Fernando Nogueira da Costa
Fernando Nogueira da Costa possui graduação em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (1974), mestrado (1975-76), doutorado (1986), livre-docência (1994) pelo Instituto de Economia da UNICAMP, onde é docente, desde 1985, e atingiu o topo da carreira como Professor Titular. Foi Analista Especializado no IBGE (1978-1985), coordenador da Área de Economia na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP (1996-2002), Vice-presidente de Finanças e Mercado de Capitais da Caixa Econômica Federal e Diretor-executivo da FEBRABAN - Federação Brasileira de Bancos entre 2003 e 2007. Publicou seis livros impressos – Ensaios de Economia Monetária (1992), Economia Monetária e Financeira: Uma Abordagem Pluralista (1999), Economia em 10 Lições (2000), Brasil dos Bancos (2012), Bancos Públicos do Brasil (2017), Métodos de Análise Econômica (2018) –, mais de cem livros digitais, vários capítulos de livros e artigos em revistas especializadas. Escreve semanalmente artigos para GGN, Fórum 21, A Terra é Redonda, RED – Rede Estação Democracia. Seu blog Cidadania & Cultura, desde 22/01/10, recebeu mais de 10 milhões visitas: http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/
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Advogado do diabo em defesa da ‘desindustrialização’, por Fernando Nogueira da Costa

O capitalismo industrial, em suas linhas de montagem alienantes, não era melhor do que o capitalismo contemporâneo, ‘desindustrializado’ e ‘financeirizado’. Nesse ‘admirável mundo novo’ devemos dirigir esforços para a conquista de direitos e o exercício de deveres da cidadania

do Brasil Debate

Advogado do diabo em defesa da ‘desindustrialização’

por Fernando Nogueira da Costa

Os “fortes e não oprimidos” necessitam de defesa?! Evidentemente, dispensam-na. No entanto, a postura científica exige seguidas tentativas de falsear hipóteses para verificar se elas se sustentam. Senão, trocamos por outra. Não há fidelidade no mundo da Ciência.

Iconoclasta é nome dado ao membro do movimento de contestação à veneração de ícones religiosos que surgiu no século VIII denominado Iconoclastia. Este termo significa literalmente “quebrador de imagem”. Engloba os indivíduos que não respeitam tradições e crenças estabelecidas ou se opõem a qualquer tipo de culto ou veneração seja de imagens ou outros elementos. O termo abrange ainda aqueles que destroem monumentos, obras de arte e símbolos. Principalmente, rejeita a veneração de imagens religiosas por considerar o ato como idolatria.

Luddismo é o movimento ocorrido na Inglaterra no século XIX, liderado pelo operário Ned Ludd, contrário à introdução de máquinas na indústria têxtil, pela crença de que isso levaria ao desemprego dos artesãos e, consequentemente, ao caos social. Por extensão, refere-se à posição contrária a qualquer avanço tecnológico, por considerá-lo socialmente prejudicial.

Esta é a contenda aqui apresentada: Iconoclastia versus Luddismo! Atuarei em defesa da “desindustrialização”contra os contrários (sic) à introdução de automação robótica na indústria, pela crença de que isso levaria ao desemprego de operários. A posição contrária a qualquer avanço tecnológico, por considerá-lo socialmente prejudicial, reage contra o progresso histórico, portanto, é reacionária, isto é, contrária às ideias de um processo de transformação da sociedade.

Sociedade é um sistema complexo que emerge de interações entre múltiplos componentes. Em uma dependência de trajetória caótica, que se afasta das condições iniciais, quando a indústria oferecia os melhores empregos e agregava mais valor (e mais-valia aos bolsos dos capitalistas), temos de fazer análises em diversas escalas. Tal como em um mapa de GPS devemos dar distintos zooms, para localizar onde estamos no aqui e agora – e para onde vamos. Nossa única certeza a priori é que, nessa dinâmica, não haverá convergência futura a nenhum equilíbrio macroeconômico estático como pregam cartilhas ortodoxas.

Face a esse holismo – abordagem científica que dá prioridade ao entendimento global dos fenômenos, descartando o procedimento analítico em que seus componentes são analisados ou tomados isoladamente – quase todas as hipóteses levantadas pelos debatedores da “desindustrialização” são próprias de simplório reducionismo. Este procedimento propõe a decomposição de um fenômeno complexo a suas partes constituintes mais simples, argumentando que o exame isolado de seus termos ajudaria na resolução de questões científicas mais complexas.

Por exemplo, alguns economistas acham que o crescimento seria específico à atividade de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), mas não ao setor de atividade industrial. Nesse caso, poderia fazer sentido estimular através da política econômica atividades de P&D, mas não necessariamente a indústria ou setores industriais específicos.

Os adeptos dessa hipótese diagnosticam que, após a fase de industrialização nascente, quando cresceu a “taxas chinesas”, a indústria brasileira passou de uma situação denominada de “doença soviética”. A participação da indústria era muito superior à norma internacional, na Era Nacional-Desenvolvimentista, convergindo para a situação normal na Era Neoliberal durante as “duas décadas perdidas” (80s e 90s). Nesse sentido, o movimento de desindustrialização seria apenas uma correção de rota, dado o excesso anterior provocado pelo Modelo (Estatizante) de Substituição de Importações.

Como sábios-pregadores, eles propagam o individualismo moralista: tudo se resolveria a partir da virtude da parcimônia, isto é, elevação da poupança doméstica, e da educação tecnológica. Em um passe de mágica, daí se desdobrariam as inovações.

