Caridade – a boa vitrine para a vaidade, por Cristiane Alves

Caridade – a boa vitrine para a vaidade

por Cristiane Alves

Há poucos anos, enquanto ensinava a meu alunos conceitos como crescimento vegetativo, contei a estória do Flautista Mágico. Um monte de informações para ensinar Geografia, mas eu queria conversar sobre a Peste Negra e seu papel no crescimento natural da população europeia. Rumamos para os avanços da medicina durante a História, a curativa e a preventiva. Falei sobre medidas hoje simples, como lavar as mãos, que fazem a diferença na vida de tantas pessoas.

Falei de lombrigas, tão comuns na minha infância. Ninguém sabia o que eram lombrigas. Chegamos à conclusão que a vida estava muito melhor, ao menos com relação à saúde pública.

Então pensei na fome, em como muitos nunca saberiam. 

Hoje, vejo as campanhas de caridade voltando com força. O “ovo de páscoa” que trará alegria a tantas crianças pobres, a bolsa doada que servirá ao pleiteante ao trabalho sem direitos e ao estágio mal remunerado, o gasalho que não cabe mais no closet e que aquecerá o inverno do anônimo nunca visto na paisagem urbana onde algo não está certo, mas o que?

A alma do pensamento ”caridoso” não está longe da origem do olhar “empreendedor” que promove turismo em meio aos esfomeados da seca, dos que elaboram os “safaris” urbanos para estrangeiros vivenciarem os riscos da vida nas comunidades, nos guetos.

Um meandro da vaidade que através do vidro blindado observa o zoológico humano com uma compaixão hipócrita daqueles que precisam olhar o outro pela ótica das fotos aéreas.

A vantagem disso tudo é pensar que ao fazermos nossa parte não temos nada com isso.

Cristiane Alves

9 Comentários

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  1. Conheço pessoas que adoram uma tragédia

    Conheço pessoas que adoram uma tragédia, pois eles podem ajudar as vítimas. Se não ocorre tragédias, elas ficam frustradas.

  2. Da “caridade de quem me detesta”*

    Concordo que tem tem a questão da vaidade, cara Cris Alves, mas essa questão não passa dos limites pessoais. Vaidade é um sentimento e sentimentos são exclusivos de seres vivos. E vaidade, nesse nível, é quase que uma fissura moral. Quem importância tem os sentimentos de quem joga um agasalho numa caixa de coleta de campanha do agasalho? Se o recebedor, que ao fim e ao cabo estará agasalhado, não for tão vaidoso quanto o doador, o único mal que vejo é que esse sistema mantém o doador como doador e o recebedor como recebedor prá sempre, mal que não será “curado” nem pela recusa da parte do recebedor nem pela interrupção da oferta por parte do doador. O buraco, acho, é mais embaixo, e talvez não haja solução sem pensar na estrutura sobre a qual nossa sociedade se mantém.

    Já reparou que é bem comum que essas caixas de coleta sejam patrocinadas por empresas privadas? Isso não é investimento social, é investimento publicitário, da firma em sua imagem.

    Independente do que dizem aqueles que vêm alma, espírito em firmas comerciais, num tipo de antropomorfia e transferência que leva muitos cães a serem tratados como pessoas, há também o investimento de firmas em campanhas publicitárias travestidos como se fossem benefícios sociais e até caridade mesmo. Por exemplo, firmas que se ufanam por manterem cota de empregados para membros de minorias (negros, homosexuais, deficientes etc.), seja atráves de seus próprios departamentos de marketing ou através de outras firmas a que as primeiras dão o status de “certificadoras”, algo como as agências de risco dando notas máximas a bancos até o minuto anterior aos desmontes desses bancos.

    Essas “caridades e benfeitorias” tem o condão de estimular nas pessoas comuns a ideia de que os estados podem ser mínimos no atendimento às demandas sociais porque a iniciativa privada poderia atender a essas demandas. Há diversas mentiras nesse argumento: uma que pergunta se os gestores dessa iniciativa privada abrem mão de tomarem dinheiro público para si – vide desde caso GM nos EUA até BNDES financiando o avião de Luciano Huck, João Dória Jr. e até a história do Flavio Rocha, tomando bilhões públicos para expandir seus negócios privados. Outras dessas mentiras é dar a impressão de que essas firmas privadas tomam o encargo de levar justiça social aos vulneráveis como responsabilidade. Ora, até as pedras sabem que as decisões sobre o que as firmas privadas fazem são unicamente de seus gestores, e esse podem interromper o que fazem através de suas firmas quando bem entenderem, sem que isso lhes acarrete nenhuma consequência. Ou alguém já viu notícia dando conta de que “firma tal anuncia que deixa de adotar cotas”? Já o estado democrático, por sua natureza, não apenas tem o dever e a vocação de promover essa inclusão como pode, deve e realmente é cobrado se deixa de fazê-lo.

    Talvez seja prudente olhar os dentes do cavalo ofertado antes de aceitá-lo. Vai que a gente aceita, pensa que tem um cavalo mas na verdade não só não o tem como tem mesmo é problema veterinário.

     

    * – Cazuza – O tempo não para

     

    1. Cazuza….

      Cazuza não é aquele playboy, filho de Diretor da RGT, nascido em berço de ouro, simbolo desta Esquerdopatia que cantava que Elites são os outros? Ideologia, eu quero uma para blá, blá, blá…..

      1. Ser reacionário não é hereditário

        Cazuza, apesar de ter uma boa posição social, fez mais pelos pobres do que você.

        O fato de alguém ser filho de uma pessoa de boa posição social não significa necessariamente que ele seja contra os pobres nem que ele seja filho de pobres não seja a favor dos parasitas sociais. Você deve ser filho de pobres e é a favor dos poderosos e contra os pobres.

  3. A miséria, a caridade e o princípio do heroismo
     

    Dia destes, num almoço em família, após um lauto e delicioso almoço, a prestimosa parenta serve uma sobremesa dos deuses, feita por ela mesma.

    Ao meu lado, um outro estimado parente adiantou-se pressuroso: “- Fui eu que fiz”.

    É claro que não poderia ter sido ele, não pelo fato de ele ser cego, mas por não ter estado na cozinha ao tempo da feitura.

    O que me divertiu e ao tempo me preocupou, foi a vontade interna, incontida de ter recebido as glórias de ter feito aquela delícia, pois ele falou  sério.

    Isso me levou a pensar no porquê as pessoas usurpam as idéias, posses e poder das outras e principalmente, lhes tiram todas as possibilidades de ação, reação e sobrevivência somente para se passarem por heróis, caridosos e salvadores da pátria.

    O bem estar que a bondade traz nem o dinheiro compensa. Logo, por quê não ser herói e bonzinho o tempo todo?

    As religiões, mais que os governos sabem disso, e os hipócritas a praticam para ganhar dinheiro.

    As grandes redes de supermercados, as  lojas, os encontros de caridade dos ricos, as fundações , as redes de tv e rádio que não doam um tostão do que é seu e ainda fazem farol com a doação alheia sabem como se beneficiar desses créditos.

    Esses  seguem à risca o mandamento da prosperidade, que é a doação de pelo menos 10% do que lhe sobra para que os 90% se multipliquem. É uma cabala onde o que a mão direita faz a esquerda vê e ainda desconta no imposto de renda.

    Não há caridade sem pobreza!

    Talvez por isso a idéia de comunismo seja tão odiosa.

    Se eu não posso ser bom, bonito, generoso, caridoso e rico, de que vale a vida?

    Como eu vou poder ser isso tudo sem os desiguais e necessitados à minha volta?

    O bom herói (ricos?) incentiva a fraqueza da mocinha(pobres?) para manter  sua força e  vaidade (dele)  descartando  enfrentamentos. Assim ele a mantém indefesa, dependente enquanto ele se torna imprescindível.

     

     

     

     

     

  4. Caridade….

    Não estamos na Era do Politicamente Correto? Na Pátria onde surfam ONG’s? O espetacular lucro gerado pela miséria, só incomodou agora? “We are the World” alimentou bolsos Somalis ou Etíopes? O problema do Politicamente Correto é que o objeto de sua lucratividade nunca pode se extinguir. Mas ainda bem que no final da Era Esquerdopata, olhos começam a enxergar. 

