Donald Trump e os Ceauşescus tupiniquins

 

John Emerich Edward Dalberg-Acton (1834/1902) disse que:

“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus.”

Como a vivemos numa sociedade em que “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens” (A sociedade do espetáculo, Guy Debord, editora Contraponto, Rio de Janeiro, 2008, p. 14) as palavras de Lord Acton têm um significado ambíguo. Desde meados do século XIX, os homens maus podem perfeitamente se corromper de maneira absoluta porque o poder que eles exercem é construído no espaço delicado que existe entre a realidade e a ficção. 

Nicolae Ceauşescu compreendeu perfeitamente essa verdade. Durante décadas ele se manteve como líder incontestável da Romênia. A maior realização dele foi transformar o cotidiano num espetáculo permanente que celebrava as glórias passadas e presentes de uma nação que foi levada a acreditar que seria melhor exorcizar o fantasma do real enquanto afundava na pobreza e na realidade.

Nesse sentido, podemos dizer que Nicolae Ceauşescu foi o verdadeiro mestre de Donald Trump e de todos os líderes políticos que tentam copiar o bufão norte-americano. Refiro-me, obviamente, a Jair Bolsonaro, João Doria Jr. e Wilson Witzel.

Quando a representação espetacular da realidade não foi mais capaz de sustentar seu poder fictício, Nicolae Ceauşescu foi abruptamente julgado e sumariamente fuzilado. As imagens dele e da esposa pateticamente protestando pouco antes do fuzilamento podem servir como uma advertência aos líderes de direita que em 2018 chegaram ao poder no Brasil.

https://www.youtube.com/watch?v=ZdOuNI9YkZs

Há bem pouco tempo, Trump fez questão de se distanciar de Bolsonaro (e, por via de consequência de seus outros imitadores no Brasil). Ao contrário do presidente e dos governadores do Rio de Janeiro de São Paulo, Trump tem se mostrado cauteloso no uso da violência. Ele parece intuir que a brutalidade tem o poder de destruir o equilíbrio instável que entre ficção e realidade, liberando forças que podem se tornar incontroláveis e se voltar contra alguém majoritariamente percebido como um tirano injusto.

Empresário durante décadas, Trump deve ter aprendido que é bem mais difícil construir um bom edifício do que destruir um sistema constitucional. Além disso, a implosão de um prédio pode ser controlada. Mas ninguém consegue conter uma nação quando ela resolve destruir um regime político. As explosões de bombas dos terroristas de direita não foram capazes de salvar a Ditadura Militar quando o golpe de 1964 chegou ao fim. Em breve, o golpe das Fake News de 2018 também chegará ao fim. Nos próximos meses, os Ceauşescus tupiniquins escolherão como eles desejam ser tratados quando isso ocorrer.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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