A força do governo mais impopular da história, por Erico Firmo

Temer está mal perante a opinião pública, mas segue bem na política. A economia já esteve pior, mas as más notícias se avolumam. E, principal trunfo, a equipe que comanda a Fazenda tem credibilidade do mercado nacional e do internacional.
 
Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
 
Da Coluna Erico Firmo no jornal O Povo
 
Política tem variáveis curiosas. Michel Temer (PMDB) obteve neste semana o pior percentual de aprovação de um presidente já medido pelo Ibope. Nenhum governante teve índices tão ruins em mais de 30 anos, desde que passaram a ser feitas pesquisas minimamente confiáveis. Esse mesmo presidente é alvo de denúncia gravíssima da Procuradoria Geral da República. A Câmara dos Deputados marcou para a semana que vem a sessão que deve decidir se a denúncia deve prosseguir ou não. Caso tenha andamento, Temer será preventivamente afastado do cargo. Situação politicamente calamitosa, não é?
 
Não exatamente. A sustentação política do presidente vai surpreendentemente bem. Tem percalços com PSDB, enfrenta dificuldades, não tem maioria para aprovar as reformas constitucionais mais complicadas, mas a situação acaba sendo muito mais confortável do que o cenário justificaria. Com problemas no âmbito penal e com a economia derrapando, onde Temer hoje se sai melhor é na política.
 
É intrigante. Dentro de um ano, a campanha eleitoral estará praticamente começando. Políticos são normalmente suscetíveis à pressão popular, sobretudo perto de eleição. Isso ainda não ocorreu em relação ao governo de maior impopularidade jamais medida no Brasil.
 
A dúvida em relação à votação da denúncia contra Temer é apenas se haverá quórum ou não. Porque, no voto, o governo terá maioria. A oposição ameaça tentar impedir sessão em cuja pauta é a maior interessada.
 
OS PILARES DE UM GOVERNO
 
Um fator isoladamente não costuma comprometer um governo. A queda de Dilma Rousseff (PT) ocorreu, isso escrevi algumas vezes na época, porque ela viu se deteriorarem todos os alicerces: não tinha apoio popular, político, empresarial e mesmo os sindicatos se indispuseram com elas. Não muito tempo antes do impeachment, várias greves estavam em curso.
 
Temer está mal perante a opinião pública, mas segue bem na política. A economia já esteve pior, mas as más notícias se avolumam. E, principal trunfo, a equipe que comanda a Fazenda tem credibilidade do mercado nacional e do internacional.
 
Temer está pior como nunca num dos suportes essenciais de qualquer governo. Porém, mantém outros pilares mais ou menos firmes e isso o segura.
 
PARA ALÉM DA IMPOPULARIDADE
 
A impopularidade de um governante o fragiliza, mas isso pode se converter ou não em ação prática. Dilma não foi derrubada pelos protestos de rua. Mas dificilmente cairia se não fossem por eles. A impopularidade ali mostrou seu rosto e se corporificou.
Com Temer, a desaprovação é até maior, mas não se converteu em fato concreto. Muitos dos que ajudaram a derrubar Dilma desaprovam Temer, as pesquisas mostram. Porém, não têm tido o mesmo ímpeto e disposição para se opor. Movimentos que puxaram o protesto não se mobilizam. E tampouco os que defenderam Dilma e lideram a atual oposição têm conseguido promover manifestações mais significativas.
 
O fato de o presidente não ter sido votado para o cargo que hoje ocupa talvez o torne menos vunerável à falta de aprovação daqueles a quem governa.
 
NÃO BASTA A POLÍCIA ENTRAR
 
Diante do assassinato do jovem que não cumpriu a determinação criminosa de baixar o vidro da janela do carro ao entrar na Alameda das Palmeiras, no Ancuri, o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, voltou a dizer que não há territórios aos quais policiais não cheguem. “Não existe isso de locais em que a Polícia não vá, não entre, não atue”
Tudo bem, mas isso é pouco. Muito pouco. Quase nada. A Polícia entrar em qualquer lugar é o mínimo, o elementar. Para além disso, teríamos instituído Estado paralelo, controle absoluto de territórios pelo crime, desmoralização do poder público. Não é desse estágio que estamos falando, felizmente.
 
Porém, além de a Polícia entrar, é preciso que a população entre, circule livremente e em segurança. O que vemos hoje é o crime estabelecendo regras para determinadas áreas. Quando a Polícia chega lá, a coisa muda. Mas policiais não permanecem lá para sempre. Isso é impossível. Quando se retiram, restitue-se a “lei” paralela dos que estão sempre lá.
 
O POVO visitou seis desses territórios. Os relatos dos moradores, em regra, dão conta de que são locais tranquilos, desde que as normas determinadas pelo domínio criminoso das áreas. É uma calma permeada pelo medo. Isso também é desmoralizante para o Estado de direito.
 
Para ler a reportagem do O POVO sobre o assunto, acesse estes links: http://bit.ly/territorioscrime1 e http://bit.ly/territorioscrime2
Redação

9 Comentários

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  1. Comentário.

    “Um fator isoladamente não costuma comprometer um governo. A queda de Dilma Rousseff (PT) ocorreu, isso escrevi algumas vezes na época, porque ela viu se deteriorarem todos os alicerces: não tinha apoio popular, político, empresarial e mesmo os sindicatos se indispuseram com elas. Não muito tempo antes do impeachment, várias greves estavam em curso.”

    Forças populares se superestimaram ou não viram mais além e mais atrás?

