Caminhoneiros mantêm Brasil paralisado

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Foto: Roberto Parizotti

da CUT 

Caminhoneiros mantêm Brasil paralisado

por Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT

Acuado, Temer cedeu, concordou com vários itens da pauta dos caminhoneiros, publicou no DO, como a categoria exigiu, mesmo assim, paralisação continua em 22 estados e DF

Sem legitimidade nem capital político, o golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) cedeu a praticamente todos os itens da pauta dos caminhoneiros na noite deste domingo (27). O governo cumpriu até a exigência da categoria de publicar todas as medidas no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (28) antes do fim da mobilização. Mesmo assim, os caminhoneiros não deixaram as estradas e continuam de braços cruzados: os bloqueios aumentaram de 14 para 22 estados, além do Distrito Federal, de ontem para hoje.

Em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão na noite deste domingo, Temer anunciou as medidas negociadas com representantes da categoria:

1) a redução do litro do preço do diesel em R$ 0,46 nas refinarias e o compromisso de fazer este valor chegar às bombas;

2) o congelamento do  preço do óleo diesel por 60 dias – depois, o diesel só será reajustado a cada 30 dias;

3) a publicação no DOU de três medidas provisórias em edição extra – a)  reserva de 30% do frete da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para cooperativas de transportes autônomos, sindicatos e associações de autônomos; b) dispensa de pagamento de pedágio do eixo suspenso de caminhões em todas as estradas – o benefício só valia nas rodovias federais desde 2015; c) editou um texto que cria a política de preços mínimos para o transporte de cargas.

Não há consenso na categoria. Fonte da reportagem do Portal CUT diz que a classe dos caminhoneiros ainda não aceita o acordo porque diz que R$ 0,46 não resolve nada e que “no geral a categoria não aceita só 60 dias de redução porque tem ainda a questão da tabela de preço [do frete] e da taxa [cambial] que depois terá reajuste mensal”.

Desde sexta-feira (25) a Polícia Rodoviária Federal (PRF) parou de atualizar os bloqueios que estão sendo feitos nas estradas brasileiras, porém, segundo agências de notícias, pelo menos 22 estados e o Distrito Federal estão interditados. O último boletim da PRF foi divulgado no sábado (26), quando o País contabilizava 554 pontos de bloqueio.

No oitavo dia consecutivo de greve dos caminhoneiros, as grandes cidades brasileiras estão praticamente desabastecidas tanto de combustível quanto de hortifrutigranjeiros. Falta querosene de avião em pelo menos oito aeroportos, as frotas de transporte público seguem circulando com operações limitadas e algumas escolas públicas e universidades federais suspenderam as atividades.

Foi o caso da Universidade de São Paulo (USP) que enviou comunicado suspendendo até quarta-feira (30) as aulas dos cursos de graduação. Em Recife (PE), oito instituições de ensino superior decidiram manter a interrupção das aulas, com adesão das escolas particulares. Também foram suspensas as aulas da rede municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro por causa do racionamento do combustível.

Ainda na capital fluminense, a Secretaria Estadual de Saúde mandou interromper a partir de hoje (28) cirurgias não emergenciais em sua rede de hospitais devido à baixa nos estoques de banco de sangue. Já em nível estadual, escolas, hospitais e serviços públicos em geral estão funcionando normalmente.

Em Minas Gerais, o executivo estadual prorrogou ponto facultativo para esta segunda-feira e estão mantidos somente serviços considerados emergenciais como os médico-hospitalares e segurança pública.

Em frente à Refinaria Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras, localizada na Baixada Fluminense, os caminhoneiros continuam protestando. A refinaria está sendo usada desde domingo (27) como base para o abastecimento de postos de gasolina da região metropolitana do Rio de Janeiro. Policiais rodoviários federais e militares do Exército mantêm a segurança do entorno da refinaria.

