As reformas propostas por Delfim, por Adriano Benayon

 
Do blog Desenvolvimentistas
 
 
Por Adriano Benayon
 
Delfim Netto concedeu entrevista a Claudia Safatle, do Valor. Foi czar da economia em governos militares. No de Geisel, embaixador em Paris, voltando com Figueiredo.

2. Muito ligado a banqueiros, ingressou no governo pela mão do Bradesco. Favoreceu as transnacionais com enormes subsídios às exportações, que não evitaram o crescimento exponencial da dívida externa. Depois, deputado e conselheiro de presidentes na Nova República. Ninguém mais representativo do establishment.

3. Disse haver poucas chances de impeachment da presidente da República e que esta deveria, com urgência, assumir protagonismo, apresentando ao Congresso projetos de reforma constitucional e infraconstitucional.

4. Também, que o Congresso deve ser pressionado a aprová-los, sem o que o caos será inevitável e se materializará nos próximos anos.

5. Ele propõe quatro reformas: Previdência Social, desvinculação dos gastos orçamentários, desindexação e mercado de trabalho.

6. Ora, as duas primeiras foram objeto, por duas vezes, de reformas constitucionais, sob FHC e Lula, aprovadas em 1998 e 2003.  A reforma do mercado de trabalho significa que a legislação trabalhista não prevalecerá sobre a “negociação”.

7. A desindexação foi decretada pelo Plano Cruzado em 1986 e pelo Plano Real em 1994. Delfim não indicou se os títulos da dívida pública serão ou não isentados da desindexação. Quando do Real foi trágico: a taxa SELIC acumulou 53% em 1995.

8. Em suma, as propostas consistem em aumentar a dose de medidas em uso há muito tempo e que até hoje, nada solucionaram. Não obstante, muitos as aclamarão como solução, pois consideram novidade tudo de que a TV não fala, desde há três meses.

9. Delfim não vê futuro nas propostas de Lula de reanimar a economia expandindo o crédito. Lembra: “Não há falta de crédito. Há falta de tomador. Não tem ninguém querendo crédito.”

10. Claro, a renda das pessoas caiu, suas dívidas cresceram. Aliás, não há necessidade de keynesianismo para entender que só surge retomada de investimentos e criação de empregos, se se crê que haverá mercado para o que se pretende produzir.

11. Mas, e a verdadeira solução? Delfim não a pode apontar. Membro de escol da pseudoelite, ele julga impensável alijar-se da “comunidade financeira internacional”, abrir mão dos ganhos fabulosos das aplicações financeiras, e aprova a globalização do sistema de poder mundial, deixando a economia produtiva sob o comando dos carteis transnacionais.

12. Teorias sofisticadas, voltadas para conservar o império da oligarquia concentradora, como o keynesianismo, embora rotulado como progressista, são uma espécie de ópio de economistas, inclusive ditos de esquerda.

13. Nessa linha, Delfim imagina vencer a crise, mudando as expectativas: “na economia as crenças são mais importantes do que os fatos.” Para ele, a eleição de Macri, na Argentina, fez o mundo crer que ela vai melhorar e já está melhor que o Brasil.

14. Claro que o império angloamericano vai tentar tornar isso verdade. Mas, mesmo que o consiga, a curto prazo, nas aparências, o resultado estrutural será afundar a Argentina no apartheid tecnológico.

15. Para Delfim, “o Brasil sofre de uma doença: não tem perspectiva.” Seu programa ganharia aplausos da grande mídia e dos muito endinheirados, os que têm meios para investir.

16. Se Dilma o adotar – aderindo integralmente a esses – como já faz, por exemplo, elevando os juros da dívida pública – o sistema de poder financeiro e transnacional fará o Congresso aprová-lo.

17. Dilma acenaria a possibilidade de recuperar empregos perdidos durante a paralisia, advinda dos diversos fatores da crise.

18. Mas, em função principalmente da estrutura do modelo dependente, não há como repor as perdas e nem sequer estancar os fatores de prosseguimento delas, agravadas pela inflação e pela desvalorização cambial.

19. Só os bancos têm aumentado sempre os lucros. A renda total, em queda, concentra-se ainda mais, excluindo a perspectiva de ressurgimento da procura, ademais devido ao tripé: juros altos para o mentiroso combate à inflação, meta de superávit primário e câmbio flutuante.

