A divulgação da planilha da Odebrecht como estratégia da Lava Jato

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A descoberta de documentos da Odebrecht, com planilhas de pagamentos da empreiteira a uma grande quantidade de políticos e partidos, provocou preocupação entre os nomes mencionados, de acordo com o Painel da Folha. A consequência decretada pelo diário é que a divulgação desses dados seria o “começo do fim”, teriam dito “pessoas ligadas à Lava Jato”.
 
As fontes ouvidas afirmaram que “temem a união de todos os atingidos para dar um basta à apuração” dos processos comandados pelo juiz Sergio Moro. Se o intento do magistrado ao dar publicidade à planilha – que ainda não apresenta nenhum indicativo de que os repasses teriam sido irregulares, sem declação à Receita ou provenientes de caixa 2 – foi o de trazer algum viés “anti-partidário” à Operação, por outro, as análises dos meios de comunicação desta quinta (24) trazem esse tom de que, agora, nomes do PSDB, PMDB e seus grandes caciques foram afetados, ignorando que as primeiras denúncias enviadas pela Procuradoria Geral da República do caso Lava Jato, em março de 2015, já indicava indícios de envolvimentos de alguns desses políticos no esquema de corrupção da Petrobras.
 
De qualquer modo, os documentos da Odebrecht foram encontrados na residência do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Junior, no Rio de Janeiro, há um mês, quando foi deflagrada a 23ª fase da Lava Jato, a Acarajé, que prendeu o casal de marqueteiros de campanhas petistas, João Santana e Monica Moura. Ambos atuaram nas campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e da presidente Dilma Rousseff, em 2010 e 2014. Naquela semana, a mira estava em encontrar indícios de repasses de proprinas de empreiteiras para campanhas petistas. E a planilha, que não traz citação nem de Lula, nem de Dilma, não tinham sido liberada de seu sigilo – o que ocorreu apenas nesta quarta-feira (24).
 
Ainda assim, poucos tempo após a divulgação, Moro já retomou o sigilo dos documentos – insuficiente para os arquivos já não estarem disponíveis entre todos os meios de comunicação e redes sociais.
 
Mas a análise das “pessoas ligadas à Lava Jato”, segundo o Painel, é que a Operação chega a uma “bifurcação perigosa”. Outra possibilidade aventada pela coluna é que a liberação de nomes da planilha – que ainda não foi levantados indícios de corrupção presentes – de políticos da oposição pode também gerar uma “união dos inimigos” para sacrificar a presidente Dilma, “entregando a cabeça para preservar o resto do corpo”, publicou o jornal. 
 
E, apesar de terem conhecimento sobre como é o mecanismo de doações de grandes empresas para campanhas em períodos eleitorais, o jornal afirma que o “Ministério Público se espantou com o ‘padrão democrático’ da Odebrech”, pela empreiteira ter feito pagamentos a vários setores de vários partidos.
 
Mas há quem discorde da tese de que o impeachment brecaria a continuidade das investigações. “Ninguém põe esse leão para dentro da jaula de novo. Não há hipótese”, manifestou a ministra Kátia Abreu. 
 
Dúvidas que ainda restam sobre os próximos passos da Lava Jato devem ser esclarecidas com as delações dos executivos da Odebrecht, que aceitaram fechar o acordo premiado com a equipe de investigadores. A força tarefa deve usar a planilha encontrada como ponto de partida para outras apurações.
 
Leia mais: Apreensão mira Lula e Dilma, mas planilhas da Odebrecht não os citam
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

16 Comentários

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  1. “Grande mídia

    Discordo da Ministra Kátia Abreu. Parte da  chamada grande mídia suja põe, sozinha, esse leão para dentro da Jaula. Vejam Joaquim Barbosa, que foi o menino pobre da capa da veja e que virou capa de tudo, cogitado à candidato  e agora praticamente se manifesta somente no Twitter, não tendo o espaço que tinha na mídia. A própria operação lava jato sabe, claramente, que precisa da mídia que alimenta o clamor popular, para aumentar a sua sobrevida

  2. Sherlock

    A divulgação desta planilha envolvendo cidadãos com foro privilegiado não jogaria o processo da empresa de MBO para o STF?Aí tem!

  3. Chamo atenção para os

    Chamo atenção para os documentos apreendidos pela Lava Jato, que constam do arquivo número 7 disponibilizado pelo Nassif neste portal. Bastante interesante os ajustes fechados entre as empreiteiras para divisão das obras (e valores que caberão a cada parte, inclusive aqueles a serem pagos aos “patrocinadores” dos jogos). Em especial os “contratos” denominados “Sport Club Unidos Venceremos” e “Tatú Tenis Clube – TTC”.  

