Bolsas mundiais desabam a partir das criptomoedas, por J. Carlos de Assis

Bolsas mundiais desabam a partir das criptomoedas

por J. Carlos de Assis

Elas vieram do pó, e ao pó voltarão. Este é o destino das criptomoedas, como o bitcoin, que geraram centenas de filhotes pelo mundo em busca do que Marx definia como desejo último do Capital, a geração de moeda a partir da moeda, sem passar pelo sistema produtivo. O maior especialista nessa história no Brasil é Luiz Gonzaga Belluzzo, autoridade incontestável em Marx e Keynes. Seu olhar arguto, como o meu, vê o desabamento iminente dos mercados. Entretanto, discordamos  do tempo. Eu acho que é agora. Ele, que ainda demora um pouco.

Entretanto, a virtual incineração das bitcoins é indício claro de que o momento em que o Capital especulativo se apresentará ao Juízo Final já chegou. Todos os mercados, contaminados pela doença da especulação desenfreada em derivativos, serão arrastados para a quebra. Os especuladores em bitcoins sem imposto e nos derivativos das bolsas perderão fortunas no processo. Se o governo  norte-americano não intervir, e espero que dessa vez não intervenha, como em 2008, o Capital financeiro será purgado de seus pecados,  como quer o Papa.

É de Lênin a observação de que, nos processos sociais e políticos, a corrente arrebenta sempre pelo elo mais fraco. Não há nada mais fraco, no capitalismo, do que uma bitcoin. Ela não se ancora em nada. É ficção pura. Todas as moedas normais são fictícias, mas gozam do privilégio de pagar impostos – como ensinou Abba Lerner, no livro seminal “Finanças Funcionais”, apresentado ao Brasil num livro que traduzi de Randall Wray, “Understanding Modern Money”, ou, na tradução, “Trabalho e Moeda Hoje”, Editora da UFRJ.

O ideal da bitcoin é não pagar imposto. O sujeito vive no meio de uma coletividade, usa suas ruas, seu sistema de água e esgoto, sua infraestrutura de comunicação, seus aeroportos e portos, e não paga por esses serviços nenhum imposto. Nada paga pelas benesses de uma vida em comum, superando o que Marx chamava de imbecilidade da vida isolada no campo, em seu tempo. Nega-se a arcar com os ônus que recaem justificadamente sobre os ombros dos cidadãos e cidadãs comuns, já que foge sobretudo do imposto de renda.

O espírito por trás dessa canalhice foi trazido para o Brasil por um líder empresarial fake, Paulo Skaf, associado a um líder trabalhista ativo que não escapou de ser enganado pelo empresário, Paulinho da Força. É simbolizado pelo Pato. O Pato da Fiesp tornou-se um avatar da busca de isenção de impostos, por meios lícitos ou ilícitos. Desgraçadamente, quando analisado sob outro prisma, tem alguma razão de ser: o dinheiro que pagamos de impostos está sendo sabotado por uma liderança política ladra e incompetente.

Entretanto, em lugar de deixar de pagar impostos, o correto é lutar por sua aplicação correta e justa em benefício da coletividade. E a primeira coisa a fazer é promover verdadeira justiça tributária, em lugar de isentar os ricos dos impostos, sobrecarregando os pobres como acontece no Brasil. Afinal, é o trabalhador, por meio da mais valia, o produtor de riqueza em última instância no capitalismo; e é também ele, através da mais-valia apropriada socialmente, a mais valia social, ou imposto, que paga a integralidade dos impostos sob o domínio do Capital. O bitcoin, conforme escrevemos no site frentepelasoberania.com.br, é a sonegação institucionalizada de impostos.

Voltemos aos mercados. Como se trata de uma pirâmide, moedas virtuais como o bitcoin se sustentam exclusivamente pela demanda, primeiro dos muito espertos – quem constrói as pirâmides – e depois pelos otários – pagam por elas. Como não existe a autoridade do Estado por trás dessas moedas, se a demanda cai, por algum efeito de desconfiança em seu mercado, não há Estado para bancar o prejuízo em nome da coletividade, como nas bolsas reguladas. O fato, porém, é que, no jogo especulativo desenfreado, arbitrado pelo Capital, também as bolsas construíram bitcoins, na medida em que também os derivativos – 700 trilhões de dólares – são moedas virtuais.

Tudo isso começou a desabar, na medida em que detentores de bitcoins resolveram pular fora de suas aplicações. Naturalmente, tentando perder pouco, saem de suas posições ativas e correm para ativos como o dólar ou outras moedas ancoradas na autoridade do Estado. Contudo, no limite, não é possível aos Estados bancar um jogo de 700 trilhões de dólares, como fez em 2008. Dessa vez há um meio-louco na Casa Branca, oriundo do sistema produtivo, e que não gosta dos mercados especulativos. De qualquer forma, mesmo que queira proteger os mercados, especulativos ou não, Donald Trump não terá dinheiro para isso. O que veio do pó ao pó voltará!

Redação

7 Comentários

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  1. Garanto que quem leu isto

    Garanto que quem leu isto aqui perdeu tempo de sua vida, pois o autor nao tem a minima ideia do que sao as cryptos.