Outra hipótese associa a perda de participação da indústria no PIB à combinação conjuntural de preços de commodities elevados e grande entrada de capitais estrangeiros. Na resultante conjuntura de pleno emprego, a elevação da demanda por bens não comercializáveis acabou resultando em elevação da demanda por mão de obra no setor de serviços. Com o deslocamento da mão de obra para o setor de serviços, ocorreu o fenômeno da desindustrialização. Essa conjuntura já era…

A estagnação da produção industrial, para outros analistas, estaria associada a um crescimento dos salários reais acima da produtividade. A expansão da demanda agregada e, em especial, no setor de serviços, elevou a demanda por mão de obra, pressionando os salários. Eles já vinham crescendo por conta da política de aumento real do salário mínimo. O contágio da crise internacional e a política de retenção de trabalhadores, dada a situação próxima do pleno emprego, teria acentuado a queda da produtividade, elevando os custos unitários do trabalho.

Esta elevação de custos, combinados com o cenário internacional adverso, seria a explicação para a estagnação da produção industrial. Face a este diagnóstico, uma Grande Depressão com desemprego massivo resolveria o problema. É uma terapia “simples” assim.

Outros doutores (novo-desenvolvimentistas) focalizam as variáveis macroeconômicas. Receitam, em especial, uma depreciação da moeda nacional (elevação da taxa de câmbio) para promover uma indústria competitiva. Em razão da abundância de recursos naturais, somada à entrada de capitais ou à política cambial “populista”, voltadas para manter os salários reais artificialmente elevados, a existência dessa indústria que utiliza tecnologias no estado da arte mundial seria inviável. A gravidade da “doença holandesa” seria definida pela diferença entre a taxa de câmbio de equilíbrio corrente e a taxa de câmbio de equilíbrio industrial.

Não percebem os reagentes a essa terapia. Um choque cambial, provocado por variação discricionária no sistema de preços relativos, causaria conflito distributivo. Outras rendas perderiam posições relativas à dos exportadores e demandariam reposição inflacionária. O consequente choque de custos se somaria ao custo dos insumos importados.

Ao fim e ao cabo, em processo de retroalimentação inflacionária, não há nenhuma garantia de que o incentivo ao lucro dos industriais exportadores se manteria incólume. E um governo com hegemonia trabalhista consideraria inviável politicamente “dar um tiro pé”, isto é, tirar poder aquisitivo real de sua base eleitoral.

Estruturalistas salientam que, mesmo na Era Neoliberal, houve manutenção da participação dos setores industriais intensivos em escala e baseados em Ciência e Engenharia, embora tanto eles como os setores intensivos em recursos naturais tenham elevado suas participações em detrimento dos setores intensivos em trabalho. Não houve sinais inequívocos de desindustrialização.

No entanto, “comercialistas” afirmam que a economia brasileira estaria entrando em um processo de desindustrialização precoce em razão do estancamento absoluto da produtividade pelo distanciamento relativo em relação à produtividade dos Estados Unidos, o aumento do déficit comercial de setores intensivos em tecnologia e o aumento da elasticidade-renda das importações em ritmo superior ao das exportações. A partir da análise do coeficiente importado de bens comercializáveis, constata-se que ocorreu aumento significativo desse indicador, em especial, nos setores classificados como de alta e média alta intensidade tecnológica.

Internacionalistas dizem que a escala e a intensidade das transformações em curso no sistema produtivo global têm redefinido o mapa da produção, do comércio, do investimento, da tecnologia e das finanças globais, exercendo forças importantes que afetam todos os países com estruturas industriais minimamente diversificadas. Essas transformações estão inter-relacionadas.

A reorganização das estratégias globais de organização da atividade produtiva por parte das empresas transnacionais afetou as possibilidades de desenvolvimento industrial nacional. Houve continuidade da concentração no domínio de conhecimento tecnológico por parte das grandes empresas transnacionais. O ressurgimento imperial da China como grande fornecedora mundial de produtos manufaturados barateou (e popularizou) bens industriais antes considerados “de luxo”. O lançamento de políticas ativas por parte de diversos países para recuperar sua atividade industrial e fomentar a inovação em novas áreas e setores econômicos levou ao acirramento da competição internacional para ocupação da capacidade produtiva industrial ociosa e ao protecionismo de mercados internos.

O encolhimento das margens de lucro do núcleo da atividade industrial foi muito mais motivado pelo aumento do consumo intermediário de serviços tradicionais, cujos custos apresentaram maior crescimento do que os custos salariais. São associados ao comércio, transporte e serviços prestados às empresas, como os gastos com atividades administrativas, segurança, limpeza, jurídicas e contábeis e de publicidade. Nestes segmentos encontra-se parte expressiva de trabalhadores terceirizados, cujos salários são diretamente impactados pelo salário mínimo.

Então, mais relevantes do que o conflito distributivo entre lucros e salários foram as mudanças na estrutura produtiva, a partir das quais a indústria de transformação como um todo foi enfraquecida, enquanto os serviços tradicionais avançaram. A substituição de bens industriais nacionais por importados criou diversas oportunidades de negócios para empresas comercializadoras e transportadoras dos produtos estrangeiros.

A Quarta Revolução Industrial – com veículos autônomos, robôs, inteligência artificial, impressoras 3D, manufaturas aditivas ou digitais, internet industrial das coisas etc. – está já causando disruptura não só nos modelos de negócios, mas também no mercado de trabalho. Milhões de empregos em escritórios de administração, construção e extração, instalação e manutenção, negócios, jurídico e financeiro desaparecerão no mundo em decorrência de redundância, automação ou desintermediação.