Na sexta-feira (25), em nota oficial, o Ceasa do Rio de Janeiro comunicou que entraram, em média, 38 caminhões carregados, atingindo diretamente os preços dos produtos, que tiveram um aumento considerável nos últimos dias.

Segundo a central de abastecimento, em uma sexta-feira normal costumam chegar cerca de 600 caminhões. Isso ocorre devido à grande procura e pouca oferta, disse.

“Se a entrada da oferta do produto diminui, os preços têm a tendência a aumentar. Muitos produtos como batata inglesa, batata doce, mandioca, beterraba, cenoura, morango, entre outros, já não estão mais disponíveis para comercialização”.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

6 Comentários

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  1. Quem sabe faz a hora não espera acontecer. A hora é essa

    Fora ParenTemer!

    Aderir à greve dos caminhoneiros! Parar tudo!  CompartilharImprimirpublicado 28/05/2018Xavier.jpg

    O Conversa Afiada reproduz sereno (sempre) artigo de seu colUnista exclusivo, Joaquim Xavier:

    O recuo generalizado dos usurpadores do Jaburu diante das reivindicações dos caminhoneiros foi mais uma caçamba de cal no golpe de 2016. Com a cara mais lambida do planeta, num dia Eliseu “Quadrilha” Padilha veio a público celebrar um arremedo como o acordo dos acordos. Mais: chamou uma das lideranças dos caminhoneiros de criminosa. “Conheço este sujeito deste 1999. É mau caráter”. Referia-se a José da Fonseca Lopes, da ABCAM, que se retirou das reuniões onde se tramava o fim do movimento sem atender as reivindicações do setor.

    Pois bem: no domingo, o chefe de Padilha aderiu ao “criminoso” e aceitou ponto por ponto tudo o que Fonseca Lopes reivindicava. Tal qual nada tivesse acontecido. Nesse meio tempo, o bufão Marun, líder da tropa de choque de Eduardo Cunha, dava entrevistas sobre a autoridade e esperteza do governo. Para quem já posou de bailarino dentro do congresso, um ridículo a mais, outro a menos não faz diferença. Marun continuou tratando a greve como movimento de empresários inescrupulosos, distribuiu mandados de prisão, mas nunca explicou como os golpistas reabriram negociações com gente considerada delinquente. Questão de costume, certamente.

    Risadas à parte, o fato é que a política imexível de ParenTemer sobre os combustíveis escoou para o ralo. Redução, mesmo ínfima, de preço do diesel, congelamento por 60 dias e mudanças apenas mensais nos valores é justamente o contrário do mantra de reajustes diários conforme variações internacionais. Se Parente tivesse um pingo de caráter, já estaria procurando abrigo em um dos conglomerados internacionais que de fato ele representa. Mas é mais fácil encontrar um posto com combustível na bomba do que qualquer vestígio de vergonha em Parente –para não dizer neste governo de bandidos como um todo.

    Afora isso, ainda que o pacote de concessões de ParenTemer ilustre o desgoverno, ele continua longe de tocar nas feridas que vêm destruindo o setor: a subserviência aos abutres minoritários, a liquidação das refinarias da estatal e o alinhamento da política de combustíveis aos interesses estranhos à soberania nacional. Isso sem falar que a gasolina permanece nas alturas e nem se tocou no preço do gás de cozinha, que atinge sobretudo a camada mais pobre da população.

    Do ponto de vista do país, do povo brasileiro, a saída é de clareza solar: pra começar, redução radical no preço de todos os combustíveis sem aumento de impostos que oneram o povo pobre, reestatização da Petrobras e recuperação dos investimentos em refino para não deixar o Brasil à mercê dos piratas multinacionais. Isso é possível com a quadrilha de golpistas no poder? A pergunta já embute a resposta.

