Bolsonaro na ONU: ditadura petista, Amazônia intocada e índios querem se desenvolver

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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"Um novo Brasil que ressurge, após estar a beira de um socialismo", introduziu Bolsonaro. "A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus"

Bolsonaro discursando na Assembleia Geral da ONU, em 2019 – Foto: Reuters

Jornal GGN – O discurso de Jair Bolsonaro na 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi marcado por ataques contra países e a imprensa internacional, tom bíblico e de campanha eleitoral, negando que a Amazônia estava sendo destruída, acusando o clima seco e ações criminosas “inclusive de indígenas” de terem provocado as queimadas, fazendo ironias à ONU, enobrecendo o ex-juiz Sérgio Moro e afirmando que seu governo estava salvando o Brasil do socialismo, colocando fim ao “acordo entre a ditadura petista e a ditadura cubana”.

Logo na abertura de sua fala, Bolsonaro agradeceu à Deus, em tom religioso, e disse que estava ali para “restabelecer a verdade, porque é bom para todos nós”. “Apresento aos senhores um novo Brasil que ressurge, após estar a beira de um socialismo”, introduziu. Os primeiros minutos do discurso foram de ataques direto aos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, no qual além de descrever como “ditadura petista” ou “socialismo” em tom de ofensa, também caracterizou como “absolutismo”.

Em seguida, usou como exemplo a Venezuela, afirmando em ironia que essa “ditadura deu certo”, mencionando que há fome, desemprego e violência no país vizinho. Disse que “o Brasil também sente os impactos da ditadura venezuelana”, ao receber os imigrantes da fronteira.

Após discursar contra as “ditaduras socialistas”, Bolsonaro começou criticar as notícias divulgadas pelo mundo sobre as queimadas na Amazônia, e contrariando todos os dados do Instituto de Pesquisas Ambientais (INPE) e de fiscalizações ambientais, disse que “a Amazônia permanece praticamente intocada”. Sobre as queimadas, tratou como consequências do clima quente e seco, “espontâneas”, mas também “criminosas”: “existem queimadas ocasionadas por indígenas”, exemplificou. Ainda, confrontou “os ambientalistas”, dizendo que eles mentem sobre a Amazônia ser o pulmão do mundo.

E foi neste tema que Jair Bolsonaro encontrou o eixo para levantar a bandeira nacionalista: “Os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional despertaram nosso sentimento patriótico. É uma falácia dizer que Amazônia é patrimônio da humanidade, e é mentira o que tratam ambientalistas que a Amazônia é o pulmão do mundo. O Brasil embarcou nas mentiras do mundo”, disse, confrontando a próprio ciência.

Juntamente com a bandeira patriótica e quase em versão estadista, o mandatário sugeriu desenvolver e explorar a Amazônia, afirmando que “nossos nativos [os indígenas] são serem humanos, eles querem e merecem usufruir dos mesmos meios que nós”. “Muitas comunidades estão sedentas para que boa parte dessa parte do Brasil se desenvolva.”

Desqualificou a visibilidade internacional do cacique Raoni, respeitando por indigenistas, diversas tribos indígenas e entidades de direitos humanos no Brasil e no mundo, sendo sugerido ao prêmio Nobel da Paz pela luta e atuação em defesa da Amazônia. “A visão de um líder indígena não representa a de todos os brasileiros, muitos vezes alguns deles são usados como uma peça de manobra por governos estrangeiros, para avançar contra a Amazônia”, defendeu.

E como se atuasse em defesa dos indígenas brasileiros, Bolsonaro afirmou: “Tratam nossos índios como homem das cavernas, o Brasil se preocupa com aqueles que estavam antes de nós. Mas o índio não quer ser pobre em terra rica”, sugerindo o desenvolvimento das reservas ambientais.

“As reservas indígenas têm grande abundância de ouro, diamante, urânio e minérios raros, entre outros. A reserva Yanomami, por exemplo, conta com 95 mil km2, o equivalente a Portugal ou Hungria, embora apenas 15 mil índios vivam na área”, continuou, na lógica de que explorar o local é positivo. “Os que nos atacam não estão preocupados com os índios, mas com as riquezas minerais existentes nessas áreas”.

