Dilma sinaliza: “são pessoas e não a Petrobras envolvidas no escândalo”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

 
Jornal GGN – Foi novamente em agenda internacional que a presidente Dilma Rousseff respondeu aos ataques do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, diretamente e aproveitou a declaração para sinalizar que encampará o enfrentamento às teses da oposição e dos atores da Operação Lava Jato de criminalizar ou enfraquecer a Petrobras. “Não é a empresa Petrobras que está envolvida em escândalo, são pessoas que praticaram corrupção. E elas estão presas”, alertou Dilma, adiantando-se da repercussão internacional que sua fala provocaria.
 
As declarações foram sequência de uma rápida entrevista coletiva, em Helsinque, na Finlândia, nesta terça-feira (20), após Cunha ter “lamentado” que “seja no governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo”. Foi um bate-volta após a presidente ter mencionado, um dia antes na Suécia, em uma das manifestações mais explícitas sobre as tratativas do deputado para a sua queda do Planalto, que Cunha não integrava seu governo, e completando: “lamento que seja um brasileiro”, que estava sendo denunciado de receber pelo menos US$ 5 milhões de propina na Lava Jato.
 
Dessa vez, em vias de tentar encerrar o pingue-pongue, Dilma disse: “Primeiro, não vou comentar as palavras do presidente da Câmara. Segundo, o meu governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção, não é meu governo que está sendo acusado atualmente”, referindo-se, novamente, à Cunha.
 
Sobre o novo pedido de impeachment que a oposição estaria preparando para esta terça (20), a presidente também adiantou: “Acredito que o objetivo da oposição seja inviabilizar a ação do governo, mas a ação do governo não vai ser inviabilizada pela oposição faça ela quantos pedidos de impeachment fizer”.
 
A citação de Dilma sobre “pessoas” acusadas de corrupção e não e a “Petrobras”, ao contrário das empreiteiras envolvidas no esquema, ativa uma preocupação do governo com a política econômica nacional, diante do cenário aberto pelas autoridades brasileiras da equipe da Lava Jato – entre delegados, procuradores do Ministério Público Federal, sob o comando do juiz da Vara de Curitiba, Sérgio Moro -, de enxergar nas relações dos contratos entre governo e empresas a raiz da corrupção e, assim, perseguir a meta do desmonte, nem que para isso prejudiquem estratégias de proteção da economia nacional. 
 
Entenda: 
Como a Lava Jato foi pensada como uma operação de guerra
As implicações geopolíticas da Lava Jato
A cooperação internacional como arma política
 
Por outro lado, durante a agenda internacional, a presidente evitou estender-se nas consequências de a empresa Petrobras ser o alvo da movimentação, e preferiu diagnosticar controle para futura esperança de estabilidade: “é necessário sempre estabilidade política para que tenhamos um percurso mais tranquilo em relação à econômica. O governo tomou todas as medidas nesse sentido. Nós estamos reconstituindo a base política de sustentação do governo, e é absolutamente garantido que nós vamos ultrapassar essa crise”, afirmou.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “- entre delegados,

    “- entre delegados, procuradores do Ministério Público Federal, sob o comando do juiz da Vara de Curitiba, Sérgio Moro -, de enxergar nas relações dos contratos entre governo e empresas a raiz da corrupção e, assim, perseguir a meta do desmonte, nem que para isso prejudiquem estratégias de proteção da economia nacional. “

    Como afirma o André Araujo, o interesse nacional tem de vir em primeiro lugar.

    Como esta corja da lava jato insiste em atacar tudo aquilo que representa o interesse nacional e também as maiores empresas empregadoras do país, que juntas representam mais de 20% do PIB, penso que quem deveria estar preso é aquela corja.

    Alguém já estimou o prejuízo em mais de R$ 200.000.000.000,00 além de mais de 1.000.000 milhão de empregos perdidos.

    Vale a pena?

      1. A empresa “só rouba” SE O

        A empresa “só rouba” SE O JUIZ DEIXAR.