Em contrapartida, milhões de vagas serão criadas, principalmente em áreas relacionadas à Computação, Matemática, Arquitetura e Engenharia. Trabalhos ligados a educação e treinamento têm perspectiva de crescimento pela necessidade de suprir um déficit de profissionais capacitados nessas tecnologias e de outros mais multidisciplinares e flexíveis para adequação a outras atividades da economia criativa.

Para a corrente filosófica conhecida como relativismo a verdade é relativa, ou seja, não existe uma verdade absoluta que se aplique no plano geral. Assim, a verdade pode se aplicar para alguns analistas e para outros não, pois depende da perspectiva e contexto de cada um. A verdade absoluta é aquela que seria aceita por todos em todo o tempo e em todos os lugares, ou seja, o oposto de um novo processo fenomenal dinâmico como a denominada “desindustrialização”.

Todos aqueles argutos argumentos hipotéticos correspondem a parte de um total, ou seja, a componentes que interagem na emergência de um todo. Um juízo parcial analisa parte de uma situação, ignorando o ponto de vista geral desta.

Em vez da velha tática de “combater o inimigo do povo”, encarnado seja na chamada “financeirização“, seja na dita “desindustrialização”, sob o risco de nos tornarmos cada vez mais anacrônicos, senão reacionários ao reagir contra o avanço da história, devemos examinar as distintas possibilidades do novo como um todo. O capitalismo industrial, em suas linhas de montagem alienantes, não era melhor do que o capitalismo contemporâneo, denominado apressadamente de “capitalismo desindustrializado e financeirizado“.

Face ao admirável mundo novo, devemos dirigir nossos esforços para a conquista de direitos e o exercício de deveres da cidadania. Assim, conseguiremos a mudança social de modo de vida (e não apenas de modo de produção), por exemplo, diminuindo a jornada de trabalho semanal para 4 dias de 9 horas de trabalho alienante, com a manutenção dos salários e encargos trabalhistas. Sobrarão 3 dias para o trabalho criativo. Melhoraremos a qualidade de vida e evitaremos a concentração da renda em favor apenas de acionistas. Senão, eles se apropriariam de quase toda elevação da produtividade dos poucos trabalhadores empregados na futura indústria.

 

Fernando Nogueira da Costa

Fernando Nogueira da Costa possui graduação em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (1974), mestrado (1975-76), doutorado (1986), livre-docência (1994) pelo Instituto de Economia da UNICAMP, onde é docente, desde 1985, e atingiu o topo da carreira como Professor Titular. Foi Analista Especializado no IBGE (1978-1985), coordenador da Área de Economia na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP (1996-2002), Vice-presidente de Finanças e Mercado de Capitais da Caixa Econômica Federal e Diretor-executivo da FEBRABAN - Federação Brasileira de Bancos entre 2003 e 2007. Publicou seis livros impressos – Ensaios de Economia Monetária (1992), Economia Monetária e Financeira: Uma Abordagem Pluralista (1999), Economia em 10 Lições (2000), Brasil dos Bancos (2012), Bancos Públicos do Brasil (2017), Métodos de Análise Econômica (2018) –, mais de cem livros digitais, vários capítulos de livros e artigos em revistas especializadas. Escreve semanalmente artigos para GGN, Fórum 21, A Terra é Redonda, RED – Rede Estação Democracia. Seu blog Cidadania & Cultura, desde 22/01/10, recebeu mais de 10 milhões visitas: http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/

8 Comentários

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  1. Seria interessante pegar esse

    Seria interessante pegar esse mesmo tipo de abordagem da análise, isto é, que tudo são transformações e adaptações de um sistema estabelecido para um novo, mas aplicado a década de 30… Seria muito interessante ver se as mesmas conclusões otimistas concordariam com a verdadeira realidade de então.

  2. Quanto antes se preparar e adaptar, melhor

    Em raros países se vê trocadores de ônibus. Na Inglaterra não há bilheterias de metrôs ou trens, é tudo automático, e caixas de supermercado estão sendo substituídos pelo auto atendimento. Nem por isso eles estão em uma crise de desemprego. Pelo contrário, buscam se adaptar o mais rapidamente possível às novas condições, de maneiras ao impacto no mercado de trabalho ser menos traumatizante. Em um cenário no qual apenas a automação de veículos já ameaça empregos de taxistas, motoristas de ônibus, motoristas de caminhões, manobristas de empilhadeiras, etc., a demora em se deslocar a população para longe de trabalhos que se tornarão obsoletos apenas irá resultar em mais trauma nessa população: ou pelo viés de um desemprego em massa em vários setores ao mesmo tempo, ou pelo viés de uma economia estagnada e incapaz de competir internacionalmente, o que igualmente resulta em desemprego. Certos temas são tabus entre nossa esquerda, mas não deveriam ser, se ela realmente está comprometida com o futuro dos trabalhadores.

    1. A visão micro e impregnada de jargões obnubilou a sua percepção

       

      Felipe Lopes (sexta-feira, 14/07/2017 às 14:23),

      Você como engenheiro acaba focando na microeconomia e perde o sentido de conjunto. Como engenheiro no comando de uma empresa em escala de produção, você certamente iria demitir as pessoas menos eficientes, para aumentar a eficiência sem se preocupar com a injustiça que se estaria fazendo com os menos eficientes.

      É claro que você vai sempre alegar que você está contribuindo com o aumento de eficiência do país e que mais à frente o país vai crescer mais e aqueles menos eficientes que você demitiu poderão arrumar empregos. É verdade, desde que eles não tenham morrido antes.

