses que faltam. Ou faltariam.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

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  1. Janio de Freitas… Mas pode me chamar de Graciliano Ramos!

    Sempre uma festa poder ler os textos de Janio ainda que não concorde 100% com ele. Sua sintaxe precisa, sua ironia que transborda em cada enunciado e acima de tudo sua “análise do discurso” precisa e aguda, fazem de seus textos uma aula de linguística. Grande Janio… Só lamento que ainda continue vinculado profissionalmente ao mais canalha entre os canalhas… O dono da Folha! 

    1. `Deixe-o lá. Mesmo sendo a

      `Deixe-o lá. Mesmo sendo a única voz discordante, faz o contra ponto, e nessas brenhas soturnas por onde perambulamos perplexos, põe uma réstia de luz sobre nosso destino tortuoso.

  2. Eis que muito mais rápido do

    Eis que muito mais rápido do que se esperava, descasca-se a cebola do golpe . E no centro dessa leguminosa apátria, entreguista e farisaica surge, curiosamente, a figura de um tucano prestes a ganhar vida.

  3. O que mantinha as instituições unidas era a oposição ao PT

    Todas as instituições estavam unidas num frente única para acabar com o PT. Antes de acabar completamente com o PT eles racharam e agora está cada um por si mesmo e contra todos os demais

  4. Dilma volta,volta tb a
    Dilma volta,volta tb a credibilidade e confiança internacional e institucional,para isso tiremos o orgulho e q a Dilma queira tb!

  5. Nunca vimos, em parte nenhuma

    Nunca vimos, em parte nenhuma do mundo, crise “política” em ditaduras. Dizer que vivemos uma crise política, é tentar encobrir a ditadura que estamos vivendo, instaurada não por políticos mas por uma máfia que envolve todos os poderes do estado, polícias, grande imprensa e mais uma cacetada de instituições / orgãos do Brasil e dos eua/aliados. O autor do post é um golpista que escreve a mando dos seus patrões para tentar convencer a galéra que estamos vivendo numa democracia com problemas. Esses são os piores golpistas! São esses tipos que dão sustentação ao andamento ao golpe, com suas publicações mentirosas / criminosas. 

  6. Faltariam???? Porquê

    Faltariam???? Porquê faltariam? Nós ouvimos o influente guru do PSDB, o tal de Nizan Guanaes, dar a ordem: FAÇA O QUE É IMPOPULAR. O Temer já fez o serviço sujo? Não, então FALTAM 25 meses de governo Temer. Depois o salvador da pátria virá impávido e infalível que nem Moamed Ali, tomar conta disto por mais 8 longos anos e nós, bem nós já sabemos que a direita religiosa proverá os votos. A saber: a maioria dos bolsa família votou em Marina. Para quem não sabe, EU SEI: o senador Magno Malta está costurando há muito um acordo para ser o candidato evangélhico. ISTO É VERDADE. Se não ganhar descarrega os votos em quem? Advinhem.

  7. É preocupante essa disputa

    É preocupante essa disputa entre Legislativo e Judiciário, e também esse que deve ser o sentimento de Temer de que os tucanos o querem fora do poder. 

    Temer, que conta com a força do Congresso, repleto de maus elementos, poderia dar outro golpe, dessa feita tentando se aboletar na cadira como um ditador, impedindo as eleições? 

     

    1. Esta crise traz oportunidades

      Acho que esta disputa entre legislativo e judiciário trouxe alguns fatos novos e oportunidades de avanços. Até recentemente, a teoria de freios e contrapesos, na qual poder controla poder, no Brasil, era só uma ficção. Os poderosos davam carteiradas e se protegiam mutuamente, acreditando que uma mão lava a outra.

      De repente, o grupo que foi desalojado do poder desde a ascenção do PT precisou de um pretexto moralista para tirar o chefe do executivo do poder. Mas para azar deles, por mais que Moro procurasse envolver Dilma e Lula, as maiores evidências de corrupção recaiam nos demais partidos. Todos se sentiram ameaçados, ainda mais depois que Moro, a PF e o MP cometeram vários abusos de poder. Foi então, que o projeto de lei que se propõe a combater os abusos de poder, que há dez anos empoeirava nos escaninhos, ganhou urgência.

      Enfim é uma medida necessária, que deve ser aprovada por uma maioria de canalhas, movidos por interesses mesquinhos. Mas, nem por isso deixa de ser uma conquista  extremamente importante para a sociedade brasileira.

  8. O Judiciário, junto com o

    O Judiciário, junto com o povo vão derrubar a repúbliqueta dos políticos e já não era sem tempo.

    Essa republiqueta dos políticos teve o seu auge no governo Lula, quando a classe política perdeu definitivamente o medo e a vergonha na cara de se corromper e ser pego no flagrante, pois se a população havia anistiado as corrupções do governo petista, ficou sem cara de exigir linha dura aos não petistas.

    Está aí o maior legado do governo Lula. O rebaixamento como nuncaangesnahistóriadessepaiz da moralidade pública e a desfaçatez do politico ser pego com a boca na botija e simplesmente achar que ele nada fez de errado.

    A crise economica e a Lava-Jato está servindo para que se volte a indignação ao povo brasileiro e o seu legítimo direito de exigir não ser roubado pelos políticos. É por isso que o juduciário necessita do apoio da sociedade brasileira para destruir a republiqueta dos políticos e ela possa devolver o Brasil aos seus legítimos donos, o povo brasileiro.

     

     

    1. Democracia

      O Judiciário é profundamente político, dominado pela plutocracia e autocentrado, ou seja, “voltado exclusivamente para as próprias vontades, interesses, pensamentos ou carências” (apud Houaiss),  Li de Brusque.  Prefiro sempre a via democrática, ou seja, a representação popular pelo voto. Esse Congresso de maioria golpista que aí está não me representa de fato, mas é fruto do voto da maioria. Maioria enganada, claro, pois  não elegeu  seus reais representantes , mas os dos rentistas (inclusive banqueiros), dos ruralistas, dos industriais, dos ideologicamente fascistas, de pastores enriquecidos, da plutocracia, enfim. Mas a Democracia é assim. Se o povo acordar, os golpistas serão cassados pelo voto em 2018.

    2. Que país você s viviam até
      Que país você s viviam até 2002? Não era no Brasil. O judiciário brasileiro não é a solução, pois é parte do problema. Ao longo da construção do país legislativo e judiciário imiscuíram em acordos espúrios de tal maneira que um não atrapalhasse o outro. Vender que o problema começou com PT no poder, só para os neófitos em política.

  9. Armínio Fraga e Gustavo Franco

    Coloca o Fraga na mesa de operações do BC shorteando o Brasil e o Franco no Ministério da Economia.

    Salva as finanças públicas, na minha humilde opinião.

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