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A vida sob o império da mentira

Bolsonaro foi eleito por uma campanha massiva de mentiras espalhadas de um lado ao outro do país através das redes sociais. O baixo nível da campanha do candidato do PSL, que parece ter sido estruturada fora do Brasil por especialistas em computação, foi mais ou menos tolerado pelo STF. Os juízes já haviam escolhido não permitir a eleição de um novo presidente do PT desde que aderiram ao golpe de estado contra Dilma Rousseff.

A mentira triunfou. O resultado disse será sua expansão ao infinito durante o governo de Bolsonaro. Coagido a conviver durante algum tempo com um regime constitucional que ele odeia e jurou destruir, o presidente terá que mentir para si mesmo e para o respeitável público durante algum tempo. À medida que começar a encontrar resistência no Judiciário, no Congresso e nas ruas, as opções do Sieg Heil Führer Bolsonaro serão desistir de ser ditador e amargar uma depressão ou expandir sua fúria assassina de maneira triunfal e escancarada.

“Nos últimos anos do regime comunista, a maioria das pessoas encarava a propaganda oficial com indiferença cética ou com total menosprezo. Podemos ter ‘vivido a mentira’, como Vacláv Havel descrevia a vida sob o regime comunista, mas sabíamos, o tempo todo, que nada era verdadeiro.” (Livres para odiar, Paul Hockenos, editora Scriptta, São Paulo, 1995, p. 173)

Nem todos sabem que fomos convocados a viver sob a mentira. Alguns inevitavelmente continuarão acreditando nas mentiras de Bolsonaro (devidamente amplificadas pelos amigos que ele comprará na imprensa) até começarem a sentir na carne as consequências do seu desgoverno neoliberal ou da paralisia a que ele foi condenado. Como disse Nassif num de seus vídeos, os militares convocados a compor o governo certamente criarão entraves para a sanha privatista do superministro da economia que comandará o Reich tupiniquim.

O general vice já desautorizou a guerra externa contra a Venezuela desejada pelo clã Bolsonaro. O golpe suave imposto ao Sieg Heil Führer Bolsonaro é evidente. Repete-se aqui o que ocorreu nos EUA, onde os generais disseram que não permitiram a Trump autorizar o uso de armas nucleares. A limitação real do poder formal atribuído ao comandante em chefe das Forças Armadas, sugere que o regime presidencial brasileiro já sofreu uma transformação substancial. Impossível dizer como o Führer Bolsoanro conseguirá se adaptar ao presidencialismo de mentira que se inicia em janeiro de 2019.

A guerra contra a Venezuela seria fundamental para que as SS Federais pudessem etiquetar todos os adversários do Reich tupiniquim como inimigos internos sujeitos ao confinamento, á tortura e ao extermínio. Na falta de um pretexto externo para impor e expandir a tirania repressiva internamente, os Einsatzgruppen cablocos bolsonarianos privatizados terão que se contentar com massacres eventuais sujeitos à repressão policial, judicial e ou militar. O conflito dentro do Estado irá se traduzir em repressão administrativa, pois o republicanismo do PT é coisa do passado.

O Estado de Direito se tornou Estado de Exceção, como notou Rubens Casara num de seus livros. Agora a Exceção tentará ser transformada no direito do Estado de agir sem qualquer freio. Os freios que ainda existem serão capazes de resistir à pressão do Sieg Heil Führer Bolsonaro, de sua SS Federal e dos Einsatzgruppen cablocos  bolsonarianos privatizados? Não vou nem mesmo tentar responder essa pergunta. Numa situação normal o futuro é sempre incerto, numa realidade anormal como a que estamos vivendo a própria incerteza irá estruturar a impossibilidade de futuro.

Sob pressão externa, o Reich de Hitler resistiu até o amargo fim porque o povo alemão acreditava que a vida dos alemães havia melhorado após o fim da República de Weimar. Sob pressão interna (em decorrência do fracasso de seu plano econômico ou, pior, em virtude do sucesso dele que irá necessariamente causar concentração de renda e mais exclusão social), o Reich tupiniquim enfrentará dois problemas. A memória de uma parcela imensa da população dos “bons tempos do governo Lula” e a diluição permanente das mentiras repetidas à exaustão pelo Sieg Heil Führer Bolsonaro durante a eleição e depois dela.

A consciência da verdade derrubou os regimes comunistas do leste europeu. O rápido esgotamento das mentiras irá provocar o colapso do Reich tupiniquim. Quanto tempo o Sieg Heil Führer Bolsonaro terá para roubar dinheiro público? Seis meses, um ano?

Pouco antes do segundo turno, um dos pastores ligados a Bolsonaro virou o voto dizendo que a eleição dele dificultaria a expansão da fé evangélica no Brasil. Pela primeira vez na minha sou obrigado a concordar com um pastor. Entretanto, a avaliação que faço do resultado previsto por esse pastor é diferente.

A aversão aos pastores evangélicos será o melhor subproduto do colapso do Reich tupiniquim. Quando a estrutura mentirosa do Reich tupiniquim ruir não será preciso nem mesmo chutar as portas das igrejas evangélicas para que as edificações venham abaixo. Elas já estarão em ruinas.

A frustração daqueles que se sentirão enganados pelo Sieg Heil Führer Bolsonaro, seus pastores e amigos na imprensa será o combustível de foguete que levará a esquerda de volta ao poder. Mas quando isso ocorrer, a esquerda terá que aprender que o republicanismo é um luxo dispensável para lidar com nazistas e fascistas, sejam eles fardados, togados ou não.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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