      De todo modo, como engenheiro preocupado com a produção de sua empresa visando a maximização do lucro, você está certo em demitir os mais ineficientes, mas não pode querer que a sua visão de engenheiro seja a visão adequada para aqueles que estão no comando de todo o país ou de um estado ou mesmo de uma cidade.

      E outra, a sua visão da realidade micro leva-o a adotar jargões de quem embora falando para grandes massas expressa apenas a visão que atenda os seus próprios interesses. Uma pessoa que tira férias no estrangeiro ou compra produtos importados não tem interesse em defender uma desvalorização cambial e sempre vai propor medidas como a que você propõe para tornar o país mais eficiente e, portanto, mais competitivo.

      Não quero com isso dizer que mesmo no aspecto macro você esteja errado. O que alego é que o que você propõe e que é válido no micro sem considerar aspectos de justiça precisa de um contexto mais favorável para ser aplicado no macro. Nesse sentido, dê uma olhada no quadro que aparece no blog de Alexandre Schwartsman no post “Mais que mil, vale um milhão de palavras” de segunda-feira, 09/04/2012, e que pode ser visto no seguinte endereço:

      http://maovisivel.blogspot.com.br/2012/04/mais-que-mil-vale-um-milhao-de-palavras.html

      O quadro mostra o percentual da população em duas determinadas faixa de idade separadas de 30 anos que possuem curso superior. Se você comparar a realidade da Inglaterra (No Reino Unido o percentual de pessoas na faixa de 25 a 34 anos com curso superior é de quase 45% e de pessoas na faixa de 55 a 64 anos com curso superior é de quase 30%) com a nossa (No Brasil esses percentuais são de um pouco menos de 10% e de um pouco mais de 10%), e tiver o mínimo senso de justiça, ou seja, se você se despir um pouco da sua armadura de engenheiro, verá que não faz sentido se aplicar no Brasil agora, o mesmo modelo que já podia ser aplicado na Inglaterra há 30 anos.

      Foi sua visão micro de engenheiro, que o fez apropriar de jargões constantemente ditos na mídia, sem que você e a mídia tivessem o mínimo senso crítico. E exatamente por isso você não percebeu a mensagem explícita no texto de Fernando Nogueira da Costa de que em vez de propor medidas que aumentem a jornada de trabalho ou que aumentem a possibilidade de apropriação da mais valia por parte do empregador já seria tempo de propor medidas que diminuem a jornada de trabalho. E que essa é uma medida de interesses dos dois lados: empregados, porque terão mais horas de lazer para poderem exercer em grau maior de plenitude a sua cidadania, e empregadores, porque com mais assalariados terão mais demandas para os seus produtos.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 15/07/2017

      1. Clever…

        Clever, é um pouco cansativo seu argumento sempre principiar me chamando de engenheiro, sendo que não trabalho com engenharia, além de ser um ad hominem que não deveria interferir no contra-argumento a ser apresentado. Você considera meu ponto de vista como sendo o de um gerente de empresa, sendo que não tenho nem interesse, nem aptidão para isso. E partindo dessa consideração, você diz que meu foco é na microeconomia, mas nada mais falso, já que uma argumentação sobre desemprego estrutural nunca pode ser microeconômica. Isso fica claro quando você considera o ganho de eficiência em uma empresa, isoladamente, e a injustiça daí decorrente. Ora, todas as revoluções tecnológicas até hoje geraram mais empregos do que eliminaram. Essa é uma observação macroeconômica. A grande dúvida é se isso também acontecerá agora. Naturalmente, esse tipo de mudança é doloroso, os empregos eliminados e os criados não aparecem no mesmo ritmo e o processo de migração dos trabalhadores de determinados postos de trabalho para outros não é fácil nem imediata. Mais uma vez isso confirma que devemos nos preparar com antecedência para a mudança, para que a migração dos trabalhadores se dê de maneira mais suave e menos traumática. É claro que você pode criar uma legislação para preservar todos os postos de trabalho obsoletos, mas isso apenas irá represar um problema que dentro de pouco tempo estará batendo à porta novamente. Se você prestar bastante atenção, as modificações tecnológicas se dão em todos os setores da economia, e barrá-las implica em destruir a dinâmica econômica do país como um todo. Ou iremos importar muito mais barato o que nossa obsolescência tecnológica não permite produzir a preços decentes, ou então fecharemos o país para o resto do mundo, reduzindo nossa diversidade econômica (e com isso também o mercado de trabalho) e reduzindo o poder de compra do trabalhador. Represar a mudança tecnológica implica em no futuro termos um déficit ainda maior de trabalhadores na nova economia, sem capacitação para ela, sem emprego nela, enquanto uma elite de privilegiados ocupará esses postos a peso de ouro. Mais desigualdade em vista nesse tipo de abordagem anti-tecnológica. É muito parecido com o que nossa esquerda fez no que diz respeito à legislação trabalhista: ela nunca quis sequer discutir o assunto e com essa omissão deixou para a direita legislar ao chegar ao poder. Por se recusar a discutir a questão tecnológica junto ao mercado de trabalho, nossa esquerda mais uma vez prefere ser atropelada pelos fatos, com o trabalhador pagando um preço altíssimo por isso. Você menciona justiça e injustiça, e me parece extremamente injusto com nossos trabalhadores não ter qualquer pensamento de longo-prazo para o mercado de trabalho. Deveríamos começar a pensar como migrar esses trabalhadores o quanto antes possível, qualificando-os para isso, criando planos de carreira com esse objetivo. Mas a esquerda não quer nem mesmo discutir o assunto, e como nossa direita é o que é, pode saber que vem muito sofrimento pela frente. P.S.: 1) O gráfico do link que você enviou apenas mostra a urgência de passarmos a pensar no futuro dos nossos trabalhadores, ao invés de continuar empurrando o problema com a barriga. O gráfico mostra como já estamos defasados na situação atual, imagine então quando as novas tecnologias começarem a varrer setores inteiros da economia. 2) Não sou contra a redução da jornada, mas não vai haver jornada para reduzir se nossos trabalhadores não tiverem empregos na nova ordem econômica que está surgindo.

