Carta Capital entrevista Dilma Rousseff

Jornal GGN – A revista Carta Capital desta semana traz uma entrevista com a presidente afastada, Dilma Rousseff. De acordo com a publicação, Dilma aparenta “notável tranquilidade”. “Há uma lógica no comportamento de Dilma, surgida de uma esperança plausível, como se verá por esta entrevista, a mostrar que ela pretende resistir, e jogar cartas na mesa ao longo do capítulo final e ainda inconcluso do processo do impeachment”.

Da Carta Capital

Resistência até o fim

Por André Barrocal, Mino Carta e Sergio Lirio 

Serena no seu peculiar exílio, nesta entrevista Dilma Rousseff afirma que o último capítulo do impeachment ainda não se encerrou

“O golpe é o parasita, a democracia o hospedeiro. Este precisa ser salvo”

Dilma Rousseff, ao contrário do que pretende a propaganda da mídia nativa, aparenta notável tranquilidade. Ela enfrenta até com sorrisos o seu peculiar exílio no Palácio da Alvorada, hoje residência permitida a uma presidenta afastada, e esta não é a visão de quem não trai a verdade factual.

Há uma lógica no comportamento de Dilma, surgida de uma esperança plausível, como se verá por esta entrevista, a mostrar que ela pretende resistir, e jogar cartas na mesa ao longo do capítulo final e ainda inconcluso do processo do impeachment, conforme a pauta do inédito golpe à brasileira. Leia a íntegra da entrevista na edição 902 de CartaCapital, que já está nas bancas.

Dilma Rousseff: Eu entendo que algo vai se revelar de forma muito clara. Quem conduz este processo? A questão é importante para perceber sua natureza, e o véu se levanta ao se analisar a composição do ministério provisório, ligado ao controle de um certo grupo do PMDB que sumiu do PMDB, capaz de transformar um partido de centro em um partido golpista de direita. Temos o governo do Cunha. Que mais é do Cunha? Os 217 parlamentares do centrão indicam André Moura, homem do Cunha. Podem tirar o André Moura, indicarão outra pessoa ligada ao Cunha.

CC: André Moura, salvo engano, é réu no STF…

DR: Haverá dificuldade em achar quem não é. Mas voltando. Desde 1988, nosso presidencialismo requer uma coalizão, até aí nada de mais. É impossível um país desta envergadura e deste tamanho ser dirigido sem uma coalizão. Ela foi de centro-direita, no período FHC, ele precisava de três partidos para conseguir a maioria, às vezes de quatro ou cinco para fazer os dois terços. Cada vez mais, pela fragmentação partidária, pelo aumento dos interesses em criar partido dado o fundo partidário, foi aumentando a quantidade de partidos e esse aumento se deu dentro dessa ideia muito imprecisa de centro político, mas é a que eu tenho.

Lula já precisava de oito partidos para ter a maioria simples, em torno de uns 10 ou 12 para ter dois terços e eu precisei, nos meus dois períodos, cada vez mais de mais partidos. Aí depende de quantos e de quem. No grande partido de centro, o que veio desde a Constituinte, emerge uma figura tipicamente conservadora de direita, fundamentalista, com uma capacidade de articulação razoável, com mecanismos de reprodução e controle de parlamentares também razoáveis, e esse processo leva a uma imensa dificuldade na relação Executivo-Legislativo, Eduardo Cunha.

Imensa dificuldade que não é determinada somente, por exemplo, pelos três votos que ele nos pediu para não entrar com o processo de impeachment, chantagem que o próprio autor do processo de impeachment, o ex-ministro do FHC, Miguel Reali Júnior, chamou de chantagem explícita. A origem do impeachment não está  no PSDB e no DEM, não tinham força para tanto. Se na Câmara tivemos 145 votos e eles 367, o Centrão hoje é muito significativo, é o maior grupamento… se você fizer a conta, verifica que se estabelece um controle pela direita de 217 parlamentares no mínimo.

CC: Uma reforma política não resolveria o problema do nosso presidencialismo?

