A Lava Jato e os anjos da morte, por Luis Nassif

Qual o processo psicológico que faz com que pessoas aparentemente normais, tomem medidas que colocam em risco milhões de pessoas, com a mesma frieza de carrascos profissionais. O que fazem depois disso?

A Odebrecht já havia alertado que o vazamento das delações, especialmente contra países estrangeiros, não apenas prejudicaria as investigações como colocaria em risco a vida de seus executivos e familiares.

Hoje, no Painel da Folha (aqui), há mais detalhes sobre as consequências da leviandade do vazamento. Funcionários da Odebrecht e advogados que negociavam acordo na Venezuela, foram alvos de ameaça. O governo venezuelano disparou alerta vermelho de captura, pela Interpol, contra uma advogada e um executivo. Chegou a ser elaborado um plano de fuga para os executivos, que queriam deixar os hotéis em que estavam hospedados e se abrigar na embaixada brasileira.

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Em outra frente, os embargos econômicos à Venezuela podem promover um desastre humanitário jamais visto no continente.

Os Estados Unidos confiscaram US$ 30 bi em ativos da PDVSA (a estatal de petróleo), 40 bancos retiveram US$ 5,4 bilhões e a Venezuela está impedida e comprar alimentos e medicamentos (aqui). Pesquisas recentes indicam que 47% dos venezuelanos pretendem sair do país (aqui). É um êxodo semelhante ao provocado pela guerra na Síria, uma tragédia mundial. 

Na outra ponta, um governante, Maduro, irresponsável e descuidado mas, agora, legitimado pelas agressões externas que o país sofre.

Países responsáveis propõem uma mediação que resolva o impasse sem sacrificar a população. É o caso da Noruega (aqui), do Canadá (aqui), de Portugal (aqui).

De repente, tudo isso é atropelado, e se coloca o destino de milhões de pessoas, a segurança de famílias de executivos e advogados, nas mãos de um grupelho de procuradores totalmente irresponsáveis, com a sensibilidade embotada dos carrascos que passam a ter orgasmos com a agonia das vítimas.

Os diálogos do Intercept mostram que, mesmo com alguns colegas alertando para os riscos do vazamento, não se pejaram em armar a jogada, com a frieza encontrada apenas em mentes psicóticas, ou na ignorância crassa.

Qual o processo psicológico que faz com que pessoas aparentemente normais, tomem medidas que colocam em risco milhões de pessoas, com a mesma frieza de carrascos profissionais. O que fazem depois disso? Vão para a casa, almoçam com a família, não deixam os filhos perceber que estão com as mãos sujas de sangue. Ou, como Deltan Dallagnol, irão ao próximo culto e bradarão aos céus que ajudaram na luta para tirar a Venezuela da situação de pecado, ainda que ao custo de milhares de vidas.

Seria somente ignorância crassa, ou o exercício do poder absoluto transformar pessoas aparentemente normais em monstros insensíveis, em viciados em violência, como Torquemada, Robespierre, Leopoldo 2º, da Bélgica, que assassinou 8 milhões de africanos, Cortez que dizimou 15 milhões de Aztecas, Stalin e suas 20 milhões de vítimas.

O processo psicológico é o mesmo. A diferença entre eles é apenas de dimensão. Aqui, são pequenos a quem foram entregues armas mortais para que liquidassem com os inimigos do rei, custasse o que custasse. Tiveram autorização para matar e o único limite seria o da sua própria consciência. 

Mas o poder entregue em suas mãos, era tão desproporcionalmente elevado em relação à sua dimensão profissional, que eles jogaram os pruridos no lixo. Mefistófeles ofereceu-lhes o mundo, o poder de derrubar governos, de afetar a vida de milhões de pessoas, o prazer indizível, para mentes doentias, de humilhar os inimigos, montar armadilhas, usar as armas da mídia para fuzilar reputações. E eles julgaram que era um poder divino e eterno.

Pequenos imbecis!

A tragédia da história não é a forma como cidadãos aparentemente normais, cumpridores de suas obrigações, pios e sinceros, se transformam em monstros irresponsáveis. O drama maior é como um país como o Brasil permitiu esse poder em mãos tão insignificantes e irresponsáveis.

Os verdadeiros responsáveis estão no Supremo Tribunal Federal, nos grupos de mídia que encamparam o discurso de ódio, na malta de deputados que seguiu as ordens de Eduardo Cunha.

