Declarações de Temer e Meirelles não têm relação com realidade, apontam economistas

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Da Rede Brasil

Para economistas, declarações de Temer e Meirelles não têm relação com realidade brasileira
 
Segundo Laura Carvalho e Jorge Mattoso, enquanto governo promete crescimento, país está no fundo do poço, pode no máximo chegar à estagnação e não se vê horizonte de elevação no investimento
 
por Eduardo Maretti

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da República, Michel Temer, continuam dando declarações divorciadas da realidade, avaliam economistas. Ao declarar, nesta terça-feira (7), que o PIB de – 3,6% em 2016, divulgado ontem pelo IBGE, “se refere ao ano passado, (e portanto) é espelho retrovisor”, Meirelles faz uma afirmação que “só tem sentido como defesa da política destruidora do emprego que eles efetuaram, mas não tem relação com a realidade”, na opinião de Jorge Mattoso, professor aposentado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-presidente da Caixa Econômica Federal.

“O que estou vendo é um país que reduziu sua renda per capita em mais de 9% nos últimos dois anos. Isso é inédito na história brasileira”, diz Laura Carvalho, professora de Economia da Universidade de São Paulo (USP). 

Estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) já demonstravam a enorme retração da renda per capita ainda no ano passado, baseando-se na projeção de queda do Produto Interno Bruto de 3,5%, praticamente a mesma que se registrou oficialmente.

“Quando se chega num patamar tão baixo, é de se esperar que a economia não continue despencando como no último trimestre de 2016, depois de seis meses de governo Temer. Mas, para que a gente retorne aos níveis de 2013 e 2014, seria necessária uma agenda de crescimento que está completamente fora da pauta de discussão”, avalia Laura. 

“Mesmo com previsões otimistas, de crescimento de 2%, 3% ao ano, que o próprio governo está colocando, a gente demoraria até 2024 para retornar àquele patamar”, acrescenta a professora. “O governo parece satisfeito com uma situação que será no máximo de estagnação. A gente pode até ter chegado no fundo do poço, mas isso não quer dizer que haja qualquer recuperação em vista.”

Em sua página no Facebook, o professor Pedro Rossi, da Unicamp, observou hoje que “desde 1930 não há dois anos consecutivos de crescimento negativo do PIB”. “Antes de 2020, dificilmente se retoma o patamar de 2014.”

A situação pode ser definida como “trágica”, na opinião da economista da USP, mesmo na comparação com outros grandes países que passaram por crises recentemente. Em 2015, por exemplo, a Rússia atravessava grave recessão, motivada por fatores como a queda dos preços do petróleo e principalmente devido a sanções econômicas de diversos países por causa dos conflitos na Ucrânia, lembra Laura. “Mesmo a Rússia já voltou a crescer e a recessão já se encerrou. O que aconteceu no Brasil em 2015, ainda com Dilma, e 2016 é reflexo de um modelo de ajuste que só está sendo aprofundado pelo governo Temer e aprofunda nossa recessão e nosso desemprego.”

Mattoso lembra as estimativas relativamente consensuais segundo as quais, para o emprego voltar a crescer “em níveis que permitam a redução do desemprego”, é necessário um crescimento de 2,5% a 3,5%. “Com taxa de crescimento de zero, 0,5%, 1%, que eles vão dizer que é uma ‘maravilha’, não haverá nenhuma redução do desemprego.”

Quem vai investir?

Ontem, em reunião do Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), a principal propaganda do governo para vender a ideia de que o país está no caminho do crescimento, Temer disse que os próximos projetos vão fomentar investimentos de R$ 45 bilhões nas áreas de energia, transportes e saneamento.  “O que mais almejamos é exatamente o combate ao desemprego no país”, afirmou.

O presidente só não disse que nem os investidores brasileiros, nem estrangeiros, estão investindo ou sequer demonstrando interesse em investir. Desde que o governo anunciou, em setembro de 2016, o primeiro lote de concessões pelo PPI, com 35 projetos, foram assinados apenas três contratos e lançados sete editais.

Se tivesse a intenção de promover o crescimento, o governo precisaria superar suas limitações fiscais – a partir da tributação maior dos que têm rendimentos altos e quase não pagam impostos no Brasil – e promover um programa de investimentos públicos do Estado, que poderia “redinamizar a economia”. “Sem isso, não há qualquer perspectiva de retomada”, diz Laura Carvalho.

“A realidade mostra que não há interesse em investir. As empresas estão com capacidade ociosa extraordinária, e, portanto, não querem investir. Investimento de origem estrangeira também não tem vindo ao país, dada a situação de risco e de instabilidade política na qual vivemos”, avalia Mattoso.

