Aliança pelo Brasil: neoliberais, o retorno!, por J. Carlos de Assis

Aliança pelo Brasil: neoliberais, o retorno!, por J. Carlos de Assis

No justo momento em que me preparo para assessorar o senador Roberto Requião no lançamento da Aliança pelo Brasil – uma cruzada nacional, dentro e fora do Parlamento, contra o impeachment e a favor da mudança da política econômica -, me deparo com um artigo de Marcos Lisboa, em co-autoria com Carlos Eduardo Gonçalves, que tenta ridicularizar, em tese, o que será nossa proposta central para a retomada da economia, a saber, a expansão fiscal e monetária, a exemplo do que fizeram   países com bancos centrais “dependentes” da política, a exemplo de Estados Unidos, Inglaterra e Japão.

Lisboa sustenta que políticas fiscais expansivas não funcionam em países com dívidas elevadas, pouca ociosidade no sistema produtivo (segundo ele, sinalizada pela alta inflação) e juros altos. Não vou falar em juros porque temos taxas tão indecentes, fomentadas pelos neoliberais, que não consigo entender o que seria uma política monetária expansiva na presença delas. As duas outras restrições, porém, são puro fetiche ideológico. A ociosidade na economia brasileira está refletida na contração do PIB e não na inflação. A inflação é indicador do elevado grau de indexação formal e informal dos preços, sobretudo das tarifas públicas.

Ele gosta de evidências. Tome lá: com elevada dívida pública, alguma inflação e juros altos, o Governo Lula recorreu a uma vigorosa política de expansão fiscal em 2009 e 2010. Além de aumento de gastos públicos sociais, o Tesouro injetou R$ 100 bilhões no BNDES no primeiro ano e mais R$ 80 bilhões no segundo a fim de que ele irrigasse os investimentos de uma economia que havia sido abalada pela crise iniciada em 2008. Disso resultou um crescimento do PIB, em 2010, de 7,5%, o que nos colocou numa posição absolutamente invejável no mundo. A partir do fim de 2010, por conselho neoliberal, a política foi revertida.

Diga-se de passagem que não foi revertida apenas aqui. Em 2009, por estímulo do G-20, todos os países-membros haviam recorrido a políticas expansivas, que continuaram ao longo do ano e até o segundo semestre de 2010. Nesse ano, por pressão da Alemanha, e com cumplicidade do FMI e da OCDE, inventaram uma tal de “exit strategy” (literalmente, estratégia de saída­) pelas qual os países ainda em crise deveriam abandonar as políticas de estímulo e adotar políticas de contração, sob batuta do BCE e, nos casos dos países mais frágeis, da troika – Comissão Europeia, FMI e BCE. O resultado é uma crise que se arrasta ainda hoje.

Gostaria que o Sr. Lisboa e o Sr. Carlos Eduardo Gonçalves mostrassem as evidências de resultados positivos das políticas de contração fiscal na Europa do euro. No nosso caso, exceto em 2009 e 2010, não reconheço verdadeiras políticas de expansão: Mantega não fez macroeconomia, fez microeconomia. Nunca apoiei aquela estupidez de subsidiar a indústria automobilística e a linha branca, supostamente para preservar empregos, quando sabíamos que estávamos subsidiando lucros remetidos para o exterior por multinacionais. Ademais, não se faz política fiscal micro: se tiver de funcionar, e pode funcionar, é no nível macro.

O retardamento do realinhamento dos preços da energia elétrica e dos combustíveis só faria sentido se implicasse apropriação de redução de custos, algo que teria de alterar toda a política tarifária brasileira, feita no Governo Fernando Henrique para beneficiar o setor privado. Enfim, ao contrário do que pensa Lisboa e seu parceiro, entre os economistas que se reconhecem como desenvolvimentistas e progressistas, a maioria não apoiou a política econômica nominalmente do PT. Na teoria, estamos mais próximos daqueles economistas heterodoxos citados em seu artigo numa espécie de renegação do neoliberalismo.

