A triagem ideológica na Esalq, em Piracicaba

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Marcos Sorrentino ministra aulas há 30 anos na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, além de ser diretor regional da Associação dos Docentes da USP em Piracicaba.

da Revista Fórum

Triagem ideológica: Professor é submetido a sindicância por organizar atividade acadêmica com MST

Marcos Sorrentino, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) e diretor regional da Associação dos Docentes da USP (Adusp) em Piracicaba, foi convocado para uma oitiva por uma Comissão Sindicante, instalada pela direção da unidade, com o objetivo de investigar uma atividade acadêmica organizada em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A quarta edição da “Jornada Universitária em Apoio à Reforma Agrária” aconteceu entre os dias 17 e 20 de abril deste ano, organizada pelo Laboratório de Educação e Política Ambiental (OCA, ao qual pertence o professor Sorrentino), pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão em Educação e Conservação Ambiental (NACE PTECA/ESALQ) e por movimentos sociais, como o MST.

No dia 18 de abril, no gramado central do campus, foi organizada uma oficina de lona preta em conjunto com o MST, com o objetivo de mostrar como se montam as barracas de assentamentos e promover uma conversa sobre a vida de um militante acampado. Contudo, no mesmo dia uma notícia falsa foi compartilhada nas redes sociais, espalhando o boato de que o MST estaria promovendo uma invasão do campus. A notícia foi rapidamente desmentida pela direção da ESALQ e pela Prefeitura do Campus.

 
“Deixei muito claro: para mim é triagem ideológica”, defende o professor. A seu ver, isso é demonstrado pela diferença como foram tratados outros eventos recentes no campus, como o ESALQShow, uma feira de empresas de agronegócio e transgênicos, que aconteceu nos dias 10 e 11 de outubro. “A escola serve majoritariamente a essas grandes empresas que trazem recursos a laboratórios, e quando há um conjunto de professores ou estudantes que se comprometem com a agricultura familiar ou com agricultores acampados, vem esta triagem dizendo que não poderíamos usar o gramado para oficina”, explica Sorrentino.

A direção da ESALQ não se manifestou a respeito do caso.

*Com informações da Adusp

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Macartismo

    Nem isso podemos afirmar, porque nos EUA, periodo que vigorou essa bestialidade, o país vivia o seu apogeu do welfare state.

    Aqui o welfare state se concentra nos 1% mais ricos da população e eles ditam as regras.

  2. a triagem….

    Censura, patrulha, cerceamento de idéias, menosprezo à pluralidade…Berm vindos ao Tucanistão. É isto aí caros Brasileiros. Um dos maiores Centros de Pesquisa. Mas principalmente uma das maiores Universidades Brasileiras, deveria ser a Território do Livre Pensar. Reduzida à limitação mediocre da patrulha politica. O Brasil de 2017 se explica. E se lamenta. 

  3. Dizem que o Reitor de Santa

    Dizem que o Reitor de Santa Catarina tirou a vida pulando do alto de um Shopping. Mesmo que tenham sido  mãos invisíveis, ele foi empurrado do alto do Shopping. Prezado Professor Marcos Sorrentino, por cautela, enquanto durar o pesadelo por que estamos passando, não saia do rés-do-chão.

  4. Triagem em curso, há tempos

    A estratégia da Reitoria da USP é travestir a perseguição política em ato administrativo, “se lesa a imagem da Universidade” e coisas semelhantes.

    O esvazimento de atividades da Reitoria, sob o nome de descentralização, promete ser, até o final do ano e o começo do próximo, um momento de grandes combates internos, de perseguições. É o tipo de coisa que não se deixa para parte da gestão mas para o fim dela, de preferência, no final do ano.

    Mas há um medo real pela quantidade de ações que a Universidade vem sofrendo pela má gestão dos cursos, sobretudo os pagos, cuja fiscalização é uma peneira e a transparência dos dados é improvável. Em vez de ampliar a fiscalização, é melhor “delegar” e tentar de qualquer modo se eximir da falta dela durante anos a fio.

    Isto sem contar os vários funcionários assediados, “pedidos pra sair”, afastados por doenças profissionais ou agravadas no exercício profissional. A tática é se “livrar das capivaras”.

    Acho que nem a associação de docentes e o sindicato têm noção disso. Está tudo em surdina, mas com a tensão dentro da Reitoria, em seu prédio cercado de grades.

    Mas como as paredes sabem, lá dentro, tem muita gente se sentindo a elite da Universidade. A massa crítica é minoritária. E é essa mesma que será estrategicamente afetada pela descentralização.

    Só ficarão os “confiáveis”. Aqueles que deixam o caráter atrás da porta do banheiro.

  5. Atividade acadêmica para apoiar os transgênicos. . .

    Atividade acadêmica para apoiar os transgênicos, as multinacionais, os latifundiários pode, mas para simplesmente discutir a situação dos sem terra, aí já vem a patrulha ideológica da diretoria da ESALQ/USP. Quando vejo uma coisa dessas me pergunto: Será que estamos mesmo em 2.017? E isso acontece na USP, uma das mais antigas universidades brasileiras, que sempre defendeu a democracia, o livre pensar. Que tempos são esses que estamos vivendo?

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