Em janeiro, a própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que o nível de utilização da capacidade instalada da indústria brasileira terminou o ano de 2016 em 76%, o mais baixo desde 2003. Ontem, após divulgar a pesquisa Indicadores Industriais, a entidade afirmou que “o início de 2017 para a indústria de transformação foi marcado pela manutenção das dificuldades observadas em 2016″. Acrescentou que “os dados indicam que ainda não há sinais claros de recuperação da atividade industrial”.

Para Laura Carvalho, é “pouco realista” a aposta de que vai haver interesse em investir em meio a uma recessão, ao endividamento das empresas, e numa conjuntura internacional tampouco favorável. “Principalmente em um país com um grau de instabilidade que assusta investidores, agravado com o processo de impeachment, as repercussões da Lava Jato e o sistema político em caos.”

Se aos investidores estrangeiros não interessa investir, o que se dirá das empresas de infraestrutura brasileiras, destruídas pela Operação Lava Jato? “Do que sobrou, é dificílimo”, acredita a professora. “E, nos Estados Unidos, Donald Trump está fazendo programa similar também, com incentivos diversos para um programa de investimentos em infraestrutura por parceria com o setor privado. Então me pergunto se as empresas ou os investidores estrangeiros vão querer vir para cá, nesse contexto.”

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Redação

10 Comentários

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  1. Parece com a história do Tancredo

    Com todo o respeito que a história merece, esse papo de que a  economia do Brasil está reagindo, que a inflacao…, que a industria….. blá, blá, blá… que a votacao…. a aprovacao….que o Miereles…. que no segundo semestre o pib….., blá blá blá….,lembra -me muito quando o Tancredo Neves ficou gravemente enfermo e a mídia, junto com  parlamentares,  todos os dias apareciam com uma pseudo melhora para ele.

    Quando a coisa piorou, apareceram curandeiros , especialistas mil e deu no que deu.

    Da mesma forma, agora, a mídia, os especialistas e os curandeiros de plantao querem salvar o Tancredo, digo o Brasil, inclusive o neto dele quer dizer, o neto do Tancredo.

     

    José Emilio Guedes Lages- Belo Horizonte

  2. Não é só o governo que tenta

    Não é só o governo que tenta passar esta idéia. A Globo, nas vozes de Miriam Leitão e outros “jornalistas” vem fazendo um esforço hercúleo para passar a idéia de que há melhora. 

  3. demitir Meirelles por incompetência

    Um mínimo de racionalidade de análise econômica mostra que os usurpadores da vontade popular lutam contra eles mesmos.

    A depressão brasileira não deve ser comparada a países que tiverem impactos recessivos de 2 a 3 anos em suas economias. A comparação correta é com situações de ruptura da ordem social, desagregação territorial e revoluções, como a quebra da união soviética. Aqui ocorreu uma tomada de poder contra o povo, que lançou mão da desconfiança dos investidores, com propaganda maçante por ao menos 3 anos, desde as tais jornadas de 2013.

    Está claro que a grande onda dos economistas da finança, a crença nos índices de confiança dos investidores, só funciona quando a confiança é negativada, conduzida para criar desconfiança. A confiança não é capaz de levantar a economia, como bem apontam Laura e Mattoso. Mas a falta de confiança é bala de prata para fazer tudo andar para tráz. É um termo da equação que só funciona se o sinal é negativo.

    A cegueira da pirataiada no governo está em criar uma regra de congelar gastos em termos reais e manter o PIB caindo e estagnado em níveis baixos por décadas. Depois dos tais 20 anos, a relação gastos/PIB vai crescer muito, alavancando mais ainda a de dívida/PIB, com a outra burrada de juros reais altíssimos sobre o estoque de dívida. Qualquer planilheiro de banco consegue fazer esta conta. Mas a tal crença de que o ajuste severo vai trazer confiança>>investimento privado>>renda>>PIB, sem base racional, segue sendo ensinada religiosamente.

    Outra burrada é considerar privatização como investimento privado. Uma empresa privada vai comprar ativos existentes de uma estatal. Qualquer estudande de contabilidade sabe que no consolidado das duas empresas não aconteceu nada. E a contabilidade nacional nada mais é do que isto: a consolidação dos negócios do país inteiro. Consolidação não é mera soma, ou combinação. Consolidar é combinar (somar) e depois eliminar transações internas que não criam valor.

    Pelo visto Meirelles não poderia nem assinar balanços dos bancos que presidiu.

  4. Sem olvidar de alguns fatores

    Sem olvidar de alguns fatores explícitos para essa crise, a exemplo dos desequilibrios macroeconômicos herdados da segunda gestão Dilma conjugados com outros de natureza microeconômica, assim como dos efeitos deletérios da lava a Jato em várias cadeias produtivas, máxime em duas cruciais: a do Petróleo e da Infraestrutura. Por fora, os percalços na área internacional.