Mas é preciso dizer que estou escrevendo tudo isso em face da campanha que pretendemos fazer sob a Aliança pelo Brasil. Com o choque da crise de 2008, os neoliberais ficaram na muda durante muito tempo, espantados porque não tinham nada o que dizer. Mais recentemente alguns deles começaram a cantar, saindo do armário. Isso se deveu ao evidente fracasso do Governo Dilma na parte econômica. Num truque de mágica, atribuíram os equívocos de política aos economistas desenvolvimentistas, embora estes últimos nunca tenham comandado a política. Com isso pretendem evitar uma mudança da política, algo que acabará por ser decidido não na teoria mas na disputa do poder real.

A propósito de outras aleivosias de Marcos Lisboa, inclusive seus ataques camuflados ao professor Belluzzo, não há nada que se aproveite ou que valha a pena replicarr. Seus argumentos econômicos e literários de fato não são surpresa. Na sua brilhante carreira profissional ele foi diretor-executivo do Itaú de 2006 a 2009, e vice-presidente até 2013. Portanto, dele se pode dizer o que Galbraith, o maior de todos os heterodoxos, disse a propósito de declarações do “mercado”: não se pode levar a sério opinião econômica de quem tem interesse próprio em jogo!

J. Carlos de Assis – Jornalista, economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed. Textonovo, SP.

 

Redação

17 Comentários

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  1. Me ajudou!

    O PT perdeu para os rentistas!

    O país com juros selic próximo de 8% e com viés de baixa, contudo o Meirelles criou o factóide de que selic baixa impactava a poupança e renda fixa, a partir daí e alavancado pela marolinha do Lula os juros Selic foram se “recuperando” e chegando hoje próximo de 15%.

    Lembrando que na crise de 2008 o dólar foi desvalorizado e o BC perdeu a oportunidade de reduzir drasticamente a dívida pública, porque não precisa ser doutor em economia para saber que tudo que sobe desce e o dólar não fica muito tempo desvalorizado. Nesta época o Brasil foi forte imã de dólares.

    Até quando o Brasil vai continuar financiando os rentistas mundo afora?

    Em outro post já me falaram que os integrantes do BC conspiram contra a nação, até quando isto vai continuar. Porque o PT está no governo há 12 anos e deixa os rentistas deitar e rolar.

    1. Petrobras vende 49% da Gaspetro à japonesa Mitsui por R$ 1,93 bi

      Venda ou doação, como se justifica isto vindo de um governo que se diz (ou seus idólatras dizem) “trabalhista”?

      A Petrobras concluiu a venda de 49% da subsidiária Gaspetro à japonesa Mitsui, tendo recebido R$ 1,93 bilhão em pagamento pelo negócio nesta segunda-feira (28), segundo comunicado.

      A Petrobras disse que foram cumpridas “todas condições precedentes” previstas em contrato para a transação e adicionou que a operação permitiu o atingimento da meta de 700 milhões de dólares em desinvestimentos estabelecida para 2015. 

  2. Nunca existiu neoliberalismo no Brasil

    O neoliberalismo é um conceito que pertence à Inglaterra de Thatcher e aos EUA de Reagan, e o termo já está em desuso. Só é repetido por aqui, onde é sinônimo de tudo o que há de ruim no mundo.

    Uma renitente teoria conspiratória vê os neoliberais como inimigos do interesse público, mas eles sequer existem por aqui – os ditos neoliberais brasileiros nada mais fizeram do que os cortes indispensáveis quando não há com o que pagar, tanto que até o PT também vira neoliberal quando fica sem dinheiro. Mas quando há dinheiro, raspam até o fundo do cofre e mandam a conta para o governo seguinte, como aconteceu em 2010 – Lula fez o bonitão e a Dilma “neoliberal” pagou a conta com o baixo crescimento nos anos seguintes. Em 2014 ela fez a mesma coisa, e ironicamente, quem está pagando a conta é ela mesma…

    1. Quanta besteira, mas a tela aceita tudo

      Como o uso dos cartões de crédito encarecem todos os pagamentos feitos por ele em pelo menos 5%, só a retomada pelo Brasil do seu monopólio já traria aos cofres do governo uma considerável soma, sem falar no efeito desinflacionário caso o governo diminua o seu custo, o que devolveria poder de compra a população e teria um efeito instântaneo positivo em toda a economia brasileira.

