A inação do Congresso com o Caso FIFA, por Augusto Diniz

A inação do Congresso com o Caso FIFA

por Augusto Diniz

Assim que o FBI anunciou ao mundo que estava investigando a FIFA, em maio de 2015, duas CPIs foram protocoladas para inquirir a CBF e seus contratos com emissoras de televisão, fornecedores e patrocinadores.

Uma era iniciativa do ex-judoca João Derly na Câmara dos Deputados. Mas o deputado federal não conseguiu levar à frente a comissão por questão regimental: cinco CPIs já estavam em andamento na Casa, o máximo permitido. Essa CPI só conseguiu ser instalada em fevereiro de 2016.

A outra foi liderada pelo ex-jogador Romário, que obteve sucesso imediato em colocar para funcionar a sua CPI no Senado.

As duas foram marcadas por indicações de parlamentares da bancada da bola como membros. A da Câmara teve uma diferença em relação ao do Romário no que tange as oitivas: levou Kleber Leite, da Klefer, intermediário dos negócios das entidades do futebol com suas parceiras e peça-chave para entender as operações com a Globo; personagem que Romário considerava primordial também ter ouvido em sua comissão, mas que não conseguiu aprovação para isso.

Em seu depoimento na Câmara, Kleber Leite reclama da Polícia Federal e Ministério Público de ter invadido o escritório dele (isso aconteceu logo após o estouro do Caso FIFA); diz que J. Hawilla (principal delator do caso na Justiça americana) sofre de insanidade mental; se defendeu longamente do contrato da Copa do Brasil em que é acusado no exterior de propina; disse que é amigo de Ricardo Teixeira; e justificou que a operação financeira de US$ 500 mil de sua empresa com a Inglaterra (considerada ilegal pelos EUA e parte investigada) ele soube pela imprensa…

Sua presença na CPI serviu à sua defesa. O relatório dessa comissão (que não teve votação final de aprovação) concluiu que o Ministério Público devia realizar investigações de condutas ilícitas praticadas por Kleber Leite, Ricardo Teixeira, José Maria Marin e J. Hawilla (os dois últimos sob custódia nos EUA).

O relatório da CPI da Câmara dos Deputados (em anexo) curiosamente não pede investigação de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, acusado formalmente pelos EUA (antes da CPI ser instalada) e, agora, apontado pelo delator argentino Alejandro Buzarco, que falou à Justiça americana por esses dias, como quem de fato tomava as decisões das operações ilícitas.

Já com relação a CPI do Romário, Romero Jucá, que era relator da comissão, apresentou um relatório final apenas com sugestões de melhoria do futebol brasileiro. A peça, feita às pressas, revoltou Romário, que seis meses depois apresentou um voto em separado com o senador Randolfo Rodrigues – na verdade, um relatório muito acima da média em relação aos já apresentados pelas CPIs de futebol criadas no Congresso, com detalhes sórdidos do submundo do futebol brasileiro.

A CPI dos deputados federais teve o dedo forte de Eduardo Cunha, antigo aliado da CBF, assim como as outras comissões parlamentares de inquérito criadas quando ele presidia a Câmara, com o controle do chamado “Centrão”, grupo de parlamentares comandado por Cunha.

Romero Jucá correu com o relatório do Senado para atender aos interesses do governo Temer que se formava, já que a comissão investigava empresas e instituições apoiadoras da destituição da presidente Dilma Rousseff.

Assim, após o FBI levar a público o Caso FIFA, muito fumaça foi criada até o fim de 2016. Em 2017, o céu parecia de novo de brigadeiro, com a CBF inclusive selando novo acordo com a Globo sobre direitos de transmissão de jogos da seleção brasileira para as eliminatórias da Copa de 2022, anunciado no final de outubro – com Marcelo Campos Pinto, então homem forte do futebol da Globo até o Caso FIFA tornar-se público (quando foi afastado da emissora), sendo o consultor da CBF nessa nova operação, conforme noticiado pela imprensa.

Por certo, há agora uma contabilidade de todos os grupos envolvidos no Caso FIFA (incluindo a Globo e Marcelo Campos Pinto) de como os delatores irão provar o que estão dizendo – como falso testemunho nos EUA (e sem provas) é um dos maiores crimes que alguém pode cometer, espera-se fortes emoções daqui para frente na vida dos acusados.

Redação

3 Comentários

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  1. Quem é quem

    Seria interessante ter os nomes dos  parlamentares nas CPIs e de que lado estavam. Sei pouco sobre a bancada da bola, mas gostaria de saber a atuação destes parlamentares.                                                                                                                      Aliás, há centenas de emissoras que têm no esporte sua maior fonte de receita, seria interessante lançar luz em como a bancada da bola age. Precisam saber quem os impede de ter receitas bem maiores, como e porque.  É muito comum o uso do prestígio conseguido no esporte para ganhar eleições, é correto, mas tem que atuar em prol do esporte, do esporte.

    Horacio Duarte

  2. ” como falso testemunho nos

    ” como falso testemunho nos EUA (e sem provas) é um dos maiores crimes que alguém pode cometer, espera-se fortes emoções daqui para frente na vida dos acusados.”

    Se a lei de delação premiada promulgada pela Dilma fosse como a dos americanos o que seria da lava jato?

    O Zé da justiça era realmente um idiota. Será que sua incompetência era tanta que não tinha conhecimento e capacidade de orientar a presidenta sobre falhas na lei?

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