    Entretanto, tudo isso e mais alguma coisa não explica, muito menos ainda justifica, dois anos de recessão severa e que já se inscrevem como históricas. Até agora, por mais que respeite a opinião e a boa vontade dos analistas da área, não foi possível se dar um diagnóstico das causas como também dos efeitos. Sobre estes últimos causa pânico se debruçar dado o quie pode emergir. 

    Já com relação as primeiras(causas) só a dimensão econômica é insuficiente. A meu sentir, a Política foi, e continua sendo, o “X” da questão.

  5. Vou te dizer…

    … passar o tempo “explicando” o Meirelles e o Temer é algo que se deveria perguntar a qualquer coxinha.

    Ué, não são os filhos deles?

     

  6. Meirelles e Temer falam para

    Meirelles e Temer falam para o JN da Globo. É só teatro. Estamos, efetivamente, sob um regime totalitário. O Congresso é um apêndice do judiciário. As Câmaras legislativas estaduais e municipais são peças decorativas. Se a população não der as caras, esse regime vai se prolongar indefinidamente.  

  7. Nos carros americanos há um

    Nos carros americanos há um aviso nos retrovisores:

    Objects in mirror are closer than they appear.

    Aplica-se perfeitamente aos “retrovisores” da nossa economia atual.

  8. Dinheiro é dinheiro…

    Dinheiro é dinheiro… Ofereça uma boa vantagem financeira e vem empresa até da mogólia participar das licitações… A questão não é essa… A questão é que não pode bastar apenas fazer licitações para construção de novas obras públicas e privatizar todas as outras que não estiverem privatizadas… A questão é… AOnde nós vamos parar desta forma? A maior parte dos serviços públicos essenciais nas mãos da iniciativa privada com preço exorbitante! Como é o caso da energia elétrica, água, pedágios nas rodovias, valor da banda larga… Está tudo se encarecendo… Subsidíos excessivos… Alto endividamento estatal para que a iniciativa privada fique ainda mais rica encima da população… A extinção dos serviços públicos essenciais… A falta de controle do comérico de drogas e armas… O aumento da dificuldade de compreenssão textual e matemática da população mais pobre, o que leva a violência e a enganação do povo… Entre muitas outras coisas… Estas sãos as questões! O fim do estado e a tomada dos impostos pela iniciativa privada… Seja através dos maiores juros do planeta e uma dívida gigantesca… Seja através da dificuldade de conseguir crédito nos bancos provocando o endividamento da população. A falta de serviços públicos essenciais… A inadimplência consequente… A ssonegação por parte das grandes empresas e supostos investidores que são na verdade sugadores do dinheiro alheio… Em suma… Está havendo uma privatização da humanidade para meia dúzia de endinheirados que não pagam impostos, sugam os impostos do estado através de altos juros da dívida pública… Privatizações de serviços públicos essenciais e a sonegação. 

  9. Eles querem tudo nas mãos da
    Eles querem tudo nas mãos da iniciativa privada; ou seja, nas mãos deles. Isso são tudo medidas paliativas e empregos temporários para que haja um aparente benefício para a população, quando no final… vai tudo para as mãos da iniciativa privada. Fazem um oba-oba, mostram gráficos e expectativas de emprego… Mas no final todos nós já sabemos… Mais privatizações e encarecimento dos serviços públicos… Não estão lá pelo estado… Estão lá pela iniciativa privada… Para beneficiá-la… Promove-la… Acabar com o estado… Não são estadistas, são entreguistas… Nunca foram políticos, são empresários agindo em busca de seus interesses pesoais. Infelizmente não estão lá para nos representar ou para fazer valer o nosso dinheiro… Mas para conquistá-lo. O estado é o grande entrave… Se pudessem acabar com o estado hoje, e nos colocar todos nas mãos da iniciativa privada… E esta iniciativa privada a que me refiro não é eu ou você… São eles mesmos, e seus amigos empresários… Esta é tão famoso iniciativa privada, investidores e o mercado.. São eles mesmos… Nos tomaram de assalto…  

  10. Negócio da China

    Não é todo mundo que está assustado com a situação. Empresas e empreiteiras chinesas, confiando que a China tem condições de blindá-las, estão vindo aos montes, assumindo praticamente todas as obras que as empreiteiras brasileiras estão tendo que largar por conta da Lava-Jato.

    Só não acho que entregar a engenharia nacional de mão beijada aos Chineses era a intenção dos traidores que tomaram o poder…

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