E para tentar desqualificar o cacique Raoni e demais lideranças indígenas de todo o Brasil, omitindo as manifestações do Acampamento Terra Livre, a maior mobilização nacional indígena do país, com a presença de milhares de indígenas, em abril deste ano contra o governo Bolsonaro, o presidente disse que há comunidades indígenas que querem o desenvolvimento de seu governo. Para isso, leu uma carta da indígena Ysani Kalapalo, do Parque do Xingu, no Mato Grosso, que esteve na comitiva do Bolsonaro. Kalapalo é repudiada por 16 povos de sua própria comunidade do Xingu.

Voltando a falar sobre o desenvolvimento na Amazônia, Bolsonaro citou a França e a Alemanha, que “usam mais de 50% de seus territórios para a agricultura”, comparando que “o Brasil somente 8%”, e criticando que “61% do nosso território é preservado”, mostrando que isso irá acabar.

No discurso corrosivo, propôs um “novo ambientalismo” contra o “velho ambientalismo e indigenista ultrapassado”, associando a preservação ambiental ao que ele acredita ser o colonialismo: “Acabou o monopólio do senhor Raoni. A ONU teve papel fundamental na superação do colonialismo e não pode aceitar que essa mentalidade regresse a esta sala e corredores sobre qualquer pretexto”, afirmou.

Também fez menção a passagens da Bíblia, como “a verdade vos libertará” e “a ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus”. E sem ter manifestado nenhum posicionamento para se solidarizar pela menina Ágatha, morta no Morro do Alemão, falou da perversão de “nossas crianças”, e exaltou “valores da família”, afirmando que a “ideologia” de governos anteriores tentou “corromper a família”, com uma “ideologia” que se “instalou na Cultura, na educação, comprando a imprensa”.

Ao tratar do tema da criminalidade, uma de suas bandeiras de governo, Bolsonaro disse que o compromisso do Brasil “caminha junto com o combate à corrupção e a criminalidade, demandas urgentes” e que trabalha “dentro e fora das Nações Unidas” para que “não haja impunidade para criminosos e corruptos”. Citou as extradições feitas, como a de Cesare Battisti à Itália: “Terroristas disfarçados de exilados políticos”.

Quando falou de criminalidade e corrupção, mostrou que a crise interna de seu governo com o ex-juiz da Lava Jato e atual ministro da Justiça foi solucionada e elogiou Sérgio Moro: “O combate à corrupção com patriotismo, perseverança, graças a um juiz, o doutor Sergio Moro”.

Ao falar de “violência”, ignorou a periferia e os pobres, além da própria letalidade policial, e disse que as principais vítimas são os policiais militares como “alvo da prioridade do crime”, que hoje em seu governo estão mais protegidos. Ao falar de “perseguição religiosa”, ignorou as religiões espíritas e afrodescendentes, mas defendeu a proteção a “igrejas, sinagogas e mesquitas”. “Recordaremos anualmente aqueles que sofrem a perseguição religiosa”, disse.

 

Acompanhe como foi o discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU

 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. É o discurso mais mentiroso e confuso de toda história da ONU.
    Na hora lá quer ser o bão. Aqui, promove corrupção, obstrui poder judiciário,
    policiais, persegue indios, manda botar fogo, manda matar, estuprar o escambau.

    Lá é a santa puta do pau oco, que ainda fala no final que a verdade o libertarás.

    Esse cara tem a cabeça de um adolescente de 15 anos. Estou meio desconfiado
    dele: Carioca, amiguinho de milicianos, gosta de surfe, de praia, e o raciocínio
    atrofiado. Tenho minhas desconfianças do que seja.