  3. Concordo em linhas gerais, mas sua a proposta não é factível já

     

    Fernando Nogueira da Costa,

    Tenho dois pontos para prosa. O primeiro diz respeito a este artigo e o segundo diz respeito a artigo mais antigo seu intitulado “Dependência de trajetória caótica”. Em relação ao seu artigo mais antigo ressalto agora que você utiliza essa expressão “Dependência de trajetória caótica” no quinto parágrafo deste seu texto que deu origem a este post “Advogado do diabo em defesa da ‘desindustrialização’, por Fernando Nogueira da Costa” de sexta-feira, 14/07/2017 às 07:00, aqui no blog de Luis Nassif.

    Utilizarei outro comentário para abordar o seu artigo “Dependência de trajetória caótica” de quarta-feira, 12/04/2017, publicado no Brasil Debate e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://brasildebate.com.br/dependencia-de-trajetoria-caotica-2/

    Há outro artigo com esse mesmo título “Dependência de trajetória caótica” de quarta-feira, 29/02/2016 às 07:46 e, portanto, ainda mais antigo, em que você foca mais a trajetória caótica no mundo. No final do seu artigo, entretanto, você parte para analisar a situação do Brasil e procura situar a nossa reforma da previdência. Esse seu artigo mais antigo pode ser visto também no site do Brasil Debate no seguinte endereço:

    http://brasildebate.com.br/dependencia-de-trajetoria-caotica/

    No blog de Luis Nassif houve também o destaque para o seu artigo antigo, mas mais recente, o segundo com o título “Dependência de trajetória caótica”, e que foi transcrito no post “Dependência de trajetória caótica, por Fernando Nogueira da Costa” de quarta-feira, 12/04/2017 às 12:37, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/dependencia-de-trajetoria-caotica-por-fernando-nogueira-da-costa-0

    Volto então a este seu artigo transcrito aqui neste post “Advogado do diabo em defesa da ‘desindustrialização’, por Fernando Nogueira da Costa” de sábado, 15/07/2017 às 12:48, aqui no blog de Luis Nassif. Primeiro chamo atenção para artigo que embora tenha outra abordagem, no fundo chega a conclusão semelhante a que você chega aqui. Trata-se do artigo de Laura Carvalho, “Falências da Composição” publicado na Folha de S Paulo de quinta-feira, 13/07/2017, e que aparece no site da Folha de S. Paulo tendo como título “Na economia, o todo é diferente da soma das partes” e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/laura-carvalho/2017/07/1900627-na-economia-o-todo-e-diferente-da-soma-das-partes.shtml

    No final do artigo ela diz que “a reforma trabalhista aprovada na terça-feira, (11[/07/2017]) pelo Senado deve, no futuro, decepcionar até mesmo os empresários que a apoiaram” e acrescenta: “[n]a verdade, iludem-se os que hoje acham que só os trabalhadores pagarão o pato.”

    Talvez eu não devesse falar na semelhança deste seu artigo com o da Laura Carvalho, a se tomar até pelo fato de ela certamente se incluir na categoria dos desenvolvimentistas que você critica no seu artigo.

    Além disso, tenho que reconhecer que eu não entendi o seu artigo na sua inteireza de imediato. No entanto, relendo-o com cuidado, não só o compreendi bem como compartilho bastante com a ideia de ver o avanço tecnológico na produção como um benefício a ser usufruído por toda a humanidade exatamente pela redução da jornada de trabalho.

    Não sou economista e, não tenho o gabarito para criticar este seu artigo. De todo modo, ainda que tenha gostado muito dele não deixo também de ter pontos de vista diferentes. Assim não considerei suficiente a sua crítica a proposta de depreciação da moeda nacional. Segundo você:

    “Um choque cambial, provocado por variação discricionária no sistema de preços relativos, causaria conflito distributivo. Outras rendas perderiam posições relativas à dos exportadores e demandariam reposição inflacionária. O consequente choque de custos se somaria ao custo dos insumos importados.”

    Avaliei como insuficiente a sua crítica à proposta de desvalorização cambial porque ela não faz a inclusão, entre os beneficiados pela desvalorização, daqueles setores que substituirão as importações e nem menciona o repasse para outros setores da economia de parte dos lucros que o setor exportador começar a auferir em demasia. Repasse que se fará de um lado pelo aumento dos salários e de outro pela ganância do setor exportador que, ao auferir mais lucros, cobiça em os aumentar e para isso precisa realizar mais investimentos que vão requerer a contratação de empresas de engenharia e de indústria fornecedora de bens de capital, espalhando para os demais setores os ganhos localizados.

    E o segundo ponto em discordância diz respeito ao momento adequado de adotar uma política como essa que você está propondo. Lembro que recentemente discuti com um colega da direita sobre a reforma da previdência em que eu dizia que considerava correto que houvesse alguma alteração na previdência. Por exemplo, acrescentar um ano tanto no tempo de contribuição como na idade a cada quatro anos até inteirar 5 anos de acréscimos.

