Brasil virou um “país de denuncismo”, aponta presidente da Andrade Gutierrez

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O presidente do grupo e do conselho de administração da Andrade Gutierrez, Ricardo Sena, disse à Folha de S. Paulo que o Brasil, hoje, é movido a Lava Jato e que isso tornou a economia do País mais frágil.
 
Na entrevista exclusiva, Sena ainda admitiu que qualquer empresário que não seja “tolo” não consegue negar que pagamento de propina é praxe quando envolve contratos públicos, e que isso ocorre desde o início dos tempos. Mas afirmou que a classe política tem feito uso de aparelhos públicos para aproveitar a situação e dificultar a vida das empresas.
 
Ele conta que, antes da Lava Jato, era mais fácil resolver situações em que o poder público tinha obras paralisadas por falta de pagamento. Mas com o Brasil pós Lava Jato, órgãos como o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União passarem a intervir nessas questões criando empecilhos que impedem qualquer tipo de resolução amigável e legal, sem ter de passar por algum litígio.
 
“Não quer dizer que, no passado, tudo se resolvia com propina. Tinha claro. Só falta a gente negar, né. Mas tinha muita Renata [criando a figura de uma govenante hipotética] que fazia o correto. Pegava a caneta e falava: vou pagar isso, que entendo o correto. Hoje, a mesma Renata fala: acho que tinha que pagar tanto, mas não vou assinar o documento. Porque amanhã o TCU fala que a conta está errada e congela os bens dela. Virou um país de denuncismo para todo lado. O excesso sempre é ruim”, disparou.
 
Sena ainda se disse “absolutamente favorável a esse processo de evolução” imposto pelas investigações da Lava Jato. “Sou brasileiro. Mas passou do ponto. Virou um negócio que a Lava Jato virou fim. O Brasil vive da Lava Jato. É a única coisa que se vê. (…) E quem quer trabalhar, quem quer produzir tem toda a dificuldade. Você saiu de uma vida complicada e entrou numa vida arrumada, mas todo mundo quer jogar [contra você]. Eu não consigo trabalhar, pô. Esse é um problema que nos afeta muito. Acabar com a empresa é uma teoria meio sem lógica, concorda?”
 
Segundo o empresário, “o TCU tem uma atuação ao meu ver completamente estabanada no processo. É um órgão de apoio ao Congresso. Ele tem de fiscalizar o governo e as atitudes do governo. Se faço contrato com o governo, fruto de uma licitação, ele quer que eu demonstre para ele… Não tenho que demonstrar nada para ele. É tudo errado. Ele acha que tudo que o governo faz de não pagar [as empresas], pode. No dia que paro a obra, ele manda congelar conta. Virou uma campanha contra o privado.”
 
Por isso, disse, a Andrade Gutierrez hoje não faz mais contratos nem tem interesse futuro em tocar obras públicas, em função das disputas legais com a administração direta e arbitragem de órgãos como o TCU.
 
O mesmo não serve, porém, para projetos da Petrobras e outras empresas públicas que ele considerou boas parceiras. Ele disse que gostaria de ter o nome da Andrade Gutierrez retirado da lista negra da Petrobras, inserido em função da Lava Jato, principalmente porque isso atrapalha, também, negócios no exterior. Sena destacou que a Andrade já pagou o que tinha de pagar no acordo de leniência, mas que isso não trouxe nenhum fato positivo.
 
“A lista negra existiu por força da denúncia de corrupção. As pessoas foram presas, condenadas e nós pagamos. Ué, por que eu vou continuar na lista? Não consigo entender. Pegamos contrato agora de obras de refinaria na Argentina. Uma Petrobras de lá. Foi isso [faz um gesto de esforço] para o cara aceitar. E para ele interessava. Nossa proposta era melhor. Ele falou: Quero vocês, mas, caramba, vocês estão proibidos na Petrobras, como eu vou contratar? Olha o trabalho que dá…”, relatou.
 
Ao fazer um prognóstico do governo Temer, Sena disse que “a economia tem reagido bem, mas o lado político é interrogação.”
 