    Em vez de procurar os meios de viabilizar tal caminho, progressistas assustados recomendam calma para não favorecer uma “intervenção militar”. “Vamos esperar as eleições”. Mas que eleições haverá, se é que haverá? Um simulacro em que o principal líder popular e o preferido disparado em todas as pesquisas está encerrado numa solitária?

    Ah, mas outubro está logo aí. Agora, vá dizer isto à população que vive um dia após o outro. “Segura a onda. Passe fome, use lenha, ande a pé, fique desempregado, tire o filho do colégio, suje o nome no Serasa, peça esmola e veja suas famílias no desespero até janeiro do ano que vem”. Isso é conversa de quem está preocupado com a sua própria biografia e com o “julgamento da história” –refúgios preferidos de quem abdica da luta pelos que estão vivos agora ou disputa linhas em páginas de teses a serem lidas pelos bisnetos que sobrarem. 

    O momento é complexo, todos sabemos. Mas a política concreta não se faz com recurso a almanaques. Aqueles que se dizem de esquerda e/ou juram respeito à democracia são chamados a encontrar soluções de acordo com o ritmo dos acontecimentos. 

    Não se entende, por exemplo, por que as centrais sindicais, os partidos progressistas e as lideranças populares não organizam movimentos de apoio à greve. Não incentivam paralisações em seus setores, sem suas bases, exigindo a saída de ParenTemer, a liberdade para Lula disputar a presidência e a antecipação de eleições. “Ah, mas até lá o Rodrigo Maia assume”, retrucarão os timoratos fantasiados de radicais. Que assuma, mas emparedado pelo compromisso de mudar de imediato a política homicida dos combustíveis e convocar o pleito o mais rápido possível.

    Situações extraordinárias clamam por saídas extraordinárias. A depender do povo, sempre dentro da democracia. Haverá confronto? Provavelmente, mas a história nunca se moveu em gabinetes refrigerados ou salões acarpetados. Fingir que dá pra esperar um calendário que nem se sabe vai acontecer, isto sim, é jogar a favor da direita e dar tempo para uma quartelada de consequências muito bem conhecidas.

     

  2. Devagar com o andor…

    Pois essa novela a gente deveria rever.

    Acho que estão realmente corretos quando dizem que o problema dos combustíveis é um problema de política de preços da Petrobras, mas, sobretudo, o modelo econômico que determina e se relaciona com a política energética. 

    Agora, tenho lido e ouvido para aproveitar a oportunidade para uma greve geral.

    Bom, depende.

    A gente não pode esquecer que forças econômicas, mesmo dentro da classe trabalhadora, são heterogêneas, e que as soluções políticas nem sempre são as mais desejáveis. Já apareceram vozes solicitando, de forma paradoxal (pois o Temer autorizou a presença…), as tropas militares para fazer o Temer, o STF e o Congresso caírem. OK. Mas quando cair, o que vem depois?

    Eu mesmo achei que fosse um locaute. Mesmo que seja, não é toda a realidade. Enfim, há forças demais em jogo. 

    Já foram cometidos erros demais nas análises das jornadas de junho; eu não tive ilusões sobre esta. Mas quase que eu me entupo na paralisação dos caminhoneiros. Enfim, melhor baixar a bola mesmo. 

  3. Devagar com o andor…

    Pois essa novela a gente deveria rever.

    Acho que estão realmente corretos quando dizem que o problema dos combustíveis é um problema de política de preços da Petrobras, mas, sobretudo, o modelo econômico que determina e se relaciona com a política energética. 

    Agora, tenho lido e ouvido para aproveitar a oportunidade para uma greve geral.

    Bom, depende.

    A gente não pode esquecer que forças econômicas, mesmo dentro da classe trabalhadora, são heterogêneas, e que as soluções políticas nem sempre são as mais desejáveis. Já apareceram vozes solicitando, de forma paradoxal (pois o Temer autorizou a presença…), as tropas militares para fazer o Temer, o STF e o Congresso caírem. OK. Mas quando cair, o que vem depois?