  4. Falemos sério

    O que deve preocupar imensamente a farsa-tarefa da Lava-Jato são os documentos que tratam do Sport Club Unidos Venceremos e do Tatu Tênis Clube, que escancaram a existência de formaça de cartéis entre as empreiteiras. Dois cartéis distintos para objetos distintos, figa-se. E o Tatu que dá nome ao Tênis Clube não cava poços de petróleo: cava buracos de metrô.

    O que deve preocupar a farsa-tarefa é a reiterada menção a “parceiros históricos”, evidência incontestável de que a corrupção não nasceu ontem. Seu DNA é tão antigo que nem DNA é, está mais para UDN, MDB… 

    Os documentos apreendidos mostram que a Odebrecht era DONA de uns tantos, se não de todos os partidos do Brasil. Principalmente de um que está ou estava por atravessar não o Rubicão, mas o Atlântico. Falo da nau de Mendes, Temer et caterva que está por fazer, muito simbolicamente, o percurso inverso ao das naus cabralinas, indo a Portugal neste momento para gerar não o descobrimento, mas o ocultamento do Brasil.

    Mas know-how é know-how, e leio que a delação de Delcídio foi enviada a Teori toda fatiadinha. Nem adianta procurar, Teori: o juiz e o ministério público não perceberam ou não quiseram perceber que essa delação não contém  n a d a  sobre o espanhol, aquele, o Preciado, ou sobre o Serra.

    Aécio diz: a doação milionária que consta nas planilhas apreendidas foi legal. Só não esclarece por que raios a doação está na lista da Odebrecht, mas quem fez a doação foi terceira empresa. Eu, que sou tolinho, me pergunto se a Odebrecht não teria usado o caixa-dois e se a “doadora” oficial não teria apenas emprestado o CNPJ para legitimar a operação… Mas nada mais disse Aécio, nem lhe foi ou será jamais perguntado.

    Sábado de aleluia vem aí. Desnecessário bola de cristal para antever que judas vermelhos serão queimados numa catarse verde-amarela. Ai, essa terra ainda vai cumprir seu ideal: ficar sem democracia nem pré-sal…

     

     

  5. Nassif, não foi o magistrado

    Nassif, não foi o magistrado Moro que deu publicidade à planilha. Foi a polícia federal que inseriu o documento em seu sistema eletrônico público.

    O que foi estranho, porque a inserção se deu um dia após a Odebrecht lançar uma nota com a falsa informação de que estaria negociando uma delação que teria impacto em todo o sistema. O MPF negou depois que houvesse qualquer negociação.

    Não é muita coincidência a PF – ou parte dela – liberar um documento que atinge quase todos os partidos logo depois de a odebrecht soltar uma nota dizendo que ia fazer uma delação que iria atingir o sistema?

    É possível que a Odebrecht tenha utilizado uma estratégia pra assustar políticos de todos os partidos pra enfraquecer a Lava-Jato, e pra isso contou com a ajuda de alguém dentro da PF.

  6. Sobre a ausência de materialidade

    Além das hipóteses de Caixa 1 e 2 ou propina, há uma terceira possibilidade sobre essa lista que é a dos pagamentos não terem sido realizados.

    Manuela D’Ávila sustenta, em mensagem no Facebook (https://goo.gl/ySiHz8) que nunca recebeu recursos de empresas do Grupo Odebrecht, que acabou a campanha de 2012 com dívidas astronômicas e que a data da planilha em que o nome dela aparece é anterior ao período em que teve uma queda vertiginosa nas pesquisas para Prefeitura de Porto Alegre (ela perdeu no 1º turno). A opinião dela é que a Odebrecht fez projeções de contribuições à candidatura a partir de seu favoritismo pré-eleitoral e que depois, munida das pesquisas de opinião, desistiu. Há uma segunda planilha divulgada nesse último vazamento que mostra que o PCdoB do RS não recebeu nenhuma doação em 2012.

    É complicado – e errado – acusar sem materialidade. Ou seja: é preciso comprovar por meio de movimentações bancárias que tais repasses aconteceram de fato, e depois, comparando com as prestações de conta ao TSE, se foram lícitos (caixa 1) ou ilícitos (caixa 2 ou propina). Esta lista sozinha não prova nada, nem contra os amigos, nem contra os inimigos.