      Discutir o nome que se dá a esta exploração e falar que não deve ser combatida por que a chamamos por nome errado indica sua desonestidade intelectual com o debate.

  3. Crescer, ou crescer.

    Gosto muito das reflexões de Assis. Torço para que a Aliança pelo Brasil seja bem sucedida, especialmente ajudando a consertar a política econômica. Quanto a este artigo específico, nada a acrescentar, é por aí mesmo. Chega de covardia e submissão a banqueiro.

  4. Não creio que o programa Aliança pelo Brasil vá funcionar

    A política dos rentistas que nos extorquem os Juros Pornográficos é como a Hidra de Sete Cabeças. Você pode até cortar uma, mas nascerão duas no seu lugar.

    Não é por acaso que o animal que representa estes nefandos seres do Terror Financeiro é o Polvo,  o Rei do Disfarce e da Camuflagem, se escondendo a plena vista e atacando de surpresa de sua tocaia. 

    Para se capturar polvos são necessários armadilhas, ai eles se tornam ricas e finas iguarias.

    O projeto da Aliança pelo Brasil objetiva acabar com a exploração covarde, desumana e ruinosa dos brasileiros pelo sistema financeiro que controla o Real, o dinheiro que usamos.

    Como são profissionais na manutenção do privilégio que se assenhoraram, sem voto nem consentimento do povo, diga-se de pasagem, já deflagaram uma barragem preventiva contra e que se concretizou na macissa campanha de seus micos amestrados nos meios de comunicação para o uso do Cartão de Crédito em TODOS os pagamentos.

    O interessante é que quando se quer pegar uma caça se agita a moita para ela espantar e se tornar visível.

    O Cartão de Crédito é o ponto fraco deles.

    O Brasil têm de retomar o Monopólio do Cartão para os brasileiros.

    O golpe é mortal.

    Com isto o Brasil destrava a eficiência de políticas macro e micro econômicas e o Executivo recupera o leme na condução das políticas desenvolvimentistas benéficas aos brasileiros e brasileiras e ruinosa para a banca que nos explora e terá de responder pelos prejuízos causados ao nosso querido e estimado Brasil.

    Como o que escrevo aqui não se lê em nenhum lugar, não esperem ver uma resposta ou uma contestação, o que prova que não têm como rechaçar o aqui exposto e a única defesa é evitar o debate arrazador que os exporiam à luz saneadora da opinião pública.

    Como os polvos, agem de soslaio e covardemente.

  5. O Assis parece saber o que

    O Assis parece saber o que fala ( no campo economico rs )  mas como comprovadamente ele é parcial em todo e qualquer assunto que envolva o governo, não dá para ter certeza se tudo isso ai é fato ou fé… 

    1. Somente ele é parcial?


      Nestes anos de blog, não lembro de nenhum comentário teu imparcial. Todos somos imparciais, Leônidas, quando defendemos nosso pensamento.

  6. é isso, assis.
    espero que

    é isso, assis.

    espero que essa luta nos leve a um resultado

    gratificante para o governo popular…

    a luta é essencialmente política mesmo….

  7. Neoliberalismo: o Judas da esquerda

    O Brasil nunca teve política liberal, muito menos neoliberal. Desafio alguém a encontrar um governo que entregou um Estado menor do que recebeu, que reduziu impostos de maneira consistente ou diminuiu sua influência. Sim, vendemos meia dúzia de Estatais, mas o governo ainda tem o controle, seja à partir de agências lotadas com apadrinhados políticos, seja com a participação significativa dos fundos de pensão das Estatais que permanecem.

