Brasil: uma democracia em decadência, diz editorial do Le Monde

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Editorial do jornal francês Le Monde, deste sábado, 27, é sobre o Brasil. O jornal se dedica a criticar a crise política vivida pelo país e os casos de corrupção que ‘atordoam os brasileiros’. O editorial considera a condenação de Lula, a 12 anos e um mês de prisão, como um novo capítulo da caótica história política do país desde o advento do impeachment sem crime da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
 
Para o Le Monde, a entrega do passaporte de Lula à Polícia Federal significou “mais uma humilhação para o ex-sindicalista, símbolo da luta operária na ditadura militar, um dos maiores dirigentes do país e estrela de cúpulas internacionais no auge de sua carreira”. Por isso, o destino de Lula, o “pai dos pobres” causa comoção dentro e fora do país.

 
O Le Monde entende que seus aliados o consideram um ‘deus’, defendendo sua inocência, enquanto seus inimigos clamam que ele é um bandido. O jornal aponta que, mesmo com algumas manobras judiciais estranhas, “não é absurdo pensar que o ex-metalúrgico sucumbiu à tradição clientelista do sistema político brasileiro”, lembrando que o escândalo do Mensalão, em 2005, quase custou sua reeleição.
 
O jornal aponta que, no mesmo momento em que os juízes pronunciavam a sentença contra Lula, o presidente Michel Temer, acusado de corrupção passiva, obstrução à Justiça e participação em organização criminosa, participava da Cúpula de Davos, tentando dar um ar de normalidade ao seu governo.
 
Por fim, o editorial crava que há alguns meses das eleições, o Brasil mostra a imagem de uma sociedade de castas, onde os dirigentes não obedecem às mesmas leis que os miseráveis, o que é indigno e perigoso para a maior democracia da América Latina.
 
Leia o editorial a seguir.
 
no Le Monde
 
No Brasil, uma democracia em declínio
 
Os escândalos, misturando casos de dinheiro sujos e negociações no porão, se sucederam no poder do ponto de vista dos deslumbrantes brasileiros.
 
Depois de bravata, lágrimas e excessos, Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como “Lula”, presidente do Brasil entre 2003-2011, obedeceu. Na sexta-feira, 26 de janeiro, seus advogados entregaram o passaporte do ex-chefe de Estado às autoridades policiais de São Paulo. Esta medida foi exigida por um juiz de Brasília, no dia seguinte à sua sentença a doze anos e um mês de prisão por suborno passivo e lavagem de dinheiro.
 
Mais uma humilhação para o ex-sindicalista, figura da luta dos trabalhadores sob a ditadura militar (1964-1985), que foi um dos maiores líderes políticos do país e a estrela dos encontros internacionais no auge do seu esplendor. O destino de Lula, “pai dos pobres”, cuja política social tirou milhões de brasileiros da pobreza, desencadeia paixões.
 
Seus aliados protestam contra sua inocência e o defendem como um deus enquanto seus inimigos o consideram um bandido. Apesar da comprovada estranheza do processo judicial, não é absurdo imaginar que o ex-metalúrgico e seu Partido dos Trabalhadores, como seus predecessores, tenham sucumbido à tradição clientelista do sistema político brasileiro. Já em 2005, o escândalo de “mensalao” (a compra de votos dos parlamentares) quase lhe custou sua reeleição. E, além desta primeira condenação, Lula também é objeto de outros oito processos legais.
 
Imunidade equivocada
 
Mas o mal-estar cresceu desde o controverso “impeachment” em 2016 da presidente Dilma Rousseff, herdeira e sucessora de Lula. Longe de servir à causa da ética prometida desde o início da operação anti-corrupção “Lava Jato”, a desgraça de Lula oferece o espetáculo angustiante de um velho mundo político em desordem.
 
No momento em que os juízes pronunciaram a sentença contra o ex-metalúrgico, o atual presidente, Michel Temer, estava participando da cúpula de Davos, tentando fazê-la esquecer as pesadas acusações contra ele: corrupção passiva, participação em uma organização criminosa e obstrução da justiça .
 
Até agora, o chefe de Estado conseguiu suspender os procedimentos que o direcionam ao preço de um acordo sem vergonha com os parlamentares, eles mesmos em delicadeza com a justiça. No Congresso Brasileiro, pelo menos 45 senadores de 81 devem responder a acusações criminais, aponta o site Congresso em Foco, que examina a atividade parlamentar. Nada de novo. “Lava Jato” apenas lança luz sobre práticas muito antes de Lula chegar ao poder.
 