 

Luis Nassif

18 Comentários

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  1. A análise é perfeita. Chega a ser branda e benevolente com o grau de inconsequência canalha desses bandidos de beca. Crentes, se acham ungidos por algum deus (tvz o capeta) para, numa total sem-cerimônia se darem ao desplante de se sobrepor a todo um desforço diplomático, a todo um corpo técnico de um país, de vários países. Houvesse justiça, mereciam sofrer parte das agruras que impingiram abusivamente a inúmeras pessoas.

  2. Não exclua a tal ” direita responsável”, que aderiu em peso à sanha golpista.

    Enquanto os cientistas e analistas políticos não derem a devida atenção ao papel da ideologia, vão ficar se perguntando inutilmente “por que”, “como foi possível”?

    Uma coisa (até trivial) é identificar interesses em jogo. Outra é se dar conta que a questao central da Sociologia Política é a de quem vai MANDAR. Esse pessoal da direita latino americana simplesmente não aceita que outros possam mandar no que eles consideram propriedade deles; melam o jogo democrático sem o menor escrúpulo. Ou melhor, com todo cinismo de que são capazes.

  3. Os Estados Unidos nao move, e eh incapaz se mover uminha palha ou dedo que nao seus motivada por complexo de inferioridade, Nassif.

    Eh por essa impossibilidade logica que eu trago o “segredo” do “misterio” do “enigma”que voce quer saber: monster me uma unica acao de Moro ou de D’urinol que nao eh complexada.

    Mostra ai, gente.

    So uma.

    Me mostrem unzinho “procurador” de merda daquelas conversas que nao eh complexado.

    So unzinho.

    E olhe que os espiritas ja passaram por isso tudo tudo tudo, com ambos evangelicos e movimentos “ceticos”.

    Nao da pra gente confundir com qualquer outra coisa, gente, eh impossivel!

  4. Vou só repetir a mensagem que coloquei no YouTube:
    Nassif, como sabes de longa data, não sou de puxar o saco, mas desta vez fostes reto, direto, correto e mortal. Colocaste na testa deles o carimbo que Hannah Arendt, colocou na testa dos grandes criminosos como Eichmann que só estavam cumprindo a sua missão com esmero e cuidado, ou seja, a banalidade do mal.

  5. Nassif, isso vem de encontro a denúncias já feitas aqui de que existem suspeitas de que alguns membros do supremo podem ter sido alvos de chantagens por falcatruas praticadas. Expor essas mazelas de forma mais profunda seria a forma mais correta de pressão inversa para que voltem a ter a coragem necessária para recolocar esse país nos eixos. Esses senhores estão enlameando o judiciário de tal forma que nossa constituição servirá dentro de algum tempo apenas aqueles que puderem pagar e a grande maioria de nosso povo perderá por completo seus parcos direitos até pouco tempo garantidos

  6. Prezado Nassif,
    Vez por outra vejo publicado que Stalin teria matado de 20 a 40 milhões de pessoas – o que me faz pensar, de onde foram tiradas estas cifras? Em uma pesquisa pelo google, descobri fontes como “Instituto Mises” ou “Canção Nova” – e estes sítios de extrema-direita colocam na conta dos “assassinatos” de Stalin desde pessoas que morreram de fome até vítimas da invasão fascista sofrida pela União Soviética. Ou seja: na verdade, são vítimas da extrema direita.
    Na verdade, foram cerca de dois milhões de mortos nos gulags (dos cerca de 10 milhões que ficaram prisioneiros) e cerca de 700 mil foram fuzilados durante as expurgos da década de 1930. Ou seja: na verdade, foram cerca de 2 milhões e 700 mil pessoas mortas pelo regime stalinista e não os cerca de 20 milhões referidos na matéria (ao final, cito as fontes). Também houve as mortes pela fome que se espalhou devido às coletivizações forçadas (e que foram milhões de pessoas), mas colocar estas como assassinatos (ou genocídio) me parece forçar um pouco a barra, pois não foram mortes provocadas intencionalmente.
    Evidente que Stalin foi um tirano e que seu governo foi sangrento e deve ser abominado, mas acho importante dar as dimensões reais.
    Por outro lado, ainda sob o regime stalinista, houve cerca de 27 a 30 milhões de mortos durante a segunda guerra mundial (a que os russos chamam de Guerra Patriótica) – mas estas são vítimas do fascismo que atacou e invadiu a União Soviética.
    As estimativas de “mortos pelo stalinismo” que cito aqui podem ser encontradas, por exemplo, em: “Stalin’s Terror of 1937-1938: Political Genocide in the USSR” , de Vadim Zakharovich Rogovin (Oak Park: Mehring Books, 2008); ou em: “Stalin’s Wars: From World War to Cold War, 1939-1953”, de Geoffrey Roberts (New Haven: Yale University Press, 2006), entre outros.