  2. Juros até junho R$ 207 bi (4 déficits prim. e 7% PIB)
     Isso o JN, a Miriam Leitão, o Meirelles e a TROIKA (Itau-Bradesco-Santander) escondem do noticiário: Janeiro a junho de 2017:Deficit primário: R$ 56,9 bilhõesJuros nominais liquido: R$ 206,6  bilhõesDeficit nominal (soma): R$  241,8  bilhões Nos últimos 12 meses: Juros nominais liquido: R$ 440,3 bilhões (6,89% do PIB)Fonte: Banco Central Política FiscalNOTA PARA A IMPRENSA – 28.7.2017 I – Resultados fiscais O setor público consolidado registrou deficit primário de R$19,6 bilhões em junho. O resultado primário do Governo Central foi deficitário em R$19,9 bilhões, e o dos governos regionais e das empresas estatais, superavitário em R$240 milhões e R$145 milhões, respectivamente. No ano, o setor público consolidado registrou deficit primário de R$35,2 bilhões, ante deficit de R$23,8 bilhões no mesmo período de 2016. No acumulado em doze meses até junho, registrou-se deficit primário de R$167,2 bilhões (2,62% do PIB), 0,15 p.p. do PIB superior ao deficit registrado em maio. Os juros nominais do setor público consolidado, apropriados por competência, alcançaram R$31,5 bilhões em junho, comparativamente a R$36,3 bilhões em maio. Contribuíram para essa redução o menor número de dias úteis no mês e o efeito da redução da taxa Selic. No acumulado no ano, os juros nominais somaram R$206,6 bilhões, comparativamente a R$173,3 bilhões no primeiro semestre do ano anterior. Em doze meses, os juros nominais alcançaram R$440,3 bilhões (6,89% do PIB), elevando-se 0,14 p.p. do PIB em relação ao valor registrado em maio. O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$51,1 bilhões em junho. No ano, o deficit nominal totalizou R$241,8 bilhões, comparativamente ao deficit de R$197,1 bilhões no mesmo período do ano anterior. No acumulado em doze meses, o deficit nominal alcançou R$607,5 bilhões (9,50% do PIB), aumentando 0,29 p.p. do PIB em relação ao resultado deficitário registrado no mês anterior https://www.bcb.gov.br/htms/notecon3-p.asp

     

  3. O governo não cai porque
    O governo não cai porque temos um verdadeiro líder brasileiro.

    Dilma nunca foi líder, não sabia dialogar com o congresso e não atendia jornalistas,etc – como o próprio texto enriquece de detalhes.

    Eis o verdadeiro líder brasileiro, b aquele que re$peita os congressistas.

    Aquele que sabe dialogar com o mercado.

    O apoio popular que o texto fala?

    Ah!, esse é um mero detalhe.

    Viva o Bra$il, viva o $eu líder

  4. Temer sempre foi um homem das

    Temer sempre foi um homem das sombras. Sabe muito bem onde está a fonte do poder, ou melhor, sabe que todo deputado tem um preço.

    E não adianta espernear. O Congresso é a cara do “povo” brasileiro: ignorante, corrupto, violento, preconceituoso e apátrida. Quem resmunga o faz porque não teve a chance de estar lá. Disso nunca tive dúvidas 

  5. A Força

    A força vem do poder que manda nele, o verdadeiro poder, que tolerou governos petistas aguardando alguma reação tucana que não veio…nem virá!

    O poder cansou de intermediários democráticos tutelados e tolerados e partiu para mandar mesmo, na figura de quem for, no caso MT.

    Agem sem pudor nem vergonha, e hoje temos muito claro sobre quem sempre mandou no Brasil e, ainda, sabemos exatamente contra quem lutar no caso de voltar ao Planalto. Desta vez não terá cartinha aos Brasilieiros nem gracinhas para o mercado.

  6. “É intrigante. Dentro de um

    “É intrigante. Dentro de um ano, a campanha eleitoral estará praticamente começando. Políticos são normalmente suscetíveis à pressão popular, sobretudo perto de eleição. Isso ainda não ocorreu em relação ao governo de maior impopularidade jamais medida no Brasi”

    Pois é, para mim este é um sinal claríssimo que não teremos eleições em 2018.

    Ou então, os políticos estão claramente convencidos de que o povo brasileiro é formado por asnos. Teve um que até afirmou isto quando disse que o povo irá esquecer o que fizeram.

    Acho que ele tem razão mas acredito que as duas hipóteses são factíveis.

     

  7. Porque ele não cai

    Simples. Temer apesar de impopular fez duas coisas importantíssimas e indispensáveis para o Brasil.

    Primeiro, peitou a lista tríplice para PGR. Com isto, chegam ao fim todas as quebradeiras sem sentido de empresas por operações midiáticas. Chega ao fim o clima de inquisição. Após isto Temer virou um Herói Nacional, perante a classe política, perante o congresso e perante o Supremo, que basta para mantê-lo no poder. Mais do que tudo que Lula e Dilma possam ter feito por sua base aliada, este gesto de Temer supera infinitamente tudo o mais.

    Segundo, Temer peitou a mídia. Isto é peitou o maior antagonista e arqui inimigo nacional. Só isto lhe valeria um Oscar. Em 30 anos de democracia ninguém teve tamanha coragem e ousadia. Muitos aqui dirão que foi por vingança de Temer, mas mesmo assim foi válido.

    Até um patife pode ter seus momentos brilhantes.

    ———–

    Isto é Maquiavel. Fazer algo de bom pelo país, mesmo que se seja um crápula, e mesmo que muitos não gostem. Garanto que muitos coxinhas amaldiçoaram Temer quando viram ele fechando a L Jato, mas ele fez assim mesmo. Um verdadeiro Discíplulo de Maquiavel faz o que tem de fazer sem ligar se perde ou ganha popularidade.

    Lula e Dilma jamais fariam isto, de contrariar uma lista tríplice, ciosos que estavam de manter suas  popularidades e morriam de medo de contrariar a mídia.

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