Após as manifestações monstruosas de 2015 e 2016 chamando em nome da “moralidade” a partida de Dilma Rousseff, os escândalos, dignos de um filme da série B, misturando casos de dinheiro sujos e negociações no porão, seguiram-se ao ponto de impressionar os brasileiros. Mas o status de foro privilegidao (“cidadão privilegiado”) protege os políticos no cargo. A imunidade que eles desfrutam, legítima em princípio, é enganada e manipulada com o maior cinismo.
 
A elite de Brasília é banhada por um clima de impunidade que pode desgostar o povo. Poucos meses antes da eleição presidencial, o Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, reflete a imagem de uma sociedade de castas onde os líderes não obedecem às mesmas leis que os pobres. É indigno e perigoso para a maior democracia da América Latina.
 
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

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  1. Um editorial fraquíssimo
    Não podemos esquecer que o Le Monde viu, num primeiro momento, correção no impeachment de Dilma, para depois se informar melhor e corrigir seu erro. Desconhecer o caso de Lula e sua flagrante inocência, é mais um erro grotesco do Le Monde. Parece que os editorialistas do jornal francês precisam ler mais o New York Times.

  2. Consideram um deus?????
    É

    Consideram um deus?????

    É essa a imagem do Le monde? Dois grupos fanáticos em torno de uma figura messiânica?

    Ora, faça-me o favor. Entendemos muito bem toda a questão do clientelismo como forma de governabilidade desde sempre.

    Lula não é santo, e nem poderia ser. Desaponta-me o jornal em não fazer uma análise geopolítica, onde está em jogo, a democracia e a soberania de um Pais e de um Povo. NÃO SOMOS UM BANDO DE SEBASTIANISTAS MEDIEVAIS.

    Materia rasa e preconceituosa que continua a análise em cima da corrupção, sem mencionar nada sobre mercado, politicas economicas, riquezas, pre-sal, geopolitica. Tratam como se a crise fosse simplesmente problemas domésticos.

  3. Soberania esmagada

    Trabalho especializado, alto nível de educação, pluralidade de formação, desenvolvimento tecnológico, desenvolvimento político, desenvolvimento social, nada disso interessa a potências hegemônicas que se desenvolva em outro país. A derrocada do Brasil se deve à potência hegemônica irmã (kkk), e é levada a cabo por nacionais a ela subservientes. Viva Lula!

  4. Le Monde ou Le estadão?

    Caracas, que editorialzinho mais sem vergonha. Em nenhum momento o jornal fala da postura enviezada dos desmbargadores do TRF4 a endossar sem qualquer ressalva a condenação do Moro.

    Ao invéz de reproduzir o editorial de forma acritica, o site bem que poderia fazer uma análise mais crítica do mesmo.

    Copiar e colar por copiar e colar, o estadão e folha bem que poderia fazer.

  5. Esse editorial poderia ser

    Esse editorial poderia ser escrito por um tucano de tão mureteiro,

     

    quem defende Lula não passa de um estúpido porque o considera um deus e quem o acusa está quase com a razão já que ele “pode ter sucumbido”. È o pig internacional, ou melhor, presse ècrite porc.

  6. Cadê o elogio?

    Não relata o eleogio as instituições que vem combatendo a corrupção no Brasil. Condenando corruptos poderosos que antes eram intocáveis. 

    1. Qual judiciário está condenando corruptos poderosos ?

      Pegaram os mega sonegadores Marinhos, Setúbal, Gerdau, Steinbrugh, Lahman ?

      Estão investigando os conspiradores contra a democracia Aécio Perrela, Marinhos, Tivita, Skaff, Lehman, Setúbal e José Chirico ? 

  7. Muita gente tem afirmado que
    Muita gente tem afirmado que a ditadura midiático-penal inverteu o ônus da prova, cabendo a Lula provar sua inocência: meu caro, nem isso estå sendo dado a Lula: ao mesmo tempo em que nāo provam que Lula ė criminoso contumaz como dizem, impedem que Lula prove sua inocência…o sistema midiatico penal ignora todas provas da inocencia Lula, por exemplo ao negar as pericias nos recibos de aluguel, vem a publico repetir na midia que os recibos são falsos: façam a pericia bando de marginais fora da lei..ouçam Tacla Duran! …só a guilhotina pra dar um jeito nessa corja..que o povo saiba disso nos Comitês de Luta pela volta da democracia. Fosse nos EUA, isso q fazem com Lula daria punição para esses irresponsåveis, há bons artigos do promotor Romulo Andrade Moreira sobre o tema.
    https://romulomoreira.jusbrasil.com.br/artigos/206655193/mais-uma-vez-a-questao-da-etica-do-mp-nos-eua

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