    🙂

  2. Provo que o artigo é inutil

    Provo que o artigo é inutil com dois dados: Como pode um mercado de bolsas de Quarenta trilhões de dólares = US$ 40.000.000.000.000 , cair a partir de um mercado de  $270.490.810.357.

    Entao, como pode algo que repretanta 0,6% do movimento mundial de bolsas derrubar as mesmas.

    Chega-se pois a conclusao que o autor nao entende de cryptos ou de bolsas.

    As bolsas estao caindo pelo motivo de sempre: bolha e desregulacao.

  3. Nada mais subversivo que …

    Nada mais subversivo que … as criptosmoedas. Uma moeda que não depende de governos ou de bancos centrais, que qualquer um pode “fabricar” e usar sem intermediação dos burocratas. 

    E criptomoeda não é derivativo, que como mostra o próprio nome tem seu valor derivado de uma commodite real ou pelo menos algo utilizado no mundo real como o valor do dólar, a taxa de juros, etc.

    A preocupação maior do autor é como manter a arrecadação de impostos e o status quo desse Estado que suga qualquer brasileiro que produza, inclusive os assalariados do setor privado e os seus correspondentes do baixo clero do funcionalismo público. Salvem os maganos!

    Então realmente o autor está mais para torcedor do que um articulista de opinião embasada ou estuda pelo menos.
    E se for para torcer, fico com o Belluzzo sem pensar nem meia vez.

  4. Sobra falta de informação sobre o Bitcoin

    Em primeiro lugar, não tenho e não tenho pretensão de ter bitcoin a priori, mas suspeito que acabarei tendo daqui a algum tempo pela naturalização no uso. Não sou investidor nem entusiasta. Conheço pouco, mas tenho curiosidade, pois não pensava que essas moedas iam valorizar tanto e pegar tão rápido. É no mínimo um fenômeno que precisa ser melhor estudado por quem não conhece (inclusive eu), sem preconceitos.

    Mesmo com o pouco que conheço, acho que há pelo menos duas coisas erradas no texto. Se eu estiver errado porque sou apenas curioso, quem conheça mais me corrija:

    1) Não vejo o bitcoin como “geração de moeda a partir de moeda, sem passar pelo sistema produtivo”. O bitcoin começou a ser aceito quando pessoas passaram a aceitá-lo como meio de pagamento de bens e serviços, portanto moeda de troca comercial de bens e serviços da economia produtiva, tanto quanto moedas solidárias ou emissão de crédito pelos bancos tradicionais (inclusive cartão de crédito) para comprar algo. Portanto o lastro da moeda começou com sua aceitação na economia real.

    2) Não vejo como pirâmide, porque o algorítimo do Bitcoin vai reduzindo a emissão com o correr dos anos até parar de emitir. Quando chegar a 21 milhões de Bitcoins, para de emitir e é essa quantidade que permanece imutável em circulação. Isso faz a moeda parecida com o ouro, que não tem como emitir mais do que existe. Quem quer ouro tem que comprar barras existentes no mercado ou obter através de mineração até esgotar na natureza. O algoritimo do Bitcoin parece imitar isso. O algoritimo de “mineração” torna cada vez mais escasso até esgotar. Para alguém conseguir ter bitcoin outro que já tem terá que vender ou pagar alguma coisa real, então não se pode falar em pirâmide, que exigiria emissão sem limites, mineração abundante e sem limites. É justamente pela emissão de moeda ser tão restrita que ela se valoriza a partir do momento em que sua aceitação foi crescendo. Quanto mais a velocidade de gente usando a moeda foi maior do que sua emissão, mais ela se valorizou.

    A vantagem do bitcoin é que ele é uma moeda mundial regulada apenas pelos próprios detentores da moeda através da tecnologia block chain, fora do controle e da política dos bancos e governos. É uma moeda sob controle social de quem a possui. 

    Então você pode fazer compras pela internet em qualquer lugar do mundo que aceite sem fazer câmbio, viajar a vários países com sua carteira de bitcoin (um software criptografado), pagar em estabelecimentos que aceitam, ou trocar por moeda local lá no país de destino. O cidadão ganha ao se ver livre de bancos, de tarifas bancárias e spreads do banco e de cambistas na hora de cambiar se pagar direto com bitcoin.

    Um fato socialmente negativo do bitcoin é o de ter passado a ser usada como moeda em mercados negros e de atividades criminosas, pois como está fora do sistema financeiro regulado, é muito mais dificil rastrear e, por ser virtual, difícil de ser apreendida. Para quem é traficante, contrabandista, corrupto, sonegador, é muito mais seguro e simples transacionar em bitcoin do que usar doleiros, por exemplos. Os próprios doleiros já se interessam por bitcoin. Porém o papel moeda e a rede bancária tradicional já era e ainda é amplamente usada em todas essas atividades criminosas.

    Quanto à sonegação, não é muito diferente do uso do papel moeda.

    Outro problema é que como a moeda teve valorizorações enormes em curto período de tempo, trouxe uma corrida de especuladores com alto volume de transações cambiais que fazem as cotações flutuarem muito trazendo risco. Mas é o mesmo caso do mercado de ações quando uma ação sobe muito e depois cai. O mesmo que ocorreria com o ouro se houvesse uma corrida para compra de barras de ouro. O ideal é que o Bitcoin estabilize e seja usado majoritamente para transações de compras e venda de bens e serviços da economia real, como qualquer moeda.

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