    Eu mesmo achei que fosse um locaute. Mesmo que seja, não é toda a realidade. Enfim, há forças demais em jogo. 

    Já foram cometidos erros demais nas análises das jornadas de junho; eu não tive ilusões sobre esta. Mas quase que eu me entupo na paralisação dos caminhoneiros. Enfim, melhor baixar a bola mesmo. 

  4. As causas do caos que estamos vivenciando

    Eu nunca li uma matéria tão clara e didática sobre as causas responsáveis pela crise que estamos enfrentando. MATÉRIA OBRIGATÓRIA.

     

    https://diplomatique.org.br/a-situacao-brasileira-em-breves-topicos-de-facil-entendimento/

    A situação brasileira em breves tópicos de fácil entendimento

    Acervo Online | Brasilpor Maurício AbdallaMaio 11, 2018Imagem por Renato Alarcão compartilhar visualização

    É preciso garantir que o Estado tenha dinheiro suficiente para pagamento dos juros. Isso poderia ser feito aumentando os impostos dos mais ricos. Mas, como fazer isso se são os mais ricos que controlam os Governos eleitos ou os empurrados goela abaixo sem votos?

    -> No mundo há pessoas muito ricas (donos e acionistas principais das grandes corporações transnacionais industriais ou do agronegócio, banqueiros, empresários do setor imobiliário, gente que vive da renda de heranças e de aplicações financeiras, etc.). Elas representam 10% da população mundial, mas as mais ricas são mesmo apenas 1%.

    -> O Estado (poder público) de todos os países precisa de dinheiro para manter a sua estrutura, oferecer serviços, fazer investimentos e obras, estimular a economia, etc. Para isso existem os impostos, taxas e contribuições, os bancos e empresas estatais, os empréstimos e vendas de títulos do Tesouro e outras fontes.

    -> As pessoas muito ricas conseguem eleger seus representantes nos governos dos países e, assim, controlam o Estado. Elas decidiram que, ao invés de pagar impostos, seria mais vantajoso para elas emprestar dinheiro aos Estados a juros comprando títulos do Tesouro. Dessa forma, elas se livrariam do risco de taxações maiores e ainda fariam disso um negócio mais rentável do que produzir e gerar empregos. Mas para isso, era necessário tornar os Estados dependentes de seus recursos.

    -> Assim, conseguiram implantar no mundo programas de governos que buscavam aumentar a arrecadação e manter o fluxo de recursos públicos por meio de empréstimos (venda de títulos do Tesouro resgatados com juros). As nações precisavam oferecer juros atrativos, implantar medidas rigorosas de gestão e aprovar leis que dessem segurança aos investidores (que agem como agiotas) de que os juros seriam sempre pagos.

    -> Os países arrecadavam dinheiro, gastavam, faziam obras (boas ou más), ofereciam serviços (bem ou mal) e se sustentavam com o dinheiro que entrava durante um tempo.

    -> Porém, como uma grande parte da entrada de recursos (receita) não vinha dos impostos, mas dos empréstimos (operações de crédito), os países acumularam uma dívida enorme e tinham que pagá-la constantemente, pois senão ninguém mais iria continuar emprestando dinheiro (comprando os títulos). Ou seja, se não houvesse um pagamento religioso, os agiotas não investiriam mais e, pior, poderiam fazer mal ao país tomador de empréstimo pelo controle que exercem sobre governos de países mais poderosos.

    -> A dívida pública mundial chegou a 50 trilhões de dólares. O PIB mundial é de 80 trilhões. A dívida dos EUA chegou a 20 trilhões, aproximadamente o tamanho do seu PIB. E quando o Estado está endividado, na verdade quem deve é a população, pois é dela que vêm os recursos para o pagamento das dívidas dos Estados. (A evolução da dívida interna dos EUA pode ser acompanhada no que chamaríamos no Brasil de “dividômetro”, o “US Debt Clock”: http://usdebtclock.org)

    -> Quando a arrecadação pública por impostos e outras fontes é suficiente para pagar os investidores (agiotas) e ainda dá para oferecer serviços públicos como saúde e educação com um mínimo de decência, gastar com combate à fome e à pobreza, para investir em habitação popular, etc. o país fica estável e a política também. Novos empréstimos servem também para pagar empréstimos anteriores que venceram.