  7. Sempre agiram com inumanidade…
    reparem nos diálogos que o comportamento sempre vem das consequências. Premeditação do crime?

    Não são seres humanos normais, porque não trabalham com os fatos, só com as consequências

    sinal de que contornaram a avaliação psicotécnica ou dela escaparam sabe-se lá como

  8. Esqueceu de colocar na lista de exemplos de mentes psicóticas que tratam vidas humanas com descaso as ações do governo americano que decide o destino de nações de exclusivamente com base em seus interesses econômicos. Foi assim no Irã, no IRaque, na Venezuela, no Vietnã, etc

  9. esses anjos da morte, anjos exterminadores, são os
    psicóticos que promovem todas as guerras com suas
    irreponsabilidades – pretensos
    donos de todas as verdades
    dadas que impostas por mentiras.
    conluiados com cruéis interesses sem nenhuma legitimidade

  10. -> Os verdadeiros responsáveis estão no Supremo Tribunal Federal, nos grupos de mídia que encamparam o discurso de ódio, na malta de deputados que seguiu as ordens de Eduardo Cunha.

    é impossível discordar. sem dúvida STF, a grande mídia e os “300 picaretas” do Congresso são responsáveis pelo colapso do Brasil.

    é preciso acrescentar: no Brasil os anjos da morte vestem verde-oliva.

    as FFAA se tornou a instituição fiadora do regime BolsoNazi. e como fiadores não poderão se esquivar, como fizeram na transição da Ditadura Civil-Militar para a Nova República, de pagar o preço devido.

    após a mala com os 40-1 kg de cocaína no avião da comitiva BolsoNazi rumo ao G20, agora o The Intercept Brasil publica extensa matéria correlata:

    Dossiês inéditos da ditadura mostram que militares sabiam que políticos traficavam armas e drogas na fronteira

    link: https://theintercept.com/2019/07/07/dossies-politicos-trafico-ditadura-ms/

    um lance de sorte? apenas coincidência? justo quando circulam boatos terroristas sobre prisões na #VazaJato?

    em sua mais perigosa encruzilhada, os Generais estão paradoxalmente parindo o seu pior pesadelo: o momento Chávez.

    a roda da História gira em ritmo vertiginoso no Brasil de nosso tempo. à sua passagem, nenhuma misericórdia divina.
    .

