Chomsky: “Penso muito no problema definitivo da democracia no Brasil”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Carol Scorse
 
Na CartaCapital
 
O linguista e ativista norte-americano Noam Chomsky, que veio ao Brasil para um seminário internacional organizado pela Fundação Perseu Abramo, afirmou que os cortes em investimentos sociais promovidos em todo o mundo é central para o triunfo do neoliberalismo. Ele vê com preocupação o processo eleitoral no Brasil. 
 
“Penso muito no problema definitivo da democracia no Brasil. E não dá para deixar de lado o fato de que Lula deveria por direito ser candidato à presidência do Brasil. Conheci ele antes dele ser presidente. Passamos alguns dias juntos e fiquei muito impressionado.”
 
Para analisar o triunfo do neoliberalismo no mundo, Chomsky usou como exemplo as recentes eleições na Suécia, que elegeram um governo de extrema-direta. Para o linguista, as indicações mais corriqueiras de que o processo eleitoral sueco sofreu forte influência do intenso fluxo imigratório são simplistas.
 
“Já existem pesquisas que mostram que os votos da extrema-direita são de pessoas que tiveram pouco contato com a imigração, mas que sofreram com as políticas neoliberais; com cortes de gastos dolorosos em políticas socais, e que foram esquecidas. As pessoas se sentem traídas. A atual crise repete velhas formas de reduzir a sociedade a indivíduos, como já fazia (Margaret) Thatcher.”
 
O norte-americano pontuou que tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido – e assim como no Brasil – o crescimento na ocupação se dá, essencialmente, nos chamados “empregos alternativos”, descolados de garantias sociais, e “o que têm formado no mundo todo uma imensa massa de trabalhadores precarizados, o chamado precariado,  e que está transformando, como disse (Kalr) Marx, a sociedade num saco da batatas.”
 
Ainda sobre a crise da democracia, o linguista afirmou que as pesquisas sobre os processos eleitorais demostram que a elegibilidade dos políticos é comprada e que os eleitores estão sem voto, na medida que seus representantes não os ouve, mas sim aos doadores de campanha.
 
“As leis estão sendo redigídas por lobistas, que olham por cima dos ombros dos burocratas. Enquanto os deputados estão preocupados com as próximas eleições.”
 
Chomsky encerrou de maneira otimista sua fala aos brasileiros no seminário. “Existem alguns pontos de brilhos no mundo. Movimentos enérgicos capazes de reverter o curso abismal dos últimos anos. O Brasil até pouco era reconhecido como um ‘colosso do sul’. Um dos países mais respeitados no mundo com Lula à frente do governo, com êxitos domésticos e na política internacional. Nos mostrou que aquela meta (de governar para as pessoas) era atingível. Quero dizer que não devemos subestimar os obstáculos que estão por vir, mas menos ainda a capacidade do ser humano de superá-los e de prevalecer”
 
O seminário contou também com o discurso do ex-primeiro ministro da Espanha José Luís Rodriguez Zapatero, com o diretor da Fundación Chile 21, do Chile, Carlos Ominami, com o ex-governador do Distrito Federal do México Cuauhtémoc Cárdenas, e com o professor da FGV Luiz Carlos Bresser Pereira. 
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. Gênio desprestigiado
    Um dos maiores pensadores vivos e o Brasil o ignora. Tempos obscuros, acomodados, desmobilizados, do jeito que os de cima querem.

  2. A sensação que vai ficando é

    A sensação que vai ficando é que pessoas como Chomsky serão cada vez mais raras, vozes solitárias no deserto do real. O resultado da eleição pode mesmo determinar  a vitória do império da barbárie ou a manutenção, ainda que precária, da civilização.

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