“Fico pensado que o Temer, de um jeito ou de outro, aos trancos e barrancos, vai chegar ao fim. Acho que botou na cabeça que precisa fazer um governo reformista porque, senão vai entrar para a história como? Só porque tirou a Dilma? Se for isso, vai ficar mais é como golpe. Ele vai fazer pressão enorme para passar as reformas. Se for feito, o país retoma certo rumo.”
 
Ainda sobre propina, ele disse que as investigações deveriam centrar na “doença”. “Isso que quero dizer. Não tem jeito de a pessoa viver no Brasil empresarialmente sem fazer. Ou pelo menos não tinha. De novo, não estou querendo jogar lenha na fogueira. Mas é um fato.”
 
O presidente do grupo ainda disse que corrupção não é um problema do Brasil. “É no mundo inteiro. Tem mais e menos. O que acho que aconteceu é que no Brasil recrudesceu, esparramou. Antes era muito mais. Virou uma moda. Acho que tem muito a ver com a forma de funcionar do PT. (…) Antigamente as coisas eram mais veladas. Era uma coisa pessoal, não era a administração tal todo mundo rouba. Com o negócio do PT, como são mais democráticos e abertos, virou uma coisa que todo mundo mama.”
 
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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

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  1. Cara de pau

    Quando a coisa andava e ele enchia a burra de dinheiro, não reclamava. Agora que foi pego com as calças na mão, quer justificar o injustificável. Se pagou propina tem mais é que ficar queimado mesmo, senão fica por isso mesmo.

    1. Pagou propina porque sem

      Pagou propina porque sem pagar a empresa não existiria. O que ele disse é a crua realidade. Em todos os niveis do Pais

      não se opera com poder publico, a não ser por rarissima exceção, sem pagar propina, no nivel federal, estadual e municipal,

      no varejo e no atacado, do fiscal da feira ao topo, é uma cultura secular, ja existia ao tempo de D.João VI na Alfandega do Rio.

      Para mudar não basta “cruzada moralista”, é preciso SIMPLIFICAR A BUROCRACIA que tem excesso de normas exatamente para justificar a corrupção. A diminuição da corrupção depende da diminuição da burocracia, do fim dos tribunais de contas

      que são focos de corrupção , há uma vastissima corrupção municipal de alvaras e licenças.

      Muits empresas e negocios pagam a contragosto porque se não pagam o fiscal FECHA A EMPRESA.

      1. Bobagem, pega o oriente nem

        Bobagem, pega o oriente nem gorjeta levam.

        Tudo é questão de moralidade do nosso povo.

        Para quem não tem futuro, não existe moralidade.

        Sem moralidade nosso instindo é viver uma “carpe diem”, “vida louca”, tu pode matar porque não existe futuro.

        Qual é a perspectiva do brasileiro, ser funcionário público ou ir para o crime.

        Não faz nenhuma diferença este doido ai e um traficante. 

         

        1. No Oriente não tem

          No Oriente não tem corrupção?  Nas Filipinas, Indonesia, Tailandia ? Na China?

          No Japão não aceitam gorjeta nos taxis e hoteis, isso nada tem a ver com corrupçao.

          Já no Oriente Medio não há negocio sem comissão.

          1. corrupção

            Gente, existe corrupção entre empresas privadas! Ou vocês nunca ouviram falar daquele “presentinho” ao comprador do grande cliente? Isso quando não é acertado uma comissão mesmo à pessoa que tiver o poder de decisão que em muitos casos não é o dono da empresa. Então, onde tiver um ser humano haverá corrupção, não importando se é na esfera pública ou privada. Temos que parar de ficar discutindo “filosofia”. A única coisa que podemos fazer na escala pública é aprimorar as fiscalizações o que O PT fez mais que todos. Talvez exatamente por isso tenha sido o único a ter se ferrado.

  2. Era tão bom!!

    Apenas entre a gente, em conversa de sauna….coisa de gente fina e de confiança

    Mas, chegou o PT com a sua democracia e institucionalizou uma prática antiga e generalizada.

    Agora é crime, agora não pode.