    -> Porém, quando a arrecadação pública cai por alguma crise ou problemas na economia, locais ou mundiais, os agiotas querem garantir o seu. Não existe negociação, não importa a situação do país e de seu povo. O sistema que alimenta esse fluxo de recursos é impessoal, não tem sentimentos ou consciência social e humanitária. Só opera visando o retorno com ganhos máximos.

    -> Se o Governo que está gerindo o Estado não atender aos investidores em todas as suas exigências, ele é atacado por diversos meios até ser destituído. Em seu lugar deve entrar um que obedeça aos 10% mais ricos em tudo. A submissão total é condição para a chegada ao poder e a permanência nele.

    -> Nesse quadro, a parcela mais rica da população mundial quer a permanência do modo de gestão da economia que deixa o Estado refém dos emprestadores. Isso implica ou a manutenção de juros altos ou medidas de estrangulamento do orçamento público (que eles chamam de “ajuste fiscal”) que deem aos agiotas a certeza de que seus empréstimos serão remunerados como contratado (com menos riscos, aceitam-se juros mais baixos).

    -> É preciso garantir que o Estado tenha dinheiro suficiente para pagamento dos juros. Isso poderia ser feito aumentando os impostos dos mais ricos. Mas, como fazer isso se são os mais ricos que controlam os Governos eleitos ou os empurrados goela abaixo sem votos?

    -> Resta a opção de economizar nos gastos, ou seja, reduzir a parte da receita que era destinada para manter e melhorar serviços como atendimento à saúde, construção de habitações populares, melhoria na educação, assistência social, combate à fome e à pobreza, atendimento aos excluídos, etc. O corte dos gastos nos serviços públicos que atendem aos mais pobres é o que eles chamam de “austeridade fiscal”.

    -> Mas isso não basta.

    -> Vender as empresas estatais e as riquezas naturais do país (como petróleo, minerais, aquíferos, etc.) também faz entrar dinheiro em caixa, que vai diretamente para a mão dos emprestadores (investidores, agiotas). Vendem bens e riquezas permanentes para pagar uma parte da dívida que continua a crescer.

    -> Pode-se também atacar o sistema de previdência para que saiam menos recursos para os trabalhadores aposentados e se gere caixa para pagar os ricos que vivem de renda sem trabalhar.

    -> Pode-se até ir mais longe e congelar os gastos do orçamento por meio de emenda constitucional, para evitar que outros governos deixem de reservar dinheiro para os agiotas ou que protestos populares possam exercer pressão sobre os governos presente e futuros. Se a proibição de aumentar os investimentos na população está na lei, não adianta protestar. Lembremos que a lei não proíbe o aumento de gastos para pagar juros da dívida…

    -> E não para por aí. Eles precisam pensar mais adiante e garantir seus ganhos no futuro.

    -> Por isso, é preciso evitar que o povo eleja um governo que pense, ainda que minimamente, em usar recursos dos impostos para outros fins que não seja o pagamento aos agiotas e benefícios às grandes corporações. Ou seja, deve-se evitar que o povo escolha qualquer representante que venha a usar o dinheiro público para tentar reduzir o déficit habitacional, investir um pouco mais na saúde pública, no acesso à educação, no combate à fome e à miséria, no atendimento às populações excluídas, na convivência com o semi-árido, etc. Pois para todas essas medidas, seria necessário mexer no precioso dinheirinho que alimenta a pequena parcela mais rica da população.

