Ecos de Göering na voz de Eduardo Bolsonaro, por Carlos Henrique R. de Siqueira

Símbolos usados no campo de concentração. Prisioneiros políticos usavam triângulo vermelho.

Ecos de Göering na voz de Eduardo Bolsonaro

por Carlos Henrique R. de Siqueira

O  primeiro campo de concentração da Alemanha de Hitler foi o de Dachau, perto de Munique, berço do nacional-socialismo. Inaugurado no dia 22 de março de 1933, apenas dois meses depois da chegada do partido ao poder, ele foi criado para abrigar os inimigos do regime, isto é, os comunistas (muitos deles judeus). Eles foram as primeiras vítimas do Estado nazista.

Os prisioneiros não tinham cometido nenhum crime, não eram réus em nenhum processo, não tinha passado por nenhum procedimento jurídico. Eles foram presos e internados num regime prisional experimental, o campo de concentração nazista. Em poucos anos, sob o comando de Himmler, esse experimento, desenvolvido e aperfeiçoado, se espalharia pelo Leste Europeu e se tornaria uma das mais infames instituições da história.

Recentemente, Eduardo Bolsonaro, líder do PSL, o segundo maior partido da Câmara dos Deputados, filho e principal conselheiro do presidente eleito, em entrevista a O Estado de São Paulo disse que o comunismo deveria ser criminalizado, teor de um projeto de lei de sua autoria que tramita na Câmara dos Deputados. 

Na mesma entrevista disse algo que deveria colocar as instituições em alerta. Segundo ele, não haveria nenhum problema em prender 100 mil pessoas da esquerda, se necessário. Não diz por qual crime. Diz apenas que seria melhor prender pessoas com essa “índole” que deixá-las soltas. Para o deputado, não é necessário nenhum ato contra a lei, nenhum crime, talvez nem mesmo um processo. Para justificar a prisão bastar ter uma “índole” que entre em choque com sua ideologia e a do regime que parece pretender implantar.

“Se fosse necessário prender 100 mil pessoas, qual o problema nisso? Eu vejo problema em deixar cem mil pessoas com esse tipo de índole, achando que invasão de terras é algo normal, livres para cometer seus delitos. Esse é meu principal receio. Eu quero dificultar a vida dessas pessoas.”, disse ele.

Em outras palavras, para Eduardo Bolsonaro alguém pode ser preso por “achar” alguma coisa. Não é preciso nem mesmo o ato, não é preciso ser autor de um crime. Mas é preciso prender para evitar que essas pessoas, de posse de sua liberdade, possam cometer supostos delitos. “Qual o problema nisso?”, pergunta o deputado.

As palavras de Eduardo Bolsonaro lembram as de Herman Göering, braço direito de Hitler. No dia 18 de março de 1946, diante do Tribunal de Nuremberg, ele explicou aos juízes porque houve a necessidade de construir campos de concentração:

“É preciso distinguir entre as duas categorias; aqueles que haviam cometido algum ato de traição contra o novo Estado, ou que se poderia provar que tivessem cometido algum ato desse tipo, eram naturalmente encaminhados para os tribunais. Mas os outros, de quem se poderia esperar tais atos, mas que ainda não os haviam cometido, eram colocados em custódia protetora, e essas pessoas é que iam para os campos de concentração”. (Trecho de: Laurence Rees. “O Holocausto: uma nova história.” iBooks.)

Bolsonaro Jr. propõe algo que ecoa a voz de Göering: prisões em massa de esquerdistas, internados num sistema prisional ainda não conhecido (afinal, onde esses 100 mil seriam colocados), numa espécie de ‘custódia preventiva’ para evitar que pessoas com uma certa ‘índole’ fiquem livres para cometer crimes contra o novo regime.

O historiador Laurence Rees, em seu livro “O Holocausto: uma nova história” (Vestígio, 2018) cita outro trecho do depoimento de Göering:

“Precisamos salvar essas pessoas!”, disse Herman Göering, “trazê-las de volta à comunidade nacional. Tínhamos que reeducá-las.”  (Trecho de: Laurence Rees. “O Holocausto: uma nova história.” iBooks.)

Os comunistas não foram reeducados, morreram pelas condições degradantes da prisão.

Será esse o projeto do grupo político hoje no poder?

**Carlos Henrique R de Siqueira é graduado e mestre em História e Doutor em Ciências Sociais pela UnB. 

Redação

5 Comentários

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  1. eles sao piores do que se imagina

    sim, essa é a “cartilha” da corja que abarca o pais… ñ diferente do pai doido que diz e faz o que bem entende calcado na ignorância de todo e qualquer assunto…é uma sandice sem tamanho e o povo, parece, AINDA, adormecido!

  2. Estamos prestes a vivenciar o
    Estamos prestes a vivenciar o que George Orwell eternizou em 1984. Já estamos vendo a perseguição e as tentativas de manipulação da História. Logo seremos presos e punidos por “crimideia”…

  3. Olavao de Carvalho é

    Olavao de Carvalho é professor do deputado. Ensina tudo errado, e ainda é divulgado pelo Youtube a ignorância, essa, sim, de cunho fascista. O cara não é tão burro assim; está mais é se aproveitando de um coitado, analfabeto em história para jogar suas tendências fascistas, embora mentindo. 

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