  5. Capitalismo é doença d’alma

    Não existe razão para miséria e fome no mundo.

    A humanidade só será quando o último pastor, padre, juiz, burguês, e todos esses aleijados de alma, forem enforcados com as tripas do último fado capitalista.

    É uma questão de alma, a econômica e social é expressão dessa.

     

  6. Os bilionários e a caridade
     5 de agosto de 2010

     

    por

    Por que os bilionários americanos são tão bondosos?

    Bilionários aceitam doar metade de suas fortunas, esse é o titulo de uma matéria de hoje no Valor Econômico e em vários outros jornais, sobre a decisão de quarenta bilionários americanos que prometeram doar no mínimo 50% das suas fortunas para instituições de caridade, como parte de uma campanha filantrópica liderada por dois dos homens mais ricos do mundo, Warren Buffett e Bill Gates.

    A pergunta chave é a seguinte: por que os ricos americanos fazem isso e os ricos do Brasil e América Latina não fazem?

    (1) Primeiro, a reposta nada tem a ver com o fato do país ser ou não desenvolvido.  Os ricos do Reino Unido como no Brasil são mão fechadas e não gostam de fazer filantropia. Na verdade, no Reino Unido, os 10% na base da pirâmide doam o equivalente a 3% da sua renda anual, enquanto os 20% mais ricos doam apenas 0,8% da renda anual. No total, os britânicos doam como proporção do PIB algo como 0,73% do PIB (2006), menos da metade do que os cidadãos americanos (1,7% do PIB no mesmo ano). – ver esses dados aqui.

    (2) Segundo, a resposta também não tem a ver com o fato de os americanos serem mais bondosos ou terem maior responsabilidade social do que os ricos brasileiros. Os ricos americanos fazem isso por que são estimulados a fazerem pela estrutura tributária. Em geral, há um imposto sobre patrimônio nos EUA que alcança uma taxa marginal de 55% acima de determinado valor deixado como herança para os seus descendentes (ver aqui como funciona o estate tax nos EUA).

    Por exemplo, se uma pessoa com patrimônio de US$ 3,5 milhões morre nos EUA e tem dois beneficiários, eles poderão abater no máximo US$ 2 milhões e sobre o restante (US$ 1,5 milhão) incidirá um imposto de herança de 46% ou US$ 690 mil. Assim, cada herdeiro receberá US$ 1 milhão isentos e mais uma parcela de US$ 405 mil já descontados os impostos. No total, os dois herdeiros terão pago US$ 690 mil de impostos, equlivalente a 19,7% da herança.

    Quanto mais rico maior será a mordida do leão americano. No entanto, as doações que esses ricos fazem em vida para fundações (na verdade é uma promessa de doação futura chamada “Lifetime Legacies”) podem ser abatidas da parte tributável da herança e o ganho de capital que incide sobre essa parcela do patrimômio terá deduções de imposto. Além do mais, até a sua morte, o prioprietário continua usufruindo do seu patrimônio “doado” com isenção.

    Esse tipo de mecanismo tributário não existe no Brasil nem que eu saiba em outros países da América Latina e nem tão pouco no Reino Unido. Assim, os americanos não são mais bondosos do que os brasileiros, as regras tributárias levam a isso e os ricos americanos preferem decidir em vida de que forma o seu dinheiro será utilizado para caridade ao invés de deixar essa tarefa para o governo (via imposto sobre herança).

    No Brasil, há algum tempo atrás o economista Samuel Pêssoa (IBRE-FGV) se debruçou sobre essa literatura e tem uma interessante nota técnica e uma apresentação em power point sobre o assunto. No Brasil, os partidos de esquerda poderiam promover esse debate que não tem nada a ver com imposto sobre fortuna.

    fonte:-https://mansueto.wordpress.com/2010/08/05/por-que-os-bilionarios-americanos-sao-tao-bondosos/

     

     

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