    O fato é que, como disse alguém hoje cedo no TW: “Tem um papel com nomes e valores de doações, mas é tudo legal. Nenhum papel que prove que o triplex é do Lula e ele vai preso? Comassim?”

  7. Porque este jogo de cena?

    Ou Moro está atordoado, ou seu staff político o abandonou. Uma atitude estranha, para um juiz que sempre faz declarações tão pensadas, e jogadas na mídia com tanta precisão e timing. Um juiz que sabe exatamente quando e onde está violando direitos, pois ele escreve de forma  bastante clara sobre o papel da imprensa e da prisão na obtenção de delações e de clamor popular.

    O que significa esta nota afirmando que a anunciada delação ou colaboração  de Oderbrecht não vai ser necessariamente aceita. Porque a imprensa dos Marinho, fez até antes da declaração do juiz a afirmação de  que a colaboração de Marcelo estaria  se tornando desnecessária. ( Vide a Lo Prete) .  ?

    Porque  a Globo bateu tão pesado em Marcelo, logo após Emilio Oderbrecht ter ido conversar com os Marinho? 

    Todos sabemos que uma lista com nomes , jamais foi tratada assim, seja pela imprensa seja pelo Juiz Moro. Jamais eu vi o Juiz Moro tratar  de doações de campanha, como sendo legais. O mote central das acusações  é que as doações são apenas artificialmente legais. Neste caso o que o fez mudar de opinião?

    A democrática presença na lista de Oderbrecht, mostra claramente que não existe uma conspiração Petista para  conseguir dinheiro para campanha. Na verdade mostra a relação estrutural que tem o financiamento de campanha para todos os partidos. Diante disto se Moro é uma pessoa justa , deveria vir a publico para retirar as acusações contra Lula e a Dirceu e a Vaccari,  pois  nos autos do processo foram acusados de serem mentores da corrupção eleitoral no país?

    As contradições se somam nesta operação que  vai implodir a Justiça Brasileira. Diante de uma lista desta , fica cada vez mais evidente o partidarismo das açoes de Curitiba. Mais um prego no caixão da justiça, a não ser que Teori Zavaski e juizes honestos que eu tenho certeza pertencem ao STF tomem as rédeas.

     

  8. A lista não interessa aos golpistas

    Ela não pode ser usada contra Dilma ou Lula.

     

    A estratégia será continuar martelando no impeachment de Dilma e na perseguiçao a Lula.

     

    O impeachment na camara vai continuar, foi acelerado até.

    A pressão contra a nomeação de Lula vai continuar.

     

    Enquanto isso a mídia vai empurrar a lista pra baixo do tapete.

    Eles farão os midiotas esquecerem essa lista.

     

  9. Ligeira ode a Odebrecht.

    Partido da Construção Nacional = PT + PSBD + PMDB + DEM + PDT + PSC + PSD + PRB + PV + PTB + PTN + PR + PPS + PP + PSB + PSN

    A Odebrecht dá mostra de uma acurada visão política cívica e republicana ao reconhecer na fartura partidária de Pindorama o que qualquer um habitante da aldeia já sabe: todos trabalham em prol do bem-estar da população e do progresso deste país.

    Não colocar a sigla PCN para todas as agremiações supracitadas foi mero artifício contábil.

    E tenhamos a certeza de que todas as contribuições respeitaram religiosamente a legislação sobre o assunto. Afirmações pondo em dúvida a lisura dos procedimentos são intrigas da oposição.

    (Só resta saber onde está a oposição.)

    En passant.

    Nassif, mais uma vez, erra na metáfora lúdica.

    Não é xadrez. É truco.

    Informa a Wikipedia: “O blefe e o engano também são fundamentais para o jogo.”

    E tudo cercado de muito falatório.

  10. Fim do seriado

    Se a Lava Jato é um seriado policial, como disse um colunista do GGN, essa lista é uma espécie de gran finale. Jogaram 200 nomes no ar para dar assunto à “opinião pública”, mas legalmente a lista não tem valor algum.

    Parece claro que os setores mais agressivos da Lava Jato perderam poder com os últimos acontecimentos. Agora, o ministro da Justiça resolveu botar ordem na casa, e da mesma forma que há muita gente sendo investigada, também muitos atores da Lava Jato estão ameaçados de processo por desvios de conduta evidentes e fartamente documentados, começando pelo juiz Moro e chegando aos vazadores da PF.