    Faço a ressalva que só acho cabível a idade mínima se aplicada apenas ao servidor público. Não se pode querer comparar a possibilidade de aposentadoria de um peão da construção civil com a possibilidade de aposentadoria de um funcionário público.

    Só que o aumento proposto tanto no tempo de contribuição como na idade mínima após transcorridos os 20 anos (ou 16 se se considera que o primeiro ano seria acrescido de imediato) poderia gerar exatamente daqui a 20 anos em um novo conflito.

    Daqui a 20 anos será preciso analisar se as condições de mercado não tinham alterado a tal ponto que se recomendasse exatamente o contrário, ou seja, reduzir a idade de aposentadoria para que houvesse condições de dar emprego a todos aqueles que estavam na idade de trabalhar, idade esta evidentemente reduzida no seu teto de cima e talvez aumentada no seu teto de baixo.

    Enfim penso que você está adiantando a solução do problema que ainda não apareceu. A atual crise de desemprego precisa ser mais bem analisada. É mínima a influência dos avanços tecnológicos na redução da oferta de emprego pelo nosso parque industrial.

    Há certamente influência no que nos acontece da presença mais ativa no mercado de trabalho de 3 bilhões de chineses e indianos. Ainda assim, avalio que muito do problema do alto desemprego se deve alguma especificidade que nos ocorreu de modo bem diferenciado e há ainda o problema cambial. E para culminar como se fosse uma especificidade geral, o Brasil não teve condições de adotar uma política correta para enfrentar a particularidade da recuperação americana que, pelo aumento do juro, sempre repercute do mesmo jeito no mundo.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 15/07/2017

    1. Aproveito o espaço do seu post para trazer comentário já pronto

       

      Fernando Nogueira da Costa,

      Fiz referência no comentário acima ao artigo de Laura Carvalho “Na economia, o todo é diferente da soma das partes” publicado na Folha de S Paulo de quinta-feira, 13/07/2017. Considerei as ideias dela semelhantes as suas aqui neste seu artigo “Advogado do diabo em defesa da ‘desindustrialização’”. Fiz a ressalva de que no seu artigo você critica os desenvolvimentistas e ela o é. Uma crítica é verdade mais dentro da proposta heurística de que você estava imbuído ao elaborar seu artigo.

      Dei destaque ao artigo de Laura Carvalho e volto a dar o destaque agora porque na quarta-feira, ou seja, no dia anterior, eu havia enviado pelo WhatsApp um longo comentário para um colega da direita defendendo idéias em muito semelhantes a que a Laura Carvalho publicara no dia seguinte. Embora possa parecer um pouco deslocado, vou trazer aqui o meu comentário no WhatsApp.

      Nele eu tentava demonstrar que era sem conteúdo consistente um post de Reinaldo Azevedo intitulado “Por que a imprensa se nega a noticiar que o “sim” à reforma trabalhista foi vitória de Temer?” que o colega indicara e que pode ser visto no seguinte endereço:

      http://www3.redetv.uol.com.br/blog/reinaldo/post/por-que-a-imprensa-se-nega-a-noticiar-que-a-aprovacao-da-reforma-trabalhista-foi-vitoria-de-temer/

      Era muito primário o post do Reinaldo Azevedo, mas considerei que não seria perda de tempo apresentar a minha interpretação sobre a reforma trabalhista. E então expus o seguinte para o meu colega:

      – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

      “Talvez a imprensa saiba mais do que a gente.

      Ou talvez seja por ela pressentir que se trata de vitória de Pirro. Afinal, a Reforma, se vier a ter realmente efeitos expressivos, não sendo apenas um traque, precisa ser aprovada pelo Poder Judiciário e, portanto, nada vai mudar nos próximos cinco anos. Só então, após o Judiciário dar a chancela dele à Reforma, ela passará a fazer parte do cotidiano da nossa economia.

      Além disso, sabendo como o nosso Poder Judiciário é conservador, a imprensa fica ressabiada em se manifestar efusivamente, pois com que cara ela ficará se o Poder Judiciário declarar a Reforma inconstitucional.

      E não é só isso, a imprensa tem bons assessores e que devem ter repassado para ela informações sobre o que ocorreu nos países que adotaram mudanças na legislação trabalhista.

      Muitas vezes quando se dá benefícios para um lado (para o empregador) o outro lado (o empregado) exige em troca mais dinheiro e quando se tira direitos de um lado (o empregador) o outro lado (empregado) aceita menos dinheiro. Não é algo que ocorra de imediato, mas é um processo lento que ao longo do caminho se agiliza ou se retrai dependendo da relação de forças com os quais os diversos grupos se apresentam.

      Veja, por exemplo, a previsão do jornal O Globo, em 1963, sobre o advento do 13°, no link indicado a seguir:

      https://youtu.be/U9gVQuxqgLU

      Segundo o jornal, o país iria quebrar. O que aconteceu foi que as empresas, para pagarem o 13°, começaram a reduzir o salário dos seus empregados. Em poucos anos tudo já estava dentro da normalidade.

      Quem conhece a capacidade adaptativa do sistema capitalista, que é um sistema de um dinamismo impressionante, não perde tempo em análise dessas mudanças, pois sabe que o que importa é a correlação de força na luta entre empregados e empregadores. Quando a força de um é maior do que a do outro o lado de maior força sai ganhando independentemente da lei que esteja vigendo.