  3. A corrupção nunca foi

    A corrupção nunca foi problema para as empreiteiras. É só ler o livro “Estranhas Catedrais” pra ver como governo e empreiteiras sempre tiveram um relacionamento promíscuo. “Bacanal” é uma palavra leve pra definir este “relacionamento”.

    Corrupção é um problema? É. Como seria bom viver num mundo onde os homens fossem puros e honestos. Mas como isso não existe atenhamo-nos ao básico: o problema do Brasil sempre foi a falta de um projeto nacional que incluísse toda a população, o que resultou numa pavorosa distribuição de renda e exclusão, raíz das nossas descraças.

     

  4. Quer dizer, tudo menos pt

    Eles da elite até aceitam a destruição de suas empresas, ou a saida do país do mercado internaiconal da carne, o desmprego (quql o probllema?), a destruição do país, etc; o que não dá é o pt e esse seu governo para o povo, eca… povo.

    O michel está certo, diz. As reformas são nossas. A lava jato é boa, ela não nos quer, ela quer os outros, sabemos. Todo este estrago nós colocamos na conta do povo, cobramos depois e o lucro será nosso. Sempre foi assim.

    Antes a gente pagava propina para os nossos, em jantares chics, hoje se damos jantar, vai sindicalista, e isto é que é intolerável.

    André, esquece este negócio de burocracia, isto é bom para eles. Perceba que eles nunca atacam isso.

    É, parece que não tem jeito!

    Nossa única saida e continuar vencendo pelo voto. Vai ser duro , mas vai.

  5. Porta-voz dos empreiteiros?

    No processo de estancamento da sangria já temos os porta-vozes dos políticos (FHC e Aécio), defendendo que uma coisa é a corrupção do PT e outra a do PSDB, sendo aquela digna de pena de morte e esta inócua; temos o porta-voz do judiciário, que é Gilmar Mendes, presidente de fato do STF e do TSE; e agora chega o dos empreiteiros, emplacando o discurso do “parem-esse-fim-do-mundo” tardiamente?

    Eu achava que era só a Folha dando voz a mais um asno/tabaréu, como é cansada de fazer, mas estou vendo agora que faz parte de um processo de construção de discurso, coerente com o dos demais porta-vozes supra…

    1. Nossa, a banda de música da UDN rediviva!

      FHC, Aécio, Gilmar, Temer… os que aplaudiram e estimularam o golpe, agora querem desmontá-lo.

      É a história da banda de música da UDN rediviva!

  6. O ministro Helio Beltrão do

    O ministro Helio Beltrão do Ministério da Desburocratização do governo João Figueiredo em 1979, queria colocar em prática algumas normas básicas, para facilitar a vida do povo brasileiro, coisas simples.

    Eu lembro que uma delas era abolir o reconhecimento de firma em cartório, e cópia autenticada.

    Caracá, o ministro recebeu uma enxurrada de críticas de donos de cartório.

    Tentou facilitar  a abertura de micro e pequena empresa, reduzindo ao mínimo possível a quantidade de papelada. Coitado, o velhinho Beltrão recebeu mais porrada ainda.

    O Brasil nunca quis facilitar nada em termos de burocracia. Pelo contrário, tem que ter carimbo e copia para tudo. O que adianta, resolveu alguma coisa ?  Apesar de todos “esses cuidados” a corrupção está aí.

    Resumindo, aquela famosa frase é válida. Cria-se  dificuldade, para se vender facilidades, ou seja, corrupção.

  7. Toda a máfia que se preze tem seu código de honra!

    A Yakuzá japonesa não toca o dedo na polícia nem em qualquer pessoa que não se mete nos seus negócios, porém no mínimo para quem erra é ter que cortar um dedo. Quando há traição o mafioso recebe a sua pena, que não é uma surra de travesseiro.

    Um dos mafiosos da Cosa Nostra, Tommaso Buscetta, que ficou conhecido no Brasil além de ser o primeiro delator da Organização Criminosa, tentou o suicídio antes de começar a delatar, porém tanto ele como outros que começaram abrir o bico e entregar todos os mafiosos, estes não faziam por dinheiro. Buscetta antes de delatar deu a seguinte declaração.