    Moro e a equipe da Lava Jato já entraram no chamado “damage control”, ou seja, vão procurar sair de cena sem fazer alarde, para evitar consequências mais graves. Enquanto isso, a “opinião pública” se deleitará nos bares, festas e redes sociais, discutindo o listão da Odebrecht.

  11. Operação Acordão

    A idéia de que é impossível parar a lava jato é um pouco wishfull-thinking, e é parte da razão pela qual Dilma provavelmente será impeachada.  Dilma poderia ter costurado um acordo para parar a Lava Jato e os deputados e senadores sabem disso.  Mesmo já adiantada, ainda havia meios de controle e de articulação política para isso.  O fato dela escolher não o fazer é sinal tanto de sua honradez quanto de sua ingenuidade política, e ela pagará por isso.

    Eu tenho como minha opinião sincera de que a divulgação dos audios de Lula foi justamente fruto de um medo de que Lula fosse capaz de costurar o acordão necessário para enterra-la.  A aliança da república de curitiba com a mídia dá vigor a operação, mas essa aliança pode ser bastante frágil e pode ser rompida.

    Alias já vislumbro um desenho capaz de neutralizar a operação.  A lista da odebrecht coloca um pânico generalizado em toda a classe política (especialmente com a declaração de colaboração mencionando todo o sistema de financiamento político-eleitoral).  A idéia de que “para o pt é propina, para mim é amor” não vai colar.  Todos já estão sendo julgados no tribunal da opinião popular e esse tribunal quer sangue!

    O acordão deveria se basear primeiramente no supremo.  Acaba-se rapidamente a lava-jato tirando ela do único juiz excentrico o suficiente para cometer todo tipo de ilegalidade em sua ansia por justiça.  (Assim por exemplo que as investigações da eletronuclear aqui no RJ provavelmente se estenderão até a prescrição).  O desmembramento da ação depois da humilhação do Juiz Sérgio Moro (que provavelmente acontecerá em breve e já parece desenhada) já pode dar um respiro grande para toda a classe política.

    Esse juiz provavelmente galvanizará apoio de um importante setor do país que não é realmente representado.  A direita que ousa chamar-se por esse nome.  Como disse a um correspondente internacional que estava comentando porque Ted Cruz é chamado de candidato ultraconservador em um veículo de direita do Br:  “A constituição brasileira provavelmente seria lida como propaganda comunista em boa parte dos meios políticos norte-americanos)”.  Essa classe, desprestigiada depois da ditadura militar, encontrou sua resposta nesses movimentos novos (financiados justamente pelos mesmos que financiam a tea party americana que toma refem toda a ala moderada do partido republicano – sim, ela existe.) e provavelmente vai conseguir alguma representação no processo político.   Vale lembrar que essa classe representa uma parcela significativa do judiciário brasileiro, especialmente o que entrou na justiça pós constituição de 88 e portanto não percebe o contexto das garantias constitucionais e gostaria de emular os EUA, inclusive nos aspectos legais.  Isso é bem representado por Moro que é incapaz de traduzir “rule of law” como “estado de direito” e usa quase sempre “regra da lei” (sic).   Se esse apoio será bastante para garantir a continuidade da operação, é indefinido.

    Sabemos da capacidade de destruição de reputação dos meios de comunicação.  Especialmente se as irregularidades processuais se ficarem a mostra como nulidades e absolvições.  O juiz “competente e eficaz” se tornaria o juiz que não conseguiu prender ninguém (lembrem-se BANESTADO). 

    Porque no fundo, a questão da crise política é muito mais funda do que essa.  Recomendo a leitura desse artigo na revista piaui.

    http://revistapiaui.estadao.com.br/questoes-da-politica/o-que-de-fato-divide-os-brasileiros-nao-e-o-impeachment/

    Governar com o plano da direita (inclusive num governo temer) quando boa parte da população quer o estado do bem estar social fica muito, muito dificil. Especialmente quando acabou o dinheiro.

     

  12. detonar todo o sistema

    detonar todo o sistema político não significaria a

    intenção da lava-jato de ter um projeto político autoritário para o país?

    ou totlitarismo?

    fascismo nazismo, e o escambau?

    algo semelhante?

    ou é mais um delirio ohermeneutico da turma da república do paraná?

    como se sabe, historicamente, esses regimes de exceção manipulam a massa que odeia partidos, odeia política…

    e como  não tem nenhm projeto para a nação, agem paradoxalmente com espírito individualista,

    essa massa é manipulada  por setores que dominam essas teorias políticas infames…

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