  11. …sobre a Lava Jato e os anjos da morte…
    (uma reflexão sobre o artigo do Nassif, no GGN, “A Lava Jato e os anjos da morte”)
    .
    Outro dia, senti-me sufocado de tristeza e revolta por um breve post que vi no Facebook. Um amigo testemunhava sobre conhecidos seus, engenheiros, que haviam tido suas vidas destruídas pela terra arrasada deixada como herança pela Lava Jato, principalmente na indústria de Petróleo e Gás e da engenharia civil pesada.
    Citava em seu post, mais ou menos a seguinte frase:
    “Conheço alguns que não suportaram a perda de seu chão, a dignidade de vida e segurança que tinham em seus empregos há décadas, e se suicidaram. Outros, caminham pela vida como surtados, não sabem o que fazer, desempregados e sem qualquer perspectiva de trabalho e renda. E sei que são algumas centenas de milhares as vidas atingidas pelo flagelo da Lava Jato.”
    .
    Uma empresa do porte de uma Odebrecht proporciona a um bom funcionário a certeza de que jamais será demitido se não tiver um desvio de conduta sério. As pessoas que apoiam a Lava jato talvez não compreendam o que significa para uma pessoa que sustenta sua família com um alto padrão de vida, de repente perder tudo, e ter que começar a queimar todos os seus ativos, a poupança de uma vida toda, para sobreviver. O desespero não bate na hora, no início, enquanto a poupança parece farta. É com o tempo e a inevitável corrosão do patrimônio e a brutal queda na qualidade de vida, que vem o desespero. Ainda mais em um país mergulhado em uma recessão, o desemprego batendo todos os recordes e aquele homem ou mulher de 50, 60 anos, muitas vezes no auge da carreira, percebe que a empresa ao lado, onde talvez tivesse uma oportunidade, MESMO GANHANDO MUITO MENOS DO QUE RECEBIA ANTERIORMENTE, também demitiu trinta, quarenta mil pessoas, que na verdade, seus colegas estão na mesma situação sem qualquer solução aparente.
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    No dia em que alguém fizer um levantamento criterioso da dimensão da destruição social, familiar e econômica – para ficar apenas nesses aspectos… – causada DIRETAMENTE pela ação irresponsável e perversa dos agentes desse processo insano e maligno, a Lava jato, muitos se surpreenderão com os fatos revelados.
    NENHUM MOMENTO EM NOSSA HISTÓRIA FOI TÃO DEVASTADOR DO BRASIL E DE SEU POVO, em todos os aspectos da vida humana, do que este, protagonizado por Moro, por uma mídia inebriada por seu poder de influir no destino da nação, por um STF composto por pessoas fracas e de pouco ou nenhum caráter na maioria de seus membros. O que saberemos daqui a uns poucos anos em detalhes, toda a sordidez, todas as consequências tenebrosas havidas, deixarão muitos envergonhados por terem apoiado como fanáticos cegos a todo o horror exposto à luz da verdade.
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    Sentiremos vergonha, do massacre imposto a Lula e sua família, uma processo social, político e jurídico grotesco e selvagem, que provavelmente lhe custou a perda prematura da companheira de décadas, dona Marisa.
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    Sentiremos vergonha dos PMs de Alckmin, Beto Richa e outros governadores sanguinários, espancando de modo brutal e selvagem aos manifestantes que não queriam esse Brasil enfermo e fraturado.
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    Sentiremos vergonha dos que riram da trágica imagem da estudante de 20 anos, seu rosto jovem sangrando, um olho arrancado por uma bala de borracha atirada por um desses cães selvagens, e o post virilizado das bestas feras, onde uma outra jovem, “das famílias de bem”, ironizava, dizendo que a “petralha poderia enxergar um dia a verdade com a vista que sobrou…”
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    Sentiremos vergonha de uma sociedade que celebrou a inominável violência a um ex-presidente respeitado em todo o mundo, tendo sua casa invadida por policiais federais armados, todos os cômodos revirados (às seis e meia da manhã!), sua mulher provavelmente apavorada com o terrorismo da cena dantesca, os IPADs de seus netos confiscados, e ele, Lula, levado de modo coercitivo para um aeroporto, onde o plano era levá-lo preso e algemado às masmorras do juiz psicótico a quem havia sido dado o poder absoluto no Brasil.
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    Sentiremos vergonha de um procurador canalha e covarde, Carlos Fernando dos Santos Lima, sedento por mais humilhações a Lula e sua família, comentando em entrevista ao Estadão, que “Moro tinha sido muito bonzinho ao não conduzir coercitivamente também a dona Marisa”, mulher de Lula. Um sadismo de perversidade, selvageria e brutalidade inomináveis! Uma mancha dentro do MPF a conduta desse e de outros procuradores medíocres, tornados celebridades pela mídia cúmplice.
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    Quantos outros exemplos caberiam aqui, de ações desumanas, arrasadoras de todos os princípios civilizatórios, jurídicos, humanos…?
    Quantas vergonhas nos assolarão para sempre, como nação capaz de alimentar esse monstro, a Lava Jato…?
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    Cabe à perfeição, portanto, a expressão usada pelo Nassif em seu texto forte, contundente, que nomeia as coisas como elas são. “Anjos da Morte!”
    Em sua psicopatia, Moro arrastou consigo procuradores, alguns cínicos e sem limites morais, outros, pelo que vemos nas conversas vazadas, levados de roldão pela enxurrada, apesar de suas dúvidas sobre aqueles procedimentos. Mas todos culpados pelas fraturas sociais que levarão décadas para serem curadas, culpados pela ascensão do governo mais tosco e fascista de que se tem notícia em todo o mundo nas últimas décadas, culpados por um Brasil esfacelado, nossas riquezas entregues, pilhadas, um estupro a céu aberto. Nosso futuro, comprometido.
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    Os “pequenos imbecis!”, como Nassif os chama em seu artigo, hão de viver muito tempo para purgar seus muitos pecados, as mortes, o desespero e a destruição que provocaram.
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    Moro, os procuradores, a mídia sórdida e um STF covarde… Junte-se isso às elites e classes médias mais ignorantes, preconceituosas e toscas do planeta, temos esse resultado: somos um país jogado em um abismo sem fim.
    “Anjos da morte” é pouco para conceituar o que essas turba fez com o nosso país.
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    Os vazamentos do The Intercept e as pequenas reações racionais que começam a brotar na sociedade nos dão essa leve sensação de esperança.
    A luta continua!

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