DR: Reforma política é imprescindível. Recordam 2013? Propusemos uma Constituinte a qual precisa do respaldo das instituições, a não ser que a rua tenha a reforma como bandeira. Ora, a rua não tinha, vinha com uma fala mais difusa. Talvez, em momento algum, como hoje se tenha percebido a premência da reforma.

CC: O que a senhora acha do parlamentarismo, que volta e meia vem à baila?

DR: Acho muito difícil a compreensão do povo brasileiro. O presidencialismo foi a única instância que permitiu fazer transformações dentro da legalidade. Por quê? Porque a relação do voto popular com o presidente implica uma discussão sobre rumos que não têm filtros, nem oligárquicos nem regionais, nem de interesses econômicos. É uma relação quase direta. O Senado tem alguma autonomia nos espaços estaduais, mas a melhor oportunidade para a relação transformadora no Brasil por meio de eleições diretas foi o presidencialismo. O parlamentarismo do Brasil tenderia a ser oligárquico, porque teria enorme influência nos poderes localizados. Isso vem desde o império, a meu ver.

CC: O que explicaria o fato de a senhora ter tido como companheiro de chapa alguém que na interinidade lançou uma agenda tão distinta daquela que foi vitoriosa em 2014. São os problemas do nosso sistema político sobre os quais falamos há pouco aqui ou foi um processo exterior que tem a ver mesmo com tomada de poder?

DR: Já vi o PMDB como partido de centro e acho que segmentos dele ainda são, mas uma parte do PMDB foi de fato capturada para uma posição conservadora de direita. Perdão, é falar mal dos conservadores, na realidade são golpistas de direita. Acho que houve um processo dentro do PMDB de reagrupação de forças, de tal forma que hoje a hegemonia dentro do partido é de Eduardo Cunha e seu grupo. Mesmo afastado pelo Supremo, ele continua dando as cartas na Câmara e no governo. E mesmo no Senado através deRomero Jucá.

Redação

11 Comentários

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  1. Ainda o republicanismo? Serio?
    Depois de serem atropeados seus direitos mais basicos, do partidarismo da lava jato, de Gilmar dominar o STF e Cunha pautar os dois anos do governo dela?

    Depois de JEC perder o controle da tropa do MJ, da traição de Janot, de Fux, de Toffoli?

    Com a caneta na mão ela se fiou nesse republicanismo ingênuo pondo em risco 14 anos de políticas de inclusão social, deixando que caciques brancos ricos e velhos lhe tomassem o poder?

    Nós é que estamos pagando o pato, Presidenta!

    1. Sim, ainda o Republicanismo, pois quem está fora da lei …

      Sim, ainda o Republicanismo, pois quem está fora da lei não é Dilma nem as forças de resistência que se somam a ela.

      Quem tem que garantir a democracia é o povo, não atos de arbítrio que poderiam ser feitos e teriam um efeito extremamente perversos.

      Agora republicanismo não é passividade nem docilidade, e o povo que saiba, se ele mesmo não se defender não será Dilma nem Lula que o farão.

      1. 100% contigo nessa…

        belas palavras

        sem o povo nas ruas, em defesa dos seus interesses, não há e nunca mais haverá presidente que atenda

      2. Ah! A velha estória de se ter

        Ah! A velha estória de se ter um salvador da pátria fazendo tudo por nós, confortavelmente instalados em nossas poltronas!

  2. carta capital….

    Se a esquerda não detém as fontes de capital logicamente seu discurso para chegar ao poder e à estas fontes de recursos, que o governo e o cofres públicos representam deve ser a proteção social. O anticapitalismo para aí até a conquista do poder. E não foi assim somente no Brasi. Foi assim na antiga URSS ou na atual China comunista. A elite estatal se esbaldando, endinheirada expurgando qualquer discurso hipócrita e míope sobre a diferença entre o socialismo e o capitalismo. Até entendo o discurso partidário que visa a sobrevivência política. Agora a mídia fazendo o papel de panfletagem? Comprando este discurso como seu? Não abrindo caminhos para a discussão e pensamentos antagônicos? O que a mídia brasileira é? Partido político? Linha ideológica como parecia até ontem a certeza esquerdista do politicamente correto? CC seguindo esta corrente de não conversar, abrir espaço e dar voz ao diferente inaugurou a censura aos comentários (se não tem a mesma opinião não queremos nem ouvir). Não é a alma de um certo país? Não é a cara das suas elites de quaisquer ideologias? Não é o pavimento que nos levou à  todas  burradas do nosso período republicano? E parece que certros blogueiros que transitam por estes meios também tem a mesma visão. E depois querem fazer crer que os erros nacionais históricos só tem uma única paternidade. Continuamos o velho país limitado. Abs.

  3. ótima e rara possibilidade…

    para o PSDB renascer das cinzas

    ou qualquer outro partido que contribua com seus senadores para acabar ou retirar de vez esse governo ilegítimo

    seja quem for, venha de onde vier, a nível nacional, já terão garantidos muitos votos

  4. Tem povo e povo.  Temos o

    Tem povo e povo.  Temos o povo de verde amarelo e dos patos idiotas, que queriam a derrubada da Dilma, temos o povo das esquerdas, de vermelho, que foram às ruas defender Dilma ou a democracia, e temos um povo que assiste pacificamente, bovinamente o que acontece, sem entender direito, nem se meter.Os dois primeiros tem razoável informação. Os de verde, assitem a globo, leem veja, buscam os blogs de direita na internet, suas redes sociais. São manipuláveis, mas têm sua própria agenda, que é basicamente livrar-se do PT e consequentemente dos pobres, que eles julgam parasitas. O interessante é que dentre eles existem pessoas que estão mais próximas dos pobres do PT que dos ricos da Paulista, mas estes,  têm um certo orgulho de estarem ao lado dos que verdadeiramente possuem meios para viajar ao exterior, morarem nos Jardins e adjacências. Observei nas manifestações que coincidiram a participação dos dois lados na Paulista e Anhangabaú, que a maioria que ia para a Paulista vinha das regiões de Pinheiros, Jardins. Muito poucos iam do sentido Jabaquara. Já os que iam para o Anhangabaú iam  de todos lados. Como fico no meio desses extremos esta observação pode  ser feita no meu trajeto de metrô. E aí temos o povo que assiste bovinamente, não entende, ou não quer entender. Sem estas pessoas se posicionando, não existe o povo propriamente dito. Estes ainda têm os restos  da cobertura que lhe dava o governo petista. Ainda não há desemprego em massa, ainda não perceberam, porque ainda não aconteceu, a piora do salário mínimo, ainda conseguem comprar à credito. Quando tudo isto piorar muito, e se essa política perversa de cunha/temer prosseguir acontecerá em breve,  aí reagirão. Não sei se ainda teremos o que salvar, mas só eles na verdade podem mudar o rumo dos acontecimentos, pois são a verdadeira maioria do povo brasileiro, os que realmente serão prejudicados, pois boa parte da esquerda que foi à Paulista ou Anhangabaú, necessitam pouco ou quase nada  do colchão protetor do governo. Foram às ruas, da mesma maneira e com as mesmas razões pelas quais eu fui. Defendemos a democracia, nossos votos que foram dados livremente, os direitos dos mais pobres de melhorarem de vida, o direito  e o dever de um Brasil mais justo, mais educado, sem a dominação de agentes externos, leia-se americanos. Precisamos nos juntar aos que realmente se prejudicarão muito e ainda não se deram conta disso, para termos sucesso em nos livrarmos dessa quadrilha que tomou o país e diz governar. Acontecerá? O tempo nos dirá.

  5. grande dilma, como sempre,

    grande dilma, como sempre, republicana, tranquila,

     porque sabe que esá do lado certo da história…

    os golpistas é que invertem e golpeiam as instituições,

    tornam a exceção uma regra….

    concordo com maestri, há que sair às ruas…

  6. Uma pena que venho pra
    Uma pena que venho pra esquerda tarde demais.

    Eleita pela esquerda, governou pra direita, recusou carta capital e seus apoiadores e foi pra Folha e pra Ana maria Braga. Defendeu inimigos, atacaou amigos. Entregou o pais na mão de imundos parasitas e agora volta a esquerda de novo?
    Desculpe não partilhar do seu cinismo governo Dilma, mas de mim não esperem um grito. A culpa disso tudo é dua e de ninguém mais.

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