    Um presidente que fizesse metade do que Reagan e Thatcher fizeram seria linchado. Não tem jeito, como diria André Araújo, não faz parte da formação cultural brasileira: enquanto tudo o americano médio deseja é ser deixado em paz pelo governo,  o problema do brasileiro é que o governo faz errado ou não faz o suficiente, nunca que faz demais. Aluguel, o contrato mais simples que existe entre duas pessoas, não acontece senão cerceado por milhares de leis e regulamentações, que também não valem nada, já que qualquer juiz de primeira instância pode decidir que a lei não se aplica.

    Tudo isso dito, eu espero que Dilma ouça a “Aliança pelo Brasil” e implemente um plano econômico baseado em expansão fiscal, redução dos juros (pouco importa que a inflação é 10%, o que faz o juros real ser em torno de 4.5%; e que todos os países usados como exemplo de estímulo do crescimento tem uma inflação baixa), intervenção estatal e controle das importações. Espero que a dívida externa seja auditada e o Brasil declare unilateralmente que parte da dívida é ilegítima e nula. Espero que as reservas sejam usadas em investimentos internos. Enfim, espero que em 2016, todas as medidas heterodoxas sugeridas neste espaço sejam completamente implementadas. Daí veremos o que acontece.

    Se funcionar como previsto, em 2018, estaremos a caminho de nos tornarmos uma Suécia e o PT não terá dificuldades de eleger um sucessor. Embora eu seja cético e não acredite, esse cenário é o que eu gostaria de ver acontecer.

    Caso contrário, em 2018, estaremos a caminho de nos tornarmos uma Venezuela e não vai ter marketeiro ou messias que salve o PT da derrota nas urnas. Claro que é um cenário terrível, mas pelo menos então talvez possamos deixar a mentalidade do Estado Novo para trás e entendermos que o desenvolvimento se faz com trabalho, educação e empreendedorismo; não com burocracia, tribunais e cartórios.

    E possamos finalmente ocupar o lugar que nos cabe entre as nações.

    1. FUNDO SOBERANO

      … e o governo pagando SELIC de 14,25% aos bancos pelo depósito compulsório guardado nas prateleiras dos cofres.

      O Fundo Soberano foi formado quando a economia cresceu e transformado em letras do tesouro americano, a juros negativos. Para quê? Problemas fiscais e dívida interna trilhionária aqui no Brasil e nós ajudando os americanos a manterem sua gestão fiscal em dia. Essa reserva foi formada com superavit. Agora, tragam esse dinheiro de volta para cobrir o deficit. Essa é a função das reservas monetárias, um vai e vem, conforme a necessidade de equilíbrio.

  8. Que maravilha

    Transferir recursos públicos à iniciativa privada através do BNDES com juros subsidiados é o que ?

    Lula despejou 180 bi via BNDES e resultou num crescimento de 7,5% noprimeiro momento ?  Me parece óbvio que despejando dinheiro na iniciativa privada, a primeira reação é um crescimento..

    Mas cadê o retorno disso ?  Não veio. O dinheiro acabou antes dos resultados aparecerem.

    Esses caras parece que não aprendem mesmo.  Já tivemos vôos de galinha como esse que o Lula promoveu na primeira década deste século na década de 50, na década de 70 do século passado e o resultado foi sempre o mesmo :uma aterrisagem forçada da qual emergem alguns poucos espertalhões com muita riqueza e um exército de trabalhadores pagando a conta com impostos sobre o consumo e sobre a renda do trabalho.

    Pelo menos no período pré-globalização, tais investimentos ainda se reverteram em industrias que até hoje estão por aí. Mas hoje, com o mercado globalizado, nem isso sobra mais.

    Pergunto: foi bem investido mais de 1 bilhão do BNDES para a Riachuelo fechar suas fábricas e virar varejista de produtos chineses, vietnamitas e indonésios dando verdadeiros sub-empregos de dois salários mínimos para um batalhão de brasileiros ?

     

  9. Assis, excelente texto mas,

    Assis, excelente texto mas, poderia aprofundar melhor sobre as desonerações que Dilma fez de maneira errada. Nesse jogo pesado do poder eu acredito que a essa foi a primeira demonstração de fraqueza do Gov. Dilma. Logo depois veio a alta da Selic que deixou o gov nas cordas.

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