  2. O que diria Cazuza:

    Não me convidaram pra essa festa pobre
    Que os homens armaram pra meconvencer
    Apagar sem ver toda essa droga
    Que já vem malhada antes de eu nascer
    Não me elegeram a garota do fantástico
    Não me subornaram, será que é meu fim
    Ver tv a cores na taba de um índio
    Programada pra só dizer sim
    Brasil mostra tua cara
    Quero ver quem paga pra agente ficar assim
    Brasil qual e teu negocio
    O nome do teu socio confie em mim.
    Grande pátria desimportante
    Em nenhum instante eu vou te trair

  3. Acredito que Steve Bannon, inteligência a serviço do mal, produziu um texto sob medida para o seu interesse pessoal.
    Atacou diversos ao mesmo tempo, ONU, Cuba, Venezuela,França, lulalá, dilma, só evitou elogiar a tragédia argentina by MMacri . Muito articulado que é, SBannon não teve qq dificuldade para convencer o energúmeno e seus “assessores”(OCarvalho, Ernesto filho do censor e os três patetas) a respeito das vantagens de um discurso daquela natureza, assim foi feito e assim o idiota deu o seu espetáculo que entrará para a história.
    Para SBannon, tanto faz se esta estratégia dará certo ou não, uma vez que, para ele, o país chamado brasilsil passou a ser um joguete sem qualquer importância, mas para os do patropi o discurso do destrambelhado trará consequências inevitáveis no médio e longo prazo.
    Quanto ao futuro do ogro, o seu grande parceiro, DTrump, fugiu dele como o diabo da cruz, comportamento previsível destinado àqueles que gostam de lamber o chão, o amigo da onça de Israel foi derrotado, o vizinho argentino está a caminho de uma derrota estrondosa, China e Rússia já o jogaram para escanteio no agora RICS, quem sobrou, além do dono do bar da esquina, para o ignorante bater papo?
    Afinal, quem conhece ou ouviu falar do presidente de qualquer país que foi à reunião da assembléia geral da ONU e, na véspera, saiu para jantar com a mulher e assessores numa pizzaria? Em Davos já tinha ido jantar no marmitão vestindo uma daquelas camisas que se encontra em qualquer camelô aqui no RJ.

    1. acabei de comentar algo parecido no post do discurso de Trump…
      discurso de Bolsonaro foi preparado por quem quer explorar o Brasil sozinho, sem concorrentes

      se der certo o isolamento internacional do Brasil que eles tanto desejam, não terá sido a primeira vez que os estados unidos fizeram isso. Sorte nossa ser justamente o que Bolsonaro quer, porque em outros países tiveram que inventar guerras para ocupação em nome da democracia e, pasme, da liberdade

  4. Não sei quem escreveu tamanho delirio, como tão bem disse o ministro das relações exteriores de Cuba, mas seja quem for, Bolsonaro não passa de um paria: um presidente sem moral, sem ética, sem brilhantismo, sem inteligência. Todos sabem que esse tipo de discurso, do inicio ao fim, é falso. Um atentado ao conhecimento de todos sobre a questão da Amazônia, dos indios, dos governos petistas etc. O Bozo realmente não tem pudor.

  5. Nassif: parodiando OswaldDeAndrade eu digo —“Não li e não gostei” da fala que tão falando. Mas dou razão ao daBala, em seu discurso primário e ingênuo, até um tanto infantil. Esses europeus colonizadores têm de aprender que o Ôme foi eleito pra preservar a Amazônio só pro pessoal do Trump. Num tem sentido, seja de Paris, Londres, Roma, Berlim ou Moscou, querer beliscar uma fatia. Tãopouco os chinas. Os VerdeSauvas não haverão de permitir (esse parece outro compromisso) que se meta o bedelho no que já é dos gringos, em consórcio com os Salles, administradores locais. Os selvículas e os ribeirinhos dali serão removidos para “Colônias” no coração da mata e receberão toda assistência, que será lançada de paraquedas pelos Hercules C130, doados graciosamente, pelos donos do quintal. Assim que daBalinha assumir o MacDonald de Washington o território será oficialmente reconhecido e aprovado pela ala do CorruptoCongresso, que já sonha com dos dólares que pode render o negócio. Como Alcântara. Tão dizendo até que Israel ficará com o Amapá. Seus soldados já estão até aprendendo a combater o “fogo”. Na verdade, isto é só parte da ideologia e princípios das AgulhasNegres. Os 91 milhões de eleitores que disseram não a esse estado de coisas que esles estão implantando serão mandados pra Venezuela e Cuba. Aqui ficarão somente aqueles 56 milhões de partidarios do Messias… Será a TerraPrometida… Esse foi o recado, que os Kummunistas têm difuculdade de entender.

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