    “Estou pronto a pagar integralmente o meu débito com a Justiça, sem pretender desconto ou redução da pena criminal”. Acrescentou, ainda: “Sou um homem cansado e atormentado. Cheguei a um certo ponto da vida, atingi a maturidade e adquiri experiência e capacidade de autojulgamento. Daí, me dei conta do câncer que se transformou a máfia e resolvi ajudar a Justiça na tarefa de conseguir o seu desmantelamento”.

    Ou seja, por mais criminosos e assassinos que sejam, tem um código de honra que deve ser mantido, ou não entregam ninguém, ou quando entregam é por remorsos de todos os crimes cometidos e não querem retribuições financeiras, só a consciência tranquila.

    Agora nossos mafiosos delatores são verdadeiros negociantes da honra, ou seja, conforme o lhes oferecem vendem as informações mediante diminuição da pena, ou até extinção, e uma boa lavagem do dinheiro feita pelo próprio Estado que lhes dá o direito de fazer uso da parte do roubo.

    Há algo errado nisto tudo, pois os juízes e promotores italianos jamais se prestariam a este tipo de negócio.

  8. É Por Isto Que Corrupto Prefere Democracia

    Nassif: eu não, que meu cacife é nenhum. Mas você pode escreve à Fundação Nobel e pedir para instituírem o prêmio da Corrupção. Vão inscrever-se meio mundo. Mas a do Sr. Ricardo Sena há de ser vitoriosa. Merecidamente!

    O mais fascinante nele e presidir uma empresa que, reconhecidamente, e corrompida-corruptora-corrupta. E que ele desempenha com denodo e eficiência, segundo a declaração.

    A aula é das mais interessantes. De como ao ser corrompido responder o ato com outra corrupção, mais corrupta que a recebida. E a tese defendida é digna de doutorado, segundo os padrões de certa linha de procedimento do Judiciário brasileiro e de seu atual governo.

    O difícil vai ser enquadra em qual categoria do prêmio.

    Talvez no da Paz. Sim, porque os corruptos e ladrões nacionais, a partir da visão empresarial do distinto cidadão, ficarão tranquilos e harmonizados.

    Ou na Economia. O ministro da fazenda fica no chinelo frente ao sistema de recolhimento de verbas.

    Talvez na Literatura. Um livro dele, sobre como roubar e ficar impune seria o supra sumo dos lançamento editorias. Um Vademecum. O homem é polivalente. Onde entra, segundo disse, aceita a corrupção promete corromper mais ainda. Cara bom.

    Você aceita indica-lo à Fundação?

  9. LAVA JATO E A DESTRUIÇÃO DO

    LAVA JATO E A DESTRUIÇÃO DO PAÍS, DIZ PROFESSOR DA UFRJ e ECONOMISTA DO IPEA

    A queda abrupta das atividades da Petrobras e das empreiteiras envolvidas pela operação, nos últimos anos, fechou direta ou indiretamente inúmeros postos de trabalho na indústria e na construção civil. São quase 3 milhões de trabalhadores demitidos nesses dois setores, em 2015 e 2016

    Algumas consultorias divulgaram estudos que avaliam que do resultado negativo do PIB de 3,8% em 2015 e de 3,6% em 2016, estima-se que a operação é responsável por entre 2 e 2,5 pontos percentuais da queda de cada ano. Em outras palavras, se não fosse a Lava Jato, a recessão de cada ano teria sido algo em torno de 1,5%.

    https://www.cartacapital.com.br/economia/quantos-empregos-custa-a-lava-jato

  10. Tirando o viés neoliberal, o

    Tirando o viés neoliberal, o empresário disse o que todos sabem sobre a corrupção no Brasil e no mundo. Disse, também, do mal da lavajato do moro e força tarefa do mpf: não pode trabalhar.

    No mais, seria bem que ele lesse a excelente entrevista do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães:

    http://www.viomundo.com.br/denuncias/samuel-pinheiro-guimaraes-eua-usam-legislacao-e-departamento-de-justica-para-enfraquecer-quem-disputa-mercado-com-washington.html

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