Aos que não sabem trair, por Bruno Leonardo Barth Sobral

do Brasil Debate

Aos que não sabem trair

por Bruno Leonardo Barth Sobral

Escolho narrar por aqueles que não traem e não te traíram. Esses sábios, muito mais que eu, hoje não comemoram nada. Se o mundo lhes nega acesso a quase tudo, a democracia lhes dá o mesmo poder, sua opinião vale igual. Mesmo que sob o desprezo de muitos

Dirão que só não comemoram militantes fanáticos e vestidos de vermelho. Dirão que não comemora só quem não tem moral ou vergonha na cara. Dirão que são um bando de cegos ou gente comprada. Dirão tudo isso e mais para não aceitar que haja outra forma de narrar a história que preserve a sua honra. Escolho narrar por aqueles que não traem e não te traíram.

Nós intelectuais não somos vanguardas de nada, e o melhor que fazemos é admitir como somos pequenos diante da sabedoria do povo. Ao povo que me refiro são os tratados como mulas de nossas necessidades mais básicas. Aqueles que a miséria esmaga seu rosto, deixa seus corpos cheios de marcas… Aqueles jogados no mundo sem instrução ou proteção e a vida não é feita de teses porque lutam pelo direito à vida todo dia.

Darcy Ribeiro nos lembrou que o povo brasileiro não tem sobrenome, um conjunto de zé-ninguém que nem sabe o que é se vestir de verde e amarelo e conhece muito pouco além da sua fome. Para os que se deram bem na vida ou já nasceram bem é difícil lidar com um bando de zé-ninguém que não aprendeu o valor da meritocracia. São uns “caras estranhos”, meio “feios”, “gente esquisita”… Ora merecem pena, ora despertam medo. Dificilmente se reconhece neles sua capacidade de demonstrar sabedoria maior que aquela ensinada nas melhores famílias ou instituições de ensino.

Mas um intelectual que ama o Brasil não idealiza, não quer um Brasil mais isso ou mais aquilo, quer sim um Brasil mais real que ame sua gente, ame sua sabedoria popular. Um intelectual desse tipo ama a democracia não esperando ela seja um sistema estável e feito de bom senso, ama a democracia pelo direito que o regime dá de um miserável ter o mesmo peso de escolha dos destinos do país que qualquer outro. Se o mundo lhe nega acesso a quase tudo, a democracia lhe dá o mesmo poder, sua opinião vale igual. Obriga que mesmo que sob desprezo de muitos sua sabedoria seja validada.

Sou um professor, de certa forma sou um intelectual por ofício. Mas acho o povo, e sempre acharei, sábio. Ele que aguenta injustiça todo o dia… E, por isso, hoje ele não se espanta como eu e nem fará textão como eu, pois ele está acostumado a aguentar. E quando lhe deixam, também melhor que eu, ele sabe mostrar com arrebatamentos e muita emoção o que acredita, mas só quando o deixam… Quando o deixam ele sabe dizer o que quer, e, mais que tudo, ele sabe ter respeito.

Por isso, escolho narrar por aqueles que não traem e não te traíram. Estes sábios, muito mais que eu, hoje não comemoram nada. Estes, que não precisam discutir com seus pares a falácia do conceito de populismo diante do desejo popular, são e sempre serão vistos como ignorantes e sabem lidar com isso porque precisam. Mas quem são mesmo os ignorantes? Resposta: quem é capaz de poder ignorar as reações daqueles que aguentam tudo, ainda que não aguentem mais ser ignorados em sua sabedoria e suas escolhas.

Bruno Leonardo Barth Sobral – É economista e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, tendo doutorado pelo Instituto de Economia da Unicamp. Autor do livro: “Metrópole do Rio e Projeto Nacional: uma estratégia de desenvolvimento a partir de complexos e centralidades no território” (Editora Garamond, 2013)

Crédito da foto da página inicial: Ricardo Stuckert

 

Redação

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  1. AJUDAR POBRES E IMIGRANTES

    AJUDAR POBRES E IMIGRANTES NÃO É COMUNISMO, diz Papa

    10/04/2018

    (destaque no texto meus)

    – Defender os mais frágeis, ajudar os pobres e acolher migrantes não é “comunismo”, mas sim uma maneira de conquistar a “santidade”. É o que defende o papa Francisco em sua nova exortação apostólica, a “Gaudete e exsultate”, tradução em latim de “alegrem-se e exultem”, divulgada nesta segunda-feira (9).

    O texto aborda a santidade no mundo contemporâneo e é o quarto grande documento do pontificado de Francisco, depois das exortações “Evangelii gaudium” (“Alegria do Evangelho”, de 2013) e “Amoris laetitia” (“Alegria do amor”, de 2016) e da encíclica “Laudato si” (“Louvado seja”, de 2015).

    “É nocivo e ideológico o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, comunista, imanentista, populista”, diz a nova exortação.

    Sem desencorajar os fiéis com modelos inalcançáveis, Francisco os convida a olharem para a “santidade da porta ao lado”, a do marido ou da esposa que cuida do próprio cônjuge, do trabalhador que faz bem sua função, dos avós que ajudam os netos, das autoridades que pensam no bem comum e não no próprio bolso.

    O Papa adverte logo no início do documento que não se deve esperar um “tratado sobre a santidade”, mas sim um “objetivo humilde” de “encarná-la no contexto atual, com seus riscos, desafios e oportunidades”.

    “Muitas vezes ouve-se dizer que, face ao relativismo e aos limites do mundo atual, seria um tema marginal, por exemplo, a situação dos migrantes. Que fale assim um político preocupado com os seus sucessos, talvez se possa chegar a compreender; mas não um cristão, cuja única atitude condigna é colocar-se na pele do irmão que arrisca a vida para dar um futuro aos seus filhos”, afirma.

    Segundo Jorge Bergoglio, a preocupação com os mais carentes não é a “invenção de um Papa nem um delírio passageiro”, mas sim o que diz o próprio Evangelho. “A defesa do inocente nascituro, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte”, diz a exortação.

    “Não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo que outros se limitam a olhar de fora enquanto a sua vida passa e termina miseravelmente”, salienta. (ANSA)

    Todos los Derechos Reservados. © Copyright ANSA

    http://ansabrasil.com.br/brasil/noticias/vaticano/noticias/2018/04/10/ajudar-pobres-e-migrantes-nao-e-comunismo-diz-papa_f8143d46-3160-4d1f-95cc-e087198f78dd.html

     

  2. O PT traiu Lula

    O PT traiu Lula. Lula tomou a decisão de se entregar quando percebeu que a maioria daqueles que se diziam seus mais fiés escudeiros e defensores se acorvadavam não estavam como se diz, fechados com ele. Por isso se entregou. Luiz Marinho, Paulo Teixeira, Carlos Zarattini, Suplicy(com febrinha) e outros, amarelaram na hora H, jogaram Lula aos leões quando tinham ele sob sua guarda e ali sim, poderiam ter feito uma negociação muito mais segura e vantajosa para Lula.  O povo como sempre como diz Bruno Leonardo foi sábio e percebeu o perigo e o que é mais importante se dispôs a enfrentar as consequências. Agora esses covardes ficam por ai de acampamento em acampamento pedindo Lula Livre a cata de votos para se elegerem com seus discursos hipócritas de traidores.

    1. Vc está equivocado !

      Quem traiu o Lula foram os coxinhas do STF, da Justissssa, dos que querem andar em aviões vazios, ir a shoppings similares aos de Miami e infelizmente, os divididos paulistas e sulistas – que volta e meia pensam em construir uma nação só para eles.

      Os intelectuais pensam e nos orientam, percebem onde as trilhas nos levarão. Um intelectual como um L. Boff não precisa estar no meio da multidão para que se perceba a sua grandeza; Chico, Caetano, Gil e tantos outros também.. Os intelectuais promovem as ideias e o povão, sábio, necessitado, esperançoso , as percebe.

      O povão defendeu o Lula assim como os católicos defendem um papa, mito de Deus, a esperença máxima filosófica criativa.

       

  3. Aos que não o renegaram

    Que texto bonito e tão clarividente sobre o povo brasileiro. Poucos intelectuais sabem escrever sobre o povo. Pois então, ao contrario de tanta gente de “sociedade” que foi capaz de negar três vezes a Lula e ao PT e aqueles que trairam em plena sessão do STF, o povo não o traiu ou renegou.

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