      É claro que há situações que tornam um lado na disputa sempre mais fraco. Na década de 80, o poder dos sindicatos foi bastante enfraquecido com barreiras a formação ou a capacidade de arregimentação e de luta dos sindicatos. Desde então a distribuição de renda foi ficando pior para o lado do trabalhador.

      E há ainda o terceiro lado que é o Estado que precisa ser considerado nesse processo de perda e ganhos, pois a tributo que ele recebe é muitas vezes em cima dos dois grupos. E assim se um lado passa a ganhar menos, é preciso que o Estado possa ir no lado que vai aumentar o ganho para retirar um pouco desse ganho de tal modo a compensar o que ele vai perder junto ao outro lado.

      E Estado é o único que não pode sair perdendo. Assim de imediato já se pode fazer previsões sobre repercussões na área tributária em razão das mudanças recentes nas relações do trabalho. Seja, por exemplo, a lei da terceirização ampla e com a possibilidade da prestação de serviço pela pessoa jurídica individual. Ela vai provocar uma grande perda para o Estado no pagamento das contribuições sociais. Então certamente o Estado vai pressionar para que haja aumento do tributo (O imposto de renda sobre a empresa individual ou sobre a empresa prestadora de serviço de mão de obra).

      Aliás, o Estado precisa tanto de não perder que ele muitas vezes parece favorecer um dos lados além do que se pode considerar normal. Essa ajuda do Estado relaciona-se com o fato de que o dinamismo do sistema muitas vezes precisa ser atiçado. Quem é muito importante para que o sistema esteja em constante movimento é o Estado. E o Estado faz isso principalmente através do déficit público. Ele toma de um lado e cede do outro.

      Há, entretanto, outros mecanismos que também dão mais dinamismo ao sistema. A inflação começa a ser vista como um desses mecanismos. Por isso que nos Estados Unidos já se reconhece a necessidade de uma inflação um pouco mais alta, para evitar que o sistema fique parado. É o temor da validação da célebre frase: “immota labascunt et quae perpetuò sunt agitata manent” (O que é rígido desaba e o que está em constante movimento, permanece). Veja no link a seguir, o que o IMG Fórum da Universidade de Chicago, um centro da ortodoxia econômica americana obteve em questionário a economistas diversos nos Estados Unidos:

      http://www.igmchicago.org/surveys/inflation-target

      Na enquete, a maioria acha que o aumento da inflação de 2% para 4% é prejudicial ao consumidor, mas consideram que uma inflação mais alta é necessária. Não é conclusão da enquete, mas afirmação minha considerar que com uma inflação maior há condições de se repassar mais rapidamente para um setor os ganhos que outro setor teve, mas que no longo prazo vão ser distribuídos. O mundo não pode esperar esse longo prazo e por isso já se chega a conclusão que é necessário um pouco mais de inflação.

      Então só daqui 5 anos é que se pode tirar alguma ilação da reforma trabalhista. Dizer que o presidente antes provisório, agora definitivo, às custas do golpe, Michel Temer, ganhou com a aprovação da Reforma não me parece uma opinião muito inteligente. Primeiro porque não se trata de uma iniciativa dele e segundo porque embora patrocinada pela direita, e nesse sentido pode-se dizer que a direita ganhou, a Reforma pode não alcançar os objetivos da direita.

      Então, para a imprensa vinculada com a direita não há muita razão para tecer loas ao atual mandatário. E mesmo que a Reforma Trabalhista fosse obra do presidente antes provisório, agora definitivo, às custas do golpe, Michel Temer, e mesmo que a imprensa tivesse certeza de que a reforma vai favorecer a ela e aos grandes empresários e que ela vai ser chancelada pelo Poder Judiciário, ela ainda tem de considerar se o interesse dela agora é tirar o golpista, e, se for assim, o melhor é não fazer elogios para ele.

      Para alguém como eu que sou de esquerda o preferível é que o nosso presidente fique até 2018, pois ele mostra mais a cara da direita do que qualquer um que o substitua, a menos que seja o Aécio.

      Então para mim, o elogio ao presidente pela aprovação da Reforma é irrelevante. Por uma porque não é culpa dele a reforma ter sido ou não aprovada. A direita é maioria no Congresso e ele apenas não veio a ficar contra a Reforma. E segundo, porque como disse não se sabe exatamente qual a consequência da reforma.

      As pessoas têm que ficar mais atentas ao caminhar da humanidade. Como já dissera em comentários anteriores as evidências são que para sair da barbárie a humanidade vai caminhando em direção a maior igualdade. Os que quiserem que eles e os filhos e netos deles aproveitem de uma situação de maior desigualdade têm que ficar com a direita, mas precisam avaliar quais as medidas devem ser tomadas para se garantir o “status quo” ou mesmo para que se retroceda. Muitas vezes toma-se uma medida em direção e o efeito dela e no sentido contrário.

      – – – – – – –

      Posteriormente eu aproveitei o comentário e o encaminhei para outro grupo onde fiz o seguinte acréscimo:

      “Bem, era ainda para eu ter mencionado um texto do Thomas Piketty que tratando de uma situação específica acaba mostrando como o Estado inventa mecanismos para não ter perdas no curto ou no longo prazo. Deixo o link a seguir do post “The CICE comedy” de terça-feira, 11/07/2017, publicado no blog dele e de autoria dele e podendo ser visto no seguinte endereço:

      http://piketty.blog.lemonde.fr/2017/07/11/the-cice-comedy/

      ou

      http://piketty.blog.lemonde.fr/2017/07/11/the-cice-comedy/#xtor=RSS-32280322

      O que se depreende do artigo é que as promessas de reformas de Emmanuel Macron podem não ser implementadas. Emmanuel Macron, um reformista tudo fará para adiar qualquer reforma que afete os cofres do Estado.”