    -> É por isso que eles mandam os jornalistas da grande mídia repetir sempre aos candidatos a governo que propõem aumento dos investimentos sociais a pergunta “de onde virá o dinheiro”? Estão preocupados que mexam em uma parte mínima de seus ganhos estratosféricos para permitir que uma idosa tenha atendimento decente em uma unidade de saúde.

    -> Também não podem aceitar qualquer candidato que se recuse a vender nossos aquíferos, as reservas de petróleo ou as empresas estatais.

    Não precisa ser de esquerda, socialista ou comunista: os mais ricos não querem nenhum candidato ao governo que, neste momento de crise mundial, use o dinheiro público em favor da população, pois pode não sobrar para eles. Até migalhas fazem falta.

    -> Se um candidato ao governo se declarar comunista, satanista, capitalista, terraplanista, fascista, nazista, machista, feminista, racista, pan-africanista, sionista eles não estão nem aí, desde que se comprometa com as garantias da remuneração de seu capital investido e execute seus planos. O risco não é o discurso, mas o que o candidato, se eleito, possa vir a fazer, por mínimo que seja, que derrube alguns décimos percentuais em seus ganhos. A briga ideológica eles deixam com a classe média e os lascados nas redes sociais.

    -> Mas e se, em um país com Constituição democrática, eles não quiserem um candidato, mas o povo quiser? Ora, dá-se um jeito… Há poucas coisas que a combinação de dinheiro e controle midiático das mentes não consiga. A vontade popular é a última coisa a ser considerada em um país, principalmente naqueles com os poderes republicanos corrompidos.

    -> Assim, segue o esquema que aprofunda o abismo da desigualdade mundial. Os que trabalham e produzem, que constituem a maioria da população mundial, pagam impostos e geram receita para o Estado. Os governos submissos transferem essa receita para os grupos privados que investiram seu dinheiro na compra de títulos do Tesouro e vivem de renda sem produzir nada e entregam os países para rapina das grandes corporações industriais e agroindustriais, alimentando a riqueza exorbitante de 10% da população e engordando o 1% cuja fortuna é despudorada.

    -> Mas, faltou dizer uma coisa. Os 10% não querem que nós saibamos dessa história. Por isso, usam a mídia (da qual eles também são proprietários) para criar mitos que substituem o entendimento racional da realidade por frases de efeito, explicações simplórias e disputas ideológicas. E eles a usam tão bem a ponto de fazer com que muitos que estão a milhares de anos-luz de distância de sua renda defendam a história deles como se fosse a sua própria.

    -> Na história que eles criam, setores da classe média se sentem no comando. Vibram com a vitória deles, temem os seus temores, lamentam suas derrotas e metem-se em brigas que eles mesmos não se dispõem a travar. E pagam mais de quatro reais pela gasolina…

    -> O relato acima é pessimista? Nem tanto. Se eles precisam esconder de nós essa história é porque sabem da capacidade de mudança que a população tem quando assume as rédeas de seu destino. Não investiriam tanto na formação das consciências se o povo não tivesse tanto poder de transformar a realidade.

    Para entender mais:

    PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intríseca, 2014.

    DOWBOR, Ladislau. A era do capital improdutivo. São Paulo: Autonomia Literária, 2017.

    Maurício Abdalla é professor de filosofia na Universidade Federal do Espírito Santo

     

  5. A invasão do Brasil

    Nada de Forças Armadas. Nada de bombas nem mortes. Um menino de 14 anos com um note book, com ajuda da rede Globo, é capaz de paralisar o Brasil. Mais quatro ou cinco meninos invasores conseguiriam substituir a equipe do Planalto e governar, com ajuda da rede Globo. Para um país que não tem tido terremoto, tsunami, pestes, pragas, guerra, revolução e etc., mas que tem a rede Globo, basta uma greve de caminhoneiros para chegar ao ponto em que Japão chegou depois da guerra mundial (ou a Alemanha).

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