        Por exemplo, se o senhor Moro tivesse cumprido com suas obrigações constituicionais na questão BANESTADO… quase ninguém estava mais a roubar. O problema é que se é tucano ou aliado, pode roubar á vontade; se é petista ou aliado, é proibido existir… assim fica complicado, né?

  2. AFIRMAÇÕES EQUIVOCADAS DA PRESIDENTE DILMA

    são pessoas e não a Petrobras envolvidas no escândalo”é uma afirmação tremendamente equivocada diante da própria lei anticorrupção que a presidente ajudou a criar e aprovar

    Por isso Dilma perde credibilidade. Ela assina a primeira lei anticorrupção empresarial brasileira cujo espírito é exatamente responsabilizar as empresas, e ignora solenemente  o propósito maior da lei. 

    É o espírito presente   na legislação internacional sobre o tema. Por que? Por que a organização é responsável por criar um ambiente (cultura organizacional) que favoreça ou desistimule comportamentos éticos ou antiéticos. Essas afirmações repetidas da principal líder do país evidencia enorme desconhecimento de gestão. Que canais de denúncia interna a empresa dispunha? Que estímulos a empresa definiu para que qualquer funcionário comunicasse irregularidades sem temer retaliações?

    Prova da indiferença e negligência da empresa é que precisou de uma escândalo para criar um departamento de Governança, Riscos e Conformidade, que qualquer empresa moderna dispo~e, se quer mesmo conduzir prevenir e corrigir prontamente problemas de corrupção.

     

     

     

    1. Seu argumento quanto à

      Seu argumento quanto à responsabilidade das empresas por atos de corrupção está correto. Entretanto, a fala da Dilma também está. A complexibilidade dos embates políticos às vezes cria situações sui generis onde a lógica simplificada do tipo verdadeiro versus falso não se aplica. Dilma não perde credibilidade com o que disse. Pelo contrário, pela primeira vez em muito tempo, ela disse algo objetivo e lúcido acerca da crise envolvendo a petrobrás. Dilma é a presidente do país. Seria um desastre se ela viesse a público criticar a instituição petrobrás à luz da lei anticorrupção. Acertou ao sancionar a lei 12.846/2013 e acertou agora quando declarou que o problema não é a petrobrás, mas alguns funcionários que se corromperam. São dimensões diferentes que nem sempre (destaque no “nem sempre”) devem se tangenciar: a gerencial e a política.

      1. concordo…

        muitos estão sendo levados a crer, pela mídia, que Dilma está isolada

        isolada nada, muito bem informada das tendências internacioanais contra a corrupção

        e até mais do que o próprio MPF

      2. Equivocou-se sim. Mas ela não

        Equivocou-se sim. Mas ela não está afirmando isso agora, de jeito nenhum. Pesquise os jornais, manchetes, últimos 12 meses. Ela repete isso desde sempre, não é novo.

        O problema não são “alguns funcionários”, é sim a “permisividade da cultura corporativa” que não cria instrumentos para prevenir e corrigir rapidamente isso. Basta ver o artigo de Ricardoi Semler -“Nunca se roubou tão pouco”. A Semco, empresa dele, era fornecedora da Petrobrás nos anos 70/80 e esse problema de corrupção já estava lá, enraizado.

        Se Dilma quer proteger a Petrobrás, pode fazê-lo de outra forma. Ou ficando calada pra não dizer esse absurdo, ou ressaltando a necessidade de a empresa aprimorar seu sistema de governança.

  3. nova ordem internacional é cadeia…

    e empresas não vão em cana

    pessoas sim

    passaram a utilizar técnicas tradicionais de investigação, mesmas do tráfico de drogas

    outra coisa: empresa não tem conta em paraíso fiscal, pessoas sim, como Cunha, por exemplo

  4. “… e, assim, perseguir a

    “… e, assim, perseguir a meta do desmonte, nem que para isso prejudiquem estratégias de proteção da economia nacional.”

     

    Já estou com uma vítima dentro de casa. O emprego certo depois de formado entrou em stand by. A fornecedora à fornecedora da Petrobrás (que não foi envolvida em nada) teve um refluxo de mais de 70 por cento nos seus contratos.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador