As histórias de quem perdeu tudo com o rompimento da barragem

Da Agência Brasil

“Nossa história ficou debaixo da lama”, diz sobrevivente de tragédia em Minas

Por Paula Laboissière

O pedreiro Marcos Eufrásio Messias, 38 anos, vivia no distrito de Bento Rodrigues, zona rural de Mariana (MG), desde que nasceu. Morava com a mãe, os irmãos e dois sobrinhos. Criava galinha, pato e codorna. Tinha, como ele mesmo conta, a vida feita. Mas perdeu tudo depois que duas barragens na região se romperam e a lama destruiu o povoado.

“Eu tinha casa bem aqui no centro”, contou, apontando para um revirado de lama e sujeira. “Conseguimos sair a tempo, mas perdi carro, documento, cartão de banco. Tudo. Só conseguimos salvar a vida. De resto, não sobrou nada.”

A dona de casa Teresinha Custódio Quintão, 49 anos, também morou a vida toda no distrito atingindo pela tragédia. No momento em que as barragens se romperam, ela estava na cozinha do restaurante onde trabalhava com a irmã.

“Na hora em que vi a avalanche, minha irmã gritou. Eu estava acabando de arrumar a cozinha. Olhei para cima, vi uma chuva de poeira. Quando olhei de novo, vi a avalanche de lama.”

A casa de Teresinha fica na parte mais alta de Bento Rodrigues e não foi atingida pela tragédia. Serviu, na verdade, de ponto de apoio para receber os que perderam tudo. Acompanhada dos irmãos, passou a noite de sexta-feira (6) correndo de um lado pro outro, tirando gente das casas, carregando idosos, soltando animais presos.

“Deus ajudou porque estamos vivos. A nossa história ficou ali, debaixo da lama. Não sei o que vai ser da vida agora. A lama desmontou tudo, separou a família toda.”

Antônio Geraldo dos Santos, 32 anos, conseguiu salvar também a casa onde morava em Bento Rodrigues, mas acha que vai precisar retomar a vida em outro lugar. Ele, sete irmãos e dois sobrinhos saíram ilesos do local.

“Como a comunidade é pequena, todo mundo se conhece. As pessoas que estão desaparecidas não são parentes, mas é como se fossem. A gente cresceu conhecendo todas elas.”

Para Antônio, o rompimento das barragens não acabou apenas com a casa de centenas de pessoas. “Agora, temos que começar do novo. Não sei como a gente vai conseguir. Só vai cair a ficha mesmo daqui uns três dias. Agora, a gente está no susto, na emoção, no sofrimento. Mas daqui alguns dias, a vida vai voltar ao normal e é aí que a gente vai descobrir o dano maior.”

Redação

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Lembre se, existe uma OAB no mundo. …
    Lembro a todos que ainda não transitou em julgado, ou melhor, nem processo existe.

    Portanto, não tem como apontar responsáveis.

    A mineradora pode ter sido vítima da má fiscalização do Estado do Minas Gerais.
    Então, O Povo de Minas deve, talvez quem sabe, indenizar a mineradora pelo dano a sua imagem.

    Afinal de contas, ninguém constrói nada para ruir. Então, dolo não existe neste caso.

    1. Tem um ditado: melhor ouvir

      Tem um ditado: melhor ouvir isso do que ser surdo. Pois é, mas as vezes acho que  seria melhor ser analfabeta que ler certas asneiras.

    2. Caramba! Então ao invés dessa

      Caramba! Então ao invés dessa empresa indenizar  todas as cidades afetadas e seus cidadãos punidos pelo empobrecimento e morte de seus entes queridos, ela a Samarco/vale é que terá que ser indenizada? Nossa, que piada!

  2. Minas Gerais

    Desabamento de viaduto em BH, trabalho escravo terceirizado pela CEMIG, assassinatos politicos não investigados ou protelados, jornalista preso por divulgar a lista de Furnas, denuncias de desvio na Saude, trafico de drogas e agora mais essa tragédia nas Minas Gerais de Aécio e Anastasia, com Pimental ha um ano governando o estado, que ficou em frangalhos depois da saida da dupla que comanda ainda o Estado. Ha algo ainda de muito podre no reino das Gerais.

  3. A SAMARCO é um grande empresa

    A SAMARCO é um grande empresa moderna , parceria da Vale com a BHP top mineradora australiana, como é que não

    havia analise de risco sobre essas barragens? E incrivel. Barragens são estruturas imoveis cuja aferição de resistencia tem metoos conhecidos desde seculos, hoje com muito mais precisão. Como se explica uma grande empresa não ter esse gerenciamento de riscos elementar. Uma barragem só se rompe quando todos os niveis de segurança são ultrapassados e

    essa possibilidade não podia ter sido descartada por uma companhia tão rica e moderna. Ninguem desconfiou, ninguem pensou nessa possibilidade? Barragens tem folga de resistencia para suportar o maximo de carga mais um percentual de

    segurança, rompimento precisa ser algo absolutamente anormal. Não dá realmente para entender.

  4. não a primeira vez

    As outras barragens que romperam em Nova Lima e Miraí, nenhum dos responsáveis foi punido, quem perdeu foram os moradores que até hoje esperam pela sonolenta e servil justiça que protege as mineradoras. A Samarco Mineração tem minerioduto de Mariana até o Porto de Vitória, duplicado, que leva nossa água até o mar lavando o minério de Ferro. A licença dessa mineradora assassina deveria ser cassada. Os jornais e blogs so falam de quanto essa mineradora investiu, recebem a outorga para retirar nossa água cada dia mais escassa para enriquecer os opulentos, gananciosos capitalistas. Mais um crime ambiental que não vai punir ninguém, somente aqueles que perderão tudo o pouco que tinha. Cadê os ambientalistas de mentira, os burgueses do Greenpeace? A próxima tragédia poderá ser em Congonhas do Campo e região, onde tudo está sendo destruido pela ganancia desses capitalistas sanguessugas.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador