Cobertura florestal do Cantareira está abaixo da média

Jornal GGN – De acordo com estudo do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), as represas do sistema Cantareira, Jaguari e Jacareí têm apenas 26,9% de florestas nativas, muito abaixo dos 34% de cobertura florestal que formam a média da região.

A reportagem da Folha até tenta argumentar que o percentual parece bom, levando em conta que o índice de preservação da mata atlântica é de apenas 12,5%. Mas reconhece que uma área de mananciais precisa de florestas para garantir a infiltração da água até os lençóis freáticos.

De acordo com o pesquisador do IPÊ, Oscar Sarcinelli, entre 2011 e 2014 houve 25% menos chuvas na região do Cantareira. No entanto, o volume de água nos reservatórios caiu 116% nesse período, “demonstrando a fragilidade do sistema”. Ou seja, o problema não é só falta de chuva.

Enviado por Pedro Penido dos Anjos

Principais represas do Cantareira registram devastação acima da média

Por Marcelo Leite

Da Folha de S. Paulo

As principais represas do sistema Cantareira, Jaguari e Jacareí, têm a menor taxa de cobertura florestal em suas bacias de captação. Contam com meros 26,9% de florestas nativas, contra a média de 34% na região.

As cifras foram apuradas pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) com base em imagens de satélite.

Esses percentuais podem parecer bons, tendo em vista que a mata atlântica tem um índice de preservação de 12,5%, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica.

Mas essa é área de mananciais, que precisa de florestas para garantir a infiltração da água até os lençóis freáticos.

Em situação crítica, o sistema operou ontem (23/2) com só 10,6% de sua capacidade.

Levantamento similar da SOS, mas que levou em conta só os fragmentos florestais com pelo menos 10 mil m² (1 hectare) de área, pinta um quadro ainda mais sombrio: apenas 21,5% do Cantareira com cobertura de matas.

Na dúzia de municípios da região, só Caieiras chega a 50% de florestas preservadas.

Os reservatórios Jaguari e Jacareí, que são interligados, respondem por dois terços dos 33 mil litros por segundo que o Cantareira podia produzir quando não havia uma estiagem tão grave.

Era o bastante para abastecer quase 9 milhões de pessoas na Grande SP, hoje reduzidos a 6,2 milhões sob risco de ver as torneiras secarem.

“Entre 2011 e 2014 houve 25% a menos de chuvas sobre a região do Cantareira, em relação à média histórica”, afirma Oscar Sarcinelli, pesquisador do IPÊ.

“Entretanto, o volume de água nos reservatórios caiu cerca de 116% nesse mesmo período [entrando no volume morto de algumas represas], demonstrando a fragilidade do sistema”, completa.

Não há, porém, um programa de larga escala para empreender o que seria recomendável: melhorar o manejo das pastagens degradadas e restaurar parte da mata que foi derrubada –começando pelos 60% de áreas que, por lei, são de preservação permanente e foram devastadas.

Os programas de restauração, no entanto, não saem da escala de pilotos. O Projeto de Recuperação de Matas Ciliares, da Secretaria do Meio Ambiente, terminou em 2011 sem ir muito além de projetos demonstrativos em algumas propriedades paulistas.

A Sabesp mantém iniciativas para recuperação e preservação da mata nativa no entorno das represas do Cantareira, em parceira com ONGs como IPÊ e TNC (The Nature Conservancy).

Empresas obrigadas a fazer compensação ambiental, por exemplo, podem plantar mudas nas beiras de represas.

Foi assim que a Dersa, para compensar o que desmatou nas obras do Rodoanel, plantou 1.135.535 mudas no Cantareira. Outros 175 hectares (1,75 km²) foram recuperados pela TNC no entorno do reservatório do Cachoeira, em Piracaia.

A iniciativa mais ambiciosa de recomposição da mata atlântica no Cantareira é da SOS, um novo edital de R$ 2 milhões do Clickarvore para doar 1 milhão de mudas de espécies nativas para restauração florestal nas bacias do sistema de abastecimento. Previsto para 2014, foi prorrogado para agosto deste ano.

Todas juntas, as iniciativas não chegam a 3,5 mi de árvores, se tudo der certo. É cerca de 10% do necessário para recuperar só áreas de preservação permanente, que, por lei, não deveriam ter sido desmatadas. Além disso, seria recomendável restaurar boa parte dos 66% desmatados nas bacias de captação. 

Redação

3 Comentários

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  1. O desastre do sistema

    O desastre do sistema Cantareira começa com a derrubada da mata Atlântica para plantação de Eucalipto (que seca as nascentes ao redor), tudo com a anuência do governo tucano. E as plantações de eucalipto são cinicamente chamadas de “reflorestamento”…da Melhoramentos, Klabin, etc….e ninguém enfrenta estes grandes depredadores.

  2. Assumir a responsabilidade local.

    Enquanto uns a serviço do governo de São Paulo e da Sabesp pretendem transferir o problema da Região Metropolitana de São Paulo, para o desmatamento da Amazônia e para o Aquecimento Global, uma forma de tirar a responsabilidade das comunidades locais, deve-se trazer para a própria região em que estão os mananciais a responsabilidade de recuperar as matas indevidamente cortadas nas bacias dos rios que fazem parte do sistema.

    É bem mais fácil para os governos locais (estados e prefeituras) atribuir a fatores nacionais e internacionais do que retirar pessoas de loteamentos e ocupações irregulares para recompor a mata ciliar, em todos os locais em que a bacia de captação é mantida com cuidado não há tanto problema em questão de quantidade e de QUALIDADE da água, mas para fazer isto se deve ter rigor na fiscalização.

  3. Off-topic:
    Venho observando
    Off-topic:

    Venho observando com que naturalidade o povo bovino de SP vem aceitando sem questionar o aumento repentino de “magníficos” 6% no Cantareira, que sobe misteriosamente mesmo sem uma gota de chuva.

    Estou achando que nosso Governador anda aproveitando a “desculpa” da chuva para, de forma obscura e na surdina, transferir água podre de alguma Billings da vida sem, no entanto, levantar discussões sobre esse procedimento ou ref a inclusão de novo volume morto.

    Até mesmo pq o sistema permaneceu 1 ano praticamente em queda livre, ininterruptamente, mesmo tendo chovido vez ou outra no período, e sobretudo com volume anterior do reservatório ainda maior que o de hj.

    Ou seja, hj tem muito menos água, o efeito esponja é ainda muito maior, e ainda assim, o nível vem subindo todo santo dia, faça chuva ou faça sol.

    Bom, mas essas “travessuras misteriosas” são as primeiras de muitas outras bem mais travessas que estão por vir, ainda mais com a estiagem começando com excelentes -15%.

    Talvez nem Mister M pra elucidar tanto mistério desse Governador rsrsrsrs

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