      E por fim deixo a seguir o link do post “Editorial. “Fora Marcela, mas deixem o Temer”, por Rui Daher” de sexta-feira, 26/05/2017 às 10:32, aqui no blog de Luis Nassif e com o texto sempre bem-humorado de Rui Daher e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/blog/rui-daher/editorial-%E2%80%9Cfora-marcela-mas-deixem-o-temer%E2%80%9D-por-rui-daher

      Faço referência a este post pela passagem a seguir transcrita de comentário meu enviado sexta-feira, 26/05/2017 às 23:33, para Rui Daher, em que eu procurava mostrar que a maioria das medidas que estavam sendo tomadas pelo governo do presidente antes provisório agora definitivo às custas do golpe, Michel Temer, não teriam o alcance que se temia. Nos quatro últimos parágrafos do meu longo comentário, eu disse o seguinte:

      “A lei da terceirização provavelmente não vai ser aceita pela Justiça do Trabalho e se aceita vai representar uma queda tão grande na arrecadação que o próprio governo vai ter que alterar alguma coisa e vai sobrar para as empresas pagarem o que estiver sendo retirado dos cofres do governo.

      A reforma trabalhista também vai levar muito tempo para ser aceita. A aposentadoria para funcionário público com 65 anos ficaria de bom tamanho, se não agora dentro de uns dez a vinte anos. O mesmo se pode dizer em relação ao tempo de serviço para aposentadoria que deveria passar dos 35 para 40 também nos próximos 10 a 20 anos.

      É claro se lá na frente se verificar que os robôs estão substituindo o trabalho humano, o mundo todo vai alterar seja nos prazos para a aposentadoria seja nas horas de trabalho. E o Brasil poderá recuar. [Recuar no sentido de voltar atrás nas medidas tomadas, mas na verdade trata-se de um recuo que significa avanço e não retrocesso]

      E a grande vantagem do presidente provisório agora definitivo às custas do golpe, Michel Temer, é permitir que se fique sabendo que o país pode funcionar mesmo que se possa acusar o presidente de tudo.”

      Trouxe esses complementos ao seu post para enfatizar que muitas das medidas que a direita ao perceber a sua força numérica no parlamento busca aprovar são medidas tomadas no afogadilho que não vão trazer no longo prazo os benefícios pretendidos e supostos.

      Um modo de ver o efeito dessas medidas que a direita está implementando é tanto as avaliando como fizera Laura Carvalho no post “Na economia, o todo é diferente da soma das partes”, como também propondo esse olhar para o futuro para visualizar o quão essas medidas se ajustam ao futuro.

      Enfim, você fez a análise correta sobre as consequências que o avanço tecnológico vai trazer para o mundo do trabalho e do emprego. Não creio, entretanto, que as consequências sejam imediatas de modo a requerer que já se adotem medidas visando aumentar a disponibilidade de horas ou dias de lazer para os trabalhadores.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 15/07/2017

      1. BENEFÍCIOS

        Você diz:

        “.Trouxe esse complementos ao seu post para enfatizar que muitas das medidas que a direita,  ao perceber a sua força numérica no parlamento busca aprovar ,são medidas tomadas no afogadilho,  que não vão trazer no longo prazo os benefícios pretendidos e supostos”

        Pergunta-se:

        Não vão trazer a longo prazo os benefícios pretendidos e supostos para quem, cara-pálida?

        A curto prazo ou a longo prazo, só não verão benefícios os trabalhadores.

         

        1. Fui prolixo e confuso e aí não consegui ser esclarecedor

           

          Amoraiza (domingo, 16/07/2017 às 16:17),

          Quem é prolixo e o é, não por intenção, mas por defeito de escrita, não só perde concisão como não é exato no que afirma. E muitas vezes o erro acompanha aquilo que, buscando resumir, foi dito de modo menos prolixo. Se pudesse corrigir o texto diria o seguinte destacando pelo sublinhado o que eu acrescentaria ao texto:

          “Trouxe esse complementos ao seu post para enfatizar que muitas das medidas que a direita, ao perceber a sua força numérica no parlamento, busca aprovar, são medidas tomadas no afogadilho, em que não se calcula com cuidado os seus efeitos e, então, muitos dos benefícios e vantagens que a direita pretendia auferir ficam perdidos no caminho e assim o que ela leva para a legislação esperando tirar o máximo de proveito próprio acaba constituindo em medidas que prejudicam a ela mesma e que não vão trazer no longo prazo os benefícios pretendidos e suposto pela direita.”

          Eu ainda fiquei de colocar junto a este post com artigo de Fernando Nogueira da Costa um comentário que eu já havia tentado enviar para ele junto a outro post com transcrição de outro artigo dele. Talvez quando eu trouxer o comentário aqui a minha intenção fique mais bem esclarecida.

          De todo modo, mesmo sem ser economista, a minha intenção era só enfatizar a dificuldade que se tem na Ciências Econômicas por não se ter ainda uma verdade absoluta nesse campo. E ai não é só a direita que erra contra ela própria. Muitas vezes uma medida que a esquerda, quando alcança o poder, toma, pensando em proporcionar uma melhor igualdade e que é o desiderato da esquerda, não gera os resultados pretendidos.

          Clever Mendes de Oliveira

          BH, 16/07/2017

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