20. Então: como vão surgir os investimentos e as expectativas keynesianas favoráveis aos investimentos?

21. Nem com injeção de recursos do Tesouro para o crédito público, como fez Lula, e Dilma até 2013, política injustamente acoimada de errada em si mesma, como causadora do “desequilíbrio fiscal”.

22. Essa política, a proposta por Delfim, e também as duas combinadas, têm de dar errado, dadas estas realidades estruturais:

1) Financeirização, desnacionalização e concentração galopantes;

2) Infraestrutura que prioriza a extração e o cultivo  predatórios de recursos naturais para exportar, e o faz de forma ineficiente e cara;

3) Despesa pública descomunal, decorrente da dívida interna – indexada e objeto de taxas de juros e spreads absurdos – a qual, para evitar déficit orçamentário muito alto, faz comprimir investimentos públicos;

4) Déficits gigantes acumulados nas transações correntes com o exterior – que se aceleram quando a economia cresce – conducentes ao crescimento da dívida externa e à elevação do passivo externo, proveniente principalmente dos investimentos diretos estrangeiros;

5) Investimentos estrangeiros na dívida pública interna, cuja dimensão ameaça as reservas externas, em função do possível retorno ao exterior dessas aplicações, ao qual se juntariam saídas de capitais financeiros de residentes no País, eventualidade tanto mais destrutiva, quanto a pseudoelite não quer recorrer aos controles de câmbio e capitais.

23. Esses fatores de corrosão da economia brasileira retroalimentam-se entre si, constituindo um processo cumulativo.

24. Diante disso e dos conselhos dos economistas do sistema, vem à mente grande parte da medicina ocidental, que atacando sintomas e não, causas, agrava as doenças, intoxicando, ainda mais, com drogas químicas, pacientes intoxicados por alimentação e modos de vida inadequados.

***

Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha,  autor do livro Globalização versus Desenvolvimento ([email protected]).

 

Redação

8 Comentários

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  1. Que o Delfim tenha

    Que o Delfim tenha conhecimento imenso não há dúvida. 

    Que Delfim seja muito esperto e saiba muito bem cuidar de sua imagem, fica aparente.

    Suas opiniões devem ser levadas com o grain of salt. 

    Nitidamente houve uma mudança estratégica para preservar sua auto imagem no meio. 

    Quem nunca?

  2. “Delfim não vê futuro nas

    “Delfim não vê futuro nas propostas de Lula de reanimar a economia expandindo o crédito. Lembra: “Não há falta de crédito. Há falta de tomador. Não tem ninguém querendo crédito.””:

    Nao consta dos livros de historia que Delfin conheca uma montanha de pequenos produtores ou donos de industrias.

    Ja Lula nao teria qualquer outra coisa em mente.

    Lula esta certo.

  3. Explicação

    Por favor alguém me explique como o governo quer novas fontes de impostos se a renda do brasileiro está caíndo (item 10)? A tabela do IRPF está defasada em 72%, e que não será reajustada neste ano. A Dilma e os seus ministros são surdos e cegos?

  4. O que ninguém fala, nem o Delfim, nem o Benayon

    Mas eu não tenho rabo preso e gosto do Brasil.

    O Delfim falou:

    “9. Delfim não vê futuro nas propostas de Lula de reanimar a economia expandindo o crédito. Lembra: “Não há falta de crédito. Há falta de tomador. Não tem ninguém querendo crédito.””

     

    É aqui que está o problema.

    Não existe dinheiro circulando no Brasil e no Mundo para girar a economia, assim o crédito é que faz a economia funcionar, sem mais nem menos, quando o crédito some fazem-se as injeções de dinheiro novo, que entra como dívida pública, ou seja crédito.

    Não existe isto de “NÃO TEM NINGUÉM QUERENDO CRÉDITO” isto é conversa para jornal e TV, quem engole isto (a isca) fica preso no anzol da mentira e não tem como entender o que está acontecendo. Como é colocado no meio da conversa, tanto pelo Delfim, como pelo jornal e também pelo Benayon, parece como um dado certo e assumido.

    Mas não é.

    Sem crédito, imaginem a Brastemp entregando para as Casas Bahia os refrigeradores e exigindo pagamento em dinheiro à vista por eles para colocá-los nas lojas, o exemplo deixa claro a necessidade de se acreditar que existirá dinheiro para solver a dívida da Casas Bahia com a Brastemp e que este dinheiro está com o sistêma financeiro, na hora que não se acreditar que os bancos têm dinheiro para pagar aos estabelecimentos comerciais o que foi vendido com o cartão de débito ou de crédito, o sistema para de funcionar e ai sim, o crédito não existirá.

    O sistema de crédito é um esquema ponzi, que têm sempre que aumentar o volume de dinheiro, por isto as dívidas que não param de crescer e hoje estão na casa dos Trilhões de Dólares, completamente desvinculadas da economia real.

    O sistema de crédito está dando sinais que o limite para sua expansão foi alcançado, o que tem levado o sistema financeiro a medidas extremas e desesperadas, propondo mesmo o fim do dinheiro físico, obrigando todas as transações a serem feitas com o dinheiro eletrônico que ele emite, e mesmo colocando na ilegalidade compras e pagamentos feitos com dinheiro físico.

    Todo  sistema de CRÉDITO baseia-se somente na CONFIANÇA, se esta acaba ou desaparece, o crédito também acaba e desaparece.

    A saída para o Brasil, por cima e por fora do sistema financeiro mundial é colocar a casa em ordem e quando o esquema ponzi atual que roda no planeta falhar, o que não deve demorar muito (fiat money sempre falha, está escrito nas estrelas) entrar com um dinheiro alternativo nosso, com base em parceiros confiáveis como os do banco dos BRICs ou alternativos e colocar a economia para funcionar, com um dinheiro não mais nas mãos do sistema financeiro, que usou o atual para se enriquecer e obter poder de forma fraudulenta.

    Agora, podemos também usar uma versão 2.0 do dinheiro da banca, e continuarmos escravos deles, questão de soberania nacional e vergonha na cara.

    Gente para vender a nação e o Brasil é o que não falta por aqui.

    1. É exatamente isso.
      O que não

      É exatamente isso.

      O que não se percebe é que aqueles que estão cientes disso estão numa corrida para a aquisição de ativos reais.

      As manobras que estão sendo feitas baixam ainda mais o preço dos ativos.

      http://www.voltairenet.org/article190083.html

      Além do câmbio, no Brasil agora, com a ajuda da estulta bancada ruralista, estão querendo vender legalmente as terras, fora aquietas que são adquiridas ilegalmente.

      O “dinheiro” aportado no BACEN vai virar pó.

      Outra estultícia brasileira: nossas reservas em ouro são nulas e não muda sua política nesse quesito.

      É lamentável.

       

  5. Estrategia

    Independentemente do plano que se adote, da filosofia, da doutrina, seja neoliberal, Keynes, Hayek, esquerda ou direita, o importante é sinalizar que existe um plano. A inercia passa a impressão de que se ocupa unicamente em encontrar um meio de sobrevivência, mesmo que precária. E isto não é suficiente nem para manter uma sobrevida, nem para um futuro imediato que se encontra as próximas eleições e muito menos para equacionar a grave crise institucional que eclodiu e paralisa a economia.

    Urge sinalizar um norte.

    Os líderes sindicais estão igualmente enamorados com a conversa de “empregos, investimento e crescimento”. Políticas Keynesianas são propostas, mas são encobertas e açucaradas com a linguagem de socialismo. Len McCluskey, o Secretário-Geral de Unite, o maior sindicato da Grã-Bretanha, apelou para o “socialismo do século XXI”, mas é propositadamente vago sobre o que isto significa. Estas frases são ocas e não têm nenhum significado real, agindo como uma garrafa vazia, em que qualquer conteúdo pode ser nela colocada. McClukey está correto em apelar por socialismo. O movimento dos trabalhadores em todos os países necessita de um programa socialista. Mas este socialismo deve ser claramente definido: a nacionalização dos bancos e de outros grandes pesos-pesados da economia, como parte de um plano democrático de produção. Em resumo: a abolição do capitalismo e a transformação da sociedade.

    O potencial que poderia ser atingido através de um plano de produção evidencia-se na tremenda quantidade de fábricas, casas vazias e trabalhadores desempregados que se mantêm desocupados devido à crise de superprodução e aos limites de um sistema em que a produção é unicamente para o lucro. Se estes recursos humanos e materiais fossem postos em uso, não se falaria mais de escassez ou pobreza. Os níveis de vida poderiam subir substancialmente; a jornada de trabalho seria reduzida a meras horas; a base material poderia ser organizada para que todos possam participar plenamente no funcionamento democrático da sociedade.

    As inspiradoras lutas na Grécia, Espanha e Portugal mostram a disposição de lutar por uma alternativa. Mas, em cada um dos casos, os líderes do movimento não estão à altura do desafio. A situação é assim ante quando irrompe um incêndio na floresta: o solo está seco e uma simples fagulha poderia inflamar uma rápida onda de chamas. Os trabalhadores e os jovens de todos os países observam-se uns aos outros. Tudo o que se necessita é de um exemplo para apontar o caminho aos outros. A palavra de ordem deve ser: nem austeridade nem Keynesianismo, mas a transformação socialista da sociedade.

    Enquanto não se localizar definitiva e contundentemente a politica econômica na base da pirâmide social, as discussões continuarão indo de Parsagadas ao Olimpo e nadica de nada sera alterado na realidade brasileira.

    O pensamento gira em torno de teorias e teses econômicas, mirabolantes intrinsecamente estruturadas num complexicismo tecnicista e como fumaça dispersa o foco de realmente se equacionar de vez com a assustadora diferença de renda e da concentração da riqueza que torna o Brasil um dos últimos no ranking mundial.

    Milagre do pós-guerra, a “economia social de mercado” alemã parece ser inabalável: superou as explosões nos preços do petróleo nos anos 1970 e 1980, o impacto da reunificação nos 1990, a recessão mundial de 2008-2009 e está passando firme pela atual crise que atinge a zona do euro.

    Hoje, o país é um dos três maiores exportadores globais, tem o crescimento per capita mais alto do mundo desenvolvido e um índice de desemprego de 6,9%, bem inferior à média da eurozona, de 11,7%.

    Diferentemente do modelo anglo-saxão, centrado na maximização da rentabilidade para os acionistas (objetivo de curto prazo), as Mittelstand são estruturas familiares com planos a longo prazo, forte investimento na capacitação do pessoal, alto sentimento de responsabilidade social e forte regionalismo.

    “A Alemanha é especialmente forte em empresas que têm umas 100 ou 200 pessoas. Com uma característica adicional: apesar de seu tamanho, muitas dessas firmas competem no mercado internacional e são exportadoras”, explica Dullien.

    Enquanto os planos complexo econômicos intrisecamentes emaranhados em sofisticação teóricas que beiram o místico, não se voltarem para a base da pirâmide social, e conjuntamente acontecer a reforma politica que torne o povo o verdadeiro protagonista do destino da Nação, esta realidade absurda, vergonhosa e hipócrita continuara a mesma. Seja o governo que for que não sinalizar a firme disposição de mudar este estado de coisa, terá vida curta e precária politicamente falando.

    Qdo se fala em revitalizar o credito para turbinar um novo crescimento, volta-se a namorar apenasmente o consumidor, como fez o Lula, é o canto da sereia encantador e sedutor, este tipo de credito é a escolha do mais fácil, esquecendo os fundamentos econômicos que verdadeiramente dão sustentação a uma economia saudável. É necessário muito mais trabalho que torne o setor produtivo o real motor de um novo ciclo virtuoso de crescimento. O grosso do credito deve ser direcionado ao tomador capacitado, que se encontra na base da estrutura produtiva. Assim como se faz no agronegócio com a agricultura familiar.

  6.  
    O professor Delfim andava

     

    O professor Delfim andava meio que escorraçado, escanteado. Ao que parece, os agentes do “sistema” sinalizavam insatisfação com sua proximidade com os sidicalistas do PT. O professor que de tolo não tem nada, entendeu o recado e saltou fora da canôa de lata que Dona Marisa deu de presente ao Lula. E, se mandou com seu caniço e o samburá, largando de lado a pescaria com os amigos petistas.

    Agora, voltou em grande estilo aos palcos iluminados da imprensona. Mais que de repente não passa um dia sem um convite pro homi expôr sua simpática figura nas telas da Globo. Onde, com renovado humor e inteligência apresenta suas receitas para o País adotar uma economia gourmet para população emagrecer mais rápido. Ao tempo em que, aconselha ao distinto público,depositar com fé, as moedas remanescentes, no cofrinho